IDIOTISMO é regência irregular de termo ou dicção que existe somente em uma língua sem nenhum correspondente em outros idiomas.
HISTÓRIA DO TERMO
História da palavra idiota. O termo idiotismo vem do grego idiotes, particular, aquele homem que não se ocupava de assuntos públicos ou não estava investido de nenhum cargo público, mas se dedicava somente a seus interesses particulares. A raiz "idio" significa "próprio, singular, pessoal". No século V, em Atenas, período florescente da democracia, o termo "idiotes" começa a adquirir sentido depreciativo, pois era mal visto quem não se interessava pelos assuntos da pólis mantendo-se apartado da política, das assembleias. Nessa época, aliás, havia até um auxílio financeiro concedido pelo governo para a assistência e participação nas liturgias e debates públicos atenienses. É devido a esse afastamento da vida pública que "idiotes", idiota, de termo natural e indiferente, começa a adquirir o valor de pessoa ignorante, sem cultura, não polida, tonta, por renunciar por vontade ou por incapacidade intelectual ou econômica a participar da democracia, de suas assembleias, de seus comícios, da gestão pública. Ao passar o termo para o latim, já chegou com o sentido de alguém ignorante, sem instrução, sem inteligência e carente de bom-senso, conservando-se assim durante toda a Idade Média e o Renascimento. No século XVII, a ciência médica francesa estabelece a classificação dos retardos mentais, das deficiências psíquicas, e toma o termo "idiota" para conceituar um dos graus dessas deficiências. Honorio Delgado, em seu Curso de Psiquiatria, define o idiota "do ponto de vista psicológico como aquele que manifesta inaptidão parcial ou absoluta para conceber conceitos, inclusive dos objetos familiares mais correntes (mãe, pai, leite, mão, cabeça, sapato, etc.). Os idiotas de grau máximo não aprendem a falar, os outros têm uma linguagem pobre, quase sempre agramático e com falhas na articulação. Não aprendem a comer por si, nem a vestir-se ou dar a mão. Os tórpidos (entorpecidos) não mostram interesse para nada nem atenção ao que lhes rodeia. Os eréticos (agressivos) exibem uma atividade insensata, tumultuosa e destruidora".
NA SINTAXE
Na sintaxe, entretanto, idiotismo, como já visto, é uma irregularidade regencial, também denominada expressão idiomática, onde termos, frases, modismos, são exclusivos de uma língua e se afastam dos princípios gerais e normativos da sintaxe. Apesar disso, tais desvios são consagrados pelo uso dos bons autores e pessoas cultas e adotados na linguagem polida. Exemplos de idiotismos na língua portuguesa:
1. O infinitivo pessoal flexionado. O princípio geral da gramática reza que nenhuma forma infinitiva deve tomar desinência pessoal, ou seja, o infinitivo não deve se conjugar de acordo com a pessoa do sujeito. Entretanto, em português há duas espécies de infinitivos, o impessoal e o pessoal, sendo o primeiro o puro infinitivo, a forma nominal inflexível essencialmente substantiva do verbo, e o segundo, típico idiotismo português, o infinitivo conjugado de acordo com o sujeito. Assim temos:
por ser eu
por seres tu
por ser ele
por sermos nós
por serdes vós
por serem eles
Talvez seja melhor molharmos as plantas.
Deixarem as coisas vagas não vai ajudar a compreensão.
Por viajarem não quer dizer que eu viaje.
2. O uso da locução "é que", mero adorno na frase, servindo apenas para realçar uma ideia. Em análise deve ser definida como locução expletiva, funcionando apenas como enchimento, redundância, provendo a frase de maior força ou evidenciando um termo da oração.
João é que fez a obra.
Maria é que é estudiosa.
Pães é que os padeiros fazem.
Ele é que quebrou o copo.
Só depois da partida foi que o assunto veio à tona.
Foi Pedro que comeu o bolo.
Note que o "foi que" é a mesma locução expletiva "é que", não sendo, portanto, oração, como se poderia pensar.
3. O emprego da preposição "de" nas seguintes expressões:
"O bom do velhinho".
"Pobre do homem".
"Coitado do meu pai".
4. A colocação do artigo antes dos pronomes possessivos:
O meu carro.
Os teus cadernos.
As nossas vidas.
Paulo Barbosa
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