terça-feira, 31 de agosto de 2021

ORAÇÃO RELATIVA E SEUS CONECTIVOS

 A ORAÇÃO SUBORDINADA ADJETIVA OU RELATIVA vem ligada à oração principal por vários conectores e de algumas outras formas, a saber:

1. Pronome relativo que: A moça / que conheci / viajou.

Nota: Importa saber que o pronome relativo que sempre abre a oração adjetiva e exerce a função ou de sujeito ou de complemento do verbo dessa oração:

O diretor / que nos convidou / faleceu - "que nos convidou", "o qual diretor", o "que" é o sujeito de "convidou".

A moça / que eu vi / viajou - "que eu vi", "a qual moça eu vi", "eu vi... a moça", o "que" é objeto direto de "vi".

O emprego / de que depende meu futuro / saiu - "de que depende...", "meu futuro depende de que...", o "de que" é objeto indireto de "depende".

2. Pronome relativo cujo: A menina / cujos olhos a mim se voltaram / era bonita.

Notas: O pronome relativo cujo procede o latim cuius = do qual, da qual, genitivo singular do pronome relativo latino qui, quae, quod = que, quem, o qual, a qual. Dessa forma, dizer "cujo pai" é equivalente a dizer "o pai do qual", pois indica sempre posse, o que não o permite ligar jamais dois termos idênticos:

O menino / cujo eu conversei / foi embora. 

Errada está a construção, pois o cujo liga dois termos idênticos, o menino: o menino / cujo (menino) eu conversei / foi embora.

O menino / cuja mãe viajou / chorou.

Construção correta, pois o cujo liga dois termos diferentes, menino e mãe: o menino / cuja mãe viajou = a mãe do menino viajou / chorou.

O termo antecedente, ou seja, o termo que vem antes do cujo, é sempre o possuidor, enquanto o termo consequente, ou o que vem depois do cujo, é a coisa possuída. A partir daí se percebe que o relativo cujo sempre só poderá unir termos diferentes, possuidor e coisa possuída.

3. Advérbio relativo onde: A casa / onde moro / é ampla.

O advérbio onde com significado relativo se desdobra em: no lugar em que, indicando permanência, estadia fixa ou demorada.

4. Elisão do antecedente. Algumas vezes acontece estar elidido ou suprimido o antecedente do pronome relativo que conecta a subordinada adjetiva:

Desconheço  donde Maria vem 

Desconheço o lugar donde Maria vem.


Não sei de que se fala na reunião.

Não sei o assunto de que se fala na reunião.

5. Repetição enfática do antecedente. Ocorre também a repetição do antecedente para dar ênfase à oração subordinada adjetiva:

Adquiri esse carro, carro que serve para minhas aventuras.

Paulo Barbosa

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

OPORTUNIDADE, IGUALDADE DE OPORTUNIDADE, OPORTUNO E OPORTUNISMO

 OPORTUNIDADE vem do latim ob = diante de, portus = porto, mais o sufixo -dade = qualidade. 

Oportunidade etimologicamente é a ação ou qualidade de estar em frente de um porto após muito tempo passado em alto mar. Em latim, entretanto, portus, além de se referir ao porto - abrigo e ancoradouro para navios -, significa toda passagem ou abertura que permite o transporte, a saída. Daí, a oportunidade ser considerada como a qualidade de uma abertura que permite ao ser humano sair da situação em que se encontra para outra mais promissora, de estar de frente com uma situação favorável.

A tão propalada igualdade de oportunidade - todo ser humano ter condição de passar de uma situação para outra melhor - depende, primeiramente, da igualdade de capacidade ou habilidade, a qual, inexistindo, torna o igualitarismo uma quimera.

Oportuno é adjetivo proveniente de opportunus significando aquilo que se produz em ocasião favorável, cômodo, vento que conduz ao porto.

Oportunista, enfim, é o que sabe aproveitar de uma ocasião favorável, cada vez que surge, para seu benefício próprio.

Paulo Barbosa

sábado, 28 de agosto de 2021

GÊNERO TEATRAL

O GÊNERO TEATRAL é o conjunto de composições literárias que se destinam à representação fictícia num lugar chamado teatro, também conhecido como Gênero Dramático.

O nome teatro provém do grego theatron = lugar para ver, para assistir, que, por sua vez, vem do substantivo thea = visão, significando, portanto, lugar ou meio de contemplação.

