quarta-feira, 30 de junho de 2021

DOMI HABUI UNDE DISCERET

 DOMI HABUI UNDE DISCERET, teve de quem aprender em casa, é uma expressão latina encontrada em Terêncio (185-159 a.C.), mais precisamente em sua obra Adelphoe (v. 413). Tal expressão se tornou muito conhecida na Antiguidade para indicar o ensino ministrado em casa aos filhos ou até mesmo ao processo de ensino autodidata. Sidônio Apolinário (430-486), poeta, funcionário do império romano e bispo, citou expressamente a expressão em sua obra (Ep. 7,9,19) e Plauto (230-180 a.C.), dramaturgo romano, criou uma locução afim, Domo doctus, que aprendeu em casa (Amphitruo, 637, Mercator, 355, Poenulus, 216, Truculentus, 454), porém para indicar que alguém adquiriu conhecimento à sua própria custa.

Paulo Barbosa

TATO, FARO E GOSTO INTELECTUAL: SENTIDOS IMATERIAIS DO HOMEM

 SENTIDOS IMATERIAIS DO HOMEM

O paladar animal tem a possibilidade de perceber sensações de sabores agradáveis e desagradáveis que são denominadas gosto. É o gosto físico, preso aos sentidos do organismo animal. O homem, entretanto, além dessa espécie de gosto, por ser animal racional, possui também sentidos imateriais, intelectuais, que percebem inteligivelmente de três maneiras:

1ª - o tato intelectual: é quando o sentido imaterial da inteligência percebe, conhece a ideia exata, perfeita, daquilo que se deve executar ou omitir a execução, dizer ou deixar de dizer, e isso em todas as circunstâncias da vida.

o faro intelectual: é a inteligência humana no exercício de sua ciência de observação, faculdade de obervação, de reflexão e circunspecção, que mostra, previamente, as qualidades e os defeitos de uma pessoa, as vantagens e os inconvenientes de um fato. O faro intelectual é o olfato em posição de sentinela, assinalando os elementos proveitosos ou nocivos à economia vital.

O ouvido, sentido físico, tem na compreensão - percepção de conceitos pela inteligência - o sentido intelectual correspondente. A vista, no domínio intelectual denominado clarividência - qualidade intelectual de distinguir as coisas com facilidade e rapidez, com clareza e sem esforço.

o gosto intelectual: é o sentimento intelectual delicado que preside e regula a apreciação de tudo quanto é belo, percebendo a harmonia, a proporção e demais qualidades componentes da beleza.

Paulo Barbosa

ORIGINALIDADE NA CONCEPÇÃO E NA FALA

ORIGINALIDADE, em literatura, é o cunho individual que o temperamento, a índole do escritor, comunica às suas ideias e aos seus pensamentos, sendo, mesmo, pode-se afirmar, a virtude primaz do estilo que faz evitar a expressão usual e a perífrase trivial.

ORIGINALIDADE NA CONCEPÇÃO

Quando se se refere a uma ideia original de um autor não se deve entender como uma ideia pessoal, nova, criada por ele, mas sim uma ideia que foi descoberta e analisada após muitos outros terem assim feito, por sua intervenção, participação e trabalho pessoal. Originalidade na concepção ou de ideia não significa pensar coisas novas, construir novidades, porém em pensar novamente, por si mesmo, coisas que inumeráveis gerações haviam pensado antes. Francisque Sarcey, crítico de teatro e jornalista francês, dizia que o autor de uma obra literária nada de bom poderá escrever a não ser o que ele mesmo pensar e naquilo que tiver pensado sempre se encontrará alguma originalidade.

ORIGINALIDADE DO DIZER

A originalidade na expressão oral consiste unicamente em um elemento, a saber, o emprego da palavra própria, precisa, ou na combinação de palavras que exprima de maneira adequada a ideia a ser comunicada, ideia inteira e nada mais que a ideia. Daqui se conclui que palavra precisa se opõe ao uso de termo geral, vago, impreciso, do vício de linguagem denominado anfibologia ou ambiguidade, quando, na construção da oração se apresenta dois sentidos diversos.

Meios de se adquirir originalidade do dizer. São duas as condições que permitem a alguém alcançar maior originalidade na expressão dos pensamentos:

1º - conhecer muito bem o assunto que vai tratar, com suas relações múltiplas com todos os assuntos ou temas conexos. Isso promove arroubo e encanto nos ouvintes, pois revela a erudição do orador.

2º - ser conhecedor de farto vocabulário, da índole e dos inesgotáveis recursos da língua.

Paulo Barbosa

terça-feira, 29 de junho de 2021

CIRCUNSTÂNCIAS E AÇÃO MORAL

CIRCUNSTÂNCIAS são todas as particularidades, situações, condições, estados que rodeiam um fato, uma coisa ou uma pessoa. A palavra é formada pelo prefixo latino circum (ao redor), o verbo stare (estar estacionado, colocado, parado) mais os sufixos -nt que indica agente e -ia que indica qualidade. Ao pé da letra circunstância é "a qualidade (-ia) do que (-nt) está parado (stare) ao redor (circum)".

Quais seriam, então, tais circunstâncias? Os romanos as enumeraram no seguinte verso mnemônico:

Quis? Quid? Ubi? Per quos? Quotiens? Cur? Quomodo? Quando?

Quis? - é a pessoa, o agente que praticou a ação juntamente com seus predicados.

Quid? - é a natureza do fato, sua essência, seja material, moral, etc.

Ubi? - é a circunstância do lugar onde se realizou o fato, se lugar sagrado, profano, reservado, público, etc.

Per quos? - quem foram os agentes secundários, auxiliares, cúmplices ou até obstáculos.

Quotiens? - quantas vezes o fato se deu, se houve recidiva, etc.

Cur? - qual foi o motivo, a causa de se ter agido, que fim alcançou, etc.

