sábado, 31 de julho de 2021

NOME ABSTRATO

 NOME ABSTRATO é aquele que designa qualidades e ações abstraídas, separadas dos seres, ou, é o nome que designa coisa que não possui subsistência própria, que só existe na mente humana. 

O substantivo abstrato de qualidade sempre é associado a um adjetivo que expressa a mesma qualidade como atributo de um determinado ser:

tristeza - associado ao adjetivo triste.

bondade - associado ao adjetivo bom.

alegria - associado ao adjetivo alegre.

O substantivo abstrato de ação, por sua vez, se associa a um verbo que expressa a mesma ação por um determinado ser:

julgamento - associado ao verbo julgar.

admiração - associado ao verbo admirar.

consolo - associado ao verbo consolar.

Derivação. Pelo visto, os nomes abstratos são, comumente, vocábulos formados por derivação de um adjetivo, quando expressam qualidades, ou de um verbo, quando expressam ação.

Transposição. Os nomes substantivados abstratos podem ser transpostos para concretos, indicando um ser com a qualidade ou a ação que o abstrato designa:

uma beleza por "uma mulher bela".

um passe por "um bilhete de passagem".

Pluralização. Quando há a transposição o substantivo que era abstrato fica sujeito a se pluralizar, enquanto o abstrato propriamente dito não é sujeito à pluralização:

as belezas da festa.

os passes do trem.

ETIMOLOGIA

Abstrato, em latim abstractus, etimologicamente quer dizer "tirado, separado a partir de seus limites externos", formado pelos elementos latinos:

abs-/ab - que significa separação a partir do limite exterior de algo.

tractus - particípio do verbo trahere, tirar, arrancar, arrastar.

Por isso, uma abstração ou algo abstrato é qualquer coisa que partindo da aparência externa de uma realidade se distancia dela.

Paulo Barbosa

sexta-feira, 30 de julho de 2021

CÉLEBRE E FAMOSO

 CÉLEBRE E FAMOSO são epítetos usados para designar pessoas conhecidas em grande escala na sociedade, entretanto há diferenças acentuadas entre ambos designativos:

Célebre, do latim "celeber", concorrido, ilustre, designa o homem que possui boa fama, fama bem constituída em toda parte por aqueles que podem julgar do seu mérito. Exemplos de homens célebres por suas produções são os sábios e os literatos.

Famoso, do latim "fama", renome, voz pública - significando "o que todo mundo conhece" -, designa o homem possuidor de fama tanto boa quanto má. Para ser famoso, portanto, basta que um homem faça coisas que provoquem falatório, que adquira grande notoriedade em bom ou em mau sentido. Por isso se diz "ladrão famoso".

Paulo Barbosa

quinta-feira, 29 de julho de 2021

ORAÇÃO SUBJETIVA LATINA

 ORAÇÃO SUBJETIVA LATINA é a oração subordinada substantiva que funciona como sujeito de um verbo. Os verbos latinos mais comuns que têm sujeito oracional são:

decet - convém 

pudet - envergonhar

constat - consta

licet - é lícito 

accidit - acontece 

sufficit - basta

Há três formas em latim para dizer "é necessário", com verbo e expressão verbal que pedem oração subjetiva:

oportet - é necessário. - Aqui a necessidade é imposta pela prudência e pela razão.

necesse est - é necessário. - Aqui a necessidade é imposta pela natureza.

opus est - é necessário. - Aqui a necessidade é imposta para conseguir alguma coisa.

* * *

Adulescentem decet modestum esse - convém ao jovem ser modesto.

Me pudet hoc dicere - envergonho-me de dizer isso.

Constat inter omnes - é coisa certa entre todos.

Licet me id scire - é-me permitido conhecer isso.

Oportet me esse bonum - é necessário que eu seja bom.

Necesse est omnes homines mori - é necessário que todos os homens morram.

Opus est me studere - é necessário que eu estude.

Paulo Barbosa

quarta-feira, 28 de julho de 2021

LEMA OLÍMPICO: CITIUS, ALTIUS, FORTIUS

 CITIUS, ALTIUS, FORTIUS, mais rápido, mais alto, mais forte, é o Lema Olímpico criado pelo padre dominicado Henri Didon, amigo do Barão Pierre de Coubertin (1863-1937), fundador dos Jogos Olímpicos da era moderna. Esse lema do ideal olímpico é o resumo da postura que um atleta necessita ter para alcançar seu objetivo, é uma mensagem de superação pessoal, de excelência consigo mesmo, um convite do movimento olímpico para que cada atleta supere o próprio desempenho antes de querer superar os outros.

MUDANÇA DO LEMA

O COI, Comitê Olímpico Internacional, entretanto, em abril do corrente ano, através de seu Conselho Executivo, alterou o lema de mais de 120 anos, incluindo a palavra "juntos" para ressaltar a solidariedade , segundo o presidente da entidade, o alemão Thomas Bach:

"A solidariedade alimenta nossa missão de tornar o mundo um lugar melhor por meio do esporte. Só podemos ir mais rápido, só podemos almejar mais alto, só podemos nos tornar mais fortes permanecendo juntos, em solidariedade. Isso é o que a palavra "juntos" significa", disse.

A partir de então o lema olímpico é: Citius, Altius, Fortius - Communiter.

"Communiter", porém, é um advérbio latino que significa "em comum, juntamente". O correto seria acrescentar um adjetivo, tipo "colligatus, conjunctus, junctus", pluralizando-o.

Paulo Barbosa

terça-feira, 27 de julho de 2021

VERBOS IMPESSOAIS LATINOS

 A IMPESSOALIDADE VERBAL é a propriedade do verbo como núcleo de um predicado não se referir a qualquer sujeito.

TEORIA DA LINGUAGEM

Há na teoria da linguagem debates profundos sobre o assunto, de um lado os que não admitem a possibilidade do verbo impessoal, do outro, dos que admitem a possibilidade da ausência de um sujeito como ponto de partida do que se comunica no predicado. No caso dos últimos, o processo, a ação, pode ser concebido em si mesmo, sem referência a um autor. 

IMPESSOAIS LATINOS

Em latim há cinco verbos impessoais usados com frequência por exprimirem sentimentos da alma. São eles:

miseret, miseritum est, miserere - ter compaixão, ter piedade.

paenitet, paenituit, paenitere - arrepender-se.

piget, piguit, pigere - desgostar-se, aborrecer-se.

pudet, puduit, puditum est, pudere - envergonhar-se, ter pudor.

taedet, taedit, taesum est, taedere - entendiar-se.

