quinta-feira, 30 de junho de 2011

ADJETIVOS LATINOS ANTECEDENTES EM ORAÇÃO RELATIVA

Sabemos que a oração relativa é aquela que subordina-se à uma principal mediante o pronome relativo qui, quae, quod ou por meio de algum advérbio relativo, como ubi, unde, quo etc.

É denominada relativa, segundo os gramáticos, por, mediante os conectivos - pronome ou advérbio -, ter relação com um termo antecedente, que deve ser sempre um substantivo

Porém, os adjetivos latinos dignus, indignus, idoneus e aptus podem ser construídos também com o pronome relativo qui mais verbo no subjuntivo, ou seja, tais adjetivos podem ser antecedentes de um pronome relativo. Desta maneira, para se dizer:

TU ÉS DIGNO DE SER LOUVADO, em latim se construirá: DIGNUS ES QUI LAUDERIS.

LIVRO DIGNO DE SER LIDO, em latim: LIBER DIGNUS QUI LEGATUR.

MULHER DIGNA DE SER AMADA, em latim: FEMINA DIGNA QUAE AMATUR.

VINHO DIGNO DE SER BEBIDO, em latim: VINUM DIGNUM QUOD BIBITUR.

ERAM ELES PORVENTURA INDIGNOS DE OBTER?, em latim: IINE IDIGNI ERANT QUI IMPETRARENT?

NÃO É DIGNO (= IDÔNEODE COMANDAR, em latim: IDONEUS NON EST QUI IMPERET.

EMPREGADA APTA PARA IR E VIR= FAMULA APTA QUAE COMMEATUR.

Paulo Barbosa.

ESTROFE LATINA DE WALTER DE CHÂNTILLON

GALTERUS DE CASTELLIONE, nome latinizado de WALTER DE CHÂNTILLON, poeta do século XII d.C., advogado e secretário de Henri, arcebispo de Reims, escreveu poesias onde exprobrava os vícios do clero de sua época. Bem característica da depravação clerical é esta seguinte estrofe:

A prelatis defluunt vitiorum rivi,

Et tantum pauperibus irascuntur divi;

Impletur versiculus illius lascivi:

Quicquid delirant reges, plectuntur Achivi.


Dos prelados correm rios de vícios,

Mas os deuses só se irritam com os pobres.

Cumpre-se o verso daquele [poeta] brincalhão:

Por mais que os reis delirem, são os gregos que sofrem.

Paulo Barbosa.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

PARTÍCULAS INTERROGATIVAS LATINAS


O latim, além da inflexão da voz como recurso denotador de interrogação, emprega também, com muita frequência, PARTÍCULAS INTERROGATIVAS, que passaremos a estudar:

PERGUNTA PROPRIAMENTE DITA - Ao se fazer uma pergunta propriamente dita, ou seja, aquela pergunta em que não se sabe se a resposta será positiva ou negativa, usa o latim a partícula -NE, que se traduz por SERÁ?

É partícula enclítica, ou seja, pospõe-se sempre à palavra sobre a qual recai a interrogação:

VALUISSESNE EXQUISIVI = PROCUREI SABER SE ESTAVAS PASSANDO BEM DE SAÚDE.

DOCESNE LINGUAM LUSITANAM? = ENSINAS TU LÍNGUA PORTUGUESA?

Às vezes -NE se reduz a -N apenas:

AUDIN? = TU OUVES? em lugar de AUDISNE?

Pode se unir à outras partículas, mas nunca a advérbios e pronomes interrogativos nem a preposições. Assim:

Pode unir-se a NUM, partícula interrogativa também, e formar NUMNE?, empregada para denotar surpresa e ansiedade, ou seja, é um tanto mais enérgica.

Pode unir-se a AN, partícula interrogativa, formando ANNE?


PERGUNTA DE RESPOSTA AFIRMATIVA - Quando se faz uma interrogação esperando que a resposta seja positiva ou afirmativa, usa o latim a partícula NONNE, traduzida por POR ACASO NÃO É? NÃO É VERDADE QUE

Esta partícula foi usada quase que exclusivamente por Cícero e sempre após o verbo quaero.

NONNE CICERO ELOQUENTISSIMUS ORATORUM ROMANORUM? = POR ACASO NÃO É CÍCERO O MAIS ELOQUENTE DOS ORADORES ROMANOS?

QUAERO NONNE ID NUMERUS EFFECERIT? = PERGUNTO, NÃO FOI A COMBINAÇÃO MÉTRICA QUE PROVOCOU ISTO? (Cic., Or., 214).

Caso outras perguntas sigam à primeira, se usará apenas NON para interrogar:

NONNE RESPONDEBIS? NON REPUGNABIS? NON TE IPSUM DEFENDES?


PERGUNTA DE RESPOSTA NEGATIVA - Quando, ao se perguntar, se espera resposta negativa, o latim usa a partícula NUM, que é traduzida por PORVENTURA É? ACASO?

NUM INFIARI POTES? ACASO PODES NEGAR ISTO?

VISAM NUM AFUERIT FEBRIS = VEREI SE A FEBRE FOI EMBORA.

NUM pode vir reforçado pela partícula -NE, já visto acima e pelo pronome neutro QUID:


NUMQUID, também pode ser NUNQUID, e se traduz também por ACASO?

NUMQUID DUAS HABETIS PATRIAS? = ACASO TENDES DUAS PÁTRIAS?

Resumindo: três são as fundamentais partículas interrogativas latinas, sendo que uma só é a que interroga verdadeiramente, isto é, a que faz a pergunta sem saber se a resposta será positiva ou negativa: -NE, enclítica que se une ao final da palavra que incide a pergunta. As outras duas são empregadas para ou afirmar mais energicamente algo: NONNE, ou para dar maior força à negação: NUM.

Paulo Barbosa.

terça-feira, 28 de junho de 2011

PARTICULARIDADE SINTÁTICA DA ORAÇÃO PASSIVA

Se quisermos dizer em latim que a janela está fechada basta usar o verbo claudere (= fechar) no perfeito da voz passiva:

FENESTRA CLAUSA EST =  A JANELA ESTÁ FECHADA, quer dizer, a janela foi fechada e ainda agora continua fechada.