Quomodo? - de que maneira o fato aconteceu, como aconteceu.

Quando? - em que época, dia, noite, se na infância, adolescência, velhice, etc.

CIRCUNSTÂNCIAS E AÇÃO MORAL

As circunstâncias, como vistas, são acidentes que modificam o objeto moral de um fato ou uma realização humana. A ação humana para ser classificada como boa ou má deve atender a três requisitos:

o objeto - ao qual a ação tende e onde termina.

as circunstâncias - que vimos acima.

o fim - que é a intenção pela qual o agente pratica a ação.

O objeto confere à ação a sua moralidade essencial, ou seja, se o objeto da ação for bom, a ação é boa, caso contrário, é má.

As circunstâncias têm o poder de aumentar ou diminuir a bondade ou maldade do ato. Pode até mesmo alterar a sua natureza de bom para mau.

O fim sendo bom, ou seja, a intenção do agente sendo boa, juntamente com o objeto, produzirá uma ação boa, caso contrário, má.

Paulo Barbosa

LER, QUAL O MODO CORRETO?

LER é um ato intelectual de eleição e combinação de grafemas para daí extrair um significado. A origem da palavra é o verbo latino legere, escolher, eleger, o mesmo que deu legião, os escolhidos.

MODO CORRETO DE LER

Existe um processo correto para se ler direito, com seriedade, adquirindo, assim, os frutos almejados pela leitura. Este processo ou modo consta de três etapas indispensáveis:

1ª - compreender e assimilar. A compreensão consiste na percepção que a inteligência tem do sentido expressado pelo texto, percepção essa devida à sua perspicácia e sutileza. A assimilação, por sua vez, se dá quando, percebido o sentido, é absorvido e incorporado ao entendimento do leitor. Para essas duas primeiras atividades, a leitura deve ser bastante minuciosa, sem pressa, e sempre com auxílio de um bom dicionário.

2ª - julgar. Tudo o que lê deve ser julgado pelo leitor, ou seja, deve-se aferir o valor do escrito tanto quanto ao fundo (a matéria abordada) como quanto à forma (o estilo, o arranjo, a maneira peculiar do autor se expressar).

3ª - resumir. Resumir é retomar e repetir tudo o que se leu para reduzir a termos breves, sentenciosos, precisos, restabelecendo, assim, o essencial do texto, o que facilita a aprendizagem. O resumo se faz em muitas notas, assim como com fichas bem classificadas.

Paulo Barbosa

PALAVRA E VOCÁBULO, QUE SÃO?

 PALAVRA  pode ser definida como o sinal habitual da inteligência, ou seja, é através da palavra como signo, geralmente, que a inteligência humana se reporta ao referencial. Entretanto, a palavra tem um seu complemento, a mímica, arte de se comunicar através dos gestos, que lhe serve de reforço ou até mesmo de comentário. 

VOCÁBULO, por sua vez, são os sons articulados que o aparelho fonador humano profere, o ouvido percebe, e porta determinada significação quase sempre convencional e regulada pelo uso. Sua etimologia vem do latim vocabulum, possuindo um sufixo instrumental -bulum anexado ao tema do verbo vocare, chamar, dar nome, de modo que etimologicamente vocábulo é "o instrumento ou o meio de denominação das coisas, sejam entes, qualidades ou ações".

Uma outra definição de vocábulo é possível: é um sinal sonoro que recorda ora um objeto material - como cavalo, mesa -, ora uma noção abstrata - como virtude, cidade -, e isto por meio de uma associação de ideias. A memória humana, guardando a impressão constante da relação entre o vocábulo e o objeto, quando surge o termo, seja ouvido ou lido, imediatamente surge a ideia correspondente. Tal ideia não pode aparecer sem que o vocábulo a exprima.

ESPÉCIES DE VOCÁBULOS

Há duas espécies de vocábulos ou termos:

1. vocábulos ou termos pitorescos - são aqueles dirigidos aos nossos sentidos, à nossa imaginação, visando produzir os sentimentos, os afetos, tais como num romance, numa poesia, etc.

2. vocábulos ou termos abstratos - são os que se dirigem quase que unicamente à razão para explicitar ou revelar verdades, não evocando nada na imaginação, a não ser vagas formas. Encontram-se nas obras filosóficas e científicas.

Paulo Barbosa

OS ESTILOS DOS LUSÍADAS

 OS LUSÍADAS, célebre poema épico de Luís de Camões (1524-1580), varia o estilo segundo a tipologia textual. 

Na descrição o estilo é realista, os aspectos da realidade são bem realçados e, quando inventa, o faz com traços realistas bem particularizados, fugindo da generalização, como pode-se conferir na descrição do Adamastor, do Tritão, da Tromba marinha, da Tempestade, etc.

No tipo narrativo o estilo sempre é conciso, breve, assinalando apenas os fatos principais e interessantes, como na história de Inês de Castro, dos Doze da Inglaterra, no episódio de Veloso, etc.

Na dissertação há variadas apóstrofes com ideias admiráveis, interpelações veementes que encantam o leitor, tal como na invocação inicial, na fala do "velho de aspecto venerando" ao partir da frota, na argumentação sobre os males do dinheiro e no epílogo "No mais, Musa, no mais..."

Paulo Barbosa

FEALDADE E LITERATURA

 FEALDADE ou FEIURA é o que se opõe à beleza resultando da carência de algum requisito necessário ao belo. O corcunda, o desproporcional, o idiota, o viciado, é feio porque normalmente o homem deve ser direito, bem proporcionado, inteligente, virtuoso. No animal, por exemplo, a ausência do raciocínio não lhe prejudica a beleza, pois esta faculdade não pertence à sua natureza. 

