sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

INTERJEIÇÕES LATINAS

Interjeição é aquela palavra ou voz que exprime de maneira concisa e enérgica vários sentimentos súbitos da alma humana, como a alegria, a dor, a admiração e outros.

As principais interjeições latinas são:

1. de alegria:

      io, euae, euoe, euhoe = oh!

2. de dor:

      heu, eheu, ah, pro, au, proh = ai de mim

3. de admiração:

      a, ecce, en, eheu, heu, vah, papae, hui = ah! oh!

4. de exortação:

      eia (eia, sus), auge, cedo, age (=coragem), macte (=vamos)

5. de invocação:

      hercule, hercle, mehercules, mehercule = por Hércules; edepol = por Pólux; medius fidius = pelo deus da boa fé

6. de chamamento:

      utinam = oxalá, queira Deus!

7. de aprovação:

      fidius = perfeitamente; medius = exatamente

8. de desejo:

      o, eho, heus = oh! olá!

Paulo Barbosa

GENITIVOS OBJETIVOS E SUBJETIVOS

Genitivo objetivo é o mesmo que passivo. É denominado objetivo por ser o alvo, a meta ou o fim para onde se dirige a ação expressa pelo nome. E passivo, pelo mesmo motivo de sofrer ou receber a ação manifestada pelo nome. 

Exemplo deste tipo é:

Amor DEI = amor de Deus

Dei está no caso genitivo e aqui é objetivo (o alvo do amor) ou passivo (recebedor do amor). Ou seja, neste caso é o amor que os homens têm para com Deus, sendo, portanto, Deus - que está no genitivo Dei - o alvo do amor dos homens. 

Genitivo subjetivo, também denominado ativo, é aquele que age, que atua, que exerce a ação expressa pelo nome.

Assim, a mesma expressão:

Amor DEI = amor de Deus

pode o genitivo Dei ser subjetivo (exercer a ação como sujeito) ou ativo, significando o amor que Deus tem pelos homens. Aqui, Deus é o sujeito ou o agente do amor.

Esta questão genitiva latina reflete na língua portuguesa e quem a sabe bem, consegue resolver problemas que a primeira vista podem parecer dificultosos. Por exemplo, certa vez em discussão com um professor paulista, Orlando Fedeli, ele, por desconhecer esta questão, afirmou que "Cristo ama a todos os homens e nem por isso todos os homens estão unidos na mesma fé. Logo, a expressão na Missa: "O amor de Cristo nos uniu", não é correta". Esta afirmativa está errada, pois nesta frase o genitivo Christi, de Cristo, é objetivo, é passivo, significando o amor que os homens têm por Cristo, e este amor, sim, une os homens.

Paulo Barbosa

ORAÇÃO SUBORDINADA FINAL

Oração subordinada substantiva final é aquela que denota ordem, desejo, exortação, comando, medo e sempre aparece com os seguintes verbos: rogo, oromoneo, impero, statuo, decerno, hortor, efficio e outros mais do mesmo tipo.

Os conectivos usados são: ut, ne, ut ne.

O modo verbal é o subjuntivo.

O adjetivo Final não tem a acepção cronológica de fim, conclusão, remate, mas sim o sentido de intenção, propósito, desejo, vontade. Oração final, portanto, é a que exprime uma intenção, um propósito, um desejo.

Vejamos alguns exemplos:

Te rogo atque oro ut eum iuves = peço-te e suplico que o ajudes (Cícero, Fam. XIII, 66)

Monet ut omnes suspiciones vitet = ele averte que evite todas as suspeitas (César, B.G. I, 19)

Decrevit senatus ut L. Opimius videret ne quid res publica detrimenti caperet = decretou o Senado que Lúcio Opímio cuidasse no sentido de que a República não sofresse qualquer dano (Cícero, Cat. I, 24)

Quod praefinisti, quo ne pluris emerem = porque fixastes o preço máximo de compra (Cícero, Fam. VII, 2,1)

Nesta última, quo significando 'de qualquer maneira, de qualquer modo', é empregado na expressão quo ne.

