sexta-feira, 2 de julho de 2021

DESCRIÇÃO, UM TIPO TEXTUAL

 DESCRIÇÃO pode ser definida como a representação, a exposição, por meio da palavra oral ou escrita, dos aspectos de um ser. É, no fundo, uma sequência de aspectos. 

Três podem ser sua espécie: de interior, de paisagem e de indivíduo.

Exemplo da primeira podemos ver na seguinte descrição de uma casa nova:

"... Morava em uma casa nova, bem coberta de telhas coloniais, com esteios e portas de madeira lavrada e paredes bem ornamentadas por dentro e por fora".

Exemplo de descrição de paisagem sobre o céu:

"... De fato, para os lados de Ouro Preto, havia nuvens acasteladas entre os morros vagamente ameaçadoras na sua cor acinzentada e triste. Um gavião começou a circular por cima da mata, com preguiça, dois tucanos principiaram de uma banda a outra da estrada um diálogo em voz rachada e enfadonha, e o sol teve sombras intermitentes a cobrirem-lhe a face esfogueada".

Exemplo de descrição de indivíduo sobre um desembargador:

"Desembargador. Um metro e setenta e dois centímetros, culminando na cabeça calva todos os pensamentos nobres, desinteressados, equânimes. E o fraque? O fraque austero como convém a um substituto profano da toga. E os óculos? Sim, os óculos. E o anel de rubi? É verdade, um rutilante anel de rubi. O tronco levantado, os ombros horizontais, os braços a prumo. Que carrega na mão direita? A pasta. A divina Têmis não se vê. Mas está atrás. Naturalmente. Sustentando sua balança. O desembargador Lamartine de Campos. Aí vem ele. Paletó nobre, colarinho alto".

Modos de fazer uma descrição. A representação dos aspectos pode se fazer de três maneiras:

1. pela simples menção de todos eles, verdadeiro elenco do conjunto das qualidades de um ser.

2. seleção dos aspectos mais nobres, mais característicos.

3. intensificação dos aspectos na cor, na sombra, com variadas imagens, etc.

Evolução histórica do estilo descritivo. Homero, poeta épico da Grécia Antiga que viveu por volta do século VIII a.C., é o modelo incontestável do estilo descritivo. A seguir, os autores clássicos latinos começaram a imitar as obras-primas dos gregos, porém, sabendo imprimir uma originalidade própria. Camões (1524-1580) usou a descrição poética imitada de Homero e Vergílio, mas como processo independente. Padre Antônio Vieira (1608-1697) produziu célebres descrições em seus sermões, como a do polvo e a da estátua. No século XVIII, era do arcadismo, a descrição de paisagem torna-se sistemática, procurada, independente da narração, mas sempre imitação de Vergílio. Os tipos são geralmente retratos quase sempre satíricos. As descrições são gerais, como se pode constatar no soneto da tempestade de Gregório de Matos e em várias églogas de Bocage. No século XIX esse estilo foi aperfeiçoado por Chateaubriand (1768-1848), escritor e ensaísta francês, ao criar a descrição colorida com intensificação dos aspectos por meio da seleção, da metáfora e da comparação. No século XX nasce a descrição realista, impressionista, verdadeira, por assim dizer, que consegue produzir efeito análogo ao do pintor com as cores de sua paleta, representando o objeto material de modo que se perceba pelos olhos da imaginação. Flaubert (1821-1880) culminou na França com essa modalidade descritiva. No Brasil, a descrição local se inicia com Castro Alves (1847-1871), poeta brasileiro, baiano, que em sua obra póstuma "Os Escravos" descreve saborosamente a cachoeira de Paulo Afonso. Depois, segue-se Olavo Bilac e Euclides da Cunha em "Os Sertões".

Paulo Barbosa

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