quinta-feira, 28 de julho de 2011

VERSO CAROLÍNGIO INTRADUZÍVEL?

Pomiflua sollers veniat de sede Menalcas,

Sudorem abstergens frontis ab arce manu.

Quam saepe ingrediens, pistorum sive coquorum

Vallatus cuneis, ius synodale gerit.

Este verso é tido pelos latinistas como de difícil tradução, pois acumula várias palavras de duplo sentido, como arx que pode ser 'alto' (da fronte) e 'cidadela'; vallatus que pode ser 'rodeado' e 'fortificado'; cuneus que pode ser 'prateleira' e 'batalhão'; ius synodale que pode ser 'direito sinodal' e 'molho de certo peixe'.

É um verso humorístico de cozinha da poesia carolíngia, em que o senescal de Carlos Magno aparece sob o nome bucólico de Menalcas.

E você, latinista leitor, seria capaz de uma tradução satisfatória?

Paulo Barbosa.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

PRECEITO DE SÃO BENTO AOS MONGES

Obscena verba, turpia

Et risumque moventia

Tantum vitemus plurimum

Velut venenum aspidum.

Com este verso, preceituava São Bento em sua regra que os monges evitassem 'palavras obscenas e torpes ou que provoquem o riso o mais possível, assim como [se evita] o veneno das cobras'.


Paulo Barbosa.

HEDIONDO, ADJETIVO ORIGINÁRIO DO LATIM


Muito se ouve falar em crime HEDIONDO, com a acepção de depravado, pavoroso, sórdido, nojento, repugnante, mas poucos sabem que este adjetivo vem do latim. Cândido de Figueiredo aponta sua origem como sendo de FOETIBUNDUS = FÉTIDO, FEDORENTO.

Para nós, porém, o adjetivo chegou através do espanhol, língua em que o f inicial latino deu em geral h, como em fabulare que deu hablar, filius que deu hijo, folium que deu hoja, etc. Em espanhol, curiosamente, hediondo conservou o significado de fétido, fedorento.

Paulo Barbosa.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

LOCUÇÕES EXCLAMATÓRIAS LATINAS

Os latinos empregavam além das interjeições puras, certas fórmulas ou locuções exclamatórias, como as seguintes:

AGE!, AGITE = EIA! VÁ! EM FRENTE! CORAGEM! - Age, ambula in ius = Vá, comece a ir para o tribunal.

HERCULE!, HERCLE! = POR HÉRCULES! - Gaudeo hecule! = Sinto na verdade um grande prazer!

MEDIUS FIDIUS! = PELO DEUS DA BOA FÉ!

PRO JUPPITER! = POR JÚPITER! (quando em espanto)

DI IMMORTALES! = DEUSES IMORTAIS! (quando em espanto)

ECASTOR! MECASTOR! = POR CASTOR! (usado na fórmula de juramento pelas mulheres)

POL, EDEPOL! = POR PÓLUX! JURO!

Paulo Barbosa.

terça-feira, 19 de julho de 2011

ACUSATIVO DE RELAÇÃO - HELENISMO SINTÁTICO INTRODUZIDO PELOS POETAS HELENIZANTES

ACUSATIVO DE PARTE OU DE RELAÇÃO é aquele acusativo que indica a parte do objeto à qual se estende uma maneira de ser ou o ponto de vista ao qual se pode estender uma afirmação. Daí ser denominado também de acusativo de ponto de vista ou de limitação. Foi muito usado na poesia, mas há exemplos raros também na prosa, e provavelmente é um helenismo sintático introduzido no latim pelos poetas helenizantes.

NIGRANTES TERGA IUUENCOS (Verg. En. 6,243) = NOVILHAS NEGRAS QUANTO AO DORSO

MERCURIO SIMILIS VOCEM (Ovídio) = SEMELHANTE A MERCÚRIO QUANTO À VOZ

QUI GENUS ESTIS? (Verg. En. 8,114) = QUEM SOIS VÓS QUANTO À RAÇA?

