quinta-feira, 30 de setembro de 2021

ALUNO, DISCÍPULO E ESTUDANTE: DIFERENÇAS

ALUNO, DISCÍPULO E ESTUDANTE são termos aplicados em geral a alguém que recebe conhecimento de outro, entretanto, com distintas e profundas diferenças, a saber:

1. Aluno é aquele que desde a infância vem recebendo educação e instrução por alguém, sendo, pois, alimentado gradualmente, conforme o mesmo nome indica. O vocábulo tem sua origem no latim alumnus, por sua vez, derivado do verbo latino alere = alimentar, nutrir, criar, fazer crescer. Alumnus em sua origem, então, significa aquele a quem se alimenta e se faz crescer, designando, inclusive, aos filhos dos escravos domésticos que recebiam alimentos e se nutriam. Com o correr do tempo, passa o nome ao seu sentido figurado atual, de aprendiz, daquele que recebe educação e conhecimentos de maneira gradual e sequencial

Uma questão. A palavra latina que significa alimentado, crescido é altus, particípio passado da voz passiva do verbo alere, que, por ser passado, se traduz por "alimentado, crescido, o que já foi e está alimentado, o que já cresceu e está grande, donde vem, inclusive, o nosso adjetivo alto. 

Alumnus, como visto, se usa com o valor de "ao que se alimenta e se faz nutrir, crescer, desenvolver", ou seja, o processo de alimentar e nutrir está em curso, e isso devido ao um característico de alumnus, o sufixo -umnus que se relaciona com o sufixo -menos dos particípios médio-passivos dos verbos gregos, ou seja, um sufixo de forma semirreflexiva, provindo daí o significado de "aquele quem se alimenta, aquele a quem se nutre ou se faz crescer", "aquele a quem se ensina, a quem se transmite educação e conhecimentos".

Falsa etimologia. Há uma falsa etimologia ou, como se diz, um mito urbano, que a palavra alumno é derivada do prefixo -a (sem) e lumno (luz), ou seja, aluno é o que carente de luz, o sem luz. Não há fundamento filológico para tal versão, pois em latim não existe o substantivo lumno e, em todo caso, "sem luz" seria "a-lumen", de lux, lucis = luz.

2. Discípulo é aquele que não somente cursa uma aula, mas a aprende de um mestre a quem se entrega com determinação e cuja doutrina segue com convicção. O termo, apesar de controvertida a sua etimologia, traz claro que a primeira parte - disc - procede do verbo latino disco, discere = aprender, adquirir conhecimento, enquanto o segundo elemento - pulo - parece provir do verbo latino pello, pellere, pepuli, pulsum = impulsar, impulsionar com vigor, propelir, mover algo para, sendo, pois, discípulo "aquele que está movido para aprender, aquele que está impulsionado com desejo para receber conhecimento de um mestre".

Falsa etimologia. Há quem advogue a etimologia de discipulus como formado do verbo disco (aprender) e de puellus (menino, garoto), que, com o passar do tempo, se reduziu a "pulus / pulo", significando, então "o menino aprendiz, o garoto que estuda". A explicação para a não consistência dessa origem é a carência de lei fonética que explique suficientemente a simplificação das geminadas "ll" em "l". Depois, se a forma "pulus" derivasse de "puellus", a vogal u resultante da monotongação - puellus - devia ser longa e não breve como é. Por isso, é impossível a etimologia defensiva da procedência do elemento -pulus de "puellus".

3. Estudante é aquele que atualmente estuda alguma matéria ou um conjunto de matérias em escolas ou mesmo em centros acadêmicos, faculdades, etc. Deve-se aqui notar que o estudante pode ser qualificado pelos adjetivos bom, mau, aplicado, regular, preguiçoso, incapaz, etc., pois o sufixo -ante que forma o adjetivo apenas significa alguém que se apresenta ao estudo, sem contudo, esclarecer se há disposição para tal ou se apenas por mera obrigação formal ou pragmatismo.

Estudioso, pelo contrário, é aquele que estuda pelo desejo de conhecer, por uma disposição interna e lúcida que o inclina para a educação e a instrução, adjetivo formado com o sufixo -oso, indicador de abundância, daquele que estuda muito, com denodo e vigor. 

Concluindo. O que se percebe em nossa época é que uma grande parte dos estudantes é pouco estudiosa, enquanto outros há que na idade madura se fizeram estudiosos tendo sido muito maus estudantes em sua juventude. 

Paulo Barbosa

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

"TRES FACIUNT COLLEGIUM"

 "TRES FACIUNT COLLEGIUM" - TRÊS FAZEM UM COLÉGIO é uma norma jurídica encontrada no Digesto (50,16,85), atribuída a Nerázio Prisco, cônsul e jurisconsulto que viveu por volta de 100 d.C. Seu sentido é que para formar uma sociedade legalmente válida são necessárias pelo menos três pessoas. 

Foi usada na Idade Média sobretudo no meio universitário, pois três é o número mínimo para que o professor possa dar aula.

Paulo Barbosa

terça-feira, 28 de setembro de 2021

GÊNERO HISTÓRICO NO BRASIL

O GÊNERO HISTÓRICO NO BRASIL, indubitavelmente e sem contestação, tem por máxima figura Francisco Adolfo de Varnhargen, Visconde de Porto Seguro (1816-1878), autor da História Geral do Brasil, em dois volumes, publicada entre 1854 e 1857. Mesmo ultrapassada em alguns aspectos, continua essa obra magna até hoje como referência para nossa historiografia, o que lhe valeu, merecidamente, o apelido de "Heródoto brasileiro".

Roberto Southey (1774-1843), antes porém de Varnhargen, publicou uma História do Brasil com verdadeiro espírito crítico e documentação segura, sendo inglês, viajando por Portugal e Espanha para pesquisar, porém sem nunca ter pisado no Brasil. Rocha Pombo, advogado, historiador e político brasileiro, traça o seguinte paralelo entre ambos:

"Southey e Varnhagen são as figuras culminantes de toda a nossa historiografia. O historiador inglês que é representativo na própria literatura de seu país, é um historiador de raça. Pela consciência com que apanha a síntese dos fatos, pelo espírito de justiça com que julga os homens, e, além disso, pela espontaneidade e brilho da narrativa, é incontestavelmente quem melhor até hoje escreveu a nossa história. Mas Roberto Southey tem grandes lacunas. Conhecendo o Brasil só pelos documentos dos arquivos, dir-se-ia que teve que ceder à contingência de só tratar dos fatos para que dispunha de suficientes informações... Varnhagen é integral. Há de ser bem difícil, e pouco provável que se descubram nos três séculos da colônia, fatos que não estejam no seu contexto. Depois, é, pode-se dizer, o legítimo criador da nossa história, tanto pelo culto que a ela rendeu em toda a sua vida, como pela inestimável soma de serviços que prestou, a quantos queiram no futuro completar-lhe a obra pela amplitude".