Paulo Barbosa

segunda-feira, 26 de julho de 2021

ORAÇÃO SUBORDINADA SUBSTANTIVA PREDICATIVA

 ORAÇÃO SUBORDINADA SUBSTANTIVA PREDICATIVA é a que funciona como predicativo


Predicativo é o nome que se dá ao complemento do verbo de ligação:

Paulo é sábio.

Não há nenhuma atribuição de atividade em Paulo, mas sim a manifestação de uma qualidade, a qualidade de ser sábio. Vê-se, pois, que o verbo ser é de predicação incompleta - que é Paulo? - e, por isso, requer um complemento, com a diferença de ser este constituído de qualidade. 

Os verbos de ligação mais usuais são: ser, estar, andar, ficar, parecer, etc.


A subordinada predicativa exerce a mesma função de um predicativo constituído por um só nome, porém com a diferença de ser uma oração, um predicativo oracional:

A verdade é que nem todos estudam.

Meu temor é que Patrícia não retorne.

Nosso maior desejo é que todos façam boa viagem.

Sou eu quem executa a música.

O certo é que o Brasil melhorou.

Paulo Barbosa

DE MINIMIS NON CURAT PRAETOR

 DE MINIMIS NON CURAT PRAETOR, o pretor não se ocupa com coisas sem importância. Essa é uma máxima jurídica de autor desconhecido, da Idade Média, para significar que um magistrado deve desprezar casos insignificantes para somente cuidar de questões realmente importantes. Hoje ainda é usada - sobretudo de maneira abreviada: De minimis - para, geralmente, significar que as pessoas não devem apegar-se a mesquinharias. Neste último sentido a exortação é para que o homem se dirija intelectual e volitivamente para o verdadeiro e o bem, transcendentais que o nobilitam e dignificam.


Pretor. O pretor era em Roma a pessoa revestida no cargo de magistrado de justiça similar aos nossos juízes de direito. O termo vem do latim praetor, aquele que vai à frente. Os componentes léxicos são:

o prefixo prae- = diante de, antes de.

o verbo ire = ir, mover-se de um lugar para outro.

o sufixo -tor = indicador de agente, o que faz a ação.

Paulo Barbosa

sábado, 24 de julho de 2021

PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL, SUAS CAUSAS

A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL, ou A Grande Guerra de 1914-1918, teve como causas uma série de fatores históricos que na maioria das vezes são desconhecidos do público ou mesmo sonegados nos livros de História. Vejamos esquematicamente que fatores são esses:

1. RIVALIDADES DAS POTÊNCIAS EUROPEIAS

Já em meado do século XIX começam a organizar-se, na Europa, dois blocos antagônicos de países:

1.º bloco: A Alemanha, a Áustria e a Itália, constituindo a "Tríplice Aliança".

2.º bloco: A França, a Inglaterra e a Rússia, formando a "Tríplice Entente".

Rivalidade política. A estruturação destes dois blocos se deu em princípio por rivalidade política que separava os países, a saber:

a) A França através do Tratado de Frankfurt, de 10 de maio de 1871, perdeu para a Alemanha a Alsácia-Lorena, um território de povo germânico que pertencia ao Sacro Império Romano-Germânico, mas que fora tomado por Luís XIV da França após a Paz Vestfália em 1648. Tal perda se deu pela derrota francesa na Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), o que incitava o desafeto por parte dos franceses, sobretudo ao perceberem que as províncias perdidas estavam sendo germanizadas gradualmente.

b) A Áustria, que reforçara a sua posição na Península Balcânica com a anexação da Bósnia e da Herzegovina, não via com bons olhos o movimento expansionista sérvio, pois prejudicava os seus interesses. A Sérvia tinha apoio da Rússia, que era a favor da política de expansão eslava, formando a opinião pública dos sérvios e auxiliando na criação de sociedades secretas nacionalistas.

c) A Alemanha através da Aliança Germano-Otomana travou boas relações com o Império Turco Otomano (1299-1922) mediante a execução de uma linha férrea do luxuoso Expresso do Oriente de Istambul até Bagdá, capital do Iraque. Esse fato revelador de ambições coloniais começou a preocupar os demais países europeus.

d) A Rússia, desejosa de alargar sua influência, procurava captar as simpatias dos Eslavos do Sul, espalhados pelos Balcãs, como os sérvios, bósnios, montenegrinos, macedônios, croatas. Essa ambição russa também causa alarmes nas potências europeias.


Rivalidade econômica. A rivalidade política estava revestida de caráter muito grave pois a ela se somava uma perigosa rivalidade econômica, sobretudo entre Alemanha e Inglaterra.

A prosperidade da Inglaterra depende fundamentalmente da indústria e do comércio, pois seus recursos agrícolas são insignificantes, não bastando para alimentar nem a terça parte dos seus habitantes. Devido a isso, restou para o país o desenvolvimento ao máximo das indústrias - Revolução Industrial -, a importação de matérias-primas necessárias para o trabalho e a exportação para o mundo de seus produtos. Com o rendimento destes, compra os gêneros alimentícios para sustentar a população. Entretanto, para que tal sistema se mantenha, se faz necessário dispor de centros fornecedores de matérias-primas e ter um mercado bastante vasto.

A Alemanha, tendo se organizado em Império Alemão em 1871, começou a prejudicar grandemente o sistema econômico inglês, criando uma indústria gigantesca que, graças à afluência de capitais consideráveis e a colaboração de um operariado especializado, hábil e disciplinado, formou empresas altamente de ponta e começou a comercializar com o mundo os seus produtos. Os produtos germânicos conquistaram os melhores mercados, impuseram-se devido ao baixo preço, penetraram até mesmo na Inglaterra onde houve uma concorrência esmagadora com os produtos britânicos. Em seguida começaram a se alastrar pelas colônias inglesas, chegando às Índias Orientais, Austrália e África, levados pelos colonos e comerciantes germânicos.

A Inglaterra, por sua vez, sente a mesma necessidade angustiosa. Ambos os países se percebem presos ao mesmo dilema, ambos concluem que a sua subsistência depende da indústria, dada a importância das respectivas populações fabris e a escassez de recursos agrícolas.

Nestas condições, o conflito agrava-se a cada dia, os dois blocos antagônicos preparam-se para a luta que sentem ser inevitável. Um dos rivais tem de ceder pelas forças das armas, era o pensamento da época. Não há remédio, concluem todos, enquanto os alemães afirmam pela boca do General Graf von Moltke: "A guerra é um dos meios de que se serve Deus para o progresso".