Porém, se quisermos apenas dizer que a janela foi temporariamente fechada e que, após um tempo tenha sido de novo aberta, em vez de se usar o verbo sum, es, est, sumus, estis, sunt, na conjugação passiva perifrástica, usará fui, fuisti, fuit, fuimus, fuistis, fuerunt, o perfeito do verbo sum:

FENESTRA CLAUSA FUIT = A JANELA FOI FECHADA, mas agora não mais está. O fuit, neste caso, corresponde a ficou ou esteve.

Então, mais um exemplo:

REDA APLICATA EST MOENIBUS  = O CARRO ESTÁ ENCOSTADO NAS MURALHAS, quer dizer, foi encostado e ainda está nas muralhas.

REDA APLICATA FUIT MOENIBUS = O CARRO FOI (ESTEVE, FICOU) ENCOSTADO NAS MURALHAS, mas agora não mais está.

Ação passada realizada e permanente até nossos dias, verbo no particípio passado mais verbo sum no presente: sum, es, est...

Ação realizada no passado, mas já desfeita no presente, verbo no particípio passado mais verbo sum, porém no passado também: fui, fuisti, fuit...

Paulo Barbosa.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

AS FUNÇÕES DA PARTÍCULA "SE" EM PORTUGUÊS E LATIM


O SE é, realmente, uma palavra polivalente e árdua, de variados aspectos léxicos e sintáticos, onde muitos tropeçam com frequência, desdourando a língua portuguesa. Em latim também, para seu correto emprego, exige-se profundo conhecimento das suas diversas funções. Vejamos aqui apenas duas funções desta partícula e em seguida seu emprego em latim.

A primeira e fundamental função do SE é a de indicar a reflexibilidade de ação, fazendo com que o sujeito se torne, simultaneamente, agente e recipiente da ação verbal: A MULHER LOUVA-SE.

SE também é índice de passividade. Neste caso é denominado pronome apassivador: ALUGAM-SE CASAS, em que pode ser transformado em CASAS SÃO ALUGADAS.

Em latim, para a correta tradução da partícula, conforme dissemos, exige-se a sua análise funcional. Assim:

A MULHER LOUVA-SE. A partícula SE é reflexiva, por referir-se ao próprio sujeito da oração. Será, portanto, traduzida pelo pronome reflexivo latino sui, sibi, se, se. Ora, como o verbo laudo (= louvo) é transitivo direto, a tradução será: FEMINA SE LAUDAT, sendo o SE acusativo, caso do complemento direto.

A MULHER PREJUDICA-SE. Neste caso aqui, continua a partícula SE pronome reflexivo, porém, como o verbo noceo (= prejudico) é transitivo indireto, seu complemento será indireto, isto é, deverá ser usado o pronome reflexivo latino em dativo: FEMINA SIBI NOCET.

Vê-se, portanto, o cuidado que se deve ter ao se traduzir para o latim o SE complemento verbal, pois ora  exerce função de complemento direto, e aí deverá estar em latim no acusativo, e ora exerce função de objeto indireto, e neste caso deverá estar em dativo. É a análise do verbo, de sua transitividade, que vai determinar o uso dos casos relativos à partícula.

A MULHER ABALA-SE COM TUAS AMEAÇAS. Aqui o SE indica passividade, ou seja, indica que o sujeito é afetado pela ação expressa pelo verbo. Em latim, basta conjugar o verbo na voz passiva: FEMINA MOVETUR TUIS MINIS. O SE está embutido na própria flexão verbal.

A MULHER APRESSA-SE. Este SE, no verbo latino festinare (= apressar-se), faz parte do verbo, pois é ele pronominal na língua latina. Verbo pronominal é aquele que se caracteriza por trazer junto de si um pronome oblíquo por representar atitudes peculiares do sujeito. Em português temos alguns, como queixar-se, arrepender-se, dedicar-se, zangar-se. O verbo em questão, todavia, só é pronominal em latim, e por isso o SE é como parte integrante dele, não se traduzindo em latim: FEMINA FESTINAT.

Pelo que acabamos de ver, deve-se ter muito cuidado ao traduzir orações deste último tipo, pois a regência ou a natureza de um verbo português pode não coincidir com a regência ou a natureza do verbo latino.

Paulo Barbosa.

domingo, 26 de junho de 2011

O VERBO 'SUM' E SUAS VARIADAS REGÊNCIAS

O verbo SUM, muito usado para traduzir SER/ESTAR, possui, além destes, outros significados e, de acordo com cada acepção, rege um caso diverso. Vejamos:

SUM = SER, EXISTIR- rege nominativo, ou seja, pede após si nominativo: 

a) EGO SUM MAGISTER = EU SOU O MESTRE

b) ERAT MONS SAXEUS INTER = HAVIA UMA PENEDIA ENTRE...

Aqui nota-se a diferença entre a acepção de ser e a de existir. Enquanto significa ser, é verbo de ligação, ou seja, o nominativo que se segue é predicativo, e enquanto significa existir ou haver vem sem predicativo e sempre está no início da frase.


SUM = SER PRÓPRIO DE, SER DEVER DE, PERTENCER A - rege genitivo:

a) EST BONI MAGISTRI = É DEVER DO BOM MESTRE

b) NON EST SAPIENTIS... = NÃO É PRÓPRIO DE UM SÁBIO, NÃO CONVÉM A UM SÁBIO


SUM = SERVIR DE, CAUSAR, SER PARA, TRAZER - constrói-se com o chamado dativo de interesse:

a) FUIT BONO = SERVIU PARA O BEM

b) ESSE DETRIMENTO = SER DE PREJUÍZO, TRAZER PREJUÍZO


ESSE = MORAR - constrói-se com locativo ou ablativo:

aESSE ROMAE = MORAR EM ROMA (Romae = locativo)

b) ESSE IN FLUMINE JANUARIO = MORAR NO RIO DE JANEIRO


ESSE = CUSTAR, VALER, SER ESTIMADO, SER AVALIADO - rege ablativo:

a) PARVI SUNT FORIS ARMA = AS ARMAS POUCO VALEM NO EXTERIOR

b) MAGNI ERUNT MINHI TUAE LITTERAE = SERÁ PARA MIM DE GRANDE VALOR UMA CARTA TUA

Paulo Barbosa.