Capistrano de Abreu (1853-1927), renomado historiador brasileiro, cuja obra se caracteriza por consulta rigorosa das fontes e por uma visão crítica dos fatos históricos. Dentre suas várias produções, escreveu O Descobrimento do Brasil (1883), Capítulos de História Colonial (1907), Caminhos Antigos e Povoamento do Brasil (1930). Jonathas Serrano, historiador e pedagogo brasileiro, assevera:

"Depois de Varnhagen, embora seja possível citar muitos nomes - alguns realmente notáveis (Joaquim Nabuco, Eduardo Prado, Euclides da Cunha, Rio Branco, Oliveira Lima), nenhum pode competir com o nosso Capistrano de Abreu.

Do que nos legou, tudo é digno de apreço, e revelador de um conhecimento de história pátria às raias do inverossímil. Num estilo pessoal, conciso, às vezes como apressado, mas sempre correto, e não raro, de elegância distinta, Capistrano de Abreu expunha o fruto de suas pesquisas e de sua crítica penetrante com uma riqueza de informação bibliográfica de fazer pasmar".

Paulo Barbosa

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

GÊNERO HISTÓRICO ENTRE OS LATINOS

 O GÊNERO HISTÓRICO ENTRE OS LATINOS teve grandes representantes à altura, dos quais podem ser nomeados os seguintes:

1. Tito Lívio (59 a.C.-19 d.C.), autor de Ab Urbe Condita - Desde a Fundação de Roma -, onde relata a história de Roma desde o ano 753 a.C., data tradicional de sua fundação por Rômulo, até o século I da Era Cristã. Lívio sempre recebeu censuras devida à sua carência de espírito crítico e, até mesmo, de certa ignorância sobre a geografia dos países que tratava. 

2. Cornélio Tácito (50-100 d.C.), levou a História ao seu apogeu, tendo sido juiz imparcial e severo, foi também filósofo e moralista. Tácito representa a própria consciência de sua época de maneira que todas as gerações que lhe sucederam endossaram as suas sentenças. Foi autor dos Anais - Annales - , obra que relata a vida dos quatro imperadores que sucederam a César Augusto, primeiro imperador romano, que governou de 27 a.C. até 14 d.C.

3. Júlio César (100 a.C.-44 a.C.), considerado um distinto historiador, foi autor do Commentarii de Bello Gallico - Memórias da Guerra Gálica -, obra dividida em sete livros, onde cobre um ano da campanha militar na Gália e no sul Grã-Bretanha em 50 a.C. Escreveu também De Bello Civili - Sobre a Guerra Civil -, onde narra as expedições de seus militares contra os de Pompeu, marco do fim da República Romana e início do Império.

Paulo Barbosa

sábado, 25 de setembro de 2021

FUTURISMO, ESCOLA REVOLUCIONÁRIA DE ARTE E LITERATURA

 FUTURISMO é um movimento revolucionário artístico e literário surgido na Europa em princípios do século XX, tendo por promotor maior o italiano Tommaso Marinetti (1876-1944), que deu ao público o Manifeste du Futurisme, em 1909, através do jornal Figaro de Paris. 

Ideologia. Esse movimento revolucionário prega a adaptação da arte ao dinamismo moderno, à trepidante vida atual, com produção de novas formas e novo estilo. Repugna e rejeita toda tradição, advoga a demolição da beleza através da queima das bibliotecas e da aniquilação dos museus. O culto ao perigo, ao apuro, ao contratempo é exaltado, um nacionalismo apaixonado é defendido, a violência e a guerra são apreciadas. O Fascismo italiano foi herdeiro doutrinário do Futurismo no campo político, tendo sido Marinetti, um dos autores e difusor do Manifesto Futurista, um ativo militante fascista, chegando a proclamar que a ideologia do partido representava uma extensão natural da ideologia futurista. Além de revolucionário, o Futurismo também foi niilista, e marcou os movimentos de vanguarda como o Cubismo, o Dadaísmo, o Surrealismo e o Expressionismo. Teve grande repercussão na Rússia, onde se dividiu em Egofuturismo e Cubofuturismo, sendo integrante deste último o maior e mais célebre futurista russo, o poeta Vladimir Maiakovski.

Futurismo brasileiro. No Brasil, Futurismo foi o nome inicial para a revolução modernista iniciada pela Semana de Arte Moderna de 1922, entretanto, no dizer de Afrânio Coutinho, no verbete "Futurismo", na Enciclopédia Barsa, "O emprego da palavra no começo do movimento, em artigos de Oswald de Andrade e Menotti del Picchia, foi despertando oposição entre os chefes, que não aceitavam vê-lo confundido com o encabeçado pelo Marinetti. Passou então o epíteto [futurista] a ser usado somente pelos adversários, com intuito ridicularizante, fixando-se definitivamente em "Modernismo" a designação do movimento brasileiro".

Premissas filosóficas. O Futurismo teve por influências filosóficas em seu corpo ideológico Nietzsche, Bergson e Sorel, apregoando e difundindo incansavelmente o lema central "Liberdade para a palavra", e, devido a esse influxo, consigna no Manifesto Futurista o seguinte:

"Sabei que o esplendor do mundo foi enriquecido com uma beleza nova: a beleza da velocidade! Um automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha, é mais belo que a Vitória de Samotrácia. Cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, a vibração noturna dos arsenais com suas violentas lutas elétricas. É necessário imitar com os gestos o movimento dos motores... Destruir a sintaxe. Usar o verbo no infinitivo. Abolir o adjetivo e o advérbio. Juntar um substantivo a outro, em função adjetiva. Suprimir a pontuação. Buscar gradações de analogias cada vez mais simples. Abolir as categorias de imagens. Refugar todo elemento de psicologia. Visar à máxima desordem, contra a harmonia tipográfica da página, contra o fluxo e o refluxo da linha impressa, empregando na mesma folha quatro ou cinco cores diferentes e vinte espécies variadas de tipos, se necessário".

Paulo Barbosa

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

PONTO E VÍRGULA, QUANDO EMPREGAR.

 O PONTO E VÍRGULA possui mais força do que a vírgula e menos do que o ponto final, por isso sua definição geralmente é: Sinal de pontuação (;) que marca pausa maior que a da vírgula e menor que a do ponto. 

A vírgula tem por objetivo separar ideias, conceitos e frases.

O ponto e vírgula separa juízos, orações.

O ponto final indica o término do período, do raciocínio.

Empregos do ponto e vírgula

1. Para separar orações independentes que possuem certa extensão, sobretudo se tais orações possuem partes já divididas por vírgula:

"Das alegrias que o mundo oferece, as mais elevadas são as da inteligência; as medianas, as da sociabilidade; as baixas, as dos prazeres sensuais".

2. Para separar as partes principais de uma frase cujas partes subalternas têm de ser separadas por vírgulas:

"Madri, Paris, Berlim são capitais europeias; Nova Iguaçu, Miracema, Santos são cidades brasileiras; Porto, Sevilha, Nuremberg, europeias".

3. Para separar os considerandos - exceto o último - que constituem o preâmbulo de um decreto, acórdão, sentença, portaria ou documento análogo.  

Obs.: Considerando é o nome que se dá a cada uma das considerações, alegações, razões, etc. - começadas pela palavra considerando - que fundamentam uma resolução ou um ato executivo.

"Considerando que o recorrente usou de direito que lhe confere a lei;

Considerando que no uso desse direito não houve infração ao código de posturas;

Considerando que, devido ao citado acima, e conforme confirmaram também as testemunhas;

Considerando...:

Hei por bem não aplicar nenhuma sanção administrativa". 