CETERUM EGREGIUM (Tito Lívio, 1,32,2) = EM TUDO O MAIS NOTÁVEL

MAXIMAM PARTEM... VIVUNT (César, B. Gal. 4,1,8) = VIVEM NA MAIOR PARTE

MAGNAM PARTEM NOSTRA CONSTAT ORATIO (Cícero, Or. 189) = NOSSA LÍNGUA CONSTA EM GRANDE PARTE

Paulo Barbosa.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

PARVA SED APTA MIHI


Parva sed apta mihi, sed nulli obnoxia,

                                             sed non

  Sordida: parta meo sed tamen aere domus.

Este hemistíquio de um hexâmetro encontrava-se numa casa de campo que Ludovico Ariosto, autor de Orlando furioso, mandou construir em Mirasole, perto de Ferrara, Itália. Sua tradução é:

(Esta) casa (é) pequena, porém adequada para mim,

mas a ninguém sujeita,

mas não miserável:

por outro lado foi ganha com o meu dinheiro.

O hemistíquio é reduzido a apenas à seguinte inscrição:

Parva sed apta mihi

Pequena, mas adequada a mim

Paulo Barbosa.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

AGENTE DA PASSIVA EM DATIVO

Aprende-se como regra geral que o agente da passiva em latim exprime-se em ablativo regido de a ou ab, quando representa um ser animado, ou com simples ablativo nos outros casos. Desta maneira:

A Caesare Galli victi sunt = Os Gauleses foram vencidos por César

Cupiditate quidam inflammantur = Algumas pessoas são excitadas pela ambição


Há um caso, porém, em que o agente da passiva, em vez de se expressar em ablativo, expressa-se em dativo. Isto se dá quando o verbo se encontra conjugado perifrasticamente, ou seja, verbo auxiliar mais particípio. Assim:

Mihi colenda est virtus = A virtude deve ser cultivada por mim

Mihi consilium captum est = Foi tomada por mim uma resolução

Quando o dativo, todavia, for provocar ambiguidade neste caso - conjugação perifrástica -, deve-se manter a construção com o ablativo:

A me parendum est tibi = Deve ser-te prestada obediência por mim, ou seja, devo obedecer-te

Paulo Barbosa.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O LUGAR DONDE E AS PREPOSIÇÕES LATINAS

O lugar donde, aquele que indica origem, ponto de partida, geralmente é indicado com a preposição DE, tanto em português quanto em latim. Acontece, porém, que em latim, dependendo das circunstâncias, este DE é traduzido de forma variada. Desta maneira:

1. Se o lugar donde algo procede for apenas das imediações ou de junto de, em latim usa-se A ou AB. Quer dizer que estas preposições indicam o ponto de partida das proximidades de um lugar e não do seu interior.

2. Se o lugar donde algo procede for de dentro, em latim usa-se E ou EX. Ou seja, estas preposições indicam procedência, origem ou movimento de dentro para fora.

3. Se o lugar donde algo procede for de cima para baixo, em latim usa-se a preposição DE.

Note que as três preposições latinas - A/AB; E/EX; DE - são traduzidas pela nossa preposição portuguesa DE, mas cada uma das latina é usada numa circunstância diversa. Isso quer dizer que, ao se traduzir do português para o latim, deve-se prestar bastante atenção quando aparecer o DE indicador de procedência, analisando que tipo de lugar donde se refere: se das proximidades, se do interior ou se de cima para baixo.

REDEO A PATRE = VENHO DA CASA DE MEU PAI

REDEO EX URBE = VENHO DA CIDADE

DE MURO CADERE = CAIR DA MURALHA

Paulo Barbosa.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

VERBOS DE SENTIDO DIFERENTE, SEGUNDO SE CONSTROEM COM ACUSATIVO OU DATIVO

Em latim alguns verbos têm sentido diferente segundo estão construídos com acusativo ou dativo. Assim:

CONSULO TE = CONSULTO-TE

CONSULO TIBI = INTERESSO-ME POR TI



METUO/TIMEO TE = TEMO-TE

METUO/TIMEO TIBI = TEMO POR TI



RIDEO TE = ZOMBO DE TI

RIDEO TIBI = RIO-ME PARA TI

Paulo Barbosa.

