APOSTO ou MODIFICADOR APOSITIVO DO NOME é um nome ou locução nominal que se junta a outro nome para melhor o caracterizar.
Deve-se notar que as gramáticas tradicionais não admitem que o aposto seja realizado por um adjetivo, entretanto, estudiosos mais recentes evidenciam a existência de aposto adjetival, como podemos recolher em Maria Helena Mira Mateus et al., na Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Editorial Caminho, 2003, pp. 368-369.
NATUREZA DO APOSTO
Um modificador apositivo do nome pode ser:
1. UM GRUPO NOMINAL: Pero Vaz de Caminha, o Escrivão, elaborou o primeiro documento sobre o Brasil.
2. UM GRUPO ADJETIVAL: Henrique, inteligente e trabalhador, tem tido sorte na vida.
3. UM GRUPO PREPOSICIONAL: A dieta, de valor incontestável, tem o apoio da classe médica.
4. UMA ORAÇÃO SUBORDINADA ADJETIVA RELATIVA EXPLICATIVA: Henrique, que é inteligente e trabalhador, tem tido sorte na vida.
VALORES FUNDAMENTAIS DO APOSTO
O aposto possui dois valores centrais, valores estes expostos por Evanildo Bechara em sua Moderna Gramática Portuguesa, e que são: Especificativo e Explicativo.
1. VALOR ESPECIFICATIVO é aquele quando um nome, muitas vezes nome próprio, complementa informação de outro ocorrendo em adjacência, sem qualquer tipo de separação diacrítica:
O rio AMAZONAS.
O palácio GUANABARA.
2. VALOR EXPLICATIVO é aquele que contém informação acrescentada ao nome ocorrendo sempre com separação diacrítica, ou seja, entre vírgulas. Este aposto veicula valores secundários dos quais se pode destacar os seguintes:
1º] VALOR ENUMERATIVO: quando a explicação consiste em um desdobramento enumerativo seguindo palavras como tudo, ninguém, nada, etc.:
TUDO - alegrias, preocupações, tristezas - ficava estampado em seu rosto.
2º] VALOR DISTRIBUTIVO: quando a explicação consiste em dividir um todo:
MACHADO DE ASSIS e GONÇALVES DIAS são meus escritores preferidos, aquele na prosa, este na poesia.
3º] VALOR CIRCUNSTANCIAL: quando a explicação exprime circunstância, ou seja, condição, acidente ou particularidade que acompanha um acontecimento, podendo, pois, expressar, por exemplo:
a) Valor comparativo:
A ti, professor, compete ensinar =
A ti, COMO professor, compete ensinar.
b) Valor temporal:
Collor de Mello, presidente da república, reduziu os impostos de importação =
Collor de Mello, QUANDO presidente da república, reduziu os impostos de importação.
c) Valor causal:
Mário, amigo, tirou Pedro da dificuldade =
Mário, PORQUE amigo, tirou Pedro da dificuldade.
Note que os apostos de valores circunstanciais podem ou não ser introduzidos por palavras indutoras de sentido, tais o como, o quando, o porque, etc.
RECAPITULANDO E ADITANDO
1 - Podemos definir de maneira mais abrangente o aposto como sendo um substantivo ou expressão equivalente que modifica um núcleo nominal ou pronominal ou palavra de natureza substantiva como 'ontem', 'hoje', 'amanhã'.
2 - Evanildo Bechara faz a seguinte distinção entre o aposto explicativo e especificativo: "Há diferença de conteúdo semântico entre uma construção do tipo 'O rio Amazonas' e 'Pedro II, imperador do Brasil'; na primeira, o substantivo que funciona como aposto se aplica diretamente ao nome núcleo e restringe seu conteúdo semântico de valor genérico, tal como faz um adjetivo, enquanto que na segunda a sua missão é tão-somente explicar o conceito do termo fundamental, razão pela qual é em geral marcada por pausa, indicada por vírgula ou por sinal equivalente (travessão e parêntese). Daí a aposição do primeiro tipo se chamar 'específica' ou 'especificativa', e a do segundo, 'explicativa'. (op. cit. 456-457).
O APOSTO NO LATIM
1) Em latim o aposto concorda em caso com o substantivo ou equivalente ao qual se junta para caracterizar:
Caecilia, poetae filia, in schola est
Nominativo Nominativo
Cecília, filha do poeta, está na escola
Jesus, hominum servator, Dei est filius
Nominativo Nominativo
Jesus, salvador dos homens, é filho de Deus
Jesum, hominum servatorem, adoro
Acusativo Acusativo
Adoro Jesus, salvador dos homens
2) A concordância casual não é seguida obrigatoriamente pela concordância genérica e numérica:
Et Tulliola, deliciae nostrae
Nom. sing. Nom. plural
E Tuliazinha, nossos agrados (Cícero, Ad Att.,I,8,3)
Deliciae meae Dicearchus contra hanc immortalilatem disseruit
Nom. plural feminino Nom. sing. masculino
Dicearco, minha delícia, falou contra esta imortalidade (Cícero, tu 1,21.77)
Nota: A expressão 'deliciae meae' ou 'deliciolae nostrae' em Cícero, usada como aposto, pode ser também traduzida como 'meu bem, meu amor, meu encanto'.
3) O aposto conserva o caso do substantivo por ele modificado mesmo quando está unido ao mesmo por meio da locução explicativa id est / hoc est (isto é) ou das conjunções ceu, quasi, ut, tamquam, velut (como) e de dico, inquam (digo):
Assentior Cnaeo Pompeio, id est Tito Pomponio
Eu concordo com Cneu Pompeu, isto é, com Tito Pompônio
Omni et gratia et opibus Caesaris sic fruor, ut meis
Valho-me de toda influência e de todos os recursos de César, como se fossem meus.
Catilina facinorum circum se, tamquam stipatorum, catervas habebat
Catilina tinha ao redor de si bandos de criminosos à maneira de satélites