quarta-feira, 16 de novembro de 2022

TRÊS ADVÉRBIOS LATINOS DE SUPERIORIDADE

MAGIS, AMPLIUS, PLUS são em latim três advérbios usados para comparar, designando, todos, superioridade. Entretanto, há as seguintes diferenças entre eles:

1. Magis refere-se à qualidade das coisas, servindo, portanto, para expressar "melhor". 

O luce magis dilecta sorori = ó tu, a quem tua irmã quer mais do que a luz dos seus olhos! 

Magis est quod gratuler = tenho mais razões (= melhores razões) para te parabenizar.

Magis majores nugae = grandíssimas ninharias.

2. Amplius refere-se à extensão:

Amplius deliberandum censeo = julgo que devemos pensar nisso mais um pouco.

Amplius sunt sex menses = são mais de seis meses.

Nihil amplius optare = não desejar nada mais.

3. Plus refere-se à quantidade. É a forma empregada como comparativo de multus. Significa, pois, "em maior quantidade".

Plus millies audivi = mais de mil vezes o ouvi.

Plus pecuniae habere = ter mais dinheiro.

Pluris aedificare = construir com grande despesa.

Notas: a) Plus somente se usa nos casos genitivo e acusativo neutros e no genitivo e ablativo.

b) É muitas vezes acompanhado de genitivo, como no exemplo acima: plus pecuniae habere.

c) O genitivo pluris e o ablativo plure juntam-se a verbos que expressam preço ou valor: pluris aestimare = estimar mais; plure vendere = vender mais caro.

d) Com frequência também é usado como advérbio: plus duobus mensibus = mais de dois meses.

e) Pode também fazer oposição a minus: plus minusve = mais ou menos.

Paulo Barbosa

domingo, 2 de outubro de 2022

O DIREITO DE PROPRIEDADE É ILIMITADO?

 O direito de propriedade particular é rejeitado pelo socialismo e comunismo como contrário à lei natural e, em razão disso, a propriedade deve ser comum a todos, pertencendo, assim, à sociedade civil. Tal doutrina, entretanto, não corresponde à realidade, porquanto, embora o direito de propriedade derive da lei natural, como já visto em publicação anterior neste site, não  contudo é absoluto e independente de maneira que não admita limites. 

Limitação do direito de propriedade. Os limites ao direito de propriedade são de duas espécies, morais e jurídicos

. Limites morais, que não podem ser impostos por coação, têm suas origens não somente na natureza do direito de propriedade, mas também nos deveres religiosos do homem, nos deveres para consigo mesmo e para com o seu próximo. Por isso mesmo, não pode o homem abusar dos seus bens, nem destruí-los inutilmente, mas tem o dever de empregá-los para a própria subsistência e a de sua família, assim como socorrer aos necessitados e contribuir para a felicidade social.

Limites jurídicos, que podem ser impostos pela coação, têm suas origens nos direitos do próximo e da sociedade, e têm por fim a garantia destes mesmos direitos contra os abusos do exercício do direito de propriedade. Por isso, pode o Estado exigir impostos, fazer expropriações forçosas, ou, numa palavra, limitar o direito de propriedade como e quando o bem social ou a conservação da sociedade exigir.

Paulo Barbosa

sábado, 1 de outubro de 2022

A SOCIALIZAÇÃO DOS BENS É BOA?

 O regime de comunidade de bens aplicado à sociedade tanto pelo socialismo quanto pelo comunismo, provado já por Aristóteles contra Platão, traz como resultado fatal a decadência física e moral do indivíduo e da espécie. Tal conclusão pode ser sustentada pelos seguintes argumentos:

1.º A socialização dos bens provoca no homem uma diminuição no trabalho e no esforço, as duas primeiras condições de todo o progresso e aperfeiçoamento sociais, pois, sem a esperança de poder acumular através da economia os frutos do próprio trabalho, o homem tende a trabalhar o menos possível e com desleixo. De fato, que zelo se pode esperar de quem cultivasse um campo comum, tendo a sua subsistência assegurada pelo Estado, seja qual for o resultado dos seus esforços? Esta doutrina foi confirmada pela experiência russa, onde a abolição da propriedade particular provocou um enorme desânimo na sociedade, sendo, por isso, necessário voltar ao regime de propriedade privada ainda que bastante limitada.

