sábado, 14 de setembro de 2019

MANEIRISMO, ESTILO ARTÍSTICO DE UMA ERA TURBULENTA

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"O Enterro do Conde de Orgaz", El Greco

MANEIRISMO é o nome do estilo artístico surgido nos séculos XVI-XVII, na Itália, no período que mediou entre a Renascença e o Barroco. Devido às transformações profundas que a sociedade de então passava -  religiosa, política, econômica e social - uma estética extraviada, que fugia dos moldes canônicos, também se construiu, haja vista a arte ser uma cosmovisão posta em símbolos. 

Como se pode notar no "O Enterro do Conde de Orgaz", o estilo maneirista se caracteriza pela dissonância, rejeitando, assim, a harmonia, tão presente na arte clássica e renascentista. Os corpos são distorcidos, deformados e alongados e a iluminação é irreal. As emoções intensas estão presentes, mostrando, desta maneira, a grande turbulência do tempo, os pecados do clero reinante, as vendas de indulgências e todos os erros teológicos da igreja imperante de então, erros que motivaram a Reforma Protestante com o fito de restaurar a simplicidade do Evangelho de Cristo.

Obs: Gonzalo Ruiz de Toledo, conhecido como Senhor Orgaz, viveu no século XIV, tendo falecido em 1323, e era uma personagem ilustre da cidade de Toledo, Espanha. Seu enterro foi eternizado por Doménikos Theotokópoulos, artista grego conhecido por El Greco.

Paulo Barbosa

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

ADORAR, UMA PALAVRA CURIOSA

ADORAR é uma palavra de origem e história curiosas, tendo o verbo latino adorare aparecido em cena desde o ano 450 a.C. nas afamadas Leis das XII Tábuas. O significado original, primário, foi o de 'dirigir a palavra a alguém, interpelar', haja vista ser composto dos seguintes elementos léxicos:

    ad = prefixo que significa 'para, a';

   orare = verbo latino que significa 'dizer, falar, pronunciar, discursar como orador, suplicar'. 

Com o correr do tempo, entretanto, passou também a significar 'implorar com orações aos deuses, dirigir súplicas a eles', e é com este sentido que aparece no escritor latino Suetônio, nos séculos I-II d.C., usado para descrever a prosternação e a rendição de culto às divindades, desenvolvendo-se, daí, mais tarde, o valor metafórico de venerar, honrar, amar a uma pessoa, pátria, ou virtudes.

Os gramáticos romanos afirmavam ser o verbo orare denominativo de os, oris (boca), porém, estudiosos atuais cogitam ser etimologia popular por 'orare' estar presente em grupos de palavras ocorridos no grego e no sânscrito e relacionados com a ação de pronunciar palavras de caráter solene e público, matiz este detectado no verbo latino desde seu nascimento.

Paulo Barbosa

terça-feira, 10 de setembro de 2019

O HEPTÂMETRO DE QUINTILIANO, FERRAMENTA PARA ELUCIDAR FATOS

CIRCUNSTÂNCIA é uma palavra proveniente do latim formada pelas seguintes partes:

    Circum, prefixo latino que significa 'ao redor';

    Stare, verbo latino que significa 'estar parado, estacionado, estar colocado, estar em pé firme';

    Nt, sufixo indicativo de agente;

    Ia, sufixo indicativo de qualidade.

Significa, portanto, circunstância, a qualidade (ia) do agente (nt) que está parado (stare) ao redor (circum).

Esta qualidade - chamada circunstância - modifica a ação de um sujeito, ou seja, está parada ao redor de uma ação, possuindo, destarte, a capacidade de em relação à tal ação voluntária de uma pessoa aumentar ou diminuir a sua bondade ou maldade e até mesmo alterar a sua natureza de boa para má. 

Algumas são, pois, as circunstâncias ou qualidades que, companheiras de uma ação dada, conseguem apurar de maneira lúcida, caso respondidas, o fato decorrente desta ação. Tais circunstâncias, quais ferramentas de apurar fatos, são denominadas de Heptâmetro de Quintiliano, usadas em formas interrogativas para evidenciar ou esclarecer alguma ocorrência. Ei-las:

    "quis" = quem agiu para produzir tal fato? 

    "quid" = o que foi produzido? - compreendendo sua qualidade e quantidade.

    "ubi" = onde foi o lugar da ação?

    "quando" = em que tempo foi realizada a ação?

    "quibus auxiliis" = quais foram os meios empregados na ação?

    "quomodo" = como a ação foi produzida? com advertência e consentimento?

    "cur" = o que motivou o agente a realizar a ação?

A resposta, então, a essas 7 perguntas, que são circunstanciais de toda ação, elucida qualquer fato ou ocorrência. A pessoa, o fato, o lugar, o tempo, o meio, o modo e os motivos são propostos em forma de perguntas diante de qualquer ação praticada, chegando-se, assim, ao serem respondidas corretamente, reafirmo, ao resultado final, esgotando, portanto, o assunto.

Paulo Barbosa