Divisão. O gênero teatral é subdividido em duas espécies, a tragédia e a comédia. O fim de ambas, porém, é o mesmo: melhorar os costumes de quem assiste.

A Tragédia tem por principal característica a seriedade, procurando comover através da produção do terror e da compaixão. Representa os grandes feitos da virtude humana ou do crime, onde a primeira supera grandes desgraças, e o segundo expiado por meio de castigos severos, ruína e o opróbrio. 

A origem da palavra é o grego tragodia: tragos = bode + odé = ode, canção. Nas festas dedicadas a Dioniso, deus grego, era uma canção ou hino religioso que se cantava enquanto o bode era degolado.

A Comédia tem por principal finalidade salientar o lado ridículo dos defeitos humanos, das paixões desregradas, dos vícios escabrosos, provocando, sim, o riso, porém, juntamente com a condenação do bom senso e da razão refletida. 

O provérbio símbolo da comédia Castigat mores ridendo / rindo, castiga os costumes, cunhado por Jean de Santeuil no século XVII, foi muito usado como emblema em vários teatros, como na Opéra Comique de Paris. Na atualidade esse provérbio também é empregado com o propósito de transmitir ensinamentos sérios ou reprimir vícios e erros em tom jocoso e aparentemente indulgente.

A origem do vocábulo é o grego komos = procissão vitoriosa, desfile + odé = canção, hino. Era, então, o hino de vitória entoado na procissão em que os jovens gregos saíam às ruas fantasiados nas festas de Dioniso, batendo nas portas para pedir prendas e gracejando com os habitantes da cidade.

Paulo Barbosa

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

UMA PARTICULARIDADE DO VERBO DEPOENTE LATINO

 UM VERBO LATINO DEPOENTE para traduzir uma construção na voz passiva deve ser submetido ao seguinte recurso:

Miror = admirar.

Hortor = exortar.

Pedro é admirado por todos = Omnes Petrum mirantur (Todos admiram Pedro).

Eu sou exortado = me hortantur (exortam-me).

Paulo Barbosa

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

TAMEN ABIIT AD PLURES

 TAMEN ABIIT AD PLURES / CONTUDO, FOI TER COM A MAIORIA, é uma sentença latina cuja fonte é Petrônio, onde "plures" quer dizer nesse contexto "os mortos". Em Plauto, entretanto, também se encontra a equivalência em sua obra Trinummus, 291, enquanto no prólogo de Casina (vv.18 s.) os mortos são qui abierunt hinc in communem locum = os que daqui partiram para um lugar comum.

Em grego também "os mortos" são frequentemente designados por "a maioria", como se pode encontrar em Aristófanes, Assembleia de Mulheres, 1073; em Políbio, 8,28,7, e em Crinágoras, Antologia Palatina, 11,42,6.

Incidente em Mégara. Pausânias (1,43,3) narra um evento ocorrido com os habitantes de Mégara, cidade grega avizinhada à Atenas, que indo até ao oráculo de Delfos para pedir conselhos sobre a forma de governo que deveria ser adotada, o deus Apolo respondeu-lhes que as coisas só transcorreriam bem "se eles tomassem a decisão junto com a maioria", aludindo, assim, a um regime democrático em forma de assembleia. Porém, como o significado de "a maioria" foi mal interpretado, os megarenses se dirigiram para tomar as deliberações sobre os túmulos dos heróis. 

Paulo Barbosa

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

O VERBO "SUM" NO SENTIDO DE "SER PRÓPRIO DE, SER DEVER DE".

 O VERBO "SUM" (SER) dentre vários significados - ser, estar, exisitir / haver, morar, estar situado / ficar, ser para / servir de / trazer / causar - pode também ter o sentido de ser próprio de, ser dever de, ser de. Quando assim for usado, deve ser construído com o genitivo:

Sapientis est mutare consilium = é próprio do sábio mudar de opinião.

Non patris est... = não é próprio de um pai...

Est boni patris... = é dever de um bom pai...

Est igitur adolescentis maiores natu vereri = é, pois, dever do jovem respeitar os mais velhos.

Nihil est tam angusti animi quam amare divitias = nada é tão próprio de um espírito empobrecido como amar as riquezas.

Paulo Barbosa

terça-feira, 24 de agosto de 2021

UMA PARTICULARIDADE SINTÁTICA DA PASSIVA LATINA

 "A GARRAFA ESTÁ FECHADA" é uma oração que à primeira vista parece estar no presente do indicativo. Em latim, percebemos com muito mais clareza que se trata não do presente mas do perfeito:

Lagena clausa est = a garrafa está fechada, a saber, a garrafa foi e continua fechada até o momento.