2.º O Estado, no sistema de socialização dos bens, para obter os recursos de que necessita, seria obrigado a constranger os recalcitrantes, impondo-lhes obrigações e vigiando-os para que as cumprissem. Isso seria o funcionalismo convertido em um maquinismo universal da expansão econômica, assim como a ruína da liberdade e da responsabilidade individuais e cada cidadão se tornaria um escravo sob a tirania da burocracia comunista.

Paulo Barbosa

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

OS BENS ERAM COMUNS NO PRINCÍPIO?

 A tese coletivista de que no princípio tudo era naturalmente comum a todos e que, por conseguinte, segundo Proudhon "a propriedade é um roubo" não possui fundamento real pelo que se segue:

A natureza por si mesma não torna os indivíduos automaticamente proprietários, o que já mostra não serem os bens comuns desde o início. Ninguém, portanto, possui nada apenas por estar diante da natureza, haja vista ninguém ter trabalhado ainda para se apropriar das coisas. 

O que existia no princípio era o poder de adquirir direito a tudo, porém, tal direito a esse poder era universal, abstrato, fundado nas exigências essenciais da natureza humana, tornando-se concreto pelo fato da apropriação. Efetivamente, a apropriação se deu com o trabalho, com a exploração inteligente de qualquer solo ou matéria-prima que até então eram res nullius - coisas de ninguém - e infecunda. É o trabalho, portanto, que aplica ao solo ou a algum objeto determinado o direito universal à propriedade.

Após a apropriação através do trabalho, a História mostra a propriedade particular entre vários povos antigos, tais como os Hebreus, Assírios, Egípcios, Chineses, etc.

Enfim, mesmo que entre os povos antigos a posse das terras tivesse sido comum, a propriedade particular nunca poderia dizer-se contrária à natureza, pois ela é fruto da civilização e esta não é contrária à natureza humana.

Paulo Barbosa

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

O CAPITAL É FRUTO DE INJUSTIÇA?

 O capital é fruto de injustiça - eis uma tese cara ao comunismo, porquanto, sustenta a ideologia, deriva o capital do aumento do valor que a matéria bruta recebeu mediante o trabalho do operário e, por isso, esse aumento - o lucro - não pertence ao capitalista, mas ao trabalhador. 

Responde-se a esse sofisma afirmando que o capital não é fruto de injustiça, pois a) o seu aumento não depende somente do trabalho do operário; porque b) o trabalho supõe a matéria bruta e esta é adquirida com o capital já existente. Por isso, se o proletário tem direito ao fruto de seu trabalho, também o proprietário tem de ter parte nos benefícios da indústria. Portanto, é imoral e injusto exigir que o proprietário entregue aos trabalhadores todo o aumento de valor - todo o lucro - que a matéria bruta adquiriu através do trabalho, tanto mais que o salário do operário é uma realidade presente e certa, enquanto o benefício da indústria é futuro, incerto e sujeito a riscos e perdas. 

Em resumo, conclui-se razoavelmente que o capital não é fruto de injustiça, porque o capitalista comprou a matéria bruta e pagou ao operário o salário proporcionado ao seu trabalho. 

Paulo Barbosa

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

O QUE É O COMUNISMO

 O Comunismo é uma visão de mundo que, no viés econômico, rejeita o direito de propriedade particular como contrário à lei natural e preceitua que todos os bens devem ser comuns a todos os homens.

Divisão do Comunismo. Divide-se o comunismo em duas espécies, a saber, negativo e positivo.

. Comunismo negativo é aquele que rejeita em economia todo o direito de propriedade defendendo que todos os bens devem ser negativamente comuns, de maneira que todo indivíduo possa servir-se do que lhe agradar. 

. Comunismo positivo é o que patrocina que todos os bens devem ser próprios não dos indivíduos, mas de alguma coletividade. Essa espécie subdivide-se em absoluto e moderado.

a) Comunismo positivo absoluto - advoga que todos os bens, quer de produção, quer de consumo, devem pertencer a alguma coletividade, e a produção e distribuição desses mesmos bens devem ser feitas de maneira que tudo quanto é possível seja comum, como almoços, jantares, dormitórios, etc.

b) Comunismo positivo moderado - prescreve que só os bens produtivos - vinhas, olivais, etc., - devem ser comuns. Dessa espécie é proveniente o anarquismo que preconiza que todos os bens produtivos devem passar para o domínio inalienável dos municípios e das sociedades operárias, independentes entre si, e que tal estado de coisas se deve realizar por meio da força. O socialismo também pode ser ligado ao comunismo positivo moderado ao proclamar que todos os bens produtivos devem passar para o domínio de toda sociedade civil, e que tal estado de coisas se deve realizar por meio do voto popular.