Paulo Barbosa

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

GÊNERO HISTÓRICO ENTRE OS GREGOS

 O GÊNERO HISTÓRICO ENTRE OS GREGOS possuía a um tempo inspiração nacional e poética. 

Heródoto (484-406 a.C.) é o melhor representante do gênero, considerado o Pai da História, autor de uma obra em nove livros, cada qual dedicado a uma das nove Musas, denominada Histórias, produzida entre 440-430, onde narra as Guerras Médicas (499-449 a.C.), conflitos entre as poleis gregas e o Império Aquemênida. 

Tucídides (471-402 a.C.), contemporâneo do primeiro, usa já em seus trabalhos a crítica histórica, buscando assim a exatidão positiva, afastando, cuidadosamente, as ficções, para que somente a verdade apareça. Outras qualidades do autor são ligar sempre os efeitos às suas causas, apurar o papel dos erro, das ambições, da política. É considerado o primeiro historiador-filósofo. Escreveu a História da Guerra do Peloponeso, conflito travado entre Esparta (Liga do Peloponeso) e Atenas (Liga de Delos), considerada uma das primeiras obras acadêmicas de História.

Xenofonte (430-354 a.C.), discípulo de Sócrates, soldado mercenário, autor de várias obras sobre assuntos mais variados - tributação, equitação, etc., - produziu também obra histórica, com sua Anábase ou Retirada dos Dez Mil, onde narra a viagem de um grupo de soldados gregos que, em 401 a.C., marchara desde a costa grega até o interior do império persa. Xenofonte é inferior aos historiadores precedentes, porém admirável por sua boa coordenação, pelo interesse, pela veracidade, assim como pela simplicidade e modéstia em sua obra. Tais predicados de suavidade do estilo lhe valeu o epíteto de "Abelha ática".

Paulo Barbosa

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

O MÉTODO DA HISTÓRIA

 O MÉTODO USADO NA HISTÓRIA deve ser científico, ou seja, deve resumir-se no respeito mais absoluto à verdade dos fatos, à objetividade dos eventos, abrangendo quatro operações:

1.ª operação heurística - que se caracteriza pela pesquisa das fontes documentais históricas. O verbo grego eurisko significa procurar, buscar

2.ª operação de crítica externa - que é o exame da proveniência e autenticidade dos documentos, classificação e apuração dos textos.

3.ª operação de crítica interna - que consta:

a) da análise e interpretação dos mesmos documentos;

b) do seu valor e autoridade.

4.ª operação de conclusão - que pode ser:

a) negativa: quando as peças que se conhecem não permitem acreditar na realidade dos fatos;

b) positiva: quando os argumentos merecem confiança. Pode aqui variar desde a simples probabilidade até à certeza absoluta.

*

Excerto erudito. Jonathas Serrano (1885-1944), ilustre professor, proficiente escritor, eminente historiador e pedagogo brasileiro nos brindou com as seguintes ponderadas observações:

"A História, só em época relativamente próxima de nós, começou a ser estudada com rigoroso método científico. Ainda hoje, mesmo nos países mais cultos, é frequente o engano dos que pretendem fazer dos assuntos históricos pretexto para improvisações brilhantes e veículo para rápida notoriedade. Daí o injusto descrédito que esta historiografia superficial e efêmera acarreta, às vezes, à própria história. No Brasil, o perigo é ainda maior, dada a tendência para a oratória e a generalização apressada, a falta de hábitos de pesquisa pessoal paciente e minuciosa e - digamos com inteira franqueza, - a culpa dos programas de ensino e de exames nos cursos oficiais. Enquanto os professores não desistirem das preleções, em tom de conferência ou discurso, e os alunos decorarem páginas de compêndios para reproduzi-las em provas escritas, que terão grau tanto mais alto, quanto mais extensas e eloquentes forem, o estudo sério e profundo da história pátria será uma aspiração de reduzido grupo de reacionários".

Paulo Barbosa

terça-feira, 21 de setembro de 2021

REFERIR, CONTAR, NARRAR

REFERIR, CONTAR, NARRAR são três atos distintos de dar a conhecer a alguém um fato, um acontecimento com suas circunstâncias, porém com as seguintes notáveis diferenças:

1. Referir é o ato que supõe sempre a verdade, tendo por objeto dá-la ao conhecimento dos outros sem omitir nem acrescentar a menor circunstância. Por isso, o que se refere é mais ou menos extenso segundo o número e a importância das coisas que têm a dar ao conhecimento. O próprio nome evidencia sua forma, pois vem do verbo referre = levar novamente, composto pelo prefixo -re (reiteração, repetição) e o verbo ferre = levar, produzir.

2. Contar diz-se das coisas familiares ou que são objetos de conversação. Pode abranger tanto a verdade quanto a ficção e o seu objetivo é instruir através do agrado, da suavidade. O que conta, portanto, deve ser breve em sua explicação, pois se objetiva a divertir, o que causaria enfado se fosse extenso, e, ao contar, deve-se possuir engenho, graça e amenidade para recrear. A palavra vem do latim computare = enumerar, composta pelo prefixo con- (todo, junto) e o verbo latino putare = podar seletivamente, ordenar, estimar, pensar. 

3. Narrar é fazer uma narração segundo as regras da retórica, tendo por finalidade captar a atenção do auditório, interessá-lo, prevenir a ouvintes em um tribunal, etc. O que se narra é mais ou menos extenso segundo as matérias que enumera, porém não deve nunca ser difuso. O modo de narrar é com arte, talento, eloquência, para persuadir, convencer aos ouvintes. A origem da palavra é do latim narrare = fazer alguém conhecedor ou sabedor de algo, verbo denominativo formado a partir do adjetivo gnarus = conhecedor, o que conhece

Paulo Barbosa

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

A HISTÓRIA, SUA IMPORTÂNCIA E ESTILO

 A HISTÓRIA é a exposição conscienciosa e autêntica dos acontecimentos sociais em geral e individuais em particular

Conscienciosa - honesta, criteriosa, íntegra porque o historiador não é testemunha impassível de virtudes, de injustiças ou de vícios. Cumpre-lhe, portanto, atender sempre aos ditames da razão saudável e da moral ao historiar. 

Autêntica porque não é permitido ao historiador fantasiar, divagar, inserir ideologias, pois lhe é vedado, como na epopeia, enfeitar a verdade, idealizar. A base do gênero histórico é sempre o fato na sua mais perfeita exatidão.

Origem da palavra. A palavra história provém do latim historia que, por sua vez, provém do grego historía = conhecimento adquirido através da investigação ou da formulação de perguntas, narrativa. Em grego, o verbo historein significa "perguntar acerca de algo, examinar os fatos, relatar", que, por sua vez, vem do substantivo istor / histor = testemunha ocular de algo, o que sabe sobre algo por haver visto com seus próprios olhos, portanto, o que conhece em primeira mão, sábio, douto, erudito

Importância da história. A história enriquece e multiplica a vida e a experiência humana, pois através dela o homem participa dos tesouros acumulados por todas as gerações passadas. Cícero a exalta com as seguintes perífrases clássicas: 

Historia est testis temporum = a história é a testemunha dos tempos.

