sábado, 18 de setembro de 2021

O GÊNIO, ESSE AUTOR DE MONUMENTOS LITERÁRIOS

 GÊNIO, na arte de escrever, pode ser definido como a reunião de todas as faculdades literárias desenvolvidas no mais alto grau. Essas faculdades aparecem, então, com poder extraordinário para produzir uma obra grandiosa. 

Outros nomes também para designar possuidores de tais habilidades são engenho e talento

Fases do termo gênio. São três as fases pelas quais a palavra gênio passou na história:

1. Gênio, do latim Genius, primeiramente designava entre os romanos uma divindade menor que presidia ao destino humano, um espírito protetor que desde o nascimento de cada menino o acompanhava para proteger-lhe, participando, assim, de seu destino, influenciando-o em seu caráter e capacidade. Para as mulheres, o gênio comum era a deusa Juno. Cada Gênio - tipo de anjo custódio - nascia com a pessoa incumbida de sua proteção e desaparecia em sua morte, por isso, no dia do nascimento, havia celebrações e oferendas nas casas, por ser o dia do nascimento também da divindade tutelar, originando-se daí a festa de aniversário.

2. Gênio, no meado do século XVII d.C., já tinha o sentido de conjunto de todas as qualidades e aptidões inatas de uma pessoa. Esse sentido vem da antiga crença no Gênio tutelar, donde o engenho - ingenium = possuir um gênio dentro - depende, significando, pois, o caráter inato de um ser humano, suas qualidades e talentos e suas tendências de alma. 

3. Gênio, enfim, significa em nossos dias a máxima extensão das potências da inteligência, como quando se diz alguém ser um gênio em matemática, por exemplo.

O objeto do gênio. Os homens possuidores de gênio ou de talento podem considerar duas ordens de objetos ou assuntos, ordens essas separadas mais moralmente do que por diferenças rigorosas, porém, bem nítidas para o bom senso e de consequências literárias. 

A primeira ordem de consideração a que um gênio pode se dedicar se compõe dos assuntos de maior importância, dos interesses urgentes, dos acontecimentos de grande vulto ocorridos na história e que movimentam a paixão mais viva da alma. Ou, por outras palavras, se constitui das verdades gerais e superiores, dos pensamentos elevados, dos sentimentos nobres e fortes, objetos esses que formam o ambiente natural da eloquência, da história e da poesia

A segunda ordem, menor, porém complementar da primeira, a que um talento se dedica, se compõe das impressões familiares comuns de todos os dias, das lucubrações profundas sobre eventos e acontecimentos, das opiniões emitidas com firmeza e seriedade, sempre dentro daquela atmosfera em que ordinariamente se desenvolve a atividade cotidiana. 

Exemplos de gênios. Os gênios são mui raros, entretanto, concordam os autores geralmente nos seguintes nomes: Homero, Aristóteles, Tomás de Aquino, Shakespeare, Camões, Dante, dentre outros. 

No Brasil, dentre os escritores, pode-se nomear Castro Alves, de quem Constâncio Alves (1862-1933), médico, orador, jornalista e ensaísta baiano expressou:

"A repercussão dos seus clamores, ou apelos de seu estro, as maldições de sua cólera e os incitamentos de seu espírito militante transpuseram o âmbito da celebridade acadêmica e dentro em pouco o poeta dos estudantes era o poeta do povo, aclamado no Recife, na Bahia, em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde quer que derramasse a sua palavra feita para encher a amplidão das praças e dominar os sussurros das multidões. Desapareceu no deslumbramento desses triunfos e todo o entusiasmo que o seu gênio acendera deu aos seus funerais a solenidade de uma glorificação.

Castro Alves deixara uma obra sem igual em nossa literatura: hinos de guerra, cânticos de amor, predições de vidente, exortação de apóstolo, paisagens onde, pela primeira vez no verso, a natureza brasileira ostentava a sua majestade".

Outro vulto da literatura brasileira, não raro qualificado de gênio, é José de Alencar, de quem Escragnolle Taunay (1876-1958), famoso historiador, biógrafo, ensaísta, lexicógrafo, tradutor, romancista e imortal da ABL, exclamou:

"Vinde, casta e gentil Cecy, melancólica Isabel, graciosa Guida! Vinde , meiga e doce Iracema, caprichosa Diva, e vós, altiva Senhora! Vinde, todas formosas filhas do gênio de Alencar - entretecer uma capela de brancas saudades para aquele que vos deu vida ideal, cheia de luz e de imarcescíveis encantos!"

Paulo Barbosa.

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