Paulo Barbosa

terça-feira, 27 de setembro de 2022

O QUE É O SOCIALISMO

 SOCIALISMO é um sistema político e econômico que apregoa que todos os bens produzidos devem passar para o domínio da sociedade civil e que tanto a produção quanto a distribuição desses mesmos bens devem ser feitas pela mesma sociedade de maneira democrática, igualitária. Por isso, o socialismo também é denominado coletivismo.

Divisão do Socialismo. O socialismo divide-se em duas espécies, absoluto e moderado.

. Socialismo absoluto é aquele que defende que todos os bens produzidos, móveis e imóveis, devem passar para o domínio da sociedade civil. Tal espécie de socialismo foi sustentado principalmente pelos seguintes teóricos: Saint-Simon, francês, (1760-1825); Charles Fourier, francês, (1772-1837); Pierre-Joseph Proudhon, francês, (1809-1865), que proclamava: "A propriedade é um roubo"; Karl Marx, alemão, (1818-1883), que produz o livro "O Capital".

. Socialismo moderado é aquele que apregoa que entre os bens produzidos só os imóveis devem passar para o domínio da sociedade civil. Também é chamado socialismo agrário. Esse sistema foi sustentado por Lavelege, na Bélgica; Stuart Mill, na Inglaterra; George, na América; Flürscheim, na Alemanha; Hertzka, na Áustria.

Paulo Barbosa

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

UMA CONCISA CRÍTICA FILOSÓFICA DO COMUNISMO - PARTE II

 O comunismo, também denominado socialismo absoluto, tem por base falsos fundamentos, que, por isso mesmo, o torna absurdo e impossível de se concretizar em uma sociedade. Dentre os falsos fundamentos do comunismo assinalemos os cinco seguintes: 1) o ateísmo, ou seja, a negação de Deus, da espiritualidade da alma humana e da existência da vida futura; 2) a teoria materialista da evolução; 3) a igualdade de direitos em todos os homens; 4) a teoria do valor de Karl Marx; 5) a tese de que a propriedade particular divide necessariamente a sociedade em duas classes antagônicas, uma composta de capitalistas ricos, outra, de uma multidão imensa de proletários miseráveis.

Ora, todos esses fundamentos são falsos:

. É falso o ateísmo, ou seja, que Deus não existe; que a alma humana não é espiritual e imortal; que não existe a vida futura, e que por isso mesmo, o único e supremo fim da vida humana é o prazer terreno, o gozo material, em um paraíso terrestre. A demonstração cabal de cada uma dessas verdades será mostrada em futuros artigos nesse site.

. É falsa a teoria materialista da evolução. Tal teoria comporta duas interpretações, a saber: a) ou que tudo está submetido a uma perpétua mudança e, por isso, cada época ou era possui novas ideias relativas à moral, à política, à religião, à economia; b) ou que a evolução econômica tende sempre para a concentração, de maneira que, assim como muitas coisas que eram administradas pelos indivíduos passaram depois para o Estado ou para as companhias, assim também a produção e distribuição dos bens devem centralizar-se obrigatoriamente nas mãos da sociedade civil. Tanto no primeiro sentido, quanto no segundo, essa teoria é falsa. É falsa no primeiro, que é o defendido por Marx, discípulo de Hegel, porque, como é de evidência, existem verdades necessárias e imutáveis que o mesmo Marx em muitos de seus raciocínios supõe. Ora, se há verdades imutáveis e necessárias, tal fato repugna o evolucionismo relativista, a mudança em moral, política, religião, economia, com a mudança das eras. É falsa também no segundo sentido, pois é impossível que todos os bens produzidos passem para o domínio da sociedade, mas também porque a centralização não exclui necessariamente a propriedade particular.