Historia est lux veritatis = a história é a luz da verdade.

Historia est vita memoriae = a história é a vida da memória.

Historia est magistra vitae = a história é a mestra da vida.

Historia est nuntia vetustatis = a história é a mensageira do passado.

Estilo próprio. O gênero histórico possui um estilo peculiar que deverá ser a um tempo singelo e grave como de uma testemunha que apresenta perante um tribunal o seu depoimento. Deverá também o historiador esmerar-se na criteriosa escolha dos pormenores e na harmoniosa coordenação dos acontecimentos.

Qualidades do historiador. O bom historiador deve possuir as seguintes virtudes:

1.ª espírito largo, aberto vasto e poderoso, que paire acima dos detalhes e os domine e jamais se afogue neles. Ou seja, deve possuir uma inteligência capaz de síntese.

2.ª juízo seguro, irrebatível, convicto, que não se deixe influenciar por preconceitos, paixões, interesses subalternos e ideologias. 

3.ª senso moral apurado, conservando sempre o respeito inviolável às leis do dever. 

4.ª cultura vasta, onímoda, ou seja, o historiador deve ser cultivado e familiarizado com todos os ramos do saber humano, tais como numismática, paleografia, arquitetura, legislação, arte da guerra, finanças, línguas, costumes, instituições administrativas, etc.

Paulo Barbosa

sábado, 18 de setembro de 2021

O GÊNIO, ESSE AUTOR DE MONUMENTOS LITERÁRIOS

 GÊNIO, na arte de escrever, pode ser definido como a reunião de todas as faculdades literárias desenvolvidas no mais alto grau. Essas faculdades aparecem, então, com poder extraordinário para produzir uma obra grandiosa. 

Outros nomes também para designar possuidores de tais habilidades são engenho e talento

Fases do termo gênio. São três as fases pelas quais a palavra gênio passou na história:

1. Gênio, do latim Genius, primeiramente designava entre os romanos uma divindade menor que presidia ao destino humano, um espírito protetor que desde o nascimento de cada menino o acompanhava para proteger-lhe, participando, assim, de seu destino, influenciando-o em seu caráter e capacidade. Para as mulheres, o gênio comum era a deusa Juno. Cada Gênio - tipo de anjo custódio - nascia com a pessoa incumbida de sua proteção e desaparecia em sua morte, por isso, no dia do nascimento, havia celebrações e oferendas nas casas, por ser o dia do nascimento também da divindade tutelar, originando-se daí a festa de aniversário.

2. Gênio, no meado do século XVII d.C., já tinha o sentido de conjunto de todas as qualidades e aptidões inatas de uma pessoa. Esse sentido vem da antiga crença no Gênio tutelar, donde o engenho - ingenium = possuir um gênio dentro - depende, significando, pois, o caráter inato de um ser humano, suas qualidades e talentos e suas tendências de alma. 

3. Gênio, enfim, significa em nossos dias a máxima extensão das potências da inteligência, como quando se diz alguém ser um gênio em matemática, por exemplo.

O objeto do gênio. Os homens possuidores de gênio ou de talento podem considerar duas ordens de objetos ou assuntos, ordens essas separadas mais moralmente do que por diferenças rigorosas, porém, bem nítidas para o bom senso e de consequências literárias. 

A primeira ordem de consideração a que um gênio pode se dedicar se compõe dos assuntos de maior importância, dos interesses urgentes, dos acontecimentos de grande vulto ocorridos na história e que movimentam a paixão mais viva da alma. Ou, por outras palavras, se constitui das verdades gerais e superiores, dos pensamentos elevados, dos sentimentos nobres e fortes, objetos esses que formam o ambiente natural da eloquência, da história e da poesia

A segunda ordem, menor, porém complementar da primeira, a que um talento se dedica, se compõe das impressões familiares comuns de todos os dias, das lucubrações profundas sobre eventos e acontecimentos, das opiniões emitidas com firmeza e seriedade, sempre dentro daquela atmosfera em que ordinariamente se desenvolve a atividade cotidiana. 

Exemplos de gênios. Os gênios são mui raros, entretanto, concordam os autores geralmente nos seguintes nomes: Homero, Aristóteles, Tomás de Aquino, Shakespeare, Camões, Dante, dentre outros. 

No Brasil, dentre os escritores, pode-se nomear Castro Alves, de quem Constâncio Alves (1862-1933), médico, orador, jornalista e ensaísta baiano expressou:

"A repercussão dos seus clamores, ou apelos de seu estro, as maldições de sua cólera e os incitamentos de seu espírito militante transpuseram o âmbito da celebridade acadêmica e dentro em pouco o poeta dos estudantes era o poeta do povo, aclamado no Recife, na Bahia, em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde quer que derramasse a sua palavra feita para encher a amplidão das praças e dominar os sussurros das multidões. Desapareceu no deslumbramento desses triunfos e todo o entusiasmo que o seu gênio acendera deu aos seus funerais a solenidade de uma glorificação.

Castro Alves deixara uma obra sem igual em nossa literatura: hinos de guerra, cânticos de amor, predições de vidente, exortação de apóstolo, paisagens onde, pela primeira vez no verso, a natureza brasileira ostentava a sua majestade".

Outro vulto da literatura brasileira, não raro qualificado de gênio, é José de Alencar, de quem Escragnolle Taunay (1876-1958), famoso historiador, biógrafo, ensaísta, lexicógrafo, tradutor, romancista e imortal da ABL, exclamou:

"Vinde, casta e gentil Cecy, melancólica Isabel, graciosa Guida! Vinde , meiga e doce Iracema, caprichosa Diva, e vós, altiva Senhora! Vinde, todas formosas filhas do gênio de Alencar - entretecer uma capela de brancas saudades para aquele que vos deu vida ideal, cheia de luz e de imarcescíveis encantos!"

Paulo Barbosa.

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

"BREVI MANU", EXPRESSÃO LATINA POUCO USUAL

 "BREVI MANU" é expressão latina que significa "por vias diretas", denotando, assim, que alguma coisa é conferida ou entregue a outra pessoa sem intermediários. A locução latina quer dizer literalmente "com mão curta", ou seja, sem necessitar de outras mãos, de outros meios.

Exemplo do emprego da expressão é quando algum objeto, carta, etc., não chegou ao seu destinatário por meio dos Correios, mas sim entregue em mãos, pessoalmente. 

A expressão é documentada no Digesto, compilação de leis levada a cabo por Domício Ulpiano (150-223 d.C.), famoso jurista romano, assim como manu simplesmente, mas com a mesma acepção, pode ser encontrada na obra A Vida de Agrícola, 9,2., de Tácito (56-117 d.C.), historiador romano.

Locução semelhante aparece também em Plauto, Terêncio, Cícero, Sêneca e São Jerônimo: Trado de manu in manum = dou de mão para mão.

Termo jurídico. No direito usa-se "brevi manu" como termo jurídico para se referir a situação mediante a qual alguém que exercia a posse em nome alheio (posse direta) passa a exercê-la em nome próprio (posse plena). O oposto aqui é "longa manu" - mão longa -, indicando o que exerce a posse sobre um bem por meio de um contrato.