Revolta nos Balcãs. Na península balcânica novas revoltas nacionalistas se instalaram  entre 1912 e 1913. Sérvia, Grécia, Bulgária, Montenegro e Romênia, os mais militarizados e economicamente ativos países, se juntaram na Liga Balcânica para derrotar o Império Otomano e, por conseguinte, também o domínio do Império Austro-Húngaro e da Alemanha. Essa inconfidência dos Eslavos do Sul levou tanto a Alemanha quanto a Áustria se armarem mais intensamente, convencidos de que, cedo ou tarde, o agravamento da questão balcânica poderia dar origem a um conflito europeu.

A Rússia, por sua vez, como já visto, favorável ao pan-germanismo ou à expansão eslava, formava as mentalidades para uma revolução na região, ajudava na montagem de centros nacionalistas e sustentava a agitação na Bósnia e na Herzegovina. Estava, assim, preparado o clima para o assassinato do Arquiduque herdeiro da Áustria em Sarajevo. 

2. O ATENTADO DE SARAJEVO

Os ânimos cada vez mais exaltados, a mentalidade revolucionária difundida pela Rússia entre sérvios e bósnios, culminou, no dia 28 de junho de 1914, em Sarajevo, capital da Bósnia, nos assassinatos do Arquiduque herdeiro do trono da Áustria Francisco Ferdinando e de sua esposa, a condessa Sofia Chotek. O atentado foi perpetrado a mando de uma sociedade secreta da Sérvia, denominada Mão Negra, por Gavrilo Princip com outros oficiais sérvios comunistas partidários do pan-eslavismo. A Áustria, por sua vez, aproveitou a ocasião para eliminar a Sérvia como fator político dos Balcãs e evitar que aquele país se transformasse em centro do movimento eslavista que ameaçava subverter a monarquia austro-húngara. Enviou, então, à Sérvia, uma nota exigindo que todas as sociedades secretas nacionalistas fossem dissolvidas, que os indivíduos membros delas fossem expulsos do exército e dos quadros administrativos e que se abrisse um inquérito judiciário para se apurar as responsabilidades do atentado com a colaboração de funcionários austro-húngaros.

A Sérvia respondeu conformando-se com todas as exigências austríacas, exceto a que dizia respeito à colaboração das autoridades estrangeiras nas investigações. 

A Rússia, desejosa de evitar o aniquilamento da Sérvia e o consequente predomínio austríaco nos Balcãs, começou, em 26 de julho de 1914, uma mobilização parcial de suas forças para intimidar a Áustria-Hungria, decretando, quatro dias após, a mobilização geral de seus homens.

A Alemanha tomando conhecimento de tais fatos envia um ultimato à Rússia para que cessasse com a mobilização de seus exércitos no prazo de 12 horas, e outro ultimado à França para que resolvesse de que lado ficar em caso de guerra com a Rússia.

A Inglaterra tentou evitar o conflito, mas nada conseguiu. 

No dia 1 de agosto de 1914, a Alemanha declarou a guerra à Rússia.

No dia 3 de agosto, a Alemanha declarou guerra à França e à Bélgica e invadiu a Rússia

Assim se inicia a Primeira Guerra Mundial, também conhecida como a Guerra das Guerras.

Paulo Barbosa

sexta-feira, 23 de julho de 2021

TÊNIS, "JEU DE PAUME", ASICS

 TÊNIS, o calçado de lona ou de couro com sola emborrachada, tem sua etimologia na oração exortativa francesa "tenez", segure, pegue, quando se passava a bola no "Jeu de paume" (jogo de palma), o antecessor do jogo de tênis. 

    O JOGO DE PALMA

O "Jeu de paume" foi um esporte praticado entre 1250 a 1650 na capital francesa, Paris, principal centro dessa modalidade lúdica. O jogo, antecessor do tênis, consistia em devolver a bola por cima de uma rede numa disputa individual - um contra um -, em duplas, trios e até mesmo com quatro jogadores.

Em 1415, na Guerra dos Cem Anos, após a batalha de Azincourt, o duque de Orleans foi capturado e levado para a Inglaterra, permanecendo por vinte anos no país. Como era praticante do "Jeu de paume" introduziu o esporte em solo britânico e quatro séculos depois Walter Clopton Winfield inventou o tênis, adaptado do jogo de palma, porém jogado sobre um gramado. No limiar do século XX o "Jeu de paume" fez parte dos Jogos Olímpicos de Verão de 1908, em Londres, sendo a única vez que a modalidade se fez presente nos Jogos Olímpicos.

TÊNIS ASICS, O LATIM PRESENTE

A marca de tênis Asics, da empresa de artigos desportivos do mesmo nome - Asics -, fundada em 1949, no Japão, por Kihachiro Onitsuka, é uma sigla ou acrônimo do adágio latino "Anima Sana In Corpore Sano" (alma sã em corpo são). 

Esse adágio latino é muito famoso e usado para significar que uma boa educação deve ter em vista tanto a formação intelectual quanto a física, sendo um corpo saudável a condição indispensável para a inteligência vigorosa. Encontra-se em Juvenal (55-127 d.C.), poeta romano, "orandum est ut sit mens sana in corpore sano", deve-se orar para que se tenha uma mente saudável num corpo são, onde, porém, o significado é profundamente diferente, ou seja, deve-se pedir aos deuses uma alma forte e um físico robusto e, em especial, a capacidade de suportar o trabalho e não sentir medo da morte.

Na sigla Asics apenas houve a troca de "mens" por "anima", termos equivalentes. 

Paulo Barbosa

quinta-feira, 22 de julho de 2021

SUBSTANTIVA COMPLETIVA NOMINAL

 A ORAÇÃO SUBORDINADA SUBSTANTIVA COMPLETIVA NOMINAL é a que se prende como complemento a substantivo e adjetivo, exercendo portanto a função de complemento nominal de um termo da oração principal.

Tenho certeza de que viajarei.

Lucas está de acordo com que Maria estude.

Seu pai está inclinado a que estudes direito.

A ideia de que você vai vencer é animadora.

O fato de que João fala várias línguas é muito bom.

Mamãe está receosa de que os filhos não cheguem a tempo.

Paulo Barbosa.

quarta-feira, 21 de julho de 2021

DATIVO E ABLATIVO

 OS VERBOS QUE SIGNIFICAM "TIRAR" em latim (adimere, auferre, eripere, trahere, educere, etc) pedem o caso dativo para a pessoa ou coisa à qual ou da qual se tira algo:

Eripe mihi hunc dolorem - tira-me esta dor.

Hoc mihi erui non potest - não podem-me tirar isto da ideia.

Para a coisa tirada de algo, tais verbos pedem, geralmente, o caso ablativo:

Nulla ratione ab illa miseria se eripere potuit - de nenhuma forma pode livrar-se daquele infortúnio.