. É falsa a teoria da igualdade de direitos em todos os homens. Na verdade, os direitos, se são iguais em todos os homens considerados em abstrato, isto é, na sua natureza específica de serem animais racionais, não são iguais em todos os homens considerados em concreto, isto é, nas suas condições individuais. Essa diversidade não só diz respeito aos direitos adquiridos, cuja desigualdade depende da desigualdade dos talentos, da atividade humana, da força, da criatividade, da prudência, etc., mas também diz respeito aos direitos naturais - direitos humanos -, cuja desigualdade depende da própria natureza. Desta maneira, os direitos do pai não são iguais aos direitos do filho, nem os dos empregadores são iguais aos dos servidores, nem os dos professores iguais aos dos alunos. Isso mostra com muita clareza o quanto a utópica igualdade absoluta dos direitos envolve a destruição da família e da sociedade. 

. É falsa a teoria do valor inventada por Karl Marx, pois supõe que o valor comutativo de uma coisa é constituído única e exclusivamente pelo trabalho, de maneira que o valor de um produto está na razão direta do trabalho despendido. Ora, é falsa essa hipótese porque entre o valor e o trabalho há muitas vezes grande desproporção. Assim, por exemplo, de duas vinhas em que se consumiu o mesmo trabalho, uma bem situada, em lugar privilegiado, dá fruto mais abundante e mais apreciado que a outra plantada em terreno ingrato. Por aí se percebe que o elemento constitutivo do valor de troca - comutativo - não é o trabalho, mas é sobretudo a utilidade ou o valor de uso. Foi dito sobretudo, pois a raridade de um produto também concorre para o seu valor. Por isso mesmo, fica evidenciado que duas mercadorias que se trocam devem ter um elemento comum, que é a sua utilidade, haja vista que o valor de uma coisa é maior ou menor de acordo com o grau da necessidade em o que homem se encontra, e da aptidão que a coisa - o produto - tem para remediar aquela necessidade. Essa aptidão, porém, depende das qualidades químicas e físicas do produto, e por isso, não se pode prescindir delas - qualidades - na determinação do valor da própria coisa. Duas bebidas, uma de boa safra, outra de ingrata safra, não podem valer o mesmo preço.

. Mesmo que se conceda que a propriedade particular divide a sociedade em duas classes, uma de ricos e outra de pobres, deve-se negar que essas classes devam ser opostas ou inimigas, pois a desigualdade se estiver contida dentro de certos limites estabelecidos pelas leis da justiça e da caridade, concorre para o exercício das virtudes sociais, para a cultura das ciências, para a promoção das belas artes e para o progresso da sociedade. 

Paulo Barbosa

domingo, 25 de setembro de 2022

UMA CONCISA CRÍTICA FILOSÓFICA DO COMUNISMO

O comunismo embora não vá contra a natureza humana em abstrato, ou seja, a natureza subordinada à reta razão e isenta de paixões desordenadas, repugna a natureza humana em concreto, a saber, cercada de fraquezas e misérias, e isso pelos três seguintes motivos:

. A doutrina comunista se baseia em um falso princípio, pois parte da tese de que a propriedade particular repugna à lei natural. Essa tese, com certeza, é falsa, haja vista não haver repugnância da lei natural o que não repugna nem às relações do homem em referência a Deus, nem às relações do homem para com os bens naturais, nem às suas relações - do homem - para com o próximo. Ora, a propriedade particular não repugna nenhuma dessas relações: do homem com Deus, com os bens materiais e com o próximo. Com Deus, é evidente. Com os bens materiais, porque estes foram criados para o uso do homem e são indiferentes em relação aos seus possuidores. Com o próximo, porquanto, a propriedade particular não torna por si mesma impossível o exercício dos direitos inatos dos outros, nem os bens materiais são positivamente comuns a todos os homens, nem a desigualdade derivada da propriedade particular é contrária ao Direito natural, pois é essa mesma desigualdade a causa do progresso na ordem física e moral.

. Repugna a tendência natural do homem, pois todo homem possui a inclinação natural para o livre desenvolvimento de suas forças, para a posse livre e exclusiva dos bens materiais, para a própria dignidade, independência e liberdade. Ora, o comunismo destrói essa tríplice tendência humana. A tendência para o livre desenvolvimentos das forças e criatividade humanas quando obriga igualmente a todos os homens aos mesmos trabalhos. A tendência para a posse livre e exclusiva dos bens materiais quando impõe a socialização dos bens. A tendência para a dignidade, independência e liberdade pessoal quando obriga, mesmo com a coação, todos os homens a trabalhar para a utilidade alheia, reduzindo-os à condição de servos.