DIVISÃO DA FEALDADE

A fealdade é dividida em duas espécies:

1. fealdade hedionda - é a desformidade que provoca repulsa, nojo, repugnância, tanto do ponto de vista físico quanto do ponto de vista moral, tais como uma chacina, ataques terroristas, a ingratidão, a barbaridade.

2. fealdade ridícula - é desformidade que não possui o caráter de repugnância, mas desperta o riso por ser engraçada ou constrangedora, tais como certas manias, a vaidade inofensiva, a ingenuidade, etc.

PAPEL DA FEIURA NA LITERATURA

A feiura na arte literária é incapaz de causar diretamente emoção estética, ou seja, o feio é impotente para satisfazer as faculdades cognitivas superiores e inferiores. Pode, entretanto, o feio servir de realce para a qualidade oposta, desempenhando, então, junto do belo, o papel das sombras junto da luz. A crueldade do algoz faz sobressair o heroísmo da vítima, as desgraças que oprimem os viciados aumentam a gratidão dos que conservam a integridade pela prática da virtude.

Paulo Barbosa

segunda-feira, 28 de junho de 2021

ORAÇÃO ABSOLUTA VOLITIVA LATINA

 ORAÇÃO ABSOLUTA é, na classificação das orações, a que possui sentido completo constituindo a única do período, ou seja, não vem nem coordenada nem subordinada a nenhuma outra. Em latim, dentre outras espécies, existe a denominada oração absoluta volitiva, que exprime uma exortação, uma ordem ou um desejo, dividindo-se, portanto, em:

1. oração volitiva exortativa - quando aconselha, exorta, induz ou persuade alguém a pensar ou fazer algo. O verbo estará sempre no presente do subjuntivo:

Patriam amemus - amemos a pátria.

2. oração volitiva optativa - quando expressa um desejo, uma aspiração por algo. O verbo estará no modo subjuntivo, mas poderá vir em qualquer tempo:

Utinam vicisses - oxalá tivesses vencido.

3. oração volitiva imperativa - a que exprime ordem ou proibição. O verbo estará no imperativo, no tempo presente quando a ordem deve ser cumprida imediatamente, ou no tempo futuro, se a ordem tiver efeito continuativo para o futuro:

Egredere ex urbe - sai da cidade.

Pueri, patres vestros amatote - meninos, amai vossos pais.

Pelas espécies de orações percebemos que a vontade humana pode se articular em vários sentidos desde a simples exortação a alguém, passando pelo interesse ou o desejo que algo ocorra em prol de outrem, até ao império, à ordem, à imposição de uma determinação a ser cumprida.

Paulo Barbosa

TALVEZ EM LATIM

 TALVEZ, advérbio usado para significar possivelmente, provavelmente, quiçá, em latim, além dos variados termos existentes - fortasse, forsitan, forsan, etc. - pode também ser traduzido pelas seguintes expressões dubitativas: haud scio an, nescio an, dubito an, dubium est an.

Haud scio an omnium praestantissimus - talvez ele seja o principal de todos.

Nescio an modum excesserit - talvez ele tenha passado dos limites.

Dubito an Romani modum excesserit - talvez os romanos tenham excedido a medida.

Tais locuções ou expressões dubitativas são usadas quando na incerteza alguém deseja exprimir a propensão para o sim.

NA DÚVIDA OU INCERTEZA ABSOLUTA

Se, porém, a dúvida ou a incerteza for absoluta, deve ser expressada com dubito num e dubito ne, não cabendo mais a tradução pelo advérbio talvez:

Dubito num venturus sit amicus - não sei, estou na dúvida, se o meu amigo virá.

Dubito ne venturus sit pater - não sei se o meu pai virá ou não.

Paulo Barbosa

domingo, 27 de junho de 2021

SILEPSE DE PESSOA

 SILEPSE DE PESSOA é concordância irregular que consiste em concordar o verbo não com a pessoa do aposto manifestado, mas com a pessoa do fundamental oculto. Exemplos:

1. Dizem que os mineiros somos muito religiosos - dizem que nós, os mineiros, somos...

O verbo concorda com o fundamental nós, não com o aposto claro "os mineiros".

2. Ali ficamos alguns amigos 

3. Os brasileiros fazemos por tradição.

4. Os dois que fugimos, nos escondemos no mato.

5. Os outros fomos para participar da aula.

6. Difundem que os alunos somos preguiçosos.

7.Todos os filhos de Adão sofremos padecimentos.

8. Colegas e amigos saímos para lanchar.

SOBRE O APOSTO E FUNDAMENTAL

Aposto é um tipo específico de adjunto adnominal constituído de uma palavra ou de um grupo de palavras em aposição - colocação de dois nomes, um junto ao outro, na mesma oração. Sua função é explicar um ou mais termos expressos na oração.

Fundamental é a denominação da palavra, do termo, modificado pelo aposto.

Pedro, apóstolo, traiu Jesus.

Pedro = fundamental, palavra modificada pelo aposto.

Apóstolo = aposto, nome que explica quem é Pedro.


O ministro Queiroga.

Ministro = aposto, nome que explica quem é Queiroga.

Queiroga = fundamental, nome modificado pelo aposto.

Paulo Barbosa

LOGO, CONJUNÇÃO CONCLUSIVA

 LOGO é conjunção conclusiva ou ilativa que ligando duas orações a segunda expressa conclusão ou ilação da primeira.

1. Manoel bebeu, logo não pode dirigir.


2. Todo homem é mortal.

Pedro é homem.

Logo, Pedro é mortal.

Origem da palavra. A origem da conjunção "logo" é latina, procedendo de loco, ablativo do substantivo locus, que significa principalmente lugar, sítio, mas que também possui outros matizes significativos, tais como classe, posição social, situação, assim como determinado instante do tempo, e, com tal valor temporal, momento, ocasiãooportunidade, etc. Como consequência de seu valor temporal a palavra começou a aparecer em inúmeras expressões de tempo, especialmente em ablativo, como em suo loco (em seu tempo preciso), postero loco (em um momento posterior), in loco (a tempo, oportunamente), etc. A partir desse matiz, o ablativo loco passou a expressar um momento posterior no tempo, um ponto subsequente, dando, assim, ensejo, ao nascimento de nossa conjunção conclusiva ou ilativa. 