sábado, 25 de junho de 2011

CULTURA ROMANA III: OS HOMENS CLÁSSICOS E NÃO CLÁSSICOS EM ROMA


Quais foram as cinco classes existentes na Roma Antiga é-nos hoje difícil saber. Possuímos apenas a informação que nos foi deixada por Tito Lívio que na primeira classe estavam os senadores, os cavaleiros e os cidadãos que possuíam mais de cem mil sestércios. Só isso. Marco Catão, grande erudito romano, entretanto, dividia os romanos entre classici e infra classem, de acordo com a pertença em uma das cinco classes. Desta maneira:

CLASSICI, isto é, OS CLÁSSICOS, eram denominados os homens da primeira classe que no recenseamento possuíssem mais que cento e vinte e cinco mil asses. Ou seja, os homens clássicos eram os senadores, a classe dos cavaleiros e os cidadãos de mais de cento e vinte e cinco mil asses. 

INFRA-CLASSEM, ou ABAIXO DA CLASSE, eram todos os homens de segunda classe e das demais classes, os quais, no censo, possuíam menos asses que os clássicos.

Paulo Barbosa.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

CORPUS INSCRIPTIONUM LATINARUM VI: EPITÁFIO PARA A SEPULTURA DE UM CÃO


Um antiquíssimo autor grego, cujo nome não se sabe, mandou compor um epitáfio para a sepultura de seu cão e que foi traduzido assim para o latim:

Latratu fures excepi, mutus amantes;

Sic placui domino, sic placui dominae.


Recebi os ladrões ladrando, recebi os amantes mudo;

Assim agradei ao senhor, assim agradei à senhora.

Paulo Barbosa.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

CIDADES E POVOAÇÕES ROMANAS E SEUS RESPECTIVOS NOMES

URBS - ROMA

Os Romanos, para cada tipo de cidade ou povoação, possuíam um nome específico. Conheçamos aqui alguns destes, começando pelo principal:

URBS

Era a cidade propriamente dita, atendendo à sua área, aos seus habitantes. Com este nome o Romano denominava Roma, a cidade por excelência e computava as idades históricas 'ab Urbe condita', 'desde fundada a Cidade'. Provavelmente a palavra urbs é proveniente de orbis, que significa mundo, globo, disco, país e região. Segundo Isidoro de Sevilha, urbs provém de orbis devido  a que antigamente as cidades eram traçadas e construídas em círculo, na forma de disco, que é a acepção primordial do vocábulo.

CIVITAS

Esta significa a cidade enquanto o conjunto de seus cidadãos, ou seja, é a multidão de pessoas unidas pelo vínculo de sociedade. Cícero nos legou a definição tanto de urbs quanto de civitas: "Domicilia conjuncta urbes dicimus; conventicula hominum civitates nominatae sunt". O termo civitas é proveniente de civis, cidadão, e este, por sua vez, do verbo cire ou ciere, com o sentido de citar. Significa, pois, cidadão, aquele que pode ser citado, intimado pelas autoridades competentes.

OPPIDUM

Primitivamente significou uma praça fortificada, cercada por muro, uma povoação fortificada. Com o passar do tempo, entretanto, começou a designar também uma cidade ou grande povoação, porém menos notável que a urbs. Parece que o nome provém de um adjetivo, oppidus, a, um, proveniente do grego eupedós, que se traduz por sólido. Outros, porém, dizem provir oppidum de lugar onde se guarda o ops, os recursos, as riquezas. 

MUNICIPIA

Eram povoações livres que tinham feito alianças com Roma e cujos habitantes - os munícipes - tinham obtido o privilégio de cidadãos romanos. Possuíam magistrados próprios, que os governavam, mas as praefecturae (prefeituras) eram regidas por um prefeito enviado por Roma. O termo é proveniente de municeps, que por sua vez vem de munus + capere, que significa pagar o tributo, pois os municípios tinham a obrigação de pagar os devidos tributos a Roma.

COLONIA

Era a povoação fundada solenemente pelos romanos nas ocasiões em que faziam a repartição das terras conquistadas. Seu nome devém de colo, verbo que significa cultivar, pois os povos destas povoações - os colonos - estavam ligados ao manejo e cultivo das terras.

Paulo Barbosa.

terça-feira, 21 de junho de 2011

SINTAXE DO GENITIVO

GENITIVO é palavra que provém da raiz GEN, de GERAR. É, em latim, o "CASO DA GERAÇÃO" ou "DA FILIAÇÃO", típico, portanto, dos sobrenomes: 

GALILEU GALILEI = GALILEU (filho) DE GALILEU

FERNANDO FERNANDEZ = FERNANDO (filho) DE FERNANDES

RODRIGO RODRIGUES = RODRIGO (filho) DE RODRIGUES

Desempenha, na oração, várias funções, sendo, porém, a primeira, devido a seu significado, a de POSSE:

DOMUS MARIAE = CASA DE MARIA, respondendo à pergunta CUJUS EST DOMUS? = DE QUEM É A CASA.

Outra função, é a de explicar um substantivo declarando em que ele consiste. É o chamado GENITIVO EXPLICATIVO:

VIRTUS JUSTITIAE = A VIRTUDE DA JUSTIÇA, onde justitiae explica o substantivo virtus, declarando em que consiste.

Pode também explicar a matéria de que é feito algo:

GLEBAS SEBI AC PISCIS (César, B.G. 7:25) = BOLAS DE SEBO E DE PEZ

Executa também a função de APOSITIVO:

URBS ROMAE = A CIDADE DE ROMA, onde 'de Roma' é aposto do substantivo cidade, em lugar de "a cidade Roma"

Pode-se, no entanto, também dizer URBS ROMA.

A descrição pode também ser feita mediante o genitivo. Querendo-se descrever como tal pessoa era virtuosa ou destemida, em vez de fazê-lo por adjetivos, faz-se pelo genitivo, denominando isto de GENITIVO DESCRITIVO. Para usar, porém, este artifício, duas condições são necessárias:

1) Que o substantivo seja acompanhado de um adjetivo;

2) Que o genitivo venha ligado a um substantivo comum.