. Não dá uma compensação suficiente, pois no comunismo o Estado deve distribuir aos cidadãos, como compensação, uma parcela do fruto do trabalho proporcionada às suas necessidades e ao seu trabalho. Essa compensação poderia ser admitida se os superiores e súditos procedessem sempre com justiça e com boa consciência, porém, um procedimento justo e consciencioso é tão difícil que não se pode basear sobre ele o interesse da sociedade.

Paulo Barbosa

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

O "TIL", USOS E ETIMOLOGIA

 O til (~) em gramática é um acento diacrítico que tem por função indicar, em certos casos, a nasalização das vogais, ou seja, a pronúncia das vogais onde o som ou o fonema são caracterizados pela vibração das narinas. Por exemplo: lã, põe, visões, etc.

Ha casos, entretanto, em que a nasalidade das vogais é indicada pelo m ou pelo n, como, por exemplo, em caimbra.

Etimologia. A origem da palavra til - também denominada tilde - vem do verbo tildar, com o sentido de colocar ênfase em uma letra, e, por sua vez, tildar vem do verbo latino titulare, colocar um título, um signo gráfico acrescido a um vocábulo para dar-lhe realce.

Na matemática o til é usado para designar aproximação, ou seja, uma representação inexata de alguma coisa. Exemplo:

3,7 milhões de habitantes = aproximadamente 3,7 milhões de habitantes.

Na lógica o til é sinal de negação, servindo, pois, para negar uma proposição:

p: Hoje está chovendo

p: Hoje não está chovendo

No latim o til sobreposto a uma letra simbolizava o m ou o n:

Cũ ejusd [...] diligtissime = cum eiusdem [...] diligentissime

Paulo Barbosa

segunda-feira, 23 de maio de 2022

PSÊUDOLUS, MAIS UMA COMÉDIA DE PLAUTO

 PSÊUDOLUS é uma comédia de Plauto, escrita em latim arcaico, que tira seu nome do autor de uma personagem da peça.

Enredo. Um soldado da Macedônia havia comprado uma moça chamada Fenícion das mãos de um mercador de prostitutas por vinte minas e dera quinze minas de entrada ou sinal. Fenícion deveria ser entregue ao enviado do comprador quando este mandasse as cinco minas restantes e uma carta com senha. A peça gira em torno das artimanhas pelos quais o escravo de seu pai, Psêudolus, após interceptar a carta e a senha do soldado, engana o proxeneta e leva Fenícion para Caliodoro.

Paulo Barbosa

quinta-feira, 19 de maio de 2022

ASINÁRIA, COMÉDIA PLAUTIANA

 ASINÁRIA é o nome de uma comédia burlesca de Plauto, dramaturgo romano, nascido em 230 a.C. e falecido em 180 a.C, ou seja, viveu durante o período republicano. Foi escrita em latim arcaico (240-81 a.C.), sendo uma adaptação do Onagros ("Asno"), obra de comediógrafo grego Demôfilos.

O enredo. Demêneto, um bondoso pai, deseja muito ajudar ao seu filho Argiripo a salvar a prostituta Filênion de uma velha cafetina, porém é tratado com muita tirania e violência por sua esposa que controla rigidamente as finanças do casal. Graças a uma artimanha de um de seus escravos, Demêneto consegue apoderar-se da soma de vinte minas que deveriam ser pagas ao mordomo de Artemona por alguns asnos que haviam sido vendidos - daí a origem do nome da obra -, e pai e filho, então, passaram a tarde comemorando com Filênion. Porém um rival na disputa dos favores da moça, furioso por ver-se preterido, avisa Artemona, que vai até o lugar da festa, de onde retira seu marido culpado em meio a terríveis ameaças. 

O provérbio "homo homini lupus" (o homem é lobo para o homem) deriva dessa comédia. 

Paulo Barbosa

quarta-feira, 18 de maio de 2022

VERBOS SEMIDEPOENTES

VERBOS SEMIDEPOENTES em latim são aqueles que nos tempos do infectum têm as formas conjugadas na voz ativa e nos tempos do perfectum, conjugadas na voz passiva.

1) Tempos do infectum significam a característica aspectual em que a ação executada por um sujeito se encontra em processo de realização. São: o presente, o pretérito imperfeito, o futuro imperfeito; o infinitivo presente passivo e ativo, o particípio presente, o gerundivo e o gerúndio.