Eripere se flammis - livrar-se das chamas.

Paulo Barbosa

ESTÔNIA

 A ESTÔNIA é um dos três países bálticos, localizada ao sul da Finlândia, na costa do mar Báltico. Quanto à origem de seu nome existem diversas opiniões, porém prevalece a de que procede do latim clássico Aestii, orum /Aestui, orum - os éstios ou estônios

"AESTII", OS ÉSTIOS.

Os éstios foram povos germanos que habitavam o extremo leste europeu às margens do mar Báltico. Foram descritos por Tácito, historiador romano, em 98 d.C., na sua obra "De origine et situ Germanorum" (Sobre a origem e o lugar dos germanos), no capítulo 45. O autor revela que falavam um dialeto semelhante ao dos bretões, adoravam uma divindade intitulada "A Mãe dos Deuses", portando a imagem dessa divindade em suas vestes. Usavam armas de madeira para proteção e caça, cultivavam grãos, algumas espécies de frutas e eram coletores de âmbar, uma resina fóssil, mas segundo Tácito, por serem bárbaros e ignorantes, desconheciam a origem e o motivo da produção da resina.

O nome do país se escreveu Estia, em seguida Hestia, e no latim medieval, por volta de 1220, Estônia, como até hoje se permanece. No nome está presente a terminação locativa -onia, que indica território, lugar, região, cidade - aesti-onia = território dos éstios -, como também se encontra em Polônia, Babilônia, Caledônia, Macedônia, etc.

Paulo Barbosa

terça-feira, 20 de julho de 2021

O QUOD E SEUS VALORES

 O QUOD dentre variados valores, tais como pronome relativo, interrogativo, indefinido, possui alguns mais encontrados nos textos latinos:

1.º quod causal - indica uma causa verdadeira, real, e o verbo está no modo indicativo:

Quod rem perdiderat, profectus est - partiu, porque perdera a sua riqueza.

Caso o motivo seja falso ou não representa a opinião ou o pensamento de quem fala ou escreve, usa-se também o quod causal, porém com o verbo no modo subjuntivo:

Socrates accusatus est quod corrumperet juventutem - Sócrates foi acusado de corromper a juventude. 

Aqui quer significar: porque diziam os acusadores que corrompia a juventude.

2.° quod integrante - inicia uma oração subordinada substantiva, e o verbo também no modo indicativo:

Accidit perincommode quod eum nusquam vidisti - o fato de não o teres visto em parte nenhuma, aconteceu muito fora de propósito.

Paulo Barbosa

COMPLEMENTO DE TEMPO E SUA DIVISÃO

 O COMPLEMENTO CIRCUNSTANCIAL DE TEMPO em latim pode ser dividido segundo a execução da ação, a saber:

1.º o momento da ação ou o ponto específico do tempo em que algo ocorre (quando):

Veniet hora tertia - virá à terceira hora.

Hieme - no inverno.

Occasu solis - ao pôr do sol.

2.º a duração da ação ou a conservação da ação no mesmo estado (quamdiu):

Tres annos regnavit - reinou durante três anos.

Per decem dies - durante dez dias consecutivos.

Abhinc tres annos mortuus est - morreu há três anos.

3.º a idade ou o tempo decorrido desde o nascimento de alguém ou algo até um dado momento:

Nonaginta natus annos - com noventa anos completos.

Senex nonaginta annorum - um velho de noventa anos.

Ab urbe condita - a partir da fundação da cidade.

Paulo Barbosa

sábado, 17 de julho de 2021

A VIDA DE SOLTEIRO

 MELIUS NIL CAELIBE VITA, nada é melhor do que a vida de solteiro, é um dito espirituoso e muitas vezes razoável do poeta romano Horácio (Ep. 1,11,88), mais tarde repetido por Prisciano (Institutiones grammaticae, 1,23) e encontrado em vários outros autores da Idade Média. Chegou até nossa era em provérbios modernos como o brasileiro Casar é bom, não casar é melhor, e o italiano Chi no sa quel che sia malanno e doglie se non è maritato prenda moglie (quem não sabe o que é desgraça e sofrimento, se não é casado que se case).

Paulo Barbosa

sexta-feira, 16 de julho de 2021

ANDAR, IR, CAMINHAR E MARCHAR

 ANDAR, IR, CAMINHAR E MARCHAR são verbos que possuem um fundo comum, pois em todos se encontra o movimento, a saída de um lugar em direção a outro. Entretanto, há diferenças bem acentuadas em cada um, o que os tornam semanticamente diferenciados, como veremos:

Andar é mover-se dando passos para diante sem relação com pontos ou lugares determinados. O verbo se origina do latim ambulare, que possui o prefixo amb-, presente em ambos, os dois, mais -ul- que tem o sentido de deslocar-se, e que significa "dar uma volta".

Ir é mover-se de um lugar para outro e tem relação com um ponto determinado a que a pessoa ou coisa se dirige. Por esse motivo se diz que alguém foi para casa, para escola, para igreja, etc. Sua origem é o verbo latino ire, por sua vez gerado pela raiz indo-europeia ei, conduzir.

Caminhar é movimenta-se ou dar passos sobre um caminho, uma via, se transferindo de um lugar para outro. A origem do verbo é o substantivo caminho, lugar por onde se transita habitualmente, que, por sua vez, vem do celta cammin, de cam, passo, deslocamento.

Marchar é mover-se com compasso, com regularidade e ritmo, referindo-se especialmente da tropa quando com ordem de marcha. A palavra vem do francês "marcher" e esta do frâncico "markon", deixar impressão, marca.

Paulo Barbosa

quinta-feira, 15 de julho de 2021

SILOGISMO: AS QUATRO REGRAS DAS PROPOSIÇÕES

 O SILOGISMO como processo lógico de deduzir uma conclusão a partir de duas premissas deve obedecer a oito regras, quatro referentes aos termos e quatro às proposições.

Regras das proposições

1.ª Utraque si praemissa neget, nil inde sequetur - de duas premissas negativas nada se pode concluir, pela razão de que se duas coisas são diversas de uma terceira nada se pode concluir acerca de suas relações mútuas. É uma regra bem evidente.

2.ª Ambae affirmantes nequeunt generare negantem - duas premissas afirmativas não podem produzir uma conclusão negativa, pois isso confrontaria a virtude do princípio de identidade. Também regra totalmente evidente.