Manoel bebeu, logo = posterior a ter bebido, em consequência de ter bebido conclui-se que...

Paulo Barbosa

DISCURSO LÓGICO

 O DISCURSO LÓGICO, que visa a veracidade, a certeza, é aquele que possui uma estrutura silogística, ou seja, usa de argumentação, de uma série de razões aportadas para provar uma questão. Nesse discurso pode ser usado dois tipos de processos racionais básicos:

1. a dedução - processo racional através do qual de premissas universais se extrai conclusões particulares ou novos princípios, havendo, portanto, passagem do geral para o particular. Exemplo:

Todo homem é mortal.

Aníbal é homem.

Logo, Aníbal é mortal

2. a indução - processo racional que a partir de fatos particulares se extrai princípios universais, havendo, então, passagem do sensível para o inteligível.

A indução, por sua vez, é dividida em:

a) indução essencial - quando a descoberta é produto da inteligência auxiliada pela experiência. Nesse caso, há uma conexão necessária e universal entre um sujeito e um predicado, pois há uma captação, uma intuição imediata através da simples obervação de princípios universais. Exemplo:

O todo é maior que as partes.

b) indução empírica - quando através da repetição de um fato na natureza se extrai uma generalização. Aqui não há evidência da conexão necessária entre o sujeito e a propriedade. Caso a enumeração do fato seja completa, a certeza é absoluta, porém, se incompleta, há somente possibilidade que a generalização seja verdadeira. Exemplo:

Este colibri voa, aquele também, o outro também, logo, todos os colibris voam.

O discurso lógico, também denominado analítico, é o instrumento humano que tem por objetivo manifestar uma verdade, apresentar certeza científica, partindo de premissas ou de fatos e procurando explicá-los e compreendê-los para ter força demonstrativa do porquê são verdadeiros e não falsos. Com esse processo discursivo se produz conclusão que deve ser admitida como verdadeira.

Paulo Barbosa

sábado, 26 de junho de 2021

PRETÉRITO PERFEITO COM VALOR DE PRESENTE

 O PRETÉRITO PERFEITO em latim não tem por função indicar somente uma ação terminada com relação ao presente, mas pode manifestar também o resultado ou o efeito presente desta ação já passada, já terminada. É exatamente essa possibilidade que explica o seu emprego com o valor de presente nos seguintes verbos:

memini = lembro - soube no passado e continuo lembrando.

noui = conheço, sei - conheci e continuo conhecendo.

odi = odeio - odiei e continuo odiando.

Tais verbos são conjugados somente no perfeito nos tempos formados do perfeito, mas sempre com significação de presente. Obviamente, se o perfeito desses verbos tem significação de presente, o mais que-perfeito tem valor de imperfeito: 

memineram = eu me lembrava.

noveram = eu sabia.

oderam = eu odiava.

e o futuro perfeito, valor de imperfeito:

meminero = eu me lembrarei.

novero = eu saberei.

odero = eu odiarei.

Outras formas verbais apresentam também essa possibilidade:

didici = eu sei - aprendi, acabei de aprender, logo sei.

decrevi = estou resolvido - tomei a resolução e estou decidido.

Paulo Barbosa

CERTIDÃO DE NASCIMENTO, "NATALIS PROFESSIO"

 A CERTIDÃO DE NASCIMENTO, documento em que se assenta um nascimento lavrado em livro e conservado sob os cuidados de um cartório de registro civil, teve sua origem, segundo Emilio Costa em sua Storia del Diritto Romano Privato, 2ª ed., pág 75, sob o imperador romano Marco Aurélio (121-180 d.C.) que estabeleceu a obrigação de que se produzisse dentro de trinta dias a partir da lustratio - cerimônia religiosa realizada no nono ou no oitavo dia após o nascimento, conforme fosse criança do sexo masculino ou feminino - uma declaração ou certidão de nascimento, denominada em latim, natalis professio. A partir de então todo pai era obrigado a declarar diante da autoridade pública o nascimento do filho em Roma, mas precisamente, diante do praefectus aerarii (prefeito do erário), e, nas demais províncias, diante dos tabularii publici (notários ou tabeliães), que anotavam em registros públicos.

Paulo Barbosa

IDIOTISMO, IDIOTA, REGÊNCIA IRREGULAR

 IDIOTISMO é regência irregular de termo ou dicção que existe somente em uma língua sem nenhum correspondente em outros idiomas.

HISTÓRIA  DO TERMO

História da palavra idiota. O termo idiotismo vem do grego idiotes, particular, aquele homem que não se ocupava de assuntos públicos ou não estava investido de nenhum cargo público, mas se dedicava somente a seus interesses particulares. A raiz "idio" significa "próprio, singular, pessoal". No século V, em Atenas, período florescente da democracia, o termo "idiotes" começa a adquirir sentido depreciativo, pois era mal visto quem não se interessava pelos assuntos da pólis mantendo-se apartado da política, das assembleias. Nessa época, aliás, havia até um auxílio financeiro concedido pelo governo para a assistência e participação nas liturgias e debates públicos atenienses. É devido a esse afastamento da vida pública que "idiotes", idiota, de termo natural e indiferente, começa a adquirir o valor de pessoa ignorante, sem cultura, não polida, tonta, por renunciar por vontade ou por incapacidade intelectual ou econômica a participar da democracia, de suas assembleias, de seus comícios, da gestão pública. Ao passar o termo para o latim, já chegou com o sentido de alguém ignorante, sem instrução, sem inteligência e carente de bom-senso, conservando-se assim durante toda a Idade Média e o Renascimento. No século XVII, a ciência médica francesa estabelece a classificação dos retardos mentais, das deficiências psíquicas, e toma o termo "idiota" para conceituar um dos graus dessas deficiências. Honorio Delgado, em seu Curso de Psiquiatria, define o idiota "do ponto de vista psicológico como aquele que manifesta inaptidão parcial ou absoluta para conceber conceitos, inclusive dos objetos familiares mais correntes (mãe, pai, leite, mão, cabeça, sapato, etc.).  Os idiotas de grau máximo não aprendem a falar, os outros têm uma linguagem pobre, quase sempre agramático e com falhas na articulação. Não aprendem a comer por si, nem a vestir-se ou dar a mão. Os tórpidos (entorpecidos) não mostram interesse para nada nem atenção ao que lhes rodeia. Os eréticos (agressivos) exibem uma atividade insensata, tumultuosa e destruidora".