terça-feira, 12 de julho de 2011

UNUS, UNA, UNUM: QUANDO SE USA OU NÃO EM LATIM

O cardinal UNUS, UNA, UNUM só é empregado em latim para indicar 'UM SÓ', 'SOMENTE UM'. Assim:

EXISTE SOMENTE UM DEUS, se traduz em latim: UNUS DEUS EST

AMO UMA SÓ MULHER, em latim: UNAM MULIEREM AMO

Já o 'UM' do português não é traduzido em latim, a não ser que venha acompanhado de '' ou 'somente', conforme vimos. Assim:

AMO A UM DEUS, em latim será: DEUM AMO

AMO UMA MULHER, em latim: MULIEREM AMO

Paulo Barbosa.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O POSSESSIVO "SEU" EM LATIM

O pronome possessivo SEU pode ser traduzido em latim de duas maneiras, a saber:

1) Quando designa posse, pertença ou se refere ao sujeito da oração, ou seja, quando o sujeito da oração é o possuidor, SEU é traduzido por SUUS, SUA, SUUM. Assim:

MARIA AMA SUA MÃE, onde sua aqui refere-se ao sujeito da oração, ou seja, Maria. Logo, em latim será: MARIA AMAT SUAM MATREM.

PEDRO AMA SEU PAI, onde seu refere-se ao sujeito da oração, Pedro. Em latim: PETRUS PATREM SUUM AMAT.

2) Quando, todavia, diz respeito à pessoa ou coisa de que se fala, e o possuidor não é o sujeito da oração, SEU é traduzido por EJUS ou EORUM, EARUM

EJUS se traduz por DELE e serve para todos os gêneros no singular.

EORUM se traduz por DELES e serve para os gêneros masculinos e neutros no plural.

EARUM se traduz por DELAS e serve para o gênero feminino plural. Assim:

AMO SUA IRMÃ, onde sua se refere à irmã de alguém. Em latim, então, fica: SOROREM EJUS AMO.

AMO AS MENINAS. CONHEÇO SUA MÃE, onde sua refere-se à mãe das meninas que conheço. Em latim: AMO PUELLAS. EARUM MATREM COGNOSCO.

Paulo Barbosa.

domingo, 10 de julho de 2011

MANSO E DOMESTICADO EM LATIM COM NUANCES DIFERENCIAIS


Os latinos possuíam duas palavras para designar o animal manso, domesticado, mas cada uma com um matiz peculiar: CICUR e MANSUETUS.

CICUR era o animal manso por natureza, como por exemplo, a ovelha, e só se emprega em relação aos animais.

MANSUETUS é o animal manso devido ao adestramento que recebeu. A própria palavra é composta de quasi manu assuetus, que pode ser traduzido: como que acostumado pela mão (do adestrador). Exemplo de animal 'mansuetus' é o tigre. Observemos, também, que mansuetus pode ser predicado também do homem, e é desta palavra latina que veio a nossa portuguesa mansidão.

Em ambos qualificadores há, porém, antagonismo a ferus, que significa a ferocidade do animal, mas uma ferocidade que procede do instinto, que é bestial, que é por natureza, por caráter constituinte do próprio animal.

Paulo Barbosa.

sábado, 9 de julho de 2011

CORPUS INSCRIPTIONUM LATINARUM VIII: NUM RELÓGIO

Na Polônia, mais especificamente em Wratislav, em 1517 foi construído um relógio às expensas públicas, no qual tinha a seguinte elegantíssima inscrição:

Aspice quam ceteri cursu levis effugit hora,

Lubrica nec vitae tempora perde tuae.


Diffugiunt anni celeres, lethumque minantur,

Mortuus ut possis vivere, vive bene.


Olha com que rápido curso foge a hora ligeira,

Nem desperdices os tempos que deslizam da tua vida.


Os anos fogem rápidos e ameaçam a morte,

Para que morto possas viver, vive bem.