Não se pode, portanto, dizer: César de coragem, mas tem de ser colocado um substantivo comum intercalado entre o substantivo a que se descreve e o adjetivo, que aqui neste caso será vir = homem.

CAESAR, VIR MAGNAE VIRTUTIS = CÉSAR, HOMEM DE GRANDE CORAGEM

É também por esta mesma construção que se descreve as medidas:

FOSSA TRIUM PEDUM = FOSSA DE TRÊS PÉS

Enfim, ainda o genitivo pode ser PARTITIVO, ou seja, pode expressar uma parte de um todo:

PARS MILITUM = UMA PARTE DOS SOLDADOS

QUIS NOSTRUM = QUEM DE NÓS?

NEMO EORUM = NENHUM DELES

Pode ser este genitivo usado junto com advérbios e pronomes:

QUANTUM FACULTATIS = QUANTO DE PERMISSÃO

QUID NOVI = QUE HÁ DE NOVO?

NIHIL NOVI = NADA DE NOVO!

Paulo Barbosa.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

COMO SE DIZ 'É NECESSÁRIO' EM LATIM EM SITUAÇÕES DIFERENTES

O verbo OPORTET e as expressões NECESSE EST e OPUS EST significam É NECESSÁRIO, mas cada um com uma necessidade específica, diferenciada:

OPORTET = É NECESSÁRIO, mas necessidade pedida, sugerida ou imposta pela prudência, pela razão.

NECESSE EST = É NECESSÁRIO, mas de uma necessidade imposta pela natureza.

OPUS EST = É NECESSÁRIO, mas necessidade de meio, ou seja, imposta para se conseguir algum objetivo, alguma coisa.

Assim:

OPORTET ME ESSE BONUM = É NECESSÁRIO QUE EU SEJA BOM

NECESSE EST OMNES HOMINES MORI = É NECESSÁRIO QUE TODOS OS HOMENS MORRAM

OPUS EST ME STUDERE = É NECESSÁRIO QUE EU ESTUDE

ADENDO

Aproveitamos para acrescentar que estes verbos pedem oração infinitiva, ou seja, oração substantiva sem conjunção e reduzida de infinitivo, servindo esta de sujeito. Então,

NECESSE EST OMNES HOMINES MORI, 'omnes homines mori' é oração infinitiva ou também chamada de acusativo sujeito e é, enquanto oração, sujeito de 'necesse est'. 

E da mesma maneira com as outras.

Paulo Barbosa.

"ACUSATIVO INTERNO" EM LATIM E PORTUGUÊS

Alguns verbos intransitivos latinos podem reger o acusativo de um substantivo de raiz idêntica. É o denominado 'acusativo interno' ou 'figura etimológica'. Vejamos alguns exemplos:

VIVERE VITAM = VIVER A VIDA

PUGNARE PUGNAM = COMBATER UM COMBATE

DOLERE DOLOREM = DOER UMA DOR

GAUDERE GAUDIUM = ALEGRAR COM UMA ALEGRIA

PRANDERE PRANDIUM = ALMOÇAR UM ALMOÇO 

CENARE CENAM = CEIAR UMA CEIA

NUNTIARE NUNTIUM = ANUNCIAR UM ANÚNCIO

LUDUM LUDERE = JOGAR UM JOGO

Em português existe este fenômeno também, como vimos acima, na tradução dos sintagmas latinos. A música "Chove chuva", de Jorge Ben Jor, é um exemplo de uso do 'acusativo interno' em nossa língua.

Paulo Barbosa.

AUT, VEL, SIVE - CONJUNÇÕES DISJUNTIVAS DIFERENCIADAS

As conjunções disjuntivas AUT, VEL e SIVE se diferenciam entre si. Vejamos:

AUT = OU (AUT... AUT, OU... OU) é usada para indicar que dois termos se opõem entre si, de maneira que, admitindo um, o outro fica posto de lado; pode também significar que ambos os termos se consideram diferentes um do outro:

HIC VINCENDUM AUT MORIENDUM, MILITES, EST = SOLDADOS, AQUI OU SE VENCE OU SE MORRE

AUT BIBAT AUT ABEAT = OU BEBA OU VÁ-SE EMBORA

OMNE ENUNCIATUM AUT VERUM AUT FALSUM EST = TODA A PROPOSIÇÃO OU É VERDADEIRA OU É FALSA

Deve-se notar que em frases negativas. AUT perde a força disjuntiva e equivale à conjunção aditiva NEC:

NEMO CONSCIORUM AUT LATUIT AUT FUGIT = NENHUM DOS CONJURADOS SE ESCONDEU NEM FUGIU

NEC TENUES PLUVIAE AUT FRIGUS = NEM AS CHUVAS MANSAS NEM O FRIO


VEL = OU (VEL... VEL, QUER... QUER) é usada para indicar a diferença leve entre dois termos , que de tão leve, pode-se admitir indiferentemente um ou outro e até mesmo ambos:

A VIRTUTE PROFECTUM VEL IN IPSA VIRTUTE SITUM = TOMANDO POR PONTO DE PARTIDA A VIRTUDE OU NELA MESMA APOIADO

VEL IMPERATORE VEL MILITE ME UTIMINI = SERVI-VOS DE MIM QUER COMO COMANDANTE QUER COMO SOLDADO

A conjunção VEL pode se abreviar para -VE, e nesta caso é enclítica, pospondo-se à palavra a que se refere:

SAEPE REGI IUSTO VIM POPULUS ATTULIT REGNOVE EUM SPOLIAVIT = MUITAS VEZES O POVO FEZ VIOLÊNCIA A UM REI JUSTO OU ESPOLIOU-O DO REINO


SIVE = OU SEJA, OU MELHOR (SIVE... SIVE) indica a incerteza sobre a escolha ou modo de chamar uma coisa. Possui também a forma SEU

ORATORUM SIVE RABULARUM = DOS ORADORES, OU MELHOR, DOS TAGARELAS

ASCANIUS URBEM (LAVINIUM) MATRI SEU NOVERCAE RELIQUIT = ASCÂNIO DEIXOU A CIDADE DE LAVÍNIO À MÃE, OU ANTES, À MADRASTA

Paulo Barbosa.

domingo, 19 de junho de 2011

CORPUS INSCRIPTIONUM LATINARUM V: EPITÁFIO DE DESPAUTÉRIO


O gramático flamengo Jean Van Spotter, latinizado Despauterius, mandou confeccionar o seguinte epitáfio para o seu túmulo:

Grammaticen scivit, multos docuitque per annos;

declinare tamen non potuit tumulum.