NA SINTAXE

Na sintaxe, entretanto, idiotismo, como já visto, é uma irregularidade regencial, também denominada expressão idiomática, onde termos, frases, modismos, são exclusivos de uma língua e se afastam dos princípios gerais e normativos da sintaxe. Apesar disso, tais desvios são consagrados pelo uso dos bons autores e pessoas cultas e adotados na linguagem polida. Exemplos de idiotismos na língua portuguesa:

1. O infinitivo pessoal flexionado. O princípio geral da gramática reza que nenhuma forma infinitiva deve tomar desinência pessoal, ou seja, o infinitivo não deve se conjugar de acordo com a pessoa do sujeito. Entretanto, em português há duas espécies de infinitivos, o impessoal e o pessoal, sendo o primeiro o puro infinitivo, a forma nominal inflexível essencialmente substantiva do verbo, e o segundo, típico idiotismo português, o infinitivo conjugado de acordo com o sujeito. Assim temos:

por ser eu

por seres tu

por ser ele

por sermos nós

por serdes vós

por serem eles

Talvez seja melhor molharmos as plantas.

Deixarem as coisas vagas não vai ajudar a compreensão.

Por viajarem não quer dizer que eu viaje.

2. O uso da locução "é que", mero adorno na frase, servindo apenas para realçar uma ideia. Em análise deve ser definida como locução expletiva, funcionando apenas como enchimento, redundância, provendo a frase de maior força ou evidenciando um termo da oração.

João é que fez a obra.

Maria é que é estudiosa.

Pães é que os padeiros fazem.

Ele é que quebrou o copo.

Só depois da partida foi que o assunto veio à tona.

Foi Pedro que comeu o bolo.

Note que o "foi que" é a mesma locução expletiva "é que", não sendo, portanto, oração, como se poderia pensar.

3. O emprego da preposição "de" nas seguintes expressões:

"O bom do velhinho".

"Pobre do homem".

"Coitado do meu pai".

4. A colocação do artigo antes dos pronomes possessivos:

O meu carro.

Os teus cadernos.

As nossas vidas.

Paulo Barbosa

sexta-feira, 25 de junho de 2021

JUSTIÇA, O QUE É, DIVISÃO E CARACTERÍSTICAS

 A JUSTIÇA é definida como a virtude que ordena dar a cada um o que é seu - suum cuique tribuere -, ordenando, portanto, o homem com relação a outrem de dois modos: primeiro, a outro considerado individualmente, e segundo, a outro em comum, isto é, na medida em que aquele que está à frente de uma sociedade serve a todos os homens que estão nela integrados. Daí a sua divisão nas seguintes espécies:

    DIVISÃO DA JUSTIÇA

1.comutativa (particular, devida a outro considerado individualmente): é a justiça em que há igualdade aritmética, absoluta, entre os deveres dos cidadãos entre si. Esse tipo de justiça é a reguladora das trocas realizadas entre duas pessoas particulares, aliás, comutativo significa trocar objetos ou coisas de igual valor, comutar. 

2. distributiva (geral, que diz respeito aquilo que é devido a outro em comum ou à comunidade): é a justiça que reparte proporcionalmente o que é comum entre os membros da sociedade, tratando-se de bens ou encargos. Nesse tipo de justiça, por exemplo, o Poder Público, o Estado, distribui para os cidadãos benefícios e funções segundo as necessidades, capacidades e merecimentos.Deve-se notar que essa espécie de justiça não é igualitária, mas proporcional, conforme a definição, tratando desigualmente os desiguais e na medida de suas desigualdades.

3. legal: é a justiça em que os cidadãos devem cumprir as leis do Estado, como pagar os impostos, obedecer ao sinal de trânsito, etc.

CARACTERÍSTICAS DA JUSTIÇA

A justiça possui três características básicas:

1. alteridade - a virtude da justiça sempre será voltada para o próximo.

2. débito - impõe o dever que se tem para com o outro.

3. igualdade - exige equivalência entre os deveres recíprocos.

Paulo Barbosa

quinta-feira, 24 de junho de 2021

PARABÉNS, FORMAÇÃO E ORIGEM

 PARABÉNS é uma palavra que aparece nos dicionários desde o início do século XVIII sendo composta de "para" e "bem, nascendo no singular - parabém -, porém, muito antes de ser dicionarizada já existia em castelhano a expressão "para bien sea" (para bem lhe seja). Dentre outros sentidos, a preposição "para" indica direção, intuito, propósito, que, unida a "bem" expressava a felicitação votos "para o bem" da pessoa festejada, ou, como se proferia mais tarde, já pluralizada, em espanhol, "com muchas bendiciones y parabienes" - com muitas bençãos e votos para o bem da pessoa felicitada.

A palavra "parabienes" foi importada por Portugal devido a ser a língua de Castela moda entre os lusitanos nos séculos XVI e XVII sobretudo em Lisboa. Daí a introdução de inumeráveis palavras castelhanas em na pátria de Camões.