3.ª Pejorem sequitur semper conclusio partem - a conclusão segue sempre a parte mais fraca, ou seja:

a) a premissa negativa é mais fraca do que a premissa afirmativa, logo, se uma premissa for negativa e a outra afirmativa, a conclusão será negativa, pelo princípio de discrepância.

b) a premissa particular é mais fraca do que a premissa geral, logo, se uma premissa for particular e a outra geral, a conclusão será particular. 

4.ª Nihil sequitur geminis ex particularibus unquam - de duas premissas particulares nada se pode concluir, por exemplo, se certos homens são deficientes e certos homens são trabalhadores não se pode concluir que certos deficientes são trabalhadores. 

Paulo Barbosa

quarta-feira, 14 de julho de 2021

SILOGISMO: AS QUATRO REGRAS DOS TERMOS

 O SILOGISMO possui oito regras que devem ser obedecidas para que haja uma conclusão necessariamente dedutiva. As quatro primeiras são concernentes aos termos, as quatro últimas referentes às proposições. 

Regras dos termos

1.ª Terminus esto triplex: major, mediusque minorque - Haja somente três termos no silogismo: o maior, o médio e o menor. A conclusão será sempre o resultado da comparação dos termos maior e menor com o médio, por isso a presente regra. 

A seguinte concatenação de proposições não é um silogismo, pois a palavra "raro" está empregada em dois sentidos diversos: "precioso" e "difícil de encontrar", o que constitui mais de três termos:

O que é raro é caro.

Um cavalo bom e barato é raro.

Logo, um cavalo bom e barato é caro.

2.ª Latius hos quam praemissae conclusio non vult - os termos na conclusão de um silogismo não devem ter maior extensão do que nas premissas. Caso ocorra, a conclusão compreenderia alguma coisa que não foi comparada nas premissas, o que invalida o processo lógico, deduzindo o mais do menos. Exemplo:

Todos os assassinos são maus.

Ora, alguns homens assassinam.

Logo, todos os homens são maus.

3.ª Aut semel, aut iterum medius generaliter esto - ao menos uma vez o termo médio deve ser tomado universalmente para que não ocorra o caso de ser empregado sucessivamente em duas extensões diversas, ou compreendendo indivíduos diferentes, o que seria realmente introduzir quatro termos no silogismo. Exemplo:

O leão é um animal.

Ora, o lobo é um animal.

Logo, o lobo é um leão.

4.ª Nequaquam medium capiat conclusio fas est - é necessário que a conclusão não contenha o termo médio, isso porque o médio serve apenas de intermediário que permite apreender a relação existente entre o termo maior e o menor, ou seja, é apenas um termo de comparação.

Paulo Barbosa

terça-feira, 13 de julho de 2021

SILOGISMO, O QUE É

 SILOGISMO é a argumentação que consta de três proposições encadeadas, de maneira que, dadas as duas primeiras, chamadas premissas, necessariamente segue-se a terceira, a conclusão

No silogismo há três termos e três proposições, sendo que, dos três termos, um chama-se médio, e os outros dois, extremos. O predicado da conclusão é o extremo maior porque pode ter extensão maior do que o sujeito da conclusão, que é o extremo menor.

Das premissas, maior é a que compreende o extremo maior e o termo médio; a outra diz-se premissa menor.


Todo homem é mortal (premissa maior - universal)

Paulo é homem (premissa menor - particular)

Logo, Paulo é mortal (conclusão - particular)


O extremo maior (ou termo maior) é o predicado da premissa maior: "é mortal".

O extremo menor (ou termo menor) é o sujeito da premissa menor: "Paulo".

O termo médio é o que faz a mediação: "homem", devendo ser tomado sempre no mesmo sentido, ou seja, "homem" enquanto ser humano e não como sexo masculino e ser usado, pelo menos uma vez, em toda a sua universalidade, como na premissa maior refere-se a todos os homens e na menor a um homem em concreto.

Pelo visto, silogismo é um procedimento lógico em que se relaciona, nas premissas, dois termos, o maior e o menor, com o médio, produzindo a partir daí uma conclusão dedutiva que une ou separa os dois primeiros termos.

Paulo Barbosa

segunda-feira, 12 de julho de 2021

ORAÇÕES INTERROGATIVAS LATINAS

 AS ORAÇÕES INTERROGATIVAS ao indagarem a respeito de um fato podem ser de três maneiras, a saber:

1.ª com a entonação da voz: 

librum scripsisti? - escreveste o livro?

2.ª iniciando a oração com um pronome ou advérbio interrogativo:

quis venit heri? - quem veio ontem?

ubi est magister? - onde está o professor?

3.ª iniciando a oração com uma partícula interrogativa. As partículas interrogativas são três:

a) nonne - que espera resposta afirmativa:

nonne magister libros amat? - o professor gosta de livros?

b) num - que espera resposta negativa:

num magister pigros discipulos amat? - o professor gosta de alunos preguiçosos?

c) -ne - sempre posposta à primeira palavra da frase e é usa quando não se pode saber a resposta:

amatne magister panem? - o professor gosta de pão?

Paulo Barbosa

PRONOMES INTERROGATIVOS LATINOS

 OS PRONOMES INTERROGATIVOS latinos são de duas espécies:

1. substantivos - quando representam ou substituem um substantivo na oração para torná-la mais agradável, sem repetições e perguntam "o que é a coisa", "qual a sua substância", possuindo duas formas:

quis - quando se refere a pessoas.

quid - quando se refere a coisas.


Quis es? - quem és? 

Quis venit - quem veio?


Quid est veritas? - que é a verdade?

Quid est istud? - que é isso?


2. adjetivos - quando acompanham ao substantivo e indagam sobre a "qualidade", a "espécie" daquilo que já é conhecido. Sendo adjetivos, ou seja, vindo sempre ligados a um substantivo, precisam ter os três gêneros para fazer a concordância nominal, daí as seguintes formas:

qui - masculino.

quae - feminino.

quod - neutro.


Qui liber est? - que (espécie de) livro é?

Quae fabula scripta est? - que (espécie de) fábula foi escrita?

Quod bellum factum est? - que (espécie de) guerra foi feita?

Paulo Barbosa


sábado, 10 de julho de 2021

NON LIQUET, EXPRESSÃO TÉCNICA

 NON LIQUET é expressão técnico-jurídica latina que se traduz por "não está claro", usada para afirmar que a situação exposta não está sendo bem entendida e, por esse motivo, não será possível formular um juízo definitivo. Na verdade, trata-se de uma antiga fórmula jurídica expressa por Cícero em Pro Cluentio (28,76) para indicar a carência de elementos suficientes para se proferir um veredicto, deixando o campo aberto para investigações suplementares ou para aditamento. 