Paulo Barbosa.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

USO DOS PARTICÍPIOS LATINOS

O particípio presente latino é usado toda vez que duas ações forem concomitantes, embora a ação do particípio seja presente, passada ou futura. Assim:

HOMO VENIENS ALTUS EST = O HOMEM QUE VEM É ALTO

HOMO VENIENS ERAT ALTUS = O HOMEM QUE VINHA ERA ALTO

HOMO VENIENS BENE RECEPTUS ERIT = O HOMEM QUE VIRÁ SERÁ BEM RECEBIDO


O particípio passado é usado quando a ação do particípio for anterior à oração da principal. Assim:

EPISTULA MISSA VENIT = A CARTA ENVIADA (= QUE FOI ENVIADA) CHEGOU


O particípio futuro é usado quando a ação do particípio for posterior à ação da oração principal. Assim:

HIC EST HOMO VENTURUS = ESTE É O HOMEM QUE VIRÁ

Paulo Barbosa.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

COMO TRADUZIR O FUTURO DO PRETÉRITO EM LATIM

Amaria, aconteceria, beijaria, louvaria, são formas verbais que, na língua portuguesa, estão no futuro do pretérito.

Ora, o futuro do pretérito não existe em latim. Como, então, fazer, caso apareça esta forma em texto português que será vertido para o latim? Neste caso, deve-se usar o subjuntivo presente ou imperfeito latino. Assim, se quiser traduzir:

EU AMARIA, em latim será: AMAREM

EU AVISARIA, em latim: MONEREM

TU LERIAS, em latim: LEGERES

ELE RECEBERIA, em latim: ACCIPERET

Em português, todavia, temos dois futuros do pretérito, o simples (amaria) e o composto (teria amado). O simples, como vimos, basta usar do subjuntivo presente ou imperfeito, mas o composto é traduzido em latim pelo mais-que-perfeito do subjuntivo. Assim:

EU TERIA AMADO, em latim será: ADJUVISSEM

EU TERIA AVISADO, em latim: MONUISSEM

TU TERIAS LIDO, em latim: LEGISSES

ELE TERIA RECEBIDO, em latim: ACCEPISSET

Geralmente uma oração de verbo no futuro do pretérito quase sempre vem acompanhada de outra começada pela conjunção se, que em latim é si. Os verbos, pois, em ambas as orações devem, em latim, estar no mesmo modo:

AJUDAR-TE-IA SE FOSSE RICO, em latim será: TE ADJUVAREM SI DIVES ESSEM

TER-TE-IA AJUDADO SE FOSSE RICO, em latim: TE ADJUVISSEM SI DIVES FUISSEM

SERÍEIS MAIS SÁBIOS SE TIVÉSSEIS SIDO SEMPRE ATENTOS, em latim: DOCTIORES ESSETIS SI SEMPER ATTENTI FUISSETIS.

O futuro do pretérito só se traduzirá pelo presente do subjuntivo quando a hipótese for possível. Assim:

A TERRA AMOLECERIA SE CHOVESSE, em latim será: TERRA MADEAT SI PLUAT, pois é possível que a água da chuva amoleça a terra.

Paulo Barbosa.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

VERBOS IMPESSOAIS LATINOS

Verbos impessoais são aqueles que só se conjugam na 3ª pessoa do singular. Dividem-se em dois grupos:

1. Impessoais essenciais

2. Impessoais acidentais

Os impessoais essenciais são aqueles que sempre se conjugam pela 3ª do singular. Dividem-se em 4 grupos:

1. Impessoais que indicam fenômenos da natureza.

2. Impessoais que indicam sentimentos.

3. Impessoais que têm uma oração como sujeito.

4. Verbos intransitivos na voz passiva impessoal.

IMPESSOAIS QUE INDICAM FENÔMENOS DA NATUREZA

1) Pluit, pluit (= pluvit), pluere (chover)

2) Tonat, tonuit, tonare (trovejar)

3) Fulgurat, fulguravit, fulgurare (relampejar)

4) Fulminat, fulminavit, fulminare (cair raios)