Deve-se, portanto, ter cuidado, saber bem analisar, para não se equivocar numa versão para o latim. Caso se quisesse o presente do indicativo deveria ser "Lagena clauditur".

Mas, se a garrafa tivesse sido fechada por algum tempo e depois tenha sido aberta de novo, assim se diria:

Lagena clausa fuit = a garrafa foi fechada, mas não está mais. 

Paulo Barbosa

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

ELIPSE, FIGURA IRREGULAR DE REGÊNCIA

 ELIPSE é um caso de regência irregular em que um dos termos da oração não aparece expressos, porém é facilmente percebido.  Há os seguintes tipos:

1. Elipse subjetiva - quando o sujeito não vem expresso:

Deseja viajar comigo? - Você deseja viajar comigo?

Não posso viajar. - Eu não posso viajar.

2. Elipse verbal - quando a omissão é do verbo:

Por malandros, não foram eleitos. - Por serem malandros, não foram eleitos.

No mar tanta tormenta e tanto dano. - No mar tanta tormenta e tanto dano.

3. Elipse conectiva - quando um elemento de ligação está omisso:

Exigiu se estudasse o mais depressa a questão. - Exigiu que se estudasse o mais depressa a questão.

Peço-lhe me deixe ir. - Peço-lhe que me deixe ir.

Elipse conectiva elegante. A elipse da conjunção que é bastante frequente e elegante depois dos verbos pedir, mandar, pensar, requerer, parecer e similares, pois atenua a oração da demasiada repetição do conectivo que.

Elipse verbal proverbial. Em muitos provérbios, ditados populares, também é comum a elipse do verbo, onde aparecem somente as ideias principais:

Casa de ferreiro, espeto de pau.

Olho por olho, dente por dente.

Tal senhor, tal criado.

De tal árvore, tal fruto.

Há elipse também das formas verbais possa/poder deva:

Não sei por para onde ( ) ir. - Não sei para onde possa/deva ir.

Já sei como ganhar a vida. - Já sei como poder ganhar a vida.

Elipse nominal. Há também elipse dos nomes coisa e tempo:

Essa é boa! - Essa coisa é boa.

Fiquei na mesma. - Fiquei na mesma coisa.

Uma assim eu não esperava. - Uma coisa assim eu não esperava.

Há muito que não vou lá. - Há muito tempo que não vou lá.

Vi Rafael há pouco. - Vi Rafael há pouco tempo.

Em breve nos veremos. - Em breve tempo nos veremos.

Paulo Barbosa

sábado, 21 de agosto de 2021

SUUS E EJUS, PRONOMES POSSESSIVOS

 SUUS E EJUS são pronomes possessivos latinos que traduzem o possessivo português seu, dele, deles. Há, entretanto, as seguintes diferenças:

Suus, sua, suum é usado quando o sujeito da oração é o possuidor da pessoa ou coisa, ou seja, faz referência ao sujeito, é pronome reflexivo:

Maria aviam suam amat = Maria ama sua avó - a avó de Maria, sujeito oracional.

Note que o pronome possessivo sua refere-se à 3.ª pessoa da oração - Maria, ela - e equivale, portanto, a dela: Maria ama a avó dela

Marius hortum suum amat = Mário gosta do seu jardim.

Ejus ou Eorum / Earum é usado quando o sujeito da oração não é o possuidor, ou seja, não faz referência ao sujeito, não é, pois, pronome reflexivo:

Avitam ejus amoeu amo sua avó - amo a avó dela, a avó de Maria.

Earum matrem vidi = vi sua mãe - vi a mãe delas.

Paulo Barbosa

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

GERÚNDIO MODIFICADOR DE VERBO

 O GERÚNDIO MODIFICADOR DE VERBO, ou seja, usado como adjunto adverbial, expressa sempre uma dada circunstância, a saber:

1. de modo: João fortaleceu-se crendo.

2. de meio: Pedro defendia-se dizendo que tinha saído naquele dia.

3. de condição: Luísa vencerá, desejando.

4. de concessão: Júlia não quis, sendo inteligente, medir forças com Pedro.

5. de causa: Sendo ainda adolescente, não quis João viajar só.

6. de modo: Carlos dorme roncando.

7. de tempo: Falando tais palavras, todos aplaudiram.