O verbo "liquere" em sua primeira acepção significa "ser líquido ou fluído", porém, tecnicamente, passou ao sentido de "estar claro, manifesto, evidente", usado tanto por Cícero quanto por Quintiliano.

Paulo Barbosa

sexta-feira, 9 de julho de 2021

HOMEM E VARÃO, DIFERENÇAS

HOMEM, palavra derivada do latim homo e esta de humus - terra -, designa de maneira geral todo ser racional, independente do sexo, e, em particular, o indivíduo masculino da espécie humana. A zoologia define-o como "nome genérico e arbitrário, sem distinção de sexo, de cada um dos indivíduos da espécie humana, classificados como mamíferos primatas, que se caracterizam por ser dotados de linguagem articulada, corpo ereto e mãos preênseis com os dedos polegar e indicador opostos".

VARÃO, correspondente ao latim vir - homem de qualidade máscula -, indica em geral o indivíduo masculino da espécie humana significando particularmente não só o sexo, mas também o juízo, o valor, a experiência, o modo peculiar de ser, e todas as demais qualidades pertinentes a um herói perfeito. Pode-se mesmo afirmar que varão é o homem adulto de valor, virtuoso, de excelentes qualidades, pleno de potência, fortaleza, masculinidade e virilidade.

Paulo Barbosa

quinta-feira, 8 de julho de 2021

POESIA

 A POESIA é a filha da prosa. Há poesia quando o homem possui uma compreensão mais profunda, mais íntima dos homens e das coisas, de toda a criação, e esta compreensão se manifesta numa linguagem mais expressiva, plena de encantos. Geralmente é definida como a arte de expressar a beleza ou os mais nobres sentimentos por meio da palavra, em versos na maioria das vezes, seguindo as normas da versificação tais como ritmo, cadência, métrica, etc.

FUNÇÃO DA POESIA

A função da poesia é fazer o homem vibrar e sentir, sonhar e viver numa atmosfera pura de harmonias suaves, contemplando os esplendores misteriosos da verdadeira arte num ambiente saturado de encanto e espiritualidade. A poesia é como o mítico jardim das Hespérides, cujas maravilhas arrebatam a imaginação e fazem o homem viajar com muito prazer nos ombros da fantasia.

Paulo Barbosa

quarta-feira, 7 de julho de 2021

PROSA, MANIFESTAÇÃO NATURAL DA ALMA HUMANA

 PROSA é a manifestação verbal, oral ou escrita, mas natural e espontânea, da alma humana. É a forma normal do discurso falado ou escrito sem a preocupação com o ritmo nem com a métrica. A palavra vem do advérbio latino "prorsus", conduzido para frente.

DESENVOLVIMENTO DA PROSA

Desde muito cedo o ser humano aprende a falar, brotando depois, de maneira espontânea, a palavra que traduz, sem dificuldade, todas as modalidades ou pensamentos do espírito. São estas manifestações verbais, orais ou escritas, que se nomeiam de modo genérico prosa. Nesta acepção, a prosa flui da alma humana como as plantas e as flores crescem da terra fértil, porém, como há partes da terra privilegiadas, que fazem brotar mil flores viçosas, e outras menos bem beneficiadas, e ainda outras terras quase áridas e desertas, assim também há a prosa seca e ríspida, e a prosa adornada, ainda que sem cultura.

CULTIVO DA PROSA

O cultivo da prosa se faz mediante o estudo acurado da gramática e da estilística, pois aí estão compendiados as normas de uso geral para a manifestação do pensamento, conferindo à prosa o cunho de elegância, de bom gosto e de maior eficiência. É com a assimilação de tais regras que o homem desenvolve seus recursos inatos, produzindo uma prosa não somente ataviada, enfeitada, mas cultivada, artística e poética.

Paulo Barbosa

terça-feira, 6 de julho de 2021

DISSERTAÇÃO, UM TIPO TEXTUAL

 DISSERTAÇÃO é o desenvolvimento de um pensamento, de uma tese, de uma opinião, de uma experiência ou de uma verdade teórica por meio do raciocínio, ou seja, da análise e síntese que chegam a uma conclusão. De todos os tipos textuais, de todos os exercícios de composição, é o mais complexo, o mais difícil, e também o mais importante, pois entra em todos os assuntos, podendo ser científica, filosófica, doutrinária, moral, pedagógica, legislativa, etc.

Requisitos da dissertação. Além das qualidades gerais que deve possuir um estilo - correção, concisão, naturalidade, variedade, elegância, harmonia -, a dissertação deve apresentar outras duas:

1. o rigor das definições. Por esta se dá a conhecer uma coisa expondo a sua natureza com grande exatidão, distinguindo-a das demais do mesmo gênero através das circunstâncias e qualidades que lhe são próprias e lhe constituem a diferença. 

2. a lógica da exposição. Os argumentos devem estar sempre concatenados metodicamente.

Evolução da dissertação. Esse tipo textual é o estilo mais antigo, pois o homem antes de referir aspectos e fatos teve a necessidade de argumentar, de expor suas análises, de defender suas ideias e divulgá-las em seguida. Pode-se afirmar mesmo que a narração e a descrição são mais ou menos facultativas enquanto a dissertação obrigatória, se impondo. Os textos mais remotos historicamente são os códigos, dissertação legislativa.

Em português a dissertação aparece nos séculos XIII e XIV com os forais, cartas régias que concediam privilégios a terras, corporações ou indivíduos. A Regra de São Bento, do século VI, conjunto de preceitos regulatórios de mosteiros beneditinos, é tipo de dissertação doutrinária e moral. A Arte de Bem Ensinar a Cavalgar ou Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela, do século XV, de autoria do rei português Dom Duarte I, um dos manuais mais antigo sobre hipismo, é modelo de dissertação pedagógica, assim como pedagógica é a Gramatica da Lingoagem Portuguesa, de Fernão de Oliveira, frade e gramático do século XVI, e a de João de Barros. Corte na Aldeia, do século XVII, obra em forma de diálogo que dá preceitos de vida na corte, de autoria de Rodrigues Lobo, é modelo de dissertação filosófica. Enfim, exemplar de dissertação científica são os Colóquios dos Simples e Drogas, do século XVI, tratado de medicina da autoria de Garcia da Orta, naturalista, médico português e pioneiro da medicina tropical.

A dissertação em Bernardes e Rui Barbosa. Manuel Bernardes, século XVIII, um dos maiores clássicos da prosa portuguesa, diferentemente do estilo discursivo dos antigos - estilo difuso pelo excesso de subordinação e acumulação - dissertava com clareza graças à sua concisão, sendo seu vocabulário muito rico e sempre apropriado, preciso, conferindo, portanto, singeleza, colorido e graça aos seus textos. Bernardo diz o que pensa direta e rapidamente, características da concisão, não se perdendo em rodeios como os seus antecessores.