Paulo Barbosa


quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

HELENISMOS NA LÍNGUA LATINA

A regra no latim antigo era de que o emprego de palavras provenientes do grego somente devia ser admissível em casos de extrema necessidade. Os mais puristas, entretanto, nem isso queriam permitir. Catão, por exemplo, grande estadista romano do século II a.C., afastou-se de Ênio, dramaturgo e poeta épico romano seu contemporâneo, por este usar de muitos helenismos em seus versos.

Nas Cartas de Cícero encontram-se várias palavras gregas, sobretudo naquelas dirigidas a pessoas mais familiares. Entretanto, nas obras literárias, estes mesmos grecismos são evitados.

O latinista Berger apresenta a seguinte lista de helenismos cujo emprego deve ser evitado:

anonymus - deveria ser SINE NOMINE = sem nome 

aristocratia - deveria ser OPTIMATIUM DOMINATIO = domínio dos ótimos

chronologia - deveria ser DESCRIPTIONES TEMPORUM = descrições dos tempos

demagogus - deveria ser CIVIS TURBULENTUS = cidadão desordeiro

democratia - deveria ser CIVITAS POPULARIS = cidade ou poder pertencente ao povo

diatriba - deveria ser DISPUTATIO = disputa (violenta e injuriosa por escrito)

eclipsis - deveria ser DEFECTIO SOLIS = ocultação do sol

methodus - deveria ser VIA = caminho ou RATIO = proporção

ode - deveria ser CARMEN = canto, poema, versos líricos

oligarchia - deveria ser PAUCORUM DOMINATIO = domínio de poucos

systema - deveria ser RATIO = relação entre as partes ou DISCIPLINA = disciplina

theoria - deveria ser ARS = arte ou DISCIPLINA ou ARTIS PRAECEPTA = preceitos da arte


Obviamente que muitas outras palavras de origem grega adquiriram direito de cidadania na língua latina, como o mesmo Berger confessa, tais como:

aer = ar

ather = escuro, negro, preto, tenebroso

bibliotheca = biblioteca

comoedia = comédia, drama jocoso e satírico

epigramma = epigrama, pequena poesia satírica finalizada por dito picante

epistula = epístola, texto escrito em forma de carta

gymnasium = ginásio, lugar onde se pratica ginástica

historia = história, narração ordenada e escrita dos acontecimentos humanos ocorridos no passado

musicus = músico, o que exerce a arte musical

platea = praça

palaestra = lugar para exercícios físicos na Grécia e Roma antigas

poema = poema, obra em verso

poesis = poesia, conjunto das obras em verso de uma língua

philosophia = filosofia, estudo geral sobre a natureza de todas as coisas e suas relações

rhetor = rétor, mestre de retórica, professor da fala eloquente

stadium = estádio, arena para jogos públicos

syllaba = sílaba, fonema ou grupo de fonemas pronunciado em uma só emissão de voz

tragicus = trágico, sinistro, catastrófico

tragoedia = tragédia, escrito dramático que inspira terror e piedade

tropaeum = troféu, insígnia de vitória

tyrannus = tirano, usurpador do poder soberano de um Estado


Paulo Barbosa

GÊNERO DA PRIMEIRA DECLINAÇÃO

O gênero dos nomes da primeira declinação, geralmente, é o feminino. Porém, algumas exceções há quando indicam seres pertencentes ao sexo masculino, tais como:

Agricola = agricultor

Advena, alienigena = estrangeiro

Assecla = o seguidor

Athleta = o atleta

Auriga = o cocheiro

Bibliopola = o livreiro

Collega = o companheiro

Caelicola = o santo (literalmente: o habitante do céu)

Conviva = o convidado

Geometra = o geômetra

Gumia = o comilão

Homicida = o homicida

Incola = o habitante

Indigena = o natural do país

Lanista = o mestre de esgrima, o que sabe manejar a espada

Nauta = o navegante

Perfuga = o desertor

Pincerna = o copeiro, o que serve a mesa

Pharmacopola = o farmacêutico

Pirata = o pirata, o ladrão do mar

Poeta = o poeta

Propheta = o profeta

Rabula = o rábula, o advogado que embaraça o processo

Scriba = o escrevente

Scurra = o parasita

Verna = o escravo nascido em casa - (daí vem 'vernáculo', próprio do país a que pertence).