5) Ningit, ninxit, ningere (nevar)

IMPESSOAIS QUE INDICAM SENTIMENTOS

1) Poenitet, poenituit, poenitere (arrepender-se)

2) Piget, piguit (ou pigitum est), pigere (aborrecer-se)

3) Pudet, puduit (ou puditum est), pudere (envergonhar-se)

4) Miseret, misertum est, miserere (compadecer-se)

5) Taedet, taeduit (ou taesum est), taedere (enfastiar-se)

IMPESSOAIS QUE TÊM UMA ORAÇÃO COMO SUJEITO

1) Decet, decuit, decere (convir)

2) Dedecet, dedecuit, dedecere (não convir)

3) Oportet, oportuit, oportere (ser necessário)

4) Libet, libuit (ou libitum est), libere (agradar)

5) Licet, licuit (ou licitum est), licere (ser permitido)

VERBOS INTRANSITIVOS NA VOZ PASSIVA IMPESSOAL

Os verbos intransitivos só admitem a passiva impessoal. Por exemplo, o verbo eo, is, ii, itum, ire (ir) é intransitivo, e portanto, não se conjuga na voz passiva. Entretanto, admite a passiva impessoal:

a) Presente do indicativo: Itur (vai-se)

b) Imperfeito do indicativo: Ibatur (ia-se)

c) Perfeito do indicativo: Itum est (foi-se ou tem-se ido)

E assim por diante.


Os impessoais acidentais são verbos pessoais que podem tomar a forma impessoal, como por exemplo o verbo convenio, convenis, conveni, conventum, convenire (vir juntamente), que pode ser 

1) Convenit, convenit, convenire (convir).

Um grande número de verbos pessoais pode impessoalizar-se.

Devemos também observar a existência de certas expressões verbais impessoais, como por exemplo:

1) Opus est (é necessário)

2) Aequum est (é justo)

3) Fas est (é lícito)

4) Nefas est (é ilícito)

Paulo Barbosa.

terça-feira, 5 de julho de 2011

CORPUS INSCRIPTIONUM LATINARUM VII: A INSCRIÇÃO DE UM ESPELHO

EXTERIORA PATENT, INTERIORA LATENT

É a inscrição que se lia num espelho e que, numa tradução bem livre, pode ser o nosso:

Quem vê caras, não vê corações

Aproveitando a oportunidade, saibamos que a forma neutra dos adjetivos serve para traduzir em latim as expressões em que nós adicionamos a palavra coisa/coisas. Assim:

DIGO COISAS VERDADEIRAS, em latim será: VERA DICO, em que vera é adjetivo neutro no acusativo plural.

ESTAS COISAS SÃO ÚTEIS, em latim: HAEC UTILIA SUNT, em que utilia é adjetivo neutro no nominativo plural, pois é predicativo.

CANTEMOS COISAS UM POUCO MAIORES, em latim: PAULO MAIORA CANAMUS, em que maiora é adjetivo comparativo neutro em acusativo.

AS COISAS EXTERIORES ESTÃO PATENTES, AS INTERIORES LATENTES, em latim é a inscrição do espelho colocada acima, em que exteriora e interiora são adjetivos neutros em nominativo, pois neste caso são os sujeitos de ambas as orações.

Paulo Barbosa.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

ORAÇÃO INFINITIVA CONSTITUÍDA DE NOMINATIVO MAIS INFINITIVO

Vimos já por aqui que uma das maneiras de se formar uma oração substantiva é mediante uma oração infinitiva, e que esta é definida como aquela oração que tem o verbo no modo infinito e o sujeito no acusativo. Este tipo oracional é também chamado de acusativo sujeito ou acusativo mais infinitivo.

Existem, porém, orações infinitivas que, em vez de acusativo com infinito, são constituídas de nominativo com infinitivo. Isto acontece com certos verbos que, regendo uma oração infinitiva, estão na voz passiva. Contróem-se, pois, pessoalmente, com o sujeito e o nome predicativo em nominativo. Tais verbos são os seguintes: 

VERBOS SENTIENDI E DECLARANDI: dicor, audior, existimor, putor, fertur, traditur etc.:

VULPES ad cenam DICITUR ciconiam INVITASSE = DIZ-SE que A RAPOSA CONVIDARA uma cegonha para jantar. (Na ordem direta: Dicitur vulpes invitasse ciconiam ad cenam).