Paulo Barbosa

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

PROSA DIDÁTICA, QUALIDADES ESSENCIAIS DO CRÍTICO

 A PROSA DIDÁTICA é a forma do discurso escrito ou falado que tem por finalidade expor, de maneira literária, o conhecimento, as descobertas científicas, as conclusões filosóficas e até as teorias artísticas. Ou seja, com a definição acima se apreende que o fim do gênero didático é a instrução.

O objeto, portanto, da prosa didática é a ciência, quer em seu aspecto filosófico, moral, natural ou artístico, e o meio usado é o ensino.

Em verso ou em prosa. A forma mais eficiente para a transmissão do conhecimento, assim como a mais usada, é a prosa, e não o verso ou a poesia, por ser a mais adaptada às exigências rigorosas das ciências.

Crítico de obras didáticas. O crítico de obras didáticas, ou seja, o que terá por missão examinar, analisar e julgar minuciosamente os méritos de uma obra, destacando suas virtudes e defeitos, deve possuir, pelo menos, duas sólidas qualidades:

1.ª Sabedoria, ou seja, deve estar imbuído do verdadeiro espírito científico, que consiste no amor apaixonado e desinteressado da verdade; deve também conhecer, de modo profundo, a matéria exposta na obra; e, enfim, deve observar os métodos próprios da ciência que trata.

2.ª Ser literato, a saber, o sábio possui valor para os outros somente na medida em que é apto a comunicar as luzes que tem. Caso não seja metódico, caso use uma linguagem imprópria, incorreta, enfadonha, nenhum interesse obterá da parte de seu auditório.

Paulo Barbosa

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

VULGARIZADOR, ESPÉCIE DIVERSA DO PROFESSOR

 PROFESSOR é definido como o sujeito docente que transmite uma ciência, uma arte ou uma técnica através do ensino, ou seja, mostrando ao discente o caminho que deve seguir, habilitando-o para assumir ou assimilar o conteúdo transmitido. É, no fundo, um educador, pois deve intencionalmente exercer sobre seus semelhantes uma benéfica influência intelectual, moral, espiritual, consciente, direta e sistematicamente, de que possui influência como uma missão sobre os educandos.

VULGARIZADOR, diferentemente do professor, é o sujeito que se dirige a um público ouvinte com o objetivo de colocar ao alcance de todos as descobertas e os progressos constantes realizados pelos estudiosos e cientistas em geral. Não, portanto, recorre, como o professor, a pesquisas originais, não elabora reflexões sobre problemas e fatos, não usa a lógica para discernir e elucidar, não possui, pois, respostas convincentes para os embaraços que por vezes se levantam no auditório ou na sala de aula. Certamente é um sujeito bem informado de tudo o que se descobre no seu ramo de vulgarização, do que foi publicado, estando sempre em dia, ou seja, examinando, por conta própria, as conclusões dos especialistas. 

Sobre o termo. Vulgarizar, verbo que está na base de vulgarizador, significa "fazer que seja acessível à gente comum". Vulgarizare, em latim, é composto por:

Vulgaris = vulgar, pertencente à gente comum, que, por sua vez é composto por:

Vulgus = povo, conjunto de pessoas comuns e correntes.

-aris = sufixo que significa "relativo a".

Condições do Vulgarizador. O preparo sólido, então, é uma condição necessária que há de preencher um bom vulgarizador.

Saber comunicar é a outra condição, não menos difícil que o preparo sólido, pois, muitas vezes se se depara com fatos complicados e ásperos que devem ser transmitidos com feições atraentes, simpáticas, sem, entretanto, alterar em nada a exatidão científica. 

Paulo Barbosa

terça-feira, 14 de setembro de 2021

ENSINO, SUA FUNÇÃO E SUAS LEIS

 ENSINAR é definido como a ação de transmitir conhecimentos a alguém mediante lições. O termo vem do latim insignare, composto do prefixo in = em, dentro, no interior, e do verbo latino signare = assinalar, marcar com um sinal, colocar um sinal em, o que implica em formular uma orientação a alguém sobre que caminho deve seguir

Ensinar, pois, ao pé da letra, é fornecer uma senha (= signum, em latim) para a inteligência humana a fim de orientá-la. 

O termo latino signum = signo, insígina, senha, marca, aquilo que os homens seguem, vem da raiz indo-europeia *sekw- que significa seguir - ir atrás de, acompanhar. 

Ensinar, transmitir um signum à inteligência, fornecer conhecimento para que seja seguido pelo discípulo, eis a natureza do ensino.

Função do Ensino. O papel primordial do ensino é auxiliar o homem na aquisição da verdade, o que ocorre através das lições que os homens sapientes transmitiram à humanidade por seus escritos, obras ou até mesmo pela palavra oral. 

Pela função do ensino se percebe o quão fora de realidade é postular o mestre ou professor como mero mediador numa classe, onde todos participam na construção do conhecimento - sistema chamado sócio-construtivismo. O mestre é quem possui o conhecimento em ato, quem detém as senhas a serem transferidas para os discípulos em potência para recebê-las.

Leis do Ensino. O ensino para preencher plenamente a função que lhe é inerente deve satisfazer aos seguintes requisitos:

1.º Quanto ao fundo: cumpre que seja exato, ou seja, de acordo com o desenvolvimento ou progresso mais recente das ciências.

2.º Quanto à forma: deve ser ministrado:

a) com ordem e método;

b) no estilo adaptado às matérias de que se trata.

Paulo Barbosa

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

CIVILIZAÇÃO, INSTRUÇÃO X ILUSTRAÇÃO

 CIVILIZAÇÃO é o resultado de duas ações pedagógicas exercidas sobre o homem, a instrução e a ilustração. 

A instrução é o ato de educar no seu sentido mais estrito, ou seja, de exercer influência sobre uma pessoa para que abandone seu estado de ignorância ou de primitivismo em direção a um estado de plenitude de desenvolvimento intelectual e, por conseguinte, físico. 

A ilustração é o efeito imediato da instrução, pois é quando o sujeito instruído se torna provido de conhecimentos esclarecidos, bem informado e formado, entendendo e compreendendo com lucidez tudo o que busca a conhecer. 

O homem civilizado, portanto, é o detentor de educação, de um desenvolvimento intelectual pleno, dotado de um saber aprimorado, coerente e inequívoco. Somente esse homem é capaz de possuir a virtude da sociabilidade.

Paulo Barbosa

sábado, 11 de setembro de 2021

CALENDÁRIO, DATAÇÃO, DIONÍSIO O EXÍGUO

 CALENDÁRIO é o sistema empregado para dividir o tempo em dias, semanas, meses e anos. A palavra vem do latim calendarium = livro de contabilidade dos romanos.

História. O nosso calendário é proveniente dos romanos que contavam os anos a partir daquele ano em que Roma foi fundada - ab Urbe Condita = desde a fundação de Roma. Assim:

753 a.C. é o ano da fundação de Roma = 1 a. U.C. = primeiro ano desde a fundação de Roma / ano 1 desde a fundação de Roma.