2) Tempos do perfectum significam a característica aspectual em que a ação verbal está realizada, acabada. São:  o pretérito perfeito, o pretérito mais-que-perfeito, o futuro perfeito ou anterior; o infinitivo passado ativo.

2ª conjugação

audeo, -es, -ere / ausus sum = ousar.

soleo, -es, -ere / solitus sum = costumar.

3ª conjugação:

fido, -is, -ere / fisus sum = confiar. Seus derivados também: confido (confiar-se) e diffido (desconfiar).

Paulo Barbosa

terça-feira, 17 de maio de 2022

SI NON CASTE, SALTIM CAUTE

 "SI NON CASTE, SALTIM CAUTE", SE NÃO COM CASTIDADE, PELO MENOS COM CUIDADO, é uma máxima medieval de origem ignorada que tende a exortar à prudência necessária nos amores furtivos da vida, nas "ficadas" de final de semana, - caso não se contenha nas relações amorosas, que ao menos tenha juízo -, com o sentido propagandístico do uso de preservativos para evitar doenças sexualmente transmissíveis e métodos anticoncepcionais. 

Em português, com um paralelo em espanhol, também se diz: Se não fores casto, sê cauto.


ADENDO. Paronomásia é figura retórica que consiste em colocar em paralelo dois nomes muito semelhantes na forma, mas de sentido diferente, ou seja, é a semelhança que guardam duas palavras de sentido diferente, mas que apenas se diferenciam em alguma vogal ou fonema.

A máxima acima contém tal figura ao contrastar caste / caute, que, aliás, pode-se afirmar, é o que produz fascínio em quem dela toma conhecimento.

Paulo Barbosa

sábado, 14 de maio de 2022

EX OPERE OPERATO

EX OPERE OPERATO / EM CONSEQUÊNCIA DA AÇÃO REALIZADA é uma locução de sentido religioso que reflete a teologia sacramental desenvolvida por Santo Agostinho sobretudo em seus escritos antidonatistas. A expressão quer significar que um sacramento conferido é válido independentemente da condição subjetiva ou moral do ministro, ou seja, a força do sacramento é intrínseca, sua eficácia existe em consequência da ação que foi realizada, não dependendo do estado espiritual do sacerdote.

Entretanto na parte bizantina da igreja há fartos documentos que contradizem esse modo de pensar agostiniano, tal como se pode conferir na Vida de Santo André, o louco (PL. 111,800b) onde recomenda-se ao sacerdote que não se aproxime do altar em estado de pecado, pois assim estaria impedindo a atuação do Espírito Santo e privando os fieis de sua graça.

Paulo Barbosa

sexta-feira, 13 de maio de 2022

FUNÇÃO EM SINTAXE

 FUNÇÃO é o papel ou atribuição desempenhado pelos constituintes de uma oração. Na sintaxe existem as seguintes funções:

1. dos elementos essenciais, a saber, como sujeito, predicado e complemento;

2. dos elementos acessórios, a saber, como adjunto adnominal e adjunto adverbial.


Etimologia. A palavra função vem do latim functio = execução, exercício de alguma faculdade, cumprimento de um dever, que, por sua vez, vem do verbo fungi = cumprir, desempenhar um ofício, satisfazer, pagar.

Paulo Barbosa

quinta-feira, 12 de maio de 2022

COMPLEMENTO NOMINAL E VERBAL EM LATIM

 COMPLEMENTO em gramática é a palavra ou o elemento que inteira, completa, uma palavra que por si só careça de significação plena. Há duas modalidades de complementos: nominais e verbais.

1. Complemento nominal é aquele que especifica e restringe o sentido mais geral do nome que acompanha. Em latim vem sempre no caso genitivo:

Nihil urbis uigiliae = em nada as sentinelas da cidade.

Salutaris verbum = palavra da salvação.

Domus Petri = casa de Pedro.


2. Complemento verbal é aquele que inteira aos verbos que não apresentam valor semântico pleno, tais como os transitivos e de ligação:

Habemus Papam = temos um papa.

Qui te defendere audeat = que ouse defender-te. (Obs.: aqui um infinitivo é o objeto direto verbal: defendere).