DISCIPLINA (Druidum) in Britannia REPERTA ESSE EXISTIMATUR = JULGA-SE que  A DOUTRINA (dos Drúidas) FOI INVENTADA na Bretanha. (Na ordem direta: Existimatur disciplina (Druidum) reperta esse in Britannia).

SEPTEM FUISSE DICUNTUR qui sapientes vocarentur = DIZ-SE QUE HOUVE SETE HOMENS que se chamaram sábios. (Na ordem direta: Dicuntur fuisse septem qui sapientes vocarentur).


OS VERBOS: iubeor, vetor, sinor, prohibeor, cogor, videor:

Senatum vocant consules, IUBENTUR subitarium SCRIBERE exercitum = Os cônsules convocam o senado, (o Senado) ORDENA-LHES que ALISTEM um exército improvizado. (Na ordem direta: Consules vocant Senatum, [Senatus]iubentur scribere exercitum subitarium).

Aequum POSTULARE VIDETUR HASDRUBAL = PARECE QUE ASDRÚBAL PEDE uma coisa justa. (Na ordem direta: Videtur Hasdrubal postulare aequum).

Paulo Barbosa.

domingo, 3 de julho de 2011

CONSELHO BEM ATUAL DE HUGO DE TRIMBERG PARA SER UM LATINISTA NÃO INGLÓRIO

Um auctorista - assim era chamado o professor de literatura na Idade Média - de nome HUGO DE TRIMBERG, natural de Bamberg, na sua obra Registrum multorum auctorum, reconhecendo-se, enquanto especialista em literatura, na mais ínfima posição, escreveu o que segue:



"QUI PERFECTUS FIERI NEQUEAT ARTISTA

VEL PROPTER PENURIAM RERUM DECRETISTA,

SALTEM ILLUD APPETAT UT SIT AUCTORISTA!

SICQUE NON INGLORIUS ERIT LATINISTA.


SIBIQUE GRAMMATICA SIT NOTA REGULARIS,

IN QUA STUDENS SEDULO PROFICIAT SCOLARIS,

UT PRODESSE VALEAT PLURIBUS IGNARIS;

TAMEN SE NON PREFERAT DOCTORIBUS CLARIS"!

*  *  *

"Quem não pode tornar-se um perfeito artista,

Nem decretista, por causa de sua penúria,

Possa, ao menos, chegar a 'autorista'!

Assim, poderá ser um latinista não inglório.



Conheça bem a gramática regular;

Estudando-a, com zelo, progrida em seu saber,

De maneira a poder ajudar o maior número de ignorantes;

Nem por isso, porém, se julgue superior aos doutores famosos".

Paulo Barbosa.

ORAÇÃO SUBSTANTIVA JUSTAPOSTA

ORAÇÃO SUBSTANTIVA, também denominada INTEGRANTE ou COMPLETIVA, é aquela que integra ou completa o sentido de um verbo da oração principal, ou até mesmo de uma outra oração subordinada, e desempenha principalmente as funções que o substantivo representa, sobretudo, em latim, as de sujeito e de complemento do verbo.

Forma-se oração substantiva em latim de cinco maneiras, a saber:

1. Mediante uma oração subordinada subjuntiva justaposta, ou seja, oração subordinada com verbo no modo subjuntivo e sem nenhum conectivo, sem nenhuma conjunção que a ligue à oração principal. 

2. Mediante uma oração subordinada infinitiva justaposta, que é o caso já estudado aqui da oração infinitiva ou acusativo sujeito, que também é ligada à principal sem conectivo algum.

3. Mediante uma oração subordinada subjuntiva introduzida pelas conjunções integrantes ut, ne, quin, quominus (ou quocetius).