Parabéns, substantivo masculino plural, pode ser definido como felicitações ou congratulações por um benefício ou sucesso alcançado e a variante singular "parabém" é hoje considerada arcaísmo.

Paulo Barbosa

O DISCURSO POÉTICO

 O DISCURSO POÉTICO é um dos 5 tipos de discursos ou de maneiras de expressar e comunicar aos semelhantes o pensamento. Os demais tipos são: o lógico, o retórico, o dialético e o tópico. Essa divisão dos discursos encontra-se no "Organon", conjunto de obras lógicas de Aristóteles. 

O discurso poético trabalha com a possibilidade, com a ficção, sendo a mais flexível espécie de comunicação humana por não estar obrigada pela necessidade de traduzir a realidade tal qual é. Sua finalidade é estética e recursos literários vários com jogos de palavras são usados para alcançá-la. Objetiva-se criar no receptor com esse tipo de discurso empatia através da qual se sentirá identificado com aquilo que se está comunicando. A maior ênfase é colocada na forma mais que no conteúdo com a utilização frequente do uso de metáforas. 

O discurso poético, enfim, suscita imagens e fatos que dramatizam a realidade fazendo, assim, o público despertar o senso estético, de beleza, e reagir à comunicação discursiva proposta.

Exemplos de discursos poéticos são poemas, jograis, canções populares, etc.

Paulo Barbosa

AUT, VEL, CONJUNÇÕES ALTERNATIVAS DIFERENCIADAS

 AUT e VEL são conjunções latinas alternativas (ou), ou seja, que proporcionam escolher a uma de duas possibilidades apresentadas Entretanto, há as seguintes diferenças:

Aut (ou) geralmente é usada para separar ou distinguir duas palavras, ideias, objetos ou orações que são incompatíveis:

Aut esse aut non esse - ou ser ou não ser.

Verum aut falsum - verdadeiro ou falso.

Vel (ou) separa ou distingue palavras ou orações que não são incompatíveis entre si:

Vel imperatore vel milite me utimini - servi-vos de mim ou como general ou como soldado.

Matri vel novercae = à mãe ou à madrasta.

Além de vel, outras que exercem a mesma função são: sive e seu.

Paulo Barbosa

quarta-feira, 23 de junho de 2021

ALMA, CONCEPÇÕES NA ANTIGUIDADE

 A ALMA na Antiguidade, ou melhor expressando, na Filosofia Antiga, era definida basicamente de 3 maneiras diversas, existindo, pois, três concepções que perduraram na História das ideias filosóficas.

1. Concepção Mecanicista. Segundo tal concepção a vida e o desenvolvimento dos seres vivos não necessitam de uma alma, pois, o ser vivo não passa de um composto apenas de elementos materiais - materialismo - que se movimentam e interagem por relações de causalidades necessárias, automáticas e previsíveis.. Empédocles (492-432 a.C.), filósofo, poeta e médico da Sicília, advogava este conceito mecanicista de vida, explicando, por exemplo, que nas plantas suas raízes descem pelo elemento terra que tende para baixo, e a planta cresceria através do elemento fogo que tende para cima. 

2. Concepção Dualista. É a elaborada por Platão (427-347 a.C.), onde a alma é espiritual, porém um mero motor externo que concede vida ao corpo. A alma e o corpo são duas unidades autônomas, cada qual uma substância individual, tais como o motorista e o automóvel. Segundo a mesma teoria, a alma preexiste num mundo das Ideias, vindo habitar - encarcerar-se - num corpo no mundo terreno.

3. Concepção Animista. É a defendida e ensinada por Aristóteles (384-322 a.C.), em que a alma é a forma do corpo nos seres que possuem vida, é aquilo por meio do qual o corpo se move, vive e pensa. 

Paulo Barbosa

PARECER, UM VERBO CURIOSO

 PARECER é um verbo que possui as seguintes particularidades: pode ser empregado como verbo de ligação e como verbo intransitivo. Vejamos:

Os professores parecem estar felizes.

Aqui o verbo é de ligação significando 'ter a aparência de' e, portanto, 'estar felizes' é predicativo. 

Os professores parece estarem felizes.

O verbo parece aqui está empregado intransitivamente, ou seja, com sentido completo, significando 'dar a impressão de', e 'estarem felizes' é o seu sujeito.

Parece estarem os professores felizes - estarem os professores felizes parece.

'Estarem os professores felizes' é oração subordinada substantiva subjetiva - que exerce a função de sujeito - com relação ao verbo parece, que é seu predicado.

Pode-se também construir a mesma subordinada subjetiva assim:

Parece que os professores estão felizes que os professores estão felizes parece.

Paulo Barbosa

ANALOGIA VOCABULAR FUNCIONAL

 ANALOGIA VOCABULAR FUNCIONAL é a relação de semelhança existente entre as classes de palavras de uma língua segundo a função ou desempenho na oração.

Tal conjunto de palavras considerado quanto à função pode ser distribuído em três grupos:

1. Palavras nominativas - aquelas que têm por função dar nomes aos seres. Nominativo, em latim, é o nome do caso do sujeito, do predicativo, do atributo e do aposto do sujeito. São do grupo das palavras nominativas o substantivo e o pronome. Exemplos:

Maria viajou. 

Ela voltará em breve.

2. Palavras modificativas - aquelas que têm por função modificar outras palavras, ou seja, alterar uma palavra manifestando-lhe uma qualidade. São deste grupo o adjetivo, o verbo e o advérbio. Exemplos:

O amigo fiel conhece-se na adversidade.

João ensina, Pedro aprende.

José discursa bem.

3. Palavras conectivas - aquelas que têm por função conectar, relacionar, ligar outras palavras entre si. São deste grupo a preposição, a conjunção, o pronome relativo, o advérbio relativo e o verbo de ligação. Exemplos:

Padaria de Pedro.