Patere tua consilia non sentis? = não percebes que teus planos estão evidentes? (Obs.: aqui há uma oração infinitiva, ou seja, um objeto direto oracional: patere tua consilia).

Suisque ut idem faciant imperat = e ordena aos seus que o façam. (Obs.: aqui há uma oração substantiva objetiva direta: ut idem faciant).


Os verbos de ligação pedem um complemento denominado predicativo que indica uma qualidade ou um estado. Tal complemento vai para o caso nominativo concordando com o sujeito:

Puella bona est = a menina é boa.

Petrus sedulus est = Pedro é aplicado

Amare bonum est = amar é bom.

Paulo Barbosa

terça-feira, 10 de maio de 2022

FIGURAS GORGIANAS: ISÓCOLO, PARISOSE, HOMEOTELEUTO

 FIGURAS GORGIANAS são certas expressões de estilo que produzem grande efeito persuasivo no discurso. Foram elaboradas pelo sofista Górgias de Leontino (485-380 a.C.), inaugurador do deleite literário na oratória, entronizador da Retórica como conhecimento indispensável para se triunfar socialmente assim como para a defesa pessoal. Suas figuras são classificadas tripartitemente em 1. antíteses de sentido, 2. paralelismos sintáticos, 3. paralelismos fonéticos. Dentre várias, vejamos as seguintes:

I. Isócolo - é a figura gorgiana que consiste em uma sequência de dois ou mais segmentos - cólons - sintáticos com rigorosa simetria:

"... porque enfim nunca falara a teus ouvidos o galante mancebo que jura quando mente; que festeja quando atraiçoa; que diz que ama, e vai rir-se!"

"Quem ama o feio, bonito lhe parece".

Note que o isócolo é um período cujos cólons ou segmentos são iguais em extensão, ou seja, simétricos.

II. Parisose - é a figura gorgiana que consiste numa forma rítmica usada nos provérbios ou em poesias onde há equilíbrio dos pés e das rimas de cada lado de uma vírgula:

"Beber ou guiar, convém optar".

III. Homeoteleuto - é a figura gorgiana que consiste na correspondência fonética das terminações da última sílaba de uma oração ou verso:

"Estudando e trabalhando".

"Deus ajuda a quem cedo madruga".

Deve-se notar que o homeoteleuto é a figura matriz da rima, ou seja, a rima pode ser qualificada como seu caso particular.

Paulo Barbosa

segunda-feira, 9 de maio de 2022

CATEGORIAS GRAMATICAIS EM LATIM

 CATEGORIA é palavra proveniente do grego katigoria, por sua vez do verbo katigoro, derivado de katá = contra e ágorevo = falar publicamente, falar no mercado. Ou seja, categoria significa "falar publicamente contra alguém", "acusar", "atribuir, imputar algo a alguém". Depois, "qualidade atribuída a um objeto".

Em gramática, categoria é uma classe ou um grupo de palavras que desempenham papéis sintáticos semelhantes conservando, portanto, relações particulares entre si. 

Na língua latina há as seguintes categorias gramaticais:

1. Substantivo: nome ou pronome que designa um ser caracterizando-se na oração pela possibilidade de exercer a função de sujeito ou objeto. É declinável.

2. Verbo: palavra que indica ação, estado, passagem de um estado a outro, sendo, pois, essencialmente, dinâmica, referindo-se aos movimentos em seu sentido lato, isto é, que se passa nos seres ou por intermédio dos seres. É conjugável e suas formas nominais declináveis.

3. Adjetivo: palavra nominal ou pronominal que deve se associar a um substantivo concordando com ele. O modo de associar pode ser como adjunto ou como predicativo. É declinável.

4. Pronome: palavra que denota o ente ou a ele se refere. Pode ser pessoal, possessivo, indefinido, relativo. É declinável.

5. Numeral: palavra que indica a soma de todas as unidades dos elementos de uma série, de um conjunto. Há o numeral propriamente dito chamado cardinal, que designa a quantidade em si mesma ou uma quantidade certa de entes, e há o numeral ordinal, que indica o número de ordem ou de relação inteligível estabelecida entre uma pluralidade de entes. Alguns são declináveis, outros não.

6. Advérbio: palavra de natureza nominal ou pronominal que na oração se acrescenta à significação de um verbo, de um adjetivo ou de um mesmo advérbio. É considerado um elemento oracional terciário, pois serve para determinar ao verbo e ao adjetivo, elementos oracionais secundários, que, por sua vez, determinam a um substantivo como seu adjunto ou um sujeito como seu predicado. É indeclinável.