4. Mediante uma oração subordinada introduzida pela conjunção quod. Nesta oração o verbo geralmente está no modo indicativo, diferentemente da oração do número 3, que sempre está no subjuntivo.

5. Mediante uma oração interrogativa indireta, isto é, aquela que se subordinada a um verbo como saber, perguntar, indagar etc.

Veremos hoje alguns exemplos de orações substantivas justapostas, ou seja, que se subordinam à oração principal sem nenhum conectivo e com o verbo no modo subjuntivo. Tal tipo de subordinação é primitivo por ter sido em priscas eras todas as orações de igual valor, sem que houvesse uma principal à qual subordinassem outras. Foi a parataxe ou coordenação a maneira natural do homem antigo expressar-se, e não a hipotaxe ou subordinação mediante conectivos, que só com o desenvolvimento intelectual humano se foi afigurando e se tornando presente nos discursos. No latim arcaico, sobretudo em Plauto e Terêncio, encontra-se abundantemente esta forma paratática de subordinação. Vejamos, então:

Surgem este tipo de subordinada sobretudo com verbos volitivos, que expressam a vontade, como volo (= querer), nolo (= não querer), malo (= preferir) etc.; com verbos e expressões impessoais, como licet (= ser lícito), oportet (= convir), necesse est (= ser necessário), decet, opus est, optumum est, aequom est etc.

VOLO AMES MARIAM = QUERO QUE AME MARIA - Ames Mariam é oração substantiva subordinada justaposta, ou seja, sem nenhuma conjunção que a ligue à oração principal, que é volo = eu quero. Note que, em português, se coloca a conjunção integrante que para a tradução.

NOLO FUGIAS = NÃO QUERO QUE FUJAS - Fugias, oração substantiva subordinada justaposta. 

MALO VENIAT = PREFIRO QUE VENHAS - Veniat, oração substantiva subordinada justaposta.

LICET DICAT EMISSE = É LÍCITO QUE DIGA QUE COMPROU - Dicat emisse - oração substantiva justaposta à principal.

OPORTET REDEAS AD ME = CONVÉM QUEM VOLTES PARA MIM - Redeas ad me, oração substantiva justaposta.

ROGAT FACIAT FINEM ORANDI = ROGA QUE TERMINE AS SÚPLICAS - Faciat finem orandi, oração substantiva subordinada subjetiva justaposta.

ERUM EXHIBEAS VOLO (Plauto, M. Glor., 546) = QUERO QUE FAÇAS VIR SEU PATRÃO - Erum exhibeas, oração substantiva justaposta.

NOLO ORES (Plauto, Most., 1176) = NÃO QUERO QUE PEÇAS - Ores, oração substantiva justaposta.

MALIM ISTUC ALIIS VIDEATUR (Plauto, Poen., 1184) = PREFERIRIA QUE ISTO PARECESSE AOS OUTROS - Istuc aliis videatur, oração substantiva justaposta à principal, malim = eu preferiria.

SCIN QUID VOLO FACIAS? (Terêncio, Hec., 753) = SABES O QUE QUERO QUE FAÇAS? - Facias, oração substantiva justaposta.

NOLO MENTIARE (Terêncio, Heaut., 701) = NÃO QUERO QUE MINTAS - Mentiare, oração subordinada justaposta. [Obs: Mentiare é a segunda pessoa do singular do presente do subjuntivo da voz passiva].

LAEDAT LICET (Plauto, Capt., 303) = É PERMITIDO QUE FIRA - Laedat, oração substantiva justaposta.

HAEC FACIAT OPORTET (Catão, Agr., 14,1) = É NECESSÁRIO QUE FAÇA ISTO - Haec faciat, oração substantiva justaposta.

FATEARE NECESSE EST (Lucrécio, 3,593) = É NECESSÁRIO QUE CONFESSES - Fateare, oração substantiva justaposta. [Veja a observação de mentiare].


É também comum este tipo de subordinada substantiva justaposta com os verbos facio, sobretudo no imperativo e nas raras formas sigmáticas (em -s), video no imperativo e com cave.