Gabriel viajou, mas não voltou.

O professor que nos ensinou aposentou.

Eu estudei onde tu estudaste. 

Marta é estudiosa.

Paulo Barbosa

terça-feira, 22 de junho de 2021

LITERATURA, ARTE DE EXPRESSAR O BELO - 02

 A LITERATURA sendo o veículo de manifestação do belo através da palavra escrita ou falada deve, para cumprir seu fim - expressar o belo - obedecer alguns requisitos. Concorrem, portanto, para a manifestação da beleza na arte literária os seguintes elementos:

1. As frases ou orações devem ser medianas, ou seja, o escritor ou orador não deve produzir grandes e intricados períodos como faziam os clássicos nem se resumir a frases curtas e enfadonhas como é do feitio dos modernistas. Hipotaxe e parataxe devem se equilibrar. 

2. O emprego de palavras apropriadas, precisas. A expressão literária exige precisão, palavras precisas, que indicam o que é necessário em uma coisa prescindindo de todo supérfluo. Precisão vocabular é uma operação intelectual que consiste em considerar um objeto em si mesmo, sem considerar o que a ele está unido ou o que com ele está relacionado. Ser preciso, portanto, é cortar tudo o que é estranho ao assunto de que se trata, é saber escolher o termo que melhor determina o objeto, o circunscreve, o corta e o separa de outros com que poderia se confundir.

3. O uso da simplicidade, a saber, a fuga do preciosismo, vício de linguagem que obscurece e dificulta a manifestação do pensamento pelo emprego de palavras, construções e expressões arcaicas ou esquisitas, inusitadas. A expressão literária deve ser simples no sentido de não haver pretensão ao complicado, ao complexo, ao requinte, à pompa e sofisticação. O literato deve se expressar com ausência de dificuldade para seu público, tornando, assim, fácil a comunicação. Deve-se ser simples sem ser simplista.

4. O emprego de palavras elevadas também denominado a fuga da trivialidade. O literato, o orador, o preletor em sua produção não deve empregar pensamentos e palavras triviais, aqueles que são comuns e fazem parte do repertório dos homens ignorantes, das classes desprovidas intelectualmente. Trivial é tudo o que é reproduzido 'ad nauseam' por indivíduos ignorantes, ideológicos, sectários e defensores de causas deletérias do bem, da verdade e da beleza a ponto de enfastiar, incomodar, aborrecer pela força da repetição. Exemplos de trivialidades em nossos dias temos aos montes tais como os termos 'fascista', 'nazista', 'genocida' usados pela chusma sem ao menos saber a etimologia quanto mais o sentido conceitual próprio de cada palavra.

5. O uso variado das figuras sintáticas que trazem expressividade ao período mediante a sua modificação graciosa, a interferência na sua estrutura. Esse recurso evita a repetição dos mesmos termos, dos mesmos circunlóquios, e isso dá sabor e colorido ao texto ou discurso. Daí a necessidade de estudar e ler bons escritores de nossa língua para alimentar a produção do belo através da palavra, ou seja, para produzir literatura.

As figuras sintáticas ou de construção são: Elipse, Zeugma, Hipérbato, Silepse, Assíndeto, Polissíndeto, Anáfora, Anacoluto e Pleonasmo.

Paulo Barbosa.

segunda-feira, 21 de junho de 2021

LITERATURA, ARTE DE EXPRESSAR O BELO - 01

 LITERATURA em sentido estrito é a arte de expressar o belo por meio da palavra escrita ou falada. É sinônimo de arte literária. Mas o que é o belo?

O BELO

Belo, como ensina a filosofia, é tudo aquilo que ao ser conhecido e contemplado agrada tanto pelo esplendor de sua grandeza quanto de sua ordem

Para que haja o belo, algumas notas ou qualidades essenciais devem se fazer presentes:

1. Integridade, pois um ser ao qual falta uma de suas partes constitutivas ou uma de suas perfeições é disforme, carecendo, portanto, da inteireza que necessita o belo.

2. Harmonia, ou seja, o ser para possuir beleza deve ser proporcional em suas partes e entre elas com o todo, não podendo agradar o que é desproporcional e assimétrico. Um rosto humano pode possuir um nariz em si bastante perfeito, porém, se for desproporcional com as demais partes não é belo.

3. Claridade, por exigir o belo a existência de cores harmoniosamente distribuídas numa suficiente luz.

domingo, 20 de junho de 2021

ELIPSE VERBAL EM LOCUÇÕES PROVERBIAIS LATINAS

 Na língua latina é costume em provérbios, ditados, locuções proverbiais, a omissão do verbo. Isso é um caso de elipse, ou seja, figura através da qual se omite alguma palavra ou oração que com facilidade pode ser compreendida. Vamos aos exemplos:

Quid mirum? - que para se admirar?

Minima de malis - dos males deve-se escolher o menor.

Summum ius summa iniuria - a justiça muito rigorosa chega a ser injustiça.

Fortuna fortes - a sorte ajuda os fortes.

Inde irae et lacrimae - daí nasceram as iras e as lágrimas.

Sed de hoc alias - mas disso falaremos outras vezes.

O QUE É FIGURA?

A elipse é denominada figura. Em sintaxe, figura é o modo de dizer ou de expressar que se afasta das regras e propriedades da língua, de sua simplicidade, muitas vezes até contrariando as normas sintáticas. Entretanto, se empregada a figura com moderação e bom gosto pode conceder variedade, colorido e vivacidade ao estilo.

Paulo Barbosa


PARALOGISMO E SOFISMA

 PARALOGISMO E SOFISMA são raciocínios falsos, argumentos viciosos e sutis, conclusões mal deduzidas ou em contradição com as regras da lógica. Entretanto, embora os dois induzam ao erro, há diferenças entre eles que passaremos a analisar.