Paulo Barbosa

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

MORE UXORIO

 MORE UXORIO é uma expressão latina usada comumente para designar a convivência de duas pessoas que, não sendo casadas, vivem nas mesmas condições de fato que decorreriam do casamento. Pode-se, portanto, afirmar que tal casal vive "more uxorio".

A locução se traduz por: segundo o costume matrimonial.

Paulo Barbosa

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

ROTACISMO, UMA LEI FONÉTICA DO LATIM ARCAICO

 ROTACISMO em latim arcaico foi uma lei fonética que consistia na mudança do /s/ quando entre vogais para o /r/ dental.

Devido a tal lei, uma série de nomes da 3ª declinação, neutros, apresentam radical diferente no nominativo e acusativo, sem vogal temática e sem desinência, enquanto nos demais casos com desinência começando por vogal, onde o /s/ do radical passou a /r/:

Corpus (latim arcaico: corpos) - corporis (corpo).

Flos - floris (flor).

Mos - moris (costume).

Note que nos casos declives o /s/ ficaria entre duas vogais: 

Corposis,

Flosis,

Mosis,

logo, pela lei do rotacismo, deve ser transformado em /r/.

História do Rotacismo. Tal lei fonética surgiu em meados do IV século a.C., sendo Marco Túlio Cícero quem primeiramente publica em uma carta ter sido Lúcio Papírio Crasso, ditador em 339 a.C., o primeiro a mudar em seu nome o /s/ pelo /r/: de Papisius para Papirius.

No Digesto, compilação de fragmentos de jurisconsultos clássicos mandado codificar pelo imperador Justiniano, se encontra também informação sobre o rotacismo, entretanto, atribuindo-o a Ápio Cláudio Cego, censor em 312 a.C., onde se lê:

"Idem Appius Claudius R litteram invenit: ut pro Valesii Valerii essent, et pro Fusiis Furiis" (1,2,2,36).

"O mesmo Ápio Cláudio inventou a letra R para que fossem escritos os nomes Valérios em vez de Valésios, e Fúrios em vez de Fúsios".

Paulo Barbosa

terça-feira, 17 de agosto de 2021

DIVERSÃO E ENTRETENIMENTO

 DIVERSÃO E ENTRETENIMENTO são aplicados geralmente para se referir ao meio ou ao modo de conferir ao ser humano uma ocupação agradável, que o recreia e satisfaça ao seu gosto. Porém, nesta ideia comum certa diferença há que as distingue entre si.

Diversão é o mesmo que separação, pois é a distração do ânimo daquelas ocupações em que o homem regularmente emprega-se, sendo substituídas por outras mais leves e agradáveis, que o desconecta da fadiga ou do desgosto. O homem diverte-se lendo quando a leitura o agrada, distrai, recreia seu ânimo, separa-se dos afazeres da vida. 

Entretenimento, por sua vez, é o mesmo que ocupação interina, passageira, transitória, até chegar o momento de fazer outra coisa. O termo vem do latim inter tenere, ter entre mais o sufixo de meio ou resultado -mento. O homem se entretém lendo quando se ocupa da leitura para passar o tempo, interrompendo-a quando chegar a hora de fazer outra coisa, exatamente por lhe servir de entretenimento, de ter algo para fazer até o momento de executar seus afazeres. 

O que se entretém o tempo não lhe parece duradouro, enquanto ao que se diverte, parece-lhe curto.

Paulo Barbosa

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

REPOUSO, DESCANSO E O VERBO CANSAR

 REPOUSO E DESCANSO supõem o ócio, a folga, a tranquilidade, o tempo livre para se aquietar, entretanto há diferenças entre ambos, a saber:

O repouso é a interrupção de uma atividade, porém supondo menor cansaço, onde a fadiga do corpo é remota ou até inexistente, podendo mesmo repousar por pura comodidade e conforto. Assim, o homem rico repousa brandamente sobre sua cadeira macia ou cama de colchões de penas. O termo provém do latim repausare, re = novamente + pausare = pausar.

O descanso é a interrupção de um trabalho que supõe cansaço, indisposição física debilitante do corpo, e portanto maior necessidade de reparar ou repor as forças perdidas. Descansar, portanto, significa "pausa do trabalho". O pobre lavrador descansa das fadigas do dia e do calor. 

O verbo cansar

O verbo cansar não veio de uma única palavra latina, mas da confluência de duas, os verbos quassare e campsare.

