O discurso de um orador tem por objetivos primordiais atingir as faculdades humanas - a inteligência, a vontade e a sensibilidade -, mas para que isso, de fato, ocorra, as suas palavras e frases devem estar revestidas de roupagens adequadas, de recursos que as tornem adornadas, provocativas, claras e eficientes. Tais recursos são as Figuras.
As Figuras de Pensamento, como já visto anteriormente, se subdividem em 3 espécies, as dirigidas à inteligência - Figuras para provar -, as dirigidas à vontade - Figuras para mover - e as dirigidas à sensibilidade - Figuras para recrear. Já visto em anterior Tópico a primeira espécie, veremos agora a segunda.
Figuras para mover são as sete seguintes:
1. EXCLAMAÇÃO: é a figura em que se exprime sentimento de espanto, alegria, admiração, mediante uma palavra ou expressão. O orador ao usar tal recurso manifesta uma consideração mental ou uma mudança de humor o que, geralmente, move a vontade do ouvinte.
2. PARRESIA: é a figura de pensamento em que o orador, o palestrante, torna manifestamente claro e óbvio que o que ele diz é a sua convicção, o seu pensamento, a sua opinião e, mais ainda, a verdade. Nesta figura não se usa nenhuma forma retórica para encobrir o pensamento do orador, mesmo que o que diz seja perigoso para si mesmo, até envolvendo riscos. Parrhesiazesthai significa 'dizer a verdade' e parrhesiastes é aquele que diz a verdade, é aquele que não apenas emite uma opinião sua, mas proclama a verdade, traduz a realidade das coisas em seu discurso. Exemplos de Parresia temos na Sétima Carta de Platão quando este afirma do tirano Dionísio II de Siracusa "não seja capaz de viver para a sabedoria e a virtude" ou a afirmação de Levi Fidelix de que "aparelho excretor não reproduz".
3. PROSOPOPEIA: é a figura de pensamento que atribui qualidades humanas a seres inanimados ou falas a seres ausentes e mortos. É a atribuição de vida ou qualidades humanas a seres inanimados, irracionais ou mortos. Exemplos temos nos Lusíadas (I, 14): "Por quem sempre o Tejo chora", na Bíblia: "A voz do sangue de teu irmão clama da terra por mim" (Gn. 4,10), "Todos os meus ossos dirão: Senhor, quem é como tu?" (Sl. 35,10).
4. APÓSTROFE: é a figura mediante a qual o orador interrompe o discurso para dirigir suas palavras a pessoas ou coisas reais ou fictícias. Exemplos temos nos Lusíadas (I,4): "E vós, Tágides minhas, pois criado tendes em mim um novo engenho ardente", em Vozes D'África, obra de Castro Alves: "Deus! ó Deus, onde estás que não me respondes?"
5. HIPOTIPOSE: é a figura de pensamento em que o orador pinta os fatos de que está tratando como se o que se estes estivessem realmente diante de seus olhos. Nesta figura concorrem a descrição e a narração guardando, cada uma, as suas características distintivas. La Fontaine diz que a hipotipose 'pinta as coisas de maneira tão viva e energética que as põe de algum modo sob os olhos'... Exemplo de hipotipose é encontrado em Vergílio Ferreira, Na Tua Face: "Lesta e loura, vejo-a subindo os patamares da entrada até o sítio da minha confusão. Traz um vestido claro e de meia manga, que à imaginação me parece transparente de tule, um elástico no braço a segurar. E quando chega ao pé de mim, tem uma cara fria branca assexuada. E uns olhos de minério azul".
6. APOSIOPESE: é a figura pela qual o orador suspende um pensamento já iniciado por meio de um corte repentino na cadeia sintática. É o silêncio súbito, a interrupção, as reticências do orador. A aposiopese é uma espécie de anacoluto consciente assinalando o momento em que o orador interrompe bruscamente a sequência das ideias: 1) ao perceber vai adiantar raciocínios ou surpresas, 2) quando pretende enfatizar as palavras, 3) quando se dá conta de que vai dizer mais do que deseja ou necessita. Exemplos temos na Bíblia, Gn. 3, 22: "Então, disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, pois, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente", em Garret, Frei Luís de Souza: "Deus tenha misericórdia de mim! E esse homem... Jesus! Esse homem era... esse homem tinha sido...", em Machado de Assis, Ressurreição: "Seria inútil querer dissuadi-la, e ainda que não fosse inútil, seria desarrazoado, porque uma viúva moça... Ela amava muito o marido, não?".
7. ETOPEIA: é a figura mediante a qual o orador descreve os costumes, as paixões e as inclinações de uma pessoa. Exemplo desta figura: "Margarida é uma mulher afável e predisposta ao diálogo. Pese a que teve uma infância e juventude complicada, nunca deixou que o sofrimento se refletisse em seus atos e palavras. Por isso sempre se dirige a todos com um sorriso, disposta a dar a ajuda de que necessitam".
Paulo Barbosa
Nenhum comentário:
Postar um comentário