O paralogismo peca contra as regas lógicas produzindo argumentação errada por ignorância, por falta de conhecimento ou por carência de aplicação, cuidado, zelo no raciocinar. Como vimos, aqui se transgride as regras do bem raciocinar por falta de conhecimento, enganando, levando ao erro, portanto, de boa fé.

O sofisma, por sua vez, induz ao erro por malícia, com conhecimento de causa, através do uso de sutilezas e artifícios mal intencionados. No sofisma existe oposição à retidão da intenção, ou seja, há no sofista má intenção, interesse explícito em enganar e iludir ao próximo. 

Enfim...

No paralogismo se produz raciocínio falso por desconhecimento das regras lógicas do raciocínio correto. Não há vontade em enganar ao próximo. 

No sofisma se produz raciocínio falso por saber e querer enganar e iludir ao próximo. Há uma explícita e desejada oposição à intenção correta. Há má intenção.

Paulo Barbosa



SOLECISMO OU DESVIO SINTÁTICO E LÉXICO

 SOLECISMO é palavra de origem curiosa, proveniente do grego 'sóloikos" - bárbaro, que fala mal e contra as regras gramaticais -, daí surgindo o verbo 'soloikizo' - falar incorretamente, faltar ao emprego das regras da língua. Pesquisadores derivam 'sólokois' e 'soloikizo' do nome próprio 'Sóloi", Solos, uma cidade da Cilícia, na Ásia Menor, mui antiga colônia de povos provenientes de Argos, cujos habitantes misturados com os nativos falavam um grego totalmente deformado e corrompido.

Solecismo, pois, é todo erro, toda falta cometido na sintaxe ou no léxico. É quando há uma invasão na norma culta com construções sintáticas que destoam da mesma, tais como erros de concordância, de regência, de colocação e a má construção de um período composto. Vamos aos exemplos:

1. Haviam muitas moças na casa em vez dehavia muitas moças na casa.

2. Fazem três dias que Maria viajou em vez defaz três dias que Maria viajou.

3. Hão de me obedecerem em vez de: hão de me obedecer.

4. Custei muito a encontrá-lo em vez de: custou-me muito encontrá-lo.

5. Não lhe passou desapercebido o evento em vez de: não lhe passou despercebido o evento.

6. Preferir antes fazer uma coisa do que outra em vez de: preferir fazer uma coisa a fazer outra.

7. Não saia sem eu em vez de: não saia sem mim.

8. Entre eu e ele em vez de: entre mim e ele.

9. Entre vós e eu em vez de: entre mim e vós.

10. Entre João e eu em vez de: entre mim e João.

11. Não crede em vez de: não creiais.

12. Não suponde em vez de: não suponhais.

13. Homem intemerato em vez de: homem destemido.

14. A gente vamos para a rua em vez de: a gente vai para a rua.

15. Essas moças são inteligente mesmo em vez de: essas moças são inteligentes mesmo.

16. Meus vizinho são muito barulhentos em vez de: meus vizinhos são muito barulhentos.

17. Sobrou muitas frutas em vez de: sobraram muitas frutas.

18. Hoje assistiremos o filme em vez de: hoje assistiremos ao filme.

19. Me empresta a caneta? em vez de: empresta-me a caneta?

20. Adevogado em vez deadvogado.

21. Previlégio em vez de: privilégio.

22. Abisolutamente em vez de: absolutamente.

Enfim...

O solecismo é um vício de linguagem que dificulta ou desvirtua a clara manifestação do pensamento do orador produzido por um defeito na construção sintática ou no léxico que pode provir da ignorância ou do descuido.

Paulo Barbosa

sábado, 19 de junho de 2021

REDAÇÃO, EM QUE CONSISTE. HISTÓRIA DO VOCÁBULO.

 REDAÇÃO é vocábulo que vem do latim 'redactio' que por sua vez provém do verbo latino 'redigere'. Tal verbo - redigere - referia-se primitivamente a 'ação de recolher materiais para uma construção' e ao 'ato de empilhar lenhas para fazer uma fogueira'. Dessas duas acepções originárias, redigir ou 'redigere', passou a significar 'por em ordem, ordenar' tais materiais e, mais tarde, 'por em ordem as palavras de uma obra escrita'. 

Chegando, portanto, à ultima acepção, redigir é sinônimo de escrever ordenadamente, colocando as palavras bem dispostas e harmoniosamente no texto, ou seja, redigir é escrever bem

DOIS PILARES DA REDAÇÃO

Para se escrever bem, entretanto, são necessárias duas profundas qualificações no escritor sem as quais não poderá haver bela escrita, ou seja, não haverá uma produção íntegra, harmoniosa e clara. Para se redigir são necessários:

1º. conhecer muito bem o idioma, a língua em que se escreve

2º. conhecer, sentir e dominar em profundidade o assunto ou tema sobre que se redige.

São nesses dois fundamentos ou colunas em que se constrói toda e qualquer obra literária, só existindo redação firmada neles. E como se consegue ambos fundamentos?

O primeiro fundamento da redação, o conhecimento exímio do idioma, é adquirido mediante o estudo acurado da gramática e do vocabulário do idioma em que se vai redigir. E o vocabulário de uma língua se assimila com a leitura dos melhores autores.

A segunda coluna da redação, o conhecimento e domínio do assunto, é conseguida somente através da educação - formação humana -, da informação dos fatos ocorridos no mundo e da experiência. Eis os elementos necessários para se escrever com correção, proporção e claridade.

Resumo:

Gramática

Vocabulário

Primeiros passos para se redigir bem, o conhecimento profundo do idioma.

Educação

Informação

Experiência

Elementos necessários para conhecer e dominar os temas ou assuntos de uma redação.


Paulo Barbosa