Soube a gramática, e ensinou-a por muitos anos;

contudo, não pode 'declinar' o túmulo.


Só por curiosidade, é do nome latinizado desde gramático, Despauterius, que vem o substantivo comum português despautério, significando grande asneira. Este significado veio, segundo a História, por ter ele elaborado uma gramática latina repleta de regras absurdas, e até mesmo as regras mais simples se transformaram em intricada rede nos comentários que fizera.

Paulo Barbosa.

sábado, 18 de junho de 2011

A PREPOSIÇÃO "SEM" E AS VÁRIAS MANEIRAS DE EXPRESSÁ-LA EM LATIM


A preposição portuguesa 'sem' quando vier seguida de um infinitivo ou de que, pode ser expressa em latim de várias maneiras, a saber:

1. Por sine mais ablativo de um substantivo:

SEM COMBATER = SINE VULNERE

SEM CHORAR = SINE LACRIMIS

SEM SE CANSAR = SINE LABORE

2. Por adjetivos negativos:

SEM SABER = IGNARUS ou INSCIUS

SEM DORMIR = INSOMNIS

3. Por um particípio presente ou perfeito modificado por uma partícula negativa:

SEM SER ROGADO = NON ROGATUS

SEM OS OUTROS VEREM = NON VIDENTIBUS ALIIS

CONDENAR ALGUÉM SEM O OUVIR = ALIQUEM INDICTA CAUSA DAMNARE

SEM VIOLAR A PALAVRA DADA = SALVA FIDE

4. Por uma oração coordenada à antecedente por neque, nec, neque tamen:

MUITOS LOUVAM OS POETAS SEM OS ENTENDEREM = MULTI POETAS PROBANT NEQUE INTELLEGUNT

5. Por uma oração subordinada de ut non:

MUITOS JULGAM-SE BONS SEM O SEREM = MULTI EXISTIMANTUR BONI UT NON SINT

6. Por uma oração subordinada de qui (quae, quod) non, quin, nisi, quando a subordinante é negativa:

CÉSAR NÃO CERCOU NENHUMA CIDADE SEM A TOMAR = CAESAR NULLAM OBSEDIT URBEM QUAM NON CEPERIT

NÃO DEIXEI PASSAR DIA ALGUM SEM TE ESCREVER = NULLUM ADHUC INTERMISSI DIEM QUIN AD TE SCRIBEREM

NADA PODE ACONTECER SEM QUE PRECEDA UMA CAUSA = NIHIL POTEST EVENIRE NISI CAUSA ANTECEDAT

7. Por uma oração subordinada de cum non, cum nihil, cum nullus:

CÉSAR PARTIU DA GERGÓVIA SEM A TER TOMADO = CAESAR GEGORVIA, CUM URBEM NON CEPISSET, PROFECTUS EST

Paulo Barbosa.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

ELEGIA: UM POUCO DE SUA HISTÓRIA POR ISIDORO DE SEVILHA


A ELEGIA é, entre os antigos gregos e romanos, qualquer verso escrito em dístico elegíaco, sem enfoque direto para temas lúgubres. Cobria uma vastidão de assuntos, dentre os quais os tristes, como os epitáfios sepulcrais. Com o passar do tempo, porém, tal espécie de poesia foi se especializando em designar toda reflexão que verse sobre a morte, a infelicidade humana, os dissabores da vida. 

A elegia greco-latina era composta de um dístico onde o primeiro verso era um hexâmetro e o segundo um pentâmetro. Os maiores poetas elegíacos de Roma foram Tibulo, Propércio e Ovídio, cantadores do amor por meio do metro elegíaco.

Vejamos uma elegia de Propércio dirigida a seu amigo Pôntico:

Dum tibi Cadmeae dicuntur, Pontice, Thebae
armaque fraternae tristia militiae,
atque, ita sim felix, primo contendis Homero
(sint modo fata tuis mollia carminibus),
nos, ut consuemus, nostros agitamus amores, 
atque aliquid duram quaerimus in dominam.

Enquanto, ó Pôntico, tu celebras Tebas de Cadmo
e as terríveis armas da milícia do irmão,
e competes com o distinto Homero, assim seja eu feliz,
(contanto que o destino seja favorável a teus versos),
eu, como me habituei, ocupo-me com meus amores,
e procuro algo contra uma cruel amante.

Isidoro de Sevilha, sábio do século VII d.C., autor de uma enciclopédia intitulada Etimologias, ao tratar do metro elegíaco, diz:

"Elegiacus autem dictus eo, quod modulatio eiusdem carminis conveniat miseris. Terentianus hos elegos dicere solet, quod clausula talis tristibus, ut tradunt, aptior esset modis. Hic autem vix omnino constat a quo sit inventus, nisi quia apud nos Ennius eum prior usus est. Nam apud Graecos sic adhuc lis grammaticorum pendet, ut sub iudice res relegata sit. Nam quidem eorum Colophonium quendam, quidam Archilochum autorem atque inventorem volunt" (Etymologiarum I, 39).

"O (metro) elegíaco recebeu este nome porque modulação deste verso se adapta à tristeza. Terenciano costuma chamar estes (versos) 'elegíacos' porque, como dizem, tal cláusula é a mais apta para os cantos tristes. De quem seja o invento (do elegíaco) é difícil de se resolver, exceto que junto de nós (Romanos) foi Ênio quem o usou primeiro. Junto aos gregos até agora o debate continua junto aos gramáticos, de maneira que a questão ainda está sob debate. Alguns deles defende que o autor e inventor foi um certo Colofônio, enquanto para outros foi Arquíloco".