1. Quassare significa "agitar fortemente, quebrar, dar golpes", verbo frequentativo de quatere = sacudir. Cansar, então, é estar agitado, golpeado, quebrado, exausto.

2. Campsare significa "andar em volta de um lugar, rodear, dobrar, voltear". Era um verbo usado na navegação para se referir a dobrar um cabo ou a desviar-se de um escolho. Cansar é, pois, andar às voltas com algo a ponto de se extenuar.

Paulo Barbosa

sábado, 14 de agosto de 2021

A VÍRGULA, O QUE É E USOS

OS SINAIS DE PONTUAÇÃO são divididos em três espécies:

1. Objetivos: vírgula, ponto e vírgula, dois pontos e ponto final.

2. Subjetivos: ponto de interrogação, ponto de exclamação, reticências e parênteses.

3. Distintivos: aspas, travessão, parágrafo, chave, colchetes e asterisco.

A VÍRGULA

Vírgula é sempre definida como o sinal de pontuação que indica pequena pausa na leitura equivalente a uma pequena ou grande mudança na entoação. O termo vem do latim virgula = pequena vara, varinha, sendo antigamente em português denominada coma, do grego kómma = fragmento, membro curto de um discurso, um período.

Explanação. A doutrina sobre a vírgula, como já vista, é que indica pequena pausa, porém, não se deve pensar ser a recíproca verdadeira - havendo pausa, há vírgula -, pois existem pausas na leitura por mera ênfase ou, muitas vezes, no discurso ou mesmo na leitura, separa-se o sujeito do verbo e o verbo de seu complemento, mas graficamente tais pausas não poderão ser representadas por vírgulas. Não se pode colocar vírgula entre o sujeito e o verbo nem entre o verbo e o seu predicado por não se poder separar termos que mantêm entre íntima relação sintática.

Inúmeros casos em que se depara com virgulação, estão ali as vírgulas exercendo papel de parênteses:

Maria (de acordo com a ordem do professor) copiou o exercício.

Maria, de acordo com a ordem do professor, copiou o exercício.

Note que assim como aberto o parêntese deve ser fechado, assim também ocorrerá com as vírgulas.

Uso preciso da vírgula. Para saber usar com precisão a vírgula, deve-se conhecer com bastante profundidade alguns temas gramaticais, a saber:

Oração interferente.

Oração subordinada adjetiva explicativa.

Aposto.

Vocativo.

Empregos da Vírgula

1. Emprega-se a vírgula entre palavras, membros e orações de função idêntica:

Vários sujeitos: Paulo, Manoel, Luís saíram.

Vários objetos: Maria fez um bolo, uma torta, um pavê.

Orações independentes: Pedro vive, João vegeta, Maria curte.

2. Emprega-se a vírgula para dar ênfase numa série coordenada:

Deus criou o céu, e a terra, e o mar, e tudo quanto há neles.

3. Emprega-se a vírgula para abrir uma locução que pode ser excluída sem prejuízo do sentido:

O presidente decidiu, e o caso exigia, a demissão do ministro.

4. Emprega-se a vírgula para separar complementos de verbos diferentes:

As mangas maduram, e os coqueiros vicejam todos os anos.

5. Emprega-se a vírgula para marcar a pausa no fim da oração subordinada adjetiva restritiva, caso seja constituída por dizeres muito longos:

As famílias que se estabeleceram naqueles rincões meridionais das longas serranias de Montes Marianos, conservaram por mais tempo os bons hábitos.

6. Emprega-se a vírgula para evitar ambiguidade na sínquise, ou seja, no deslocamento violento da ordem das palavras de uma oração:

O mugir se levantou ao céu, do gado.

7. Emprega-se a vírgula para indicar o zeugma do verbo:

Os homens virtuosos suportam as dores, e os moles, fogem.

8. Emprega-se a vírgula para separar os elementos de uma expressão proverbial:

"A pai muito ganhador, filho muito gastador".

9. Emprega-se a vírgula para separar certas conjunções pospositivas, tais como porém, pois, contudo, todavia:

Aproxime-se, pois, para falar comigo.

10. Emprega-se a vírgula para dar ênfase a certas conjunções, locuções adverbiais e advérbios:

Porém, apesar da chuva, irei.

Maria, talvez, chegue amanhã.

11. Emprega-se a vírgula depois dos advérbios sim e não colocados no princípio da oração:

Sim, falarei.

Não, porque já fiz.

