O DISCURSO - do latim discursum = ação de correr por várias partes ou para variados lados - é a elocução, a fala, que tem por finalidade deleitar, convencer e persuadir, tendo por estrutura o exórdio - a primeira parte, a abertura -, a argumentação - a apresentação de razões que fundamentem a conclusão a que se quer chegar - e a peroração - a parte final com a conclusão, também chamada epílogo.
Para que um discurso consiga atingir suas três metas ou objetivos, deleitar, convencer e persuadir, que são objetivos dirigidos à sensibilidade, à inteligência e à vontade, há certos recursos que consiste ora em em alterar os sentido das palavras ora em alterar o uso real da linguagem no processo do pensamento. São as chamadas respectivas Figuras de Palavras e Figuras de Pensamento.
As Figuras de Palavras resumidamente são os seguintes recursos estilísticos:
1. Figuras de aumento de palavras: é a REPETIÇÃO: reduplicação, diácope, anáfora, anáfora alternada, epístrofe, simploce, poliptoton, anadiplosis, exergasia, polissíndeton e gradação.
2. Figuras de redução ou diminuição de palavras: elipse, sinédoque, assíndeto, zeugma.
3. Figuras de ASSONÂNCIA: consiste no uso de palavras que têm quase o mesmo som porém correspondendo a ideias diferentes.
As Figuras de Pensamento, por sua vez, que dependem do racional, da expressão, visando romper a monotonia surpreendendo o espírito, despertando-o, provocando sua atenção e tornando mais claras e mais eficientes as ideias, são divididas de acordo com as faculdades humanas - inteligência, vontade e sensibilidade - em Figuras para provar, Figuras para mover, Figuras para recrear.
Trataremos neste Tópico das primeiras, as Figuras para provar, em número de oito.
1. INTERROGAÇÃO: é a interrogação retórica ou pergunta retórica que não possui a finalidade de se obter uma resposta, mas de incrementar a reflexão, a argumentação do orador sobre o assunto em pauta. O maior mestre desta figura entre nós foi Padre Antônio Vieira em seus Sermões.
2. RESPOSTA: é a série de argumentos que esclarecem ou explicam uma questão.
3. PRETERIÇÃO: é, no discurso, tratar um determinado assunto ao mesmo tempo que se afirma que ele será evitado, fingindo não querer falar dele. Cícero, em um de seus discursos, a usou ao afirmar: "Não vos direi pois, senhores, quão grandes e quão afortunados foram seus feitos na paz e na guerra, por terra e por mar; não só os cidadãos consentiram sempre nos seus quereres, os aliados lhe obedeceram, os inimigos se lhe sujeitaram, como os próprios ventos e tempestades lhe foram favoráveis". E Camões em os Lusíadas (I,26) nas palavras de Júpiter sobre os Portugueses: "Deixo, deuses, atrás a fama antiga, / que co a gente de Rômulo alcançaram, / quando com Viriato, na inimiga / Guerra Romana, tanto se afamaram."
4. PROLEPSE: é a) o recurso de antecipar as respostas às objeções de um adversário, é responder antes que o adversário pergunte. b) É também a alteração da ordem sequencial dos acontecimentos, quando se antecipa alguns fatos que ainda não tenham ocorrido ou se faz um sumário de uma situação que irá ainda acontecer. Esta figura b aparece nos Lusíadas ao planejar a História de Portugal.
5. PERPLEXIDADE: é a figura que aporta espanto, estupefação, no ouvinte, levando-o, a partir daí, a buscar o conhecimento sobre o assunto em questão. É o espanto - o thauma - a origem do conhecimento, como ensinara Platão no Teeteto (155 d).
6. COMUNICAÇÃO: é o recurso pelo qual o orador toma o auditório como seu árbitro, convencido que está ou finge que o está de sua boa causa e, portanto, disposto a conformar-se com a decisão dele. É o orador tomar o seu público como testemunha ou árbitro da causa em questão.
7. SUSPENSÃO: é quando o orador cria um clima de suspense, de expectativa, no auditório, o que torna receptivo.
8. PERMISSÃO: é a figura em que se deixa para o auditório decidir sobre o tema.
Paulo Barbosa
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