Paulo Barbosa.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

IMPERATIVO FUTURO LATINO NAS TERCEIRAS PESSOAS


O imperativo latino futuro também é usado nas terceiras pessoas, sobretudo nas disposições testamentárias e leis. Quando estes dois casos não se enquadram, usa-se, em geral, o subjuntivo presente, como em português. Exemplo:

REGIO IMPERIO DUO SUNTO; MILITIAE SUMMUM IUS HABENTO


HAJA DOIS (HOMENS REVESTIDOS) DE PODER REAL; TENHAM O SUPREMO PODER


Deve-se observar que o imperativo futuro latino nas segundas pessoas geralmente se traduz pelo imperativo presente, e o imperativo futuro nas terceiras pessoas traduz-se pelo subjuntivo presente, como vimos acima, mas indicando sempre uma ordem que se deve executar no futuro.

Somente para ilustrar, vejamos como a tradução do imperativo futuro nas segundas pessoas pode ser igual à do imperativo presente:

                 PRESENTE SINGULAR            FUTURO SINGULAR

                    AMA = AMA TU                       AMATO = AMA TU

                 DELE = DESTRÓI TU                DELETO = DESTRÓI TU

                       LEGE = LÊ TU                          LEGITO = LÊ TU

                     AUDI = OUVE TU                  AUDITO = OUVE TU

Gramáticos há, porém, que para o imperativo futuro nas segundas e terceiras pessoas, traduzem com formas de futuro. Assim:

                                                                  AMATO =  TU LOUVARÁS

                                                                 DELETO = TU DESTRUIRÁS

                                                                      LEGITO = TU LERÁS

                                                                   AUDITO = TU OUVIRÁS

Paulo Barbosa.                                                                                                            

quarta-feira, 15 de junho de 2011

AS 'BOAS-VINDAS' EM LATIM


Os Romanos não desejavam as Boas-Vindas a alguém como nós o fazemos, ou seja, manifestando o desejo de que tal pessoa chegue: SEJA BEM-VINDO (A)!, pois, sendo mais lógicos que nós, quando alguém chegava não lhe era oportuno desejar que chegasse bem. Então, nunca é bom latim o BENE VENIAS

Em latim de bom quilate, afirmava-se para dar as boas vindas: OPPORTUNE ADES, que significa: ESTÁS AQUI EM BOA OPORTUNIDADE! ou EXOPTATUS ADES! que significa: TENDO SIDO DESEJADO, AQUI ESTÁS! ou ainda: ADVENTUS TUUS MIHI GRATUS EST!, que é: A TUA CHEGADA ME É AGRADÁVEL!

Paulo Barbosa.

terça-feira, 14 de junho de 2011

LATIM FORENSE II: PARA QUEM O CRIME APROVEITA?


"CUI PRODEST SCELUS, IS FECIT"

"COMETEU O CRIME AQUELE A QUEM ELE TROUXE BENEFÍCIO"

Esta frase é um verso do filósofo Sêneca, preceptor do Imperador Nero, seguidor da filosofia estóica, na sua obra trágica, Medeia. . Significa que o autor do delito é aquele que lhe tira proveito.


"CUI BONO?"

"PARA QUEM O BENEFÍCIO?"

Que também pode ser traduzida como "Para quem aproveita?". Esta frase é atribuída por Cícero ao jurisconsulto Cássio Longino, nas Filípicas II, 14. Era esta a recomendação que Longino dava aos juízes para, em caso de homicídio, procurarem aquele a quem o crime podia trazer benefícios.

Paulo Barbosa.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

CULTURA ROMANA II: AS LIVRARIAS E LEITURAS PÚBLICAS EM ROMA


As LIVRARIAS, em latim TABERNAE, na cidade de Roma, forneciam livros a um número limitado de pessoas, ou seja, somente para aqueles que podiam adquiri-los. Cícero tinha seu livreiro, Titus Pomponius Atticus, bastante famoso na época. 

Não existia o tão moderno e decantado direito de propriedade intelectual ou direito autoral. Pode-se comprovar isto com o fato de Cícero haver enviado ao seu livreiro Áttico a obra de Hirtius, historiador romano, para que a divulgasse em seu próprio interesse. Desta maneira, o autor ficava privado de receber os honorários como pagamento de seu trabalho intelectual.

As famílias abastadas de Roma mantinham bibliotecas particulares. Somente muito tempo depois, o gramático e político Asínio Polião (76 a.C. - 4 d.C.) criou as bibliotecas públicas.

As LEITURAS PÚBLICAS eram hábitos espalhados por toda Roma, permitindo, assim, que um considerável número de pessoas conhecessem as obras literárias dos grandes autores. Foi este processo que contrabalançou as dificuldades que existiam na divulgação do livro. O Imperador Augusto deu muito apoio a essas reuniões, e isso fez com que grande público comparecesse com o objetivo de ouvir os leitores. Na época do governo de Adriano, foi construído uma espécie de teatro, o Athenaeum, onde as pessoas interessadas na leitura pública se reuniam. 

Estas leituras eram efetuadas, geralmente, após meio-dia.

Paulo Barbosa.

domingo, 12 de junho de 2011

CORPUS INSCRIPTIONUM LATINARUM IV

Numa sepultura romana de uma esposa apaixona se lê o seguinte belo epitáfio:

IMMATURA PERI, SED TU, FELICIOR, ANNOS

VIVE TUOS, CONJUX OPTIME, VIVE MEOS



PERECI IMATURA, MAS TU, MAIS FELIZ,

VIVE OS TEUS ANOS, Ó ÓTIMO ESPOSO, (E) VIVE OS MEUS

Paulo Barbosa.

IDIOTISMOS OU EXPRESSÕES PECULIARES DA LÍNGUA LATINA

IDIOTISMOS, IDIOMATISMOS ou MODISMOS são aquelas maneiras de falar tão peculiares a um idioma que não podem passar a outro mediante uma tradução literal. É necessário então, no idioma que se traduz, empregar algum circunlóquio que expresse com maior fidelidade o pensamento do original, sem entretanto, ater-se à disposição material das palavras. 

Apresentaremos aqui alguns idiotismos portugueses com a correspondente versão latina e em seguida uma tradução literal dos mesmos:

ADQUIRIR FAMA = CAPERE SIBI NOMEN. - Se fosse traduzido literalmente seria: tomar nome para si.

ALISTAR-SE COMO SOLDADO = DARE NOMEN MILITIAE. - Literalmente: dar o nome para o serviço militar.