12. Emprega-se a vírgula depois de assim, então, demais e de outros advérbios e locuções adverbiais, empregados em princípios de orações, com sentido de conjunção:

Então, partiremos pra São Paulo?

Assim, espero a chegada de papai.

13. Emprega-se a vírgula para separar certas locuções explanatórias, tais como isto é, por exemplo, por assim dizer, a meu ver, por outra, além disso, a saber, ou seja, verbi gratia, etc.:

Trarei mais um exemplo, ou seja, acrescentarei mais uma prova.

14. Emprega-se a vírgula com o vocativo:

Meninas, vamos sair?

Vamos, meninas, sair?

Vamos sair, meninas?

15. Emprega-se a vírgula enfaticamente em lugar do verbo ser em orações de fácil compreensão:

Estes, os maiores perigos.

Paulo Barbosa

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

HOMEM INFAME E HOMEM INÍQUO

 HOMEM INFAME é aquele que pela sua conduta pública se torna digno do ódio de seus semelhantes. Sua atitude sempre é em virtude de um desejo veemente de seu interesse próprio, mesmo sabedor do mal alheio que causará, não se importando com as regras da moral e da justiça estabelecidas na sociedade. Um ladrão, por exemplo, é infame, assim como um juiz que permite-se ser subornado.

Infame é proveniente do latim infamis que significa "sem fama, sem reputação, sem renome".

HOMEM INÍQUO, por outro lado, é o homem desmoralizado, que se compraz no mal alheio, calcando aos pés as leis divinas e humanas, alegrando-se com seus malefícios e cujo pensamento contínuo, único e exclusivo é o de praticar o mal. Um assassino é iníquo, assim como o juiz que por malícia e ânimo ruim condena um inocente.

Iníquo também provém do latim iniquus, tratando-se de uma negação ou privação - in- = não - do adjetivo aequus = igual, significando, portanto, desigual. Daí passou ao sentido de aquela situação ou pessoa que não mantém uma conduta equilibrada ou de equidade para com os outros.

Paulo Barbosa

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

PEDOFILIA, PEDERASTIA

 PEDOFILIA é termo que está composto dos seguintes elementos mórficos provenientes do grego:

paidion (pedo) - criança, jovem, adolescente.

filia - afeto, amor, amizade, benevolência.

Pelo étimo, então, se entende que pedofilia é o "amor às crianças". Estritamente o sentido de suas raízes gregas deveria indicar um amor saudável que os adultos cultivam pelos jovens, tais como o de um pai pelo filho, o de um avô pelo neto, porém, o psiquiatra alemão Richard von Krafft-Ebing (1840-1902) cunhou a expressão "paedophilia erotica" em seu livro Psychopathia Sexualis, publicado em 1886, onde o qualificativo erótica anexado à pedofilia a configurou como o desregramento através do qual o indivíduo busca o seu objeto sexual entre as crianças, seja do mesmo sexo, seja do sexo oposto. Tal propensão libidinosa, afirma Delgado em sua obra Curso de Psiquiatria, 1978, 6.ª edição, se manifesta no afã erótico de dispensar proteção aos jovens, já que o pedófilo geralmente padece de timidez para o relacionamento amoroso com pessoas adultas. 

PEDERASTIA

Pederastia é outra palavra usada para se referir ao abuso sexual com jovens, porém, segundo alguns autores, há nuances diferenciais entre ambos os termos:

Pedofilia é a atração sexual, ou seja, é uma patologia psiquiátrica ou psicológica que inclina a um adulto ao relacionamento sexual com crianças. Dentro desse entendimento a lei brasileira não a tipifica como crime, haja vista ser uma doença que, no fundo, é questão de saúde pública. O pedófilo deve, pois, ser tratado.

Pederastia, por sua vez, é a prática do abuso sexual contra a criança. O pedófilo aqui exterioriza o seu desejo chegando à consumação da relação sexual, como, por exemplo, o estupro de vulnerável ou até mesmo a difusão de cenas de sexo explícito envolvendo crianças.

Paulo Barbosa

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

SUBJUNTIVO NA ORAÇÃO ADJETIVA LATINA

 A ORAÇÃO ADJETIVA LATINA quando encerrar ideia final, causal, condicional, concessiva ou consecutiva terá o verbo sempre no modo subjuntivo:

Final: Caesar premittit milites qui videant, quas in partes iter faciant - César manda na frente soldados que (para que) vejam em que direção marcham os inimigos. 