FAC ID NOSCAM (Plauto, Poen., 893) = FAZE COM QUE EU O SAIBA - Id noscam, oração subordinada justaposta.

FACITE JAM HIC ADSINT (Plauto, Pseud., 181) = FAZEI COM QUE ESTEJAM JÁ AQUI - Jam hic adsint, oração subordinada justaposta.

FAXO HAUD DICAT (Plauto, Bacch., 864) = FAREI COM QUE NÃO DIGA - Haud dicat, oração subordinada justaposta à principal, faxo = eu farei. [Obs: A forma faxo é sigmática, pois o X equivale em latim à dupla consoante C e S].

FAXIM NUSQUAM APPAREAT (Plauto, Pers., 73) = HEI DE FAZER COM QUE NÃO APAREÇAM EM PARTE ALGUMA - Nusquam appareat, oração subordinada justaposta.

CAVE AUDIAM (Terêncio, Heaut., 1031) = ACAUTELA-TE DE QUE EU OUÇA - Audiam, oração subordinada substantiva justaposta.

CAVE TU MI IRATUS FUAS (Plauto, Capt., 431) = ACAUTELA-TE DE TE ENRAIVECERES CONTRA MIM - Tu mi iratus fias, oração subordinada justaposta. [Obs: este mi é a forma contrata de mihi, dativo singular de ego e fuas é o presente subjuntivo arcaico do verbo sum, que agora é sim, sis, sit...].

CAVETO ALIENAM DISCIPLINAM TEMERE CONTEMNAS (Catão, Agr., 1,4) = ACAUTELA-TE DE DESPREZAR SEM REFLEXÃO A DISCIPLINA ALHEIA - Alienam disciplinam temere contemnas, oração substantiva justaposta.

Paulo Barbosa.

sábado, 2 de julho de 2011

FALECEU ITAMAR FRANCO, EX-PRESIDENTE E SENADOR DA REPÚBLICA


É com pesar que recebemos a notícia da morte de Itamar Franco, ex-presidente da República e Senador por Minas Gerais eleito em 2010.

Enfim, chegou o dia em que este importante político brasileiro, baiano de nascimento, mas mineiro por eleição, poderá clamar nos umbrais da eternidade:

LIBERTAS QUAE SERA TAMEN

Paulo Barbosa.

ADVÉRBIOS INTERROGATIVOS

Vários são os advérbios interrogativos latinos, dentre os quais veremos os seguintes, que são, certamente, os mais usados:

ONDE = UBI - Ubi sumus? = Onde estamos?

DONDE = UNDE - Unde ista mulier? = Donde (vem) esta mulher?

PARA ONDE = QUO - Quo fugis? = Para onde foges?

QUANDO = QUANDO - Quando profectus est pater? = Quando partiu teu pai?

ATÉ QUANDO = QUOUSQUE - Quousque abutere patientia nostra? = Até quando abusarás da nossa paciência?

POR QUE = CUR e QUARE -

      CUR é usado na interrogação direta: Cur me excrucio? = Por que me aflijo?

    QUARE é usado na interrogação indireta, ou seja, aquela que depende de um verbo como perguntar, saber, indagar etc.: Cura ut sciam quare non venerit pater = Faz-me saber por que não veio teu pai.

POR QUE NÃO = CUR NON e QUIN, com o verbo no indicativo - Quin taces? = Por que não te calas?

COMO = QUOMODO, QUEMADMODUM e QUI -
   
      QUOMODO e QUEMDAMODUM nas interrogativas direta e indireta - Quomodo mortem filii tulisti? = Como suportaste a morte de teu filho?

     QUI com os verbos fio e possum - Qui fit ut nemo vivat sua sorte contentus? = Como é que ninguém vive contente com a sua sorte?

Qui possum? = Como posso?

Paulo Barbosa.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O VERSO DE UM ESTUDANTE DE LATIM

Um estudante de latim certa vez versejou:

Schola sit umbra nemoris,

Liber puellae facies.


Que a sombra do bosque seja a escola;

O rosto da menina, o livro.

Paulo Barbosa.