Natal de Jesus Cristo. No século VI d.C., mais precisamente em 526, um monge sírio, Dionísio o Exíguo, compulsando relatos bíblicos e outros documentos, durante muitos anos, a fim de calcular a data exata do nascimento de Jesus Cristo, chegou à conclusão de qual seria então o ano 1 da era cristã, a saber:

754 desde a fundação de Roma é o ano do natal de Cristo, ou seja, Cristo nasce 754 anos depois que Roma foi fundada por Rômulo, segundo a História, e agora parece que confirmada a data pela Arqueologia. Logo:

754 desde a fundação de Roma = ano 1 da era cristã.

Devido a esse cômputo, todas as datas anteriores ao ano 1 são expressas com números decrescentes.

Equívoco do "Anno Domini". Hoje estudiosos afirmam que o monge Dionísio se equivocou quanto à datação do dia exato do nascimento de Jesus, pois as referências do Evangelho a vários fatos e a morte de Cristo na época do imperador Tibério, fizeram os pesquisadores referendar o natal para 10 anos antes, ou seja, Jesus nasceu no ano 10 a.C., segundo estudos atuais. 

Paulo Barbosa

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

"FEBRUA", FEBRUÁLIAS, FEVEREIRO

 "FEBRUA" na Roma Antiga eram rituais e cerimoniais religiosos praticados com o intuito de se obter a purificação e a expiação dos delitos cometidos. Tais festivais eram celebrados no dia 15 de fevereiro - na época, final do ano, como veremos a seguir, - para saudar a chegada da Primavera que se aproximava no mês seguinte, onde se acreditava que, ofertando oferendas e sacrifícios aos deuses do panteão, sobretudo ao deus Fébruo - Februus -, e purificando a alma, contribuiria para a obtenção de boas colheitas e de um clima de paz na sociedade.

Criação do Mês. O mês de fevereiro - februarius, em latim -, não existia no calendário romano mais primitivo, nos tempos de Rômulo, século VIII a.C., pois o ano só constava de 10 meses, iniciando em março e findando em dezembro. Isso era assim devido a que nos 60 dias de rigoroso inverno - que hoje é em janeiro e fevereiro no hemisfério norte - não haver atividades religiosas e agrícolas. 

Numa Pompílio (753-654 a.C.), entretanto, 2.º rei de Roma, ampliou o calendário criando os meses de janeiro (11.º) e fevereiro (12.º). Seis séculos depois, no ano 153 a.C., ambos os meses passaram a 1.ª e 2.º do ano.

Origem do Nome. O nome fevereiro é um adjetivo qualificador de mês, em latim "Februarius mensis" que, a rigor, se traduz por "o mês expiatório ou da purificação", pois "februa", rituais de expiação e de ofertas, como visto acima, consta entre os elementos componentes.

Februarius tem em sua composição o sufixo latino de pertença ou de lugar -arius, encontrado em palavras como santuário, novenário, etc., unido a "februa", o que, estritamente, significa: o mês (mensis) pertencente (-arius) a "februa".

O deus Febro. Februus - Febro - era o deus a que os romanos destinavam primacialmente os sacrifícios e ofertas implorando a expiação dos seus delitos e culpas e ao qual o mês de fevereiro, último do ano, estava consagrado. Os estudiosos afirmam ser uma divindade estrusca, relacionada com a morte e habitadora do inferno, correspondente ao Dis Pater romano, cujo nome significa "o mais rico de todos os deuses" - de dis, contração de ditis = rico, e pater = pai -, bem similar a Plutão - Pluto -, deus infernal, que também significa rico por via grega.

Outros termos. Outros termos relacionados ao ritual purificatório romano "februa" são:

1. Februo, are - verbo que significa "expiar, purgar, purificar; fazer purificações religiosas". Foi usado pelo filósofo romano Marco Terêncio Varrão (116-27 a.C.).

2. Februatio, onis - substantivo: "purificação". Empregado por Terêncio Varrão.

3. Februatum - substantivo: "objeto purificado".Substantivo usado por Pórcio Festo (século IV d.C.), historiador tardio do império romano, autor do "Breviarium rerum gestarum populi Romani" ("Resumo da História do Povo Romano").

4. Februamentum, i - substantivo: "purificação". Termo usado por Censorino (século III d. C.), gramático romano, autor da obra perdida "De Accentibus" ("Sobre os Acentos") e do tratado "De Die Natali" ("Sobre o Dia de Natal"), composto em 238.

5. Februalis, e, is - adjetivo: "fébrua, februal, relativo à purificação". Era um título da deusa romana Juno, esposa de Júpiter e senhora do Olimpo. "Juno Februalis", celebrada no dia 14 de fevereiro, era a deusa da purificação assim como a da paixão amorosa. O adjetivo foi usado por Pórcio Festo.

6. Februus, a, um - adjetivo: "que expia, que purifica". Usado por Censorino.

Conclusão: Dentre os atuais 12 meses do ano, fevereiro é o que foi criado tendo por referência um ritual religioso pagão de purificação entre os romanos.

Paulo Barbosa

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

ACESSÃO, MANEIRA ANTIGA DE AQUISIÇÃO DE PROPRIEDADE

 A ACESSÃO é um dos modos reconhecidos pelo direito de aquisição de propriedade, ocorrendo quando duas coisas, natural ou artificialmente, se unem de maneira tal que, se separadas, não mais adquirem exatamente a individualidade anterior. 

Quando se verifica a acessão ou o acréscimo, o proprietário de uma delas - ou melhor, do bem principal com relação ao outro acrescido -, torna também proprietário daquela parte acrescentada. 

O termo. Acessão significa aquisição, palavra vinda do latim accessio = ação de chegar, aproximar-se; aumento, adição, acréscimo, acessório.

Acessão de coisa imóvel a coisa imóvel. Aqui será analisada essa categoria de acessão decorrente da união de coisa imóvel considerada acessória a outra coisa imóvel considerada principal.

1.º tipo: Aluvião (alluuio).

A aluvião é uma avalanche de águas de um rio que vão transportando terra de outros imóveis e depositando-a num imóvel (chácara, sítio, fazenda) situado em suas margens. Esse acréscimo de terra, geralmente insensível, mas constante, passa a ser objeto de propriedade do dono do imóvel que acresce. 

2.º tipo: Avulsão (auulsio).

A avulsão é a espécie de acessão quando se dá o desprendimento e transporte de um bloco de terra pela força das águas que se acrescenta a outro imóvel. Há portanto a consolidação em uma só coisa. 

3.º tipo: Leito Abandonado (alueus derelictus).

O leito abandonado se dá quando as águas de um rio abandonam o seu leito primitivo e formam outro. 

Caso seja o rio particular, não há mudança quanto à propriedade de seu leito, pois o leito abandonado continua a ser do proprietário do imóvel por onde passava o rio, e o proprietário do outro imóvel em que as águam formam novo leito não perde, por isso, o direito de propriedade sobre essas terras.

4.º tipo: Ilha Surgida num Rio (insula in flumine nata).

A ilha surgida num rio é o tipo de acessão que ocorre quando emerge uma ilha do leito de um rio público. 