Causal: Maluimus iter facere pedibus, qui incommodissime navigavissemus - preferimos viajar a pé, pois tínhamos navegados muito mal.

Condicional: Haec et innumerabilia ex eodem genere qui videant, nonne cogatur confiteri deos esse - quem (se alguém) visse estas e outras coisas maravilhosas do mesmo gênero, não seria obrigado a admitir que os deuses existem?

Concessiva: Hi miserrimo exercitu Caesaris luxuriem obiciebant, cui semper omnia ad necessarium usum defuissent - acusavam de viver no luxo o paupérrimo exército de César, ao qual (embora a esse exército) tinham faltado até as coisas necessárias.

Consecutiva: Est innocentia affectio talis animi quae noceat nemini - a inocência é tal disposição da alma que não prejudica ninguém.

Paulo Barbosa

terça-feira, 10 de agosto de 2021

CRIME, SENTIDO PRIMEVO

 CRIME é palavra originada do latim crimen = falta, ofensa, acusação, que por sua vez deriva do verbo cernere = separar, passar pelo crivo, distinguir, discernir, analisar, mais o sufixo -men / -me, indicador de meio, instrumento, resultado.

Em seu sentido, portanto, crime designa qualquer ação que por sua natureza delitiva há de ser objeto de um juízo que a distingua e defina em seu exato caráter e que decida judicialmente sua pena. 

No período clássico romano, crimen sempre manteve o sentido principal de acusação ante o judiciário, daí que incriminar alguém é acusá-lo de delito diante de um tribunal.

Paulo Barbosa

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

PUNIR E CASTIGAR

 PUNIR E CASTIGAR são verbos que concordam na ideia principal de executar alguma reprimenda contra algum delinquente. Entretanto, há a seguinte diferença entre ambos:

Punir, palavra proveniente do latim punire que, por sua vez, vem de poena - pena, condenação em juízo -, supõe sempre o cometimento de um delito contra a lei ou preceito e uma autoridade que impõe a pena prevista na mesma lei. Punem-se, então, os crimes, os delitos, os malefícios praticados pelos homens. Na punição se inculca a represália da lei.

Castigar, originado do latim castigare - corrigir com rigor -, ou castus - casto, puro - + agere - fazer ser, fazer atuar, mover a ser -, refere-se a uma sanção aplicada a uma pessoa ou animal para que se corrija de algum defeito ou mau costume. A mãe castiga o filho; castiga-se o cavalo com a espora. Diz um provérbio francês: "Quem bem ama, bem castiga", e com razão, porquanto no castigar existe a intenção de melhorar, de aperfeiçoar a quem se castiga, diferentemente do punir.

Paulo Barbosa

sábado, 7 de agosto de 2021

"CONCINNITAS", SIMETRIA NO PERÍODO

 CONCINNITAS quer dizer em latim simetria, correspondência, igualdade entre os dois lados. Na gramática é usado o termo para designar o período que possui seus membros correspondentes, ou seja, aproximadamente com a mesma extensão:


Scipio / consulatum petivit numquam,  factus est consul bis,  primum ante tempus,  iterum sibi suo tempore,  rei publicae paene sero.  Quid dicam de moribus facillimis,  de pietate in matrem,  liberalitate in sorores,  bonitate in suos,  justitia in omnes?


Cipião / nunca pediu o consulado, / (mas) foi eleito cônsul duas vezes; / a primeira antes da idade legal; / depois tendo a idade legal, / mas já um pouco tarde para a sua pátria. / Que direi da doçura de seus costumes, / do amor para com sua mãe, / da generosidade para com as irmãs, / da bondade para com os seus, / da justiça com relação a todos?


Paulo Barbosa

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

ESTILO. FUNDO E FORMA

 "ESTILO é a ordem e o movimento que pomos em nossos pensamentos", assim define o conde de Buffon. Xavier Marques, na sua obra "Arte de Escrever" define: "estilo é a expressão da personalidade". 

A palavra tem sua origem no instrumento metálico de ponta aguda e com o outro extremo acabado em forma de espátula pequena que os latinos denominavam stilus. Era usado na escrita corrente sobre tabuinhas cobertas com uma película de cera.

Fundo e Forma

No estilo, fundo é a substância, é o assunto, o argumento elaborado; forma ou figura é a aparência, a estrutura, a organização da produção. Entretanto, o argumento e a estrutura são tão unidos que não há como separá-los, pois não podemos conceber pensamento algum a não ser por intermédio de palavras. Mesmo sem o escrever, sem o externar de alguma maneira, desde que nasce em nossa mente um conceito qualquer, é com auxílio de termos adequados que o faz.