Rui Barbosa, séculos XIX-XX, destacado advogado, filólogo e orador brasileiro, deve ser distinguido nos vários estilos que usou:

a) estilo polemista - predominante no seu jornalismo, onde se destacam os processos vigorosos como as antíteses, a adjetivação viva ou exagerada, as frases curtas e as coordenações.

b) estilo parlamentar - como no Ensaio Sobre Carlyle, Cartas da Inglaterra, a fraseologia é mais ornada, bem feita, com períodos harmoniosos e efeitos para o público como as acumulações ternárias.

c) estilo doutrinário - onde Rui usa de uma exposição calma, equilibrada, rica de vocabulário e metáforas.

d) estilo didático - de perfeita clareza e concisão, como se encontra na Réplica.

Paulo Barbosa

segunda-feira, 5 de julho de 2021

NARRAÇÃO: ANÁLISE E LEIS

 ANÁLISE DA NARRAÇÃO

A NARRAÇÃO, qualquer que seja, é distinguida em três partes:

1. a exposição. Nessa parte se pinta com vivacidade a situação inicial e terá de ser clara, brevíssima e muito simples.

Marta e João, vê-se imediatamente que são duas crianças em luta contra a vontade da mãe.

2. o enredo. Aqui são expostas as modificações que ocorrem alterando a situação inicial. Deve provocar a curiosidade do leitor ou do ouvinte, evitando sempre as explicações intempestivas.

Marta e João convencendo a mãe que, por sua vez, procura convencer o pai. Que resiste. Vem a cólera infantil. Uma choradeira perturbadora. Triunfará?

3. o desfecho. É a situação final que será aprovada ou reprovada, mas que traz sempre alegria porque satisfaz a curiosidade provocada pelo enredo.

Marta e João, sim, foram passear. A mãe conseguiu e obteve que o marido carregasse Marta.

LEIS DA NARRAÇÃO

Três são as leis que regem a narração:

1. lei da verdade dos caracteres, ou seja, da fisionomia moral do indivíduo da narrativa. Qualquer que seja a personagem terá de manisfestar o seu gênio, suas tendências e conservar esta feição até o fim.

2. lei da unidade e graduação, quer dizer, havendo um fato dominante na sequência narrativa, todos os demais a ele devem se subordinar como simples episódios. 

3. lei da vivacidade, pois cada episódio, cada situação, deve ser narrado com vida, com colorido.

Paulo Barbosa

sábado, 3 de julho de 2021

NARRAÇÃO, UM TIPO TEXTUAL

 NARRAÇÃO é o tipo textual  em que se encontra uma animada pintura da vida humana, uma verdadeira sequência de fatos ou episódios sobre alguém. É mais do que a simples descrição na ordem crescente de complexidade e dificuldade.

Diferença entre descrição e narração. A descrição faz ver um objeto, uma pessoa, uma paisagem, até mesmo um ato, porém, não penetrando na sua essência, no seu íntimo, não conhecendo o seu fator psicológico, a sua causa. Já a narração deve fazer tudo isso que se omite na descrição, deve manifestar o estado de espírito, os sentimentos, a profundidade da alma, produzindo, por assim dizer, uma verdadeira sequência de atos humanos.

Evolução da prosa narrativa. Entre os gregos e romanos esse tipo textual teve pouca importância, pouco desenvolvimento, mas o encontramos, todavia, nas fábulas de Esopo, nos apólogos míticos e filosóficos de Platão, na História de Alexandre Magno por Quinto Cúrcio. Na Idade Média, aparecem os ciclos romanescos de Carlos Magno e seus pares, de Artur ou da Távola Redonda. No século XVII, a poesia bucólica começa a ser narrativa. No século XVIII, surge o romance de costumes, narração filosófica, péssima e perversa nas mãos de Voltaire, histórica e pesada com Marmontel, idílica e pastoral com Bernardin de Saint Pierre em "Paulo e Virgínia". No século XIX, a narração reveste todas as formas, investe em todos os campos, se torna presente em todos os desvarios políticos, morais e religiosos, porém, a sua técnica se apura. No século XX, alcançou o mais alto grau de perfeição.

As mais antigas narrações em português. Em português, as obras mais antigas em prosa narrativa são os denominados Nobiliários ou Livros de Linhagens, que são os registros e as crônicas da aristocracia lusitana. Encontra-se também no Fabulário conhecido como Livro de Esopo do século XIV.

A narração dessa época é caracterizada pela infantilidade da prosa, por períodos construídos com acúmulos de orações coordenadas continuamente presas pela conjunção e e a prosa se limitava a transmitir pura e simplesmente o modo de falar popular sem nenhum adorno literário.

A esse período se segue a chamada Escola Espanhola, que vai de 1383 a 1521, época dos cronistas nomeados pelos reis para escrever os feitos do reino. As crônicas, escritas por homens ilustrados, já possuem todo um trabalho literário. Em vez de construção simplista, de orações coordenadas, prepondera a construção latina, com períodos plenos de subordinadas. Fernão Lopes, pai da historiografia portuguesa, é o mais singelo da Escola por ser mais chegado ao modelo popular. Já Rui de Pina, diplomata e cronista português, produz períodos em que as subordinadas se sobrepõem de tal modo que se torna com muita frequência incompreensível e indigesto. Eanes de Zurara também abusava das construções subordinadas.

A Escola Quinhentista sucedeu à Espanhola, influenciada pela Renascença italiana. O estilo torna-se ornado, os escritores estudam a fundo a retórica de Cícero e imitam o estilo dos prosadores latinos. Até as mulheres estudam latim e grego, como Paula Vicente e outras. Entre os cronistas desta época sobressaem João de Barros com as "Décadas", concluídas por Diogo do Couto, e Fernão Lopes de Castanheda. Portugal lança-se ao mar fazendo-se descobridor de novas terras, aparecem viajantes com suas narrações de viagens. Fernão Mendes Pinto é um dos que se avulta no gênero. A prosa dos escritores é sincera e desperta interesse, pois narram o que viram e ouviram. Surge também a crônica pessoal com Bernardim Ribeiro, autor de "Menina e Moça", primeiro ensaio de prosa de romance, sempre com inclinação para o período subordinado.