7. Conjunção: vocábulo gramatical usado como conectivo para estabelecer 1) coordenação entre duas palavras, dois membros de oração ou duas orações ou 2) subordinação entre duas orações, constituindo, assim, um sintagma oracional em que uma oração é a principal ou determinante e outra a subordinada ou determinada. É indeclinável.

8. Preposição: vocábulo gramatical  que serve de morfema de relação para subordinar um substantivo como adjunto a outro substantivo ou um complemento a um verbo. O processo de subordinação exercido pela preposição é denominado regência É indeclinável.

9. Interjeição: palavra que traduz de um modo vivo os estados da alma, constituindo, portanto, uma verdadeira palavra-frase mediante a qual o falante, impregnado de sentimento, procura expressar seu estado emocional num momento súbito em vez de se exprimir por uma frase logicamente organizada. 

O ARTIGO

O latim não possui artigos, ou seja, inexistem aquelas partículas proclíticas que se juntam a um substantivo para caracterizá-lo como um indivíduo bem definido de uma espécie ou como uma síntese da própria espécie. 

"Noster sermo articulos non desiderat", "nossa língua não precisa de artigos", proclamava Quintiliano (Instit. Orat. I, 4, 19).

Paulo Barbosa

sábado, 7 de maio de 2022

TROVADOR

 TROVADOR era na Idade Média aquele que compunha e, muitas vezes, cantava composições poéticas sobretudo do gênero lírico. 

A palavra trovador está composta pelo verbo trovar mais o sufixo latino -dor indicador de agente, ou seja, significa "aquele que trova". O verbo trovar, por sua vez, tem sua origem no provençal antigo trobar e este no latim vulgar *tropare = compor um poema, falar figuradamente, descobrir, encontrar, achar, inventar, derivado do latim tropus = canto, melodia, giro retórico de palavras, associado com o grego tropos = volta, maneira, giro, figura retórica, melodia, tom, ritmo.

O provençal é um dialeto do occitano, idioma usado pelos poetas e cantores do sul da França e norte da Espanha. Segundo registros, o primeiro trovador foi Guilhem de Potiers (1071-1126), duque da Aquitânia. 

Do latim vulgar *tropare deriva também o italiano trovare = achar, encontrar algo que se havia perdido, donde se tem a expressão italiana E se non è vero, è ben trovato = e se não é verdade, é bem pensado.

Paulo Barbosa

sexta-feira, 6 de maio de 2022

A POLÍTICA

 POLÍTICA é palavra, mais estritamente um adjetivo, que tem a sua origem na expressão grega "politiké techne", ou seja, a técnica, a arte própria do cidadão, uma arte social, a de viver bem em sociedade e administrar com proficiência as coisas do Estado.

O adjetivo politiké é a forma feminina de politikós = relativo à pólis, à cidade e a seus cidadãos, sinônimo de social. Por isso o filósofo Aristóteles descreveu o homem como um "zóon politikón", um animal social.

Paulo Barbosa

quinta-feira, 5 de maio de 2022

ESPORTE, HISTÓRIA DO TERMO

 ESPORTE é palavra que tem sua origem no inglês sport, desde o século XV, que, por sua vez, é proveniente do francês déport, do século XIII, e este, por sua vez, derivado do latim deportare, verbo composto a partir de portare = levar, transportar, fazer passar. O verbo portare traz em si ideia de movimento que reflete no composto deportare em suas duas acepções no latim clássico, a saber, a que tem a ver com 'conduzir de um lugar para outro' e a que foi herdada em português com o sentido de 'desterrar'.

No latim clássico não existe outro significado para o verbo deportare, porém, com o correr do tempo, na sua etapa românica, seu significado vai ampliando até obter no português antigo a ideia reflexiva ligada a 'descansar', 'repousar', 'deter-se', passando, daí, com muita facilidade, para o sentido de 'divertir-se', 'recrear-se', que está inserido no termo 'esporte' como 'entretenimento', 'exercício físico, geralmente ao ar livre'. É a partir daí que começa a se compexificar o conceito de 'esporte', tendendo a referir-se não a qualquer entretenimento, mas a jogos e competições regulados por normas. 

Paulo Barbosa