BOM DIA, AMIGO = SALVE / SALVUS SIS, AMICE. - Literalmente: tenha saúde ou sejas são, amigo.

CORRIA O BOATO = RUMOR EST. - Literalmente: um rumor existe.

ESTAR NA FLOR DA IDADE = AETATE FLORERE. - Literalmente: florescer na idade.

FAZ MUITO FRIO = SAEVIT FRIGUS. - Literalmente: é violento o frio.

FAZER A CONTA = CONFICERE RATIONEM. - Literalmente: obter o cálculo.

FAZER AS PAZES = CONSTITUERE PACEM. - Literalmente: estabelecer a paz.

PERDER O PLEITO, A DISPUTA JUDICIAL = CADERE CAUSA. - Literalmente: perder o litígio.

VALHA-ME DEUS! = PROH DEUS! - Literalmente: oh Deus!

Paulo Barbosa

sábado, 11 de junho de 2011

VERBOS UNIPESSOAIS LATINOS: REGÊNCIA


Os verbos unipessoais latinos que denotam fenômenos da natureza não regem caso algum.

Os unipessoais que têm regime reduzem-se a três classes: os que regem genitivo; os que regem dativo e os que regem acusativo.

UNIPESSOAIS COM GENITIVO

Pertencem a esta classe os unipessoais INTEREST e REFERT, que significam IMPORTAR, TOCAR A ou SER PRÓPRIO DE, e pedem genitivo de pessoa:

NIHILNE JUDICUM INTERERIT VITAM SERVARE INNOCENTIS? (Cícero) = ACASO NÃO INTERESSARÁ AOS JUÍZES CONSERVAR A VIDA DE UM INOCENTE?

ET PRINCIPIS REFERT ET CIVITATUM MAGNOPERE UT DIGNIORES REBUS PRAEFICIANTUR (Salústio) = AO PRÍNCIPE E ÀS CIDADES IMPORTA MUITO QUE SEJAM POSTOS OS MAIS DIGNOS À FRENTE DAS COISAS.

Se aquele a quem interessa a ação é um pronome pessoal, empregam-se os ablativos mea, tua, nostra, vestra, sua e cuja, aos quais poderão unir-se os genitivos unius, ipsius, duorum, etc:

MEA INTEREST = INTERESSA-ME

QUID REFERT MEA CUI SERVIAM? = QUE ME IMPORTA A QUEM SIRVO?

Igualmente pertencem também a esta classe POENITET, ARREPENDER-SE; MISERET, MISERESCIT, COMPADECER-SE; PIGET, FASTIDIAR-SE ou ARREPENDER-SE; PUDET, ENVERGONHAR-SE e TAEDET, TER FASTIO. Estes, além do genitivo de coisa, pede acusativo de pessoa:

ETIAMNE POENITET BELLI SUSCEPTI ADVERSUS...? (Lívio) = POIS ESTÁS PESAROSO DA GUERRA EMPENHADA CONTRA...?

ME TUI MISERET = COMPADEÇO-ME DE TI

ME MISERESCIT TUI = TENHO PIEDADE DE TI

ME CIVITATIS MORUM PIGET (Salústio) = ESTOU DESGOSTOSO DOS COSTUMES PÚBLICOS

PUDET NON TE TUI? (Cícero) = NÃO TE ENVERGONHAS DE TI MESMO?

TAEDET NOS VITAE (Cícero) = ESTOU FARTO DA VIDA


UNIPESSOAIS COM DATIVO

Os verbos unipessoais que significam evento, proveito ou contingência pedem por complemento o caso dativo. São os seguintes:

ACCIDIT, CONTINGIT, EVENIT

RESTAT, BENEVERTIT, LICET

OBVENIT, CONDUCIT, PRAESTAT

SUPPETIT, PATET, LIQUET

SUPEREST, SUFFICIT, CONSTAT

FIT, PLACET, LUBET e LIBET

QUAE MAXIME CUM MIHI, TUM ETIAM REIPUBLICAE RATIONIBUS PUTENT CONDUCERE (Cícero) = AS COISAS QUE ESTIME SER MAIS CONDUCENTES PARA MIM  AOS INTERESSES DA NAÇÃO

NEMINI LICET, QUID QUID LUBET FACERE (Cícero) = A NINGUÉM É LÍCITO FAZER O QUE LHE AGRADAR

CUI CONTINGIT QUOD SATIS EST, NIHIL AMPLIUS OPTET (Horácio) = A QUEM COUBE O SUFICIENTE, NÃO DESEJE MAIS NADA

UNIPESSOAIS COM ACUSATIVO

Regem acusativo os unipessoais DECET, ESTAR BEM; DEDECET, DESDIZER; MANET, ESTAR RESERVADO; JUVAT, DELECTAT, DELEITAR; FUGIT, LATET, PRAETERIT, e FALLIT, OCULTAR-SE.

DELECTANT MULTOS MAGNIFICI APPARATUS, VITAEQUE CULTUS (Cícero) = AGRADAM A MUITOS OS MAGNÍFICOS APARATOS E CUIDADOS DA VIDA

NEC VOS QUIDEM LATET CONVICIA NON DECERE MISEROS (Juvenal) = NÃO SE VOS OCULTA QUE AS AFRONTAS NÃO CONDIZEM NA BOCA DOS DESGRAÇADOS

QUID JAM FEMINAS, AMISSA PUDICITIA, MANET? (Terêncio) = QUE RESTA JÁ ÀS MULHERES, TENDO PERDIDO A HONESTIDADE?

DEOS NEC COGITATA QUIDEM FALLUNT (Valério Máximo) = AOS DEUSES NÃO SE LHES OCULTAM NEM SEQUER OS PENSAMENTOS

QUIS, EXUL PATRIAE, SE QUOQUE FUGIT (Horácio) = QUEM DESTERRADO DE SUA PÁTRIA, FOGE TAMBÉM DE SI

Paulo Barbosa.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

AS PREPOSIÇÕES IN, SUB, SUBTER E SUPER...