Masculinos são, também, os nomes de homem como:

Dolabela

Catilina

Scaevola

Cotta


E os nomes de povos:

Persa


E ainda o nome do mar:

Hadria = o Adriático


Paulo Barbosa

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

'CAVERE, AGERE, RESPONDERE', TRÊS ATRIBUTOS DO PRUDENTE, SEGUNDO CÍCERO

"Se me perguntassem sobre o verdadeiro jurisconsulto, declarava Cícero, eu diria que é o homem conhecedor das leis e dos costumes, perito em dar consultas (ad respondendum), em defender num processo (ad agendum) e em indicar as precauções que deviam tomar (ad cavendum)".

Três, portanto, são, para Cícero, as palavras que apresentam o campo de atividade de um homem prudente, cauteloso: CAVERE, AGERE, RESPONDERE.

CAVERE é o verbo latino que denota aquela medida de precaução que todo homem jurisconsulto ou prudente deve tomar quando tem de realizar, oralmente ou por escrito, algum ato jurídico ou prudencial.

AGERE ou a expressão AD AGENDUM é a direção ou a orientação geral que o homem prudente devia imprimir à causa perante as autoridades ou o Tribunal.

RESPONDERE é a mais importante atividade do prudente e que consiste em responder às consultas sobre questões a ele submetidas por quem tivesse algum interesse em determinado caso. Muitas vezes, a simples resposta do prudente dirimia dúvidas e evitava tempo perdido numa causa forense.

Paulo Barbosa

EPÊNTESE LATINA

EPÊNTESE é a figura que consiste na inserção de uma letra entre os elementos de um grupo, mas sem ter valor de morfema, ou seja, sem possuir valor significativo, o que quer dizer que não pode ser considerado infixo, pois este possui significação.

Duas são as espécies de epênteses, vocálica e consonântica.

1. Epêntese vocálica. Em latim, uma gutural ou uma labial seguida de l, tais como -cl-, -pl-, -bl-, desenvolvem sempre um apêndice epentético u:

SaeCLum fez saCULum = século

PeriCLum fez periCULum = perigo

PoPLus fez poPULus = povo

O sufixo -blo dá -bulo = stablo = stabulo - estábulo, alojamento de animais domésticos.

O sufixo -clo faz -culo = obstaclo = obstaculo - barreira, obstáculo


2. Epêntese consonântica. Nos grupos -ml-, -ms-, -mt-, insere-se um p epentético:

ExMLum dá exMPLum = exemplo, modelo a ser imitado

CoMSi faz coMPSi = eu penteei o cabelo (pretérito perfeito de como = pentear)

DeMSi dá deMPSi = eu tirei (pretérito perfeito de demo = tirar)

ProMSi faz proMPSi = eu tirei para fora (pretérito de promo = tirar para fora)

CoMTum dá coMPTum = penteado, cabelo composto 

EMTum faz eMPTum = comprado, adquirido por meio de dinheiro

ProMTus dá proMPTus = pronto, que age sem demora, rápido

Paulo Barbosa


"REDEMPTI E REDEMPTOR" NA ROMA ANTIGA

REDEMPTI, OS RESGATADOS, eram, na Roma Antiga, os cidadãos romanos capturados pelos inimigos e resgatados pelos clientes (pessoas ligadas aos patrícios por vínculos e que formavam com eles a cidade da qual os plebeus não participavam), ou por membros da mesma gens

Ao final da República - período que começou em 509 a.C. e findou em 44 a.C. -, aquele que fosse resgatado por um cidadão romano não adquiria imediatamente a liberdade e isto por dever pagar antes ao seu redemptor (resgatador) uma certa importância pelo resgate.Tal resgatado, até saldar sua dívida, era considerado redemptus, porém ficando submetido ao redemptor.

Paulo Barbosa