DISSERTAÇÃO é o desenvolvimento de um pensamento, de uma tese, de uma opinião, de uma experiência ou de uma verdade teórica por meio do raciocínio, ou seja, da análise e síntese que chegam a uma conclusão. De todos os tipos textuais, de todos os exercícios de composição, é o mais complexo, o mais difícil, e também o mais importante, pois entra em todos os assuntos, podendo ser científica, filosófica, doutrinária, moral, pedagógica, legislativa, etc.
Requisitos da dissertação. Além das qualidades gerais que deve possuir um estilo - correção, concisão, naturalidade, variedade, elegância, harmonia -, a dissertação deve apresentar outras duas:
1. o rigor das definições. Por esta se dá a conhecer uma coisa expondo a sua natureza com grande exatidão, distinguindo-a das demais do mesmo gênero através das circunstâncias e qualidades que lhe são próprias e lhe constituem a diferença.
2. a lógica da exposição. Os argumentos devem estar sempre concatenados metodicamente.
Evolução da dissertação. Esse tipo textual é o estilo mais antigo, pois o homem antes de referir aspectos e fatos teve a necessidade de argumentar, de expor suas análises, de defender suas ideias e divulgá-las em seguida. Pode-se afirmar mesmo que a narração e a descrição são mais ou menos facultativas enquanto a dissertação obrigatória, se impondo. Os textos mais remotos historicamente são os códigos, dissertação legislativa.
Em português a dissertação aparece nos séculos XIII e XIV com os forais, cartas régias que concediam privilégios a terras, corporações ou indivíduos. A Regra de São Bento, do século VI, conjunto de preceitos regulatórios de mosteiros beneditinos, é tipo de dissertação doutrinária e moral. A Arte de Bem Ensinar a Cavalgar ou Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela, do século XV, de autoria do rei português Dom Duarte I, um dos manuais mais antigo sobre hipismo, é modelo de dissertação pedagógica, assim como pedagógica é a Gramatica da Lingoagem Portuguesa, de Fernão de Oliveira, frade e gramático do século XVI, e a de João de Barros. Corte na Aldeia, do século XVII, obra em forma de diálogo que dá preceitos de vida na corte, de autoria de Rodrigues Lobo, é modelo de dissertação filosófica. Enfim, exemplar de dissertação científica são os Colóquios dos Simples e Drogas, do século XVI, tratado de medicina da autoria de Garcia da Orta, naturalista, médico português e pioneiro da medicina tropical.
A dissertação em Bernardes e Rui Barbosa. Manuel Bernardes, século XVIII, um dos maiores clássicos da prosa portuguesa, diferentemente do estilo discursivo dos antigos - estilo difuso pelo excesso de subordinação e acumulação - dissertava com clareza graças à sua concisão, sendo seu vocabulário muito rico e sempre apropriado, preciso, conferindo, portanto, singeleza, colorido e graça aos seus textos. Bernardo diz o que pensa direta e rapidamente, características da concisão, não se perdendo em rodeios como os seus antecessores.
Rui Barbosa, séculos XIX-XX, destacado advogado, filólogo e orador brasileiro, deve ser distinguido nos vários estilos que usou:
a) estilo polemista - predominante no seu jornalismo, onde se destacam os processos vigorosos como as antíteses, a adjetivação viva ou exagerada, as frases curtas e as coordenações.
b) estilo parlamentar - como no Ensaio Sobre Carlyle, Cartas da Inglaterra, a fraseologia é mais ornada, bem feita, com períodos harmoniosos e efeitos para o público como as acumulações ternárias.
c) estilo doutrinário - onde Rui usa de uma exposição calma, equilibrada, rica de vocabulário e metáforas.
d) estilo didático - de perfeita clareza e concisão, como se encontra na Réplica.
Paulo Barbosa
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