Se o rio for particular não há direito a acessão, pois o proprietário do leito do rio não se torna dono da ilha, mas continua a sê-lo. Em se tratando de um rio público, a ilha, em rigor, deveria ser também pública, porém, juristas renomados de longa tradição atribuem a propriedade dela ao dono do imóvel por onde passa o rio, assim como sucede com o aluueus derelictus

Paulo Barbosa

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

ESPECIFICAÇÃO, MODO DE AQUISIÇÃO DE PROPRIEDADE

 A ESPECIFICAÇÃO é um modo de aquisição de propriedade que ocorre quando alguém que não é dono de uma coisa a transforma em outra de função diversa da primeira. Especificar é speciem facere aliena materia, fazer coisa nova de matéria alheia.

Sobre o termo. Especificar, verbo em que entra o adjetivo latino specificus, composto de species (aspecto, visão, classe, categoria), significa "produzir uma espécie", ou seja, produzir algo exclusivo e próprio de uma classe ou categoria; produzir alguma coisa com um conjunto de sinais visíveis que permita catalogá-la em uma classe concreta. A especificação, portanto, ao produzir algo diverso, com características próprias, numa matéria-prima alheia, torna, em alguns casos, segundo princípio antigo do direito das gentes, tal coisa, propriedade do produtor, do especificador.

Escolas. Havia, entretanto, no direito romano, duas escolas que altercavam sobre a especificação, a dos proculeianos e a dos sabinianos.

Os proculeianos - escola ligada ao jurista Proculus - defendiam que o trabalho do especificador era o mais importante, devendo, pois, ser ele o dono da coisa nova. 

Os sabinianos - escola ligada a Masurius Sabinus -, ao contrário, defendiam a primazia da matéria-prima, atribuindo a propriedade da coisa nova ao dono daquela.

Justiniano, imperador romano, de maneira eclética, acolheu de ambas as escolas normas e princípios, introduzindo certas mudanças, de maneira que as regras a respeito da especificação no direito justiniano ficaram assim:

1. Se a coisa modificada não pode ser restituída ao seu estado primitivo, ela é do especificador. Exemplo, a uva transformada em vinho.

2. Se a coisa modificada pode ser desfeita, é ela do dono da matéria-prima. Exemplo, um vaso feito de prata alheia pode ser desfeito através da fusão, retornando, assim, a barra de prata que era a matéria-prima com a qual foi construído.

3. Em qualquer das duas hipóteses acima, se uma parte da matéria-prima era do especificador, o novo produto será de sua propriedade.

Boa-fé. O direito justiniano estabeleceu também que o especificador para adquirir a propriedade da coisa nova deveria ter agido de boa-fé quando da especificação ou produção do novo artefato.

Indenização. Mais uma regra existente era a de que aquele que perdeu o seu trabalho ou a sua matéria-prima deve ter direito a uma indenização.

Paulo Barbosa

terça-feira, 7 de setembro de 2021

OCUPAÇÃO, MEIO CLÁSSICO DE ADQUIRIR PROPRIEDADE

 A OCUPAÇÃO é a apreensão de uma coisa sem dono com a intenção de fazê-la própria

Desde épocas imemoriais a ocupação é o mais importante dos meios de aquisição da propriedade, tanto que famosos jurisconsultos romanos, como Nerva e Paulo, salientavam que o direito de propriedade decorre da ocupação. Entretanto, à medida que a civilização vai progredindo, a importância desse modo de aquisição da propriedade vai regredindo, pois a área das coisas sem dono cada vez mais se reduz.

Requisitos para ocupar. Três são os requisitos para que ocorra a ocupação, a saber:

1. a apreensão de uma coisa.

2. a intenção de fazê-la própria.

3. a coisa não pode possuir dono.

Conceito de coisa sem dono. São consideradas coisas sem dono as seguintes:

1. Res nullius = coisas de ninguém, em sentido estrito. A tradição exemplifica os animais selvagens, as coisas encontradas à beira-mar (res inventae in litore maris), uma ilha surgida no mar (insula in mari nata), a caça / produto de uma caçada (aucupium), a pesca (piscatio). 

Quanto à caça, seus objetos são os animais selvagens - ferae bestiae - encontrados em estado de liberdade natural assim como os animais domesticados que perderam o hábito de regressar à casa do dono (animus revertendi). 

2. Res derelictae = coisas abandonadas. Deve-se observar que não são coisas perdidas, mas abandonadas, ou seja, deve haver um comportamento do proprietário da coisa que inequivocamente traduza a sua intenção de abandoná-la. Aqui se pode encaixar os nômades e seminômades que após certo tempo em alguma área abandona-as em busca de áreas mais produtivas.

3. Res hostium = coisas pertencentes a povo belicoso, que se insurge em guerra contra outros homens ou, mesmo em tempo de paz, não mantém tratado formal de amizade. A ocupação das res hostium, portanto, não necessita ocorrer somente na guerra, mas também em tempo de paz.

Paulo Barbosa

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

A POSSE, SUA ESSÊNCIA.

 POSSE é definida como "o poder de fato, protegido juridicamente, que se exerce sobre uma coisa".

Desde o Direito Romano são requisitados dois elementos para que haja posse:

1. A possessio corporis, ou seja, o elemento objetivo, denominado corpus, que é o contato material com a coisa ou os atos simbólicos que representam esse contato.

2. O animus, a saber, o elemento subjetivo através do qual se tem a intenção de deter a coisa - affectio tenendi -, ou a intenção de ser o proprietário da coisa - animus domini.

Ambos os elementos, corpus e animus, não podem se desconectar, existir um sem o outro, devendo manter entre si analogamente a mesma relação que há entre a palavra e o pensamento. Assim como o pensamento se incorpora na palavra, o animus se exterioriza no corpus.

O Término da Posse. Com a supressão de um desses elementos, corpus e animus, ou mesmo de ambos, a posse se extingue. Por exemplo, quando o possuidor abandona a coisa a terceiro, ou quando perde, contra a sua vontade, o poder de fato sobre a coisa, ou, mesmo que continue a ter contato material com a coisa, não mais a quer possuir, não tem o vivaz e atualizado animus domini, affectio tenendi.

O Interdito "Uti Possidetis". Esse interdito possessório refere-se a bem imóvel e é de caráter proibitório, pois se proíbe que se faça alguma coisa contra o imóvel do possuidor, e duplo, por a dita proibição se dirigir a ambas as partes, ao possuidor e ao turbador da posse. Outro requisito para o uti possidetis é o possuidor exercer uma posse não violenta, clandestina e precária sobre o bem imóvel.

A expressão latina uti possidetis tem sua origem na fórmula proferida pelo magistrado quando o possuidor, turbado na sua posse por alguém, requeria tal interdito:

"Uti nunc possidetis eum fundum, quo de agitur, quod nec ui nec clam nec precario alter ab altero possidetis, ita possideatis. Adversus ea uim fieri ueto", "Continuai a possuir o imóvel, de que se trata, como agora o possuis, desde que a posse não seja violenta, clandestina ou precária. Proíbo que se faça violência contra essa decisão".

Paulo Barbosa

sábado, 4 de setembro de 2021

PRONOMES POSSESSIVOS LATINOS

 OS PRONOMES POSSESSIVOS LATINOS não costumam ser empregados exceto para enfatizar / reforçar ou por necessidade de clareza ou especificação. Em regra geral, tais pronomes costumam pospor-se aos substantivos:

Frater meus = meu irmão (e não meus frater).