Essa íntima conexão entre fundo e forma traz como consequência prática o cultivo da forma, da boa estrutura, da organização da produção literária. Por aí se percebe o quanto erram os que desprezam a forma para engrandecer somente o fundo, desconhecedores que são da estreita união entre a substância e a aparência, não sabedores de que aperfeiçoar a expressão é aperfeiçoar a própria ideia.

Paulo Barbosa

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

O FELIZ E O AFORTUNADO

FELIZ E AFORTUNADO são dois qualificativos que se relacionam com os bens e as vantagens que os homens desfrutam, com a satisfação que experimentam no gozo de tais bens.

Feliz é o homem que não tem seu ânimo acabrunhado, fechado, e, portanto, goza da felicidade, experimenta um prazer muito vivo. O feliz, pois, o é pela satisfação, contentamento e tranquilidade de que desfruta. A felicidade consiste em ter o corpo são e a alma livre, equivalendo, portanto, no trabalho, que é a vida do corpo; na luz ou cultura do espírito, que é a vida da inteligência; e na caridade, que é a vida do coração. 

Afortunado é o favorecido pela fortuna. O homem pode ser afortunado, mesmo sendo pobre, pois sua felicidade extraordinária consiste em tudo o que empreende lhe sair na medida de seu desejo.

Se conclui, então, que o homem rico e abastado, possuidor de grandes fortunas materiais, belas heranças e todas as comodidades da vida, só será feliz e, mais ainda, afortunado, se seu interior estiver tranquilo, sereno, com sossego na alma que acompanha as delícias da sua prosperidade.

Paulo Barbosa

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

MONORREMA

MONORREMA é a denominação da frase constituída de um só vocábulo que engloba em si os elementos de uma oração desenvolvida ou de um sintagma oracional. 

Conforme estudiosos, a linguagem primitiva era composta por monorremas, assim como são as primeiras falas infantis. Numa e noutra, entretanto, o vocábulo não é passível de análise, funcionando em bloco. 

Exemplos de monorremas na linguagem normal se dão quando alguém responde através das partículas frasais:

- Sim.

- Não.

Outro exemplo de monorrema é a frase-vocábulo de qualquer língua que apresenta em suas formas mínimas os elementos do sintagma oracional. Nesse sentido, as formas verbais portuguesas podem figurar como monorremas, incluindo em si o sujeito e o predicado:

- Sai.

- Partamos.

- Anda.

Paulo Barbosa

terça-feira, 3 de agosto de 2021

ORAÇÃO COORDENADA DISTRIBUTIVA

 ORAÇÃO COORDENADA DISTRIBUTIVA é aquela que vem conectada através das unidades de reiteração do tipo: ora...ora, ..., quer...quer, um...um, este...aquele, parte...parte, seja...seja, etc.

A constituição de tal tipo oracional pode ser por várias classes de palavras: substantivo, pronome, verbo, advérbio, e as unidades de reiteração não são funcionalmente incluídas entre os conectores ou conjunções das orações coordenadas.

Ora chove muito em Miracema, ora faz um sol escaldante.

Uns estavam bem arrumados, outros sem nenhum alinho.

Parte viajou para Manaus, parte para Fortaleza.

Paulo Barbosa

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

SUJEITO ACUSATIVO OU OBJETO DIRETO?

 João mandou-te conduzir a palestra.

Alguns autores afirmam que nas orações substantivas o sujeito em acusativo - mandou-te - é, na realidade, um objeto direto da oração principal. Tal assertiva, entretanto, não procede. 

O pronome pessoal oblíquo "te", na oração em apreço, não constitui objeto direto de "mandou", mas sim, constitui sujeito de "conduzir". O objeto direto de "mandou" é toda a oração que, por isso mesmo, se denomina oração subordinada substantiva objetiva direta: -te conduzir a palestra:

João mandou - oração principal

-te conduzir a palestra - oração subordinada substantiva objetiva direta.

A prova está em que se se transformar a oração subordinada objetiva em voz passiva o "te" passará a ser o agente da passiva, o que evidencia se tratar de um sujeito de "construir" e jamais um objeto de "mandar":

João mandou / ser a palestra conduzida por ti.

Em latim se passa o mesmo:

Johannes jussit / te ducere colloquium.

Johannes jussit  / colloquium duci a te.

Paulo Barbosa