A Escola Gongórica, século XVII, possui uma prosa narrativa cheia de afetação e, muitas vezes, com excesso de cultismos. Frei Luiz de Sousa se faz notável entre os historiadores ainda não contaminado e cuja expressão é bastante pura, sem floreios. Jacinto Freire de Andrade, pelo contrário, é exímio exemplo de afetação e ornamentos em sua "Vida de Dom João de Castro". Padre Manuel Bernardes, embora não abandonasse de todo o cultismo, é um narrador de gênio, narrando sobretudo milagres e lendas com uma prosa entre a clássica e a moderna onde se encontram as qualidades de concisão, clareza e precisão invulgares.

A Escola Romântica, nos séculos XVIII e XIX, cria um outro estilo narrativo, deixando de lado os períodos subordinados e o estilo indireto. Torna-se uma produção concisa e rápida, com a composição predominando mais pela coordenação do que pela subordinação. O novo estilo vai em busca de termos de reforço, procurando intensificar os fatos e dando vida às personagens. Se nas narrativas antigas os fatos se sucediam, nessa moderna, são as personagens que se sucedem realizando os fatos. No fundo, a escola romântica substituiu quase a narração por uma descrição com aspectos movimentados, sendo esse o característico da prosa narrativa de nossos dias nos romances e nas novelas.

Paulo Barbosa

sexta-feira, 2 de julho de 2021

DESCRIÇÃO, UM TIPO TEXTUAL

 DESCRIÇÃO pode ser definida como a representação, a exposição, por meio da palavra oral ou escrita, dos aspectos de um ser. É, no fundo, uma sequência de aspectos. 

Três podem ser sua espécie: de interior, de paisagem e de indivíduo.

Exemplo da primeira podemos ver na seguinte descrição de uma casa nova:

"... Morava em uma casa nova, bem coberta de telhas coloniais, com esteios e portas de madeira lavrada e paredes bem ornamentadas por dentro e por fora".

Exemplo de descrição de paisagem sobre o céu:

"... De fato, para os lados de Ouro Preto, havia nuvens acasteladas entre os morros vagamente ameaçadoras na sua cor acinzentada e triste. Um gavião começou a circular por cima da mata, com preguiça, dois tucanos principiaram de uma banda a outra da estrada um diálogo em voz rachada e enfadonha, e o sol teve sombras intermitentes a cobrirem-lhe a face esfogueada".

Exemplo de descrição de indivíduo sobre um desembargador:

"Desembargador. Um metro e setenta e dois centímetros, culminando na cabeça calva todos os pensamentos nobres, desinteressados, equânimes. E o fraque? O fraque austero como convém a um substituto profano da toga. E os óculos? Sim, os óculos. E o anel de rubi? É verdade, um rutilante anel de rubi. O tronco levantado, os ombros horizontais, os braços a prumo. Que carrega na mão direita? A pasta. A divina Têmis não se vê. Mas está atrás. Naturalmente. Sustentando sua balança. O desembargador Lamartine de Campos. Aí vem ele. Paletó nobre, colarinho alto".

Modos de fazer uma descrição. A representação dos aspectos pode se fazer de três maneiras:

1. pela simples menção de todos eles, verdadeiro elenco do conjunto das qualidades de um ser.

2. seleção dos aspectos mais nobres, mais característicos.

3. intensificação dos aspectos na cor, na sombra, com variadas imagens, etc.

Evolução histórica do estilo descritivo. Homero, poeta épico da Grécia Antiga que viveu por volta do século VIII a.C., é o modelo incontestável do estilo descritivo. A seguir, os autores clássicos latinos começaram a imitar as obras-primas dos gregos, porém, sabendo imprimir uma originalidade própria. Camões (1524-1580) usou a descrição poética imitada de Homero e Vergílio, mas como processo independente. Padre Antônio Vieira (1608-1697) produziu célebres descrições em seus sermões, como a do polvo e a da estátua. No século XVIII, era do arcadismo, a descrição de paisagem torna-se sistemática, procurada, independente da narração, mas sempre imitação de Vergílio. Os tipos são geralmente retratos quase sempre satíricos. As descrições são gerais, como se pode constatar no soneto da tempestade de Gregório de Matos e em várias églogas de Bocage. No século XIX esse estilo foi aperfeiçoado por Chateaubriand (1768-1848), escritor e ensaísta francês, ao criar a descrição colorida com intensificação dos aspectos por meio da seleção, da metáfora e da comparação. No século XX nasce a descrição realista, impressionista, verdadeira, por assim dizer, que consegue produzir efeito análogo ao do pintor com as cores de sua paleta, representando o objeto material de modo que se perceba pelos olhos da imaginação. Flaubert (1821-1880) culminou na França com essa modalidade descritiva. No Brasil, a descrição local se inicia com Castro Alves (1847-1871), poeta brasileiro, baiano, que em sua obra póstuma "Os Escravos" descreve saborosamente a cachoeira de Paulo Afonso. Depois, segue-se Olavo Bilac e Euclides da Cunha em "Os Sertões".

Paulo Barbosa

quinta-feira, 1 de julho de 2021

JULHO, O MÊS DE JÚLIO CÉSAR

 JULHO, o sétimo mês do ano, é palavra proveniente do latim Iulius, Júlio, em honra a Júlio César (100-44 a.C.), patrício, militar e político romano. Aliás, o nosso atual calendário é fruto de uma reforma levada a cabo por ele, pois o que até então estava em vigor, pela duração dos meses, não se ajustava com o real ciclo do sol. Na reforma, César pede a colaboração de Sosígenes de Alexandria, famoso astrônomo e conhecedor profundo do ano solar, já medido e usado há tempo pelos egípcios. As principais alterações assinaladas ao calendário juliano foram a fixação do ano em 365 dias, à imitação dos egípcios que assim fizera desde 2800 a.C.; o estabelecimento do ano em 12 meses; a determinação de que fevereiro, a cada quatro anos, deve ter um dia a mais para se ajustar ao sol; o primeiro dia do ano passa a ser o dia das calendas de janeiro ou 1 de janeiro, oito dias após o solstício de inverno.

O calendário anterior a Júlio Cesar era atribuído a Rômulo, criado quando se deu a fundação de Roma em 753 a.C., e o ano era distribuído em 304 dias. Numa Pompílio, seu sucessor, modificou-o, passando o ano a ter 365 dias, porém com o acréscimo de um mês extra - mensis intercalaris - de dois em dois anos, fazendo dos anos uma sequência irregular de dias. Foi esse calendário que sofreu a reforma juliana, entrando em vigor em 46 a.C., e renomeando, através de decisão do Senado Romano, o nome do mês de quintilis - o quinto mês do ano, pois o ano começava em março - para julho. Inclusive, o próprio Júlio César nasceu no mês que levaria seu nome, 13 de julho de 100 a.C.

Paulo Barbosa