Mater mea = minha mãe.

Homo meus = o nosso homem, o homem de que falo.

Entretanto, encontra-se também anteposto:

Tuus est Chremes = Cremes é todo teu, é-te dedicado.

Tua merx est = a mercadoria é tua.

Algumas vezes a presença de um possessivo numa oração latina exige um acréscimo na tradução, indicativo de reforço:

Manu sua = com sua própria mão.

Paulo Barbosa

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

SUBSTANTIVOS "SINGULARIA TANTUM"

 SUBSTANTIVOS "SINGULARIA TANTUM", também denominados substantivos defectivos, são certos substantivos comuns empregados somente no singular pois seus significados não permitem o plural. 

"Singularia tantum" é uma expressão latina plural de "singulare tantum" que se traduz por "somente no singular". Seu antônimo é "pluralia tantum", "somente no plural".

São "singularia tantum" os seguintes tipos de substantivos:

1. Os que, em vez de designarem indivíduos, designam massa, ou seja, a quantidade de matéria que um corpo contém chamada peso em linguagem não técnica:

oxigênio, ferro, ouro, prata.

Observação: palavras como essas só se pluralizam quando empregadas em sentido figurado ou quando designam partes, divisões, espécies da massa:

Maria não tem pratas (dinheiro) para comprar o bolo.

Acabaram-se os fósforos (palitos de fósforo).

Os ferros (âncoras) do navio foram levantados.

2. Os que designam produtos vegetais e animais:

o arroz, o feijão, o leite, o mel, a cana.

Observações: admite-se o plural nessas palavras quando usadas em sentido figurado ou quando não se tratar do todo, da substância do produto, mas das suas qualidades ou espécies:

Vou comprar dois cafés (xícaras de café).

Gosto dos vinhos portugueses.

Na cidade há muitos cafés (estabelecimentos).

Note ainda a seguinte diferença:

Pedro comeu laranjas.

Maria bebeu vinhos.

Teresa derramou tintas.

Laranjas, vinhos e tintas designam as espécies - laranjas de várias espécies, vinhos de várias espécies, tintas de várias espécies.

Pedro comeu laranja.

Maria bebeu vinho.

Teresa derramou tinta.

Laranja, vinho, tinta, agora, designam o gênero.

3. Os que expressam noções abstratas, virtudes e vícios:

a caridade, a bondade, a sensatez, a ociosidade, a preguiça.

Observação: quando essas palavras depõem o seu significado próprio para indicar o exercício, a prática, os atos de virtude ou de vício, podem, então, pluralizar:

Ontem João fez caridades para os carentes.

Devemos evitar malvadezas

4. Os que designam as ciências, artes, sistemas religiosos, filosóficos ou políticos:

a filosofia, a lógica, a teodiceia, o comunismo, o fascismo, o materialismo, o budismo.

Observação: em sentido figurado, entretanto, filosofia e física podem ser flexivos:

Juliano tem várias filosofias

Tenho em casa muitas físicas.

Esses plurais - filosofias, físicas - significam obras, tratados de vários autores sobre filosofia, sobre física.


EM LATIM...

Em latim, assim como acontece em português, há "singularia tantum":

senectus, utis = velhice.

proles, is = prole.

plebs, plebis = plebe.

pietas, atis = piedade.

meridies, ei = meio-dia.

scientia, ae = conhecimentos.

vulgus, i = vulgo.

indoles, is = índole.

justitia, ae = justiça.

industria, ae = diligência, operosidade.

Paulo Barbosa

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

MERENDA, GERUNDIVO LATINO

 MERENDA é o conhecido alimento oferecido aos alunos nas escolas ou também o lanche que os estudantes levam para comer na escola. É, pois, um dos itens que integra o recreio - o tempo vago entre dois períodos de atividades escolares -, juntamente com a brincadeira, a conversa descontraída, o descanso e demais atividades.

História e Origem. A palavra merenda vem do latim merenda, um vocábulo que fazia nos idos séculos parte da linguagem militar para designar o alimento do meio-dia ou o da tarde distribuído aos soldados. 

Merenda em latim é o gerundivo do verbo mereri ou merere = merecer, ganhar algo, fazer-se merecedor de uma parte de algo. O gerundivo é um adjetivo verbal triforme que exprime obrigação, necessidade, onde, estritamente, merenda significa "aquilo que deve ser repartido por merecimento". 


Recordando o gerundivo. Gerundivo é uma modalidade do gerúndio latino quando exerce a função adjetiva concordando com o substantivo a que se refere. Suas características são:

1. pertence à voz passiva: deve ser.

2. é adjetivo verbal de declinação completa, por isso concorda sempre com o nome a que se refere.

3. é forma participial, ou seja, é um particípio futuro passivo.

4. é indicador de qualidade, pois é um adjetivo.

Exemplos:

Amandus, a, um (amandus, amanda, amandum) = que deve ser amado.

Monendus, a, um = que deve ser avisado.

Legendus, a, um = que deve ser lido.

Accipiendus, a, um = que deve ser recebido.

Audiendus, a, um = que deve ser ouvido.

Dos gerundivos provieram para a língua portuguesa tanto adjetivos quanto substantivos:

Reverendo = o que deve ser reverenciado.

Venerando = o que deve ser venerado.

Amanda = a que deve ser amada. 

Lenda = o que deve ser lido.

Agenda = o que deve ser feito (do verbo latino agere, agir, fazer).

Corrigenda = o que deve ser corrigido.

Paulo Barbosa

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

SETEMBRO, O SÉTIMO MÊS DO ANO

 SETEMBRO vem do latim september, bris, por sua vez, derivado de septem, sete, significando, portanto "o sétimo mês do ano", "o mês de setembro". Entretanto, setembro é o nono mês do ano conforme o calendário gregoriano que nos rege, tem 30 dias, e entre os dias 22-23  no hemisfério norte ocorre o equinócio de outono e no hemisfério sul o da primavera.

História de Setembro. Na Antiguidade Romana setembro era o sétimo mês do ano porque o calendário lunar seguido desde o século VIII a.C., era do fundador de Roma, Rômulo, até o século VII, mais precisamente em 680 a.C., constava de apenas 10 meses, somando assim 304 dias. O ano começava em março e fechava em dezembro - de decem, dez, o décimo mês -, e com um período de inverno muito intenso, de uns 60 dias, que não era contabilizado, período sem atividades laborais, sobretudo agrícolas. 

Numa Pompílio (753-674 a.C.), segundo rei de Roma, conhecido como rei sábio e pacífico, em 680 a.C., acrescentou o 11.º mês, janeiro, e o 12.º, fevereiro. 

Com o correr do tempo, em 153 a.C., as eleições para os cargos da magistratura romana passaram para o dia 1 de janeiro e, a partir de então, essa data marcou oficialmente o início do ano romano. Ou seja, janeiro, de 11.º mês do ano, passa a ser o 1.º, e fevereiro, o 2.º, e setembro, o 7.º mês, passa a ser o 9.ª, outubro, de 8.º passa a 10.º, e assim até dezembro, que passou a 12.º.

Paulo Barbosa