Há, em latim, quatro preposições que acompanham ora acusativo, ora ablativo:

                       acusativo                                   ablativo

IN  =             a, em, para                                       em

SUB =          para baixo de                               debaixo de

SUBTER =  para baixo de                               debaixo de

SUPER =     para cima de                                     sobre

Estas preposições acompanham acusativo, de um modo geral, somente quando indicam movimento com direção definida, e acompanham ablativo quando não indicam movimento algum ou quando indicam movimento sem direção definida. Vejamos:

EXEMPLOS COM IN:

HOMO INTRAT IN TEMPLUM = O HOMEM ENTRE NO TEMPLO - Há movimento e com direção definida.

HOMO ERAT IN TEMPLO = O HOMEM ESTAVA NO TEMPLO - Não há movimento.

HOMO AMBULABAT IN TEMPLO = O HOMEM ANDAVA NO TEMPLO - Há movimento, mas esse movimento não tem uma direção definida.

EXEMPLOS COM SUB:


ANIMAL VENIT SUB ARBOREM = O ANIMAL VEIO PARA DEBAIXO DA ÁRVORE.

ANIMAL ERAT SUB ARBORE = O ANIMAL ESTAVA DEBAIXO DA ÁRVORE.

ANIMAL AMBULABAT SUB ARBORE = O ANIMAL ANDAVA DEBAIXO DA ÁRVORE.

EXEMPLOS COM SUBTER:

Esta preposição só aparece regendo ablativo em poesia.

SUBTER PRAECORDIA LOCARE = COLOCAR ABAIXO DAS VÍSCERAS.

SUBTER LITTORE = SOB A PRAIA (quer dizer: em terra firme) [Catulo].

EXEMPLOS COM SUPER:


Esta preposição no sentido próprio, isto é, com ideia de lugar, nunca aparece, em toda a obra de Cícero, regendo o ablativo.

SUPER ASPIDEM ASSIDERE = ASSENTAR-SE SOBRE UMA SERPENTE.

NOCTE SUPER MEDIA = DE NOITE [Virgílio].

Outros significados possuem estas preposições, que o estudioso irá aprendendo à medida em que estudar o latim.

Paulo Barbosa.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

'SUPERIOR': VARIADAS ACEPÇÕES DESTE COMPARATIVO

SUPERIOR, comparativo de SUPERUS, possui várias acepções de acordo com seu emprego:

Juntamente com TEMPUS, como em SUPERIORIBUS TEMPORIBUS é: ANTES, NOS TEMPOS PRECEDENTES.

Junto a DOMUS, ou seja, SUPERIOR DOMUS, é: O ÚLTIMO ANDAR, A PARTE SUPERIOR DE UMA CASA, e não, como se podia pensar, 'a casa que está mais acima'.

Relacionado a ANNUS, como em ANNO SUPERIORE, é: NO ANO PASSADO, e SUPERIORIBUS ANNIS: NOS TEMPOS PRECEDENTES.

Com AETAS, como em AETATIS SUPERIORIS, é: DE IDADE SUPERIOR, MAIS VELHO

Em linguagem militar, SUPERIOR é: VENCEDOR e SUPERATUS: VENCIDO.

E para traduzir os nossos superiores, ou seja, as pessoas investidas de chefia e mando, em latim não será 'superiores', mas MODERATORES.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

SINTAXE DO INFINITIVO LATINO



O INFINITIVO latino pode exercer quatro diferentes funções na oração:

SUJEITO: MENTIRI non est bonum = MENTIR não é bom


PREDICATIVO: Scribere est DISCERE = Escrever é APRENDER


COMPLEMENTO DIRETO: Potes VENIRE [Recebe aqui o nome de infinitivo complementar]


PREDICADO DE ORAÇÃO REDUZIDA DE INFINITIVO: Tu jubes me VENIRE


OBSERVAÇÕES

1. O sujeito do infinitivo vai para o acusativo, ou seja, é o que se denomina oração infinitiva:

Agricola vidit SERVAM FUGERE = O agricultor viu A SERVA FURGIR

Nesta oração, agricola é sujeito de vidit, e servam, que está no acusativo, é sujeito do infinitivo fugere.


2. O adjetivo que é predicativo de um infinitivo subjetivo vai para o nominativo neutro. Esta regra assim é devido o infinitivo ser considerado um substantivo neutro e, por isso, o predicativo deve concordar com o sujeito genérica, numérica e casualmente:

Vivere est BONUM = Viver é BOM


3. O adjetivo predicativo de um sujeito do infinitivo, ou seja, de um sujeito no acusativo, vai também para o acusativo e concorda com esse sujeito em gênero e número:

Regina vult regem esse BEATUM [acusativo masculino] - A rainha quer que o rei seja FELIZ.

Cogito reginam esse BONAM [acusativo feminino] - Penso ser a rainha BOA.

Affirmo animalia esse FIDELIA [acusativo neutro] - Afirmo serem os animais FIÉIS.

Paulo Barbosa.

terça-feira, 7 de junho de 2011

"HAUD", ADVÉRBIO NEGATIVO LATINO E SEU EMPREGO


Dentre vários advérbios latinos de negação, como non, ne, minime, neutiquam, vix, nequaquam, existe um bem curioso, a saber, HAUD.


HAUD é derivado do grego oude que significa nem e equivale a NON. Geralmente é colocado acompanhando ou adjetivos ou advérbios. Em boa prosa nunca foi usado como modificador de verbo, exceto na locução haud scio an (veniat) = não sei se (vem) e similares.

Alguns exemplos de emprego:


RES HAUD DIFFICILIS = COISA NÃO DIFÍCIL


HAUD LONGE = NÃO LONGE


HAUD DUBIE = SEM DÚVIDA


HAUD FACILE DIXERIS UTRUM MAGIS PRESSERIT M. PORCIUM CATONEM NOBILITAS, AN ILLE AGITAVERIT NOBILITATEM = NÃO PODERIAS FACILMENTE DIZER SE A NOBREZA MAIS PERSEGUISSE A M. PÓRCIO CATÃO OU SE ELE MAIS INQUIETASSE A NOBREZA.


Somente mais um adendo acerca do emprego do haud com o verbo scio:


HAUD SCIO que significa NÃO SEI, pode também ser traduzido pelo nosso advérbio TALVEZ. Então:


HAUD SCIO AN NEMO = NÃO SEI SE ALGUÉM pode ser vertido TALVEZ NINGUÉM.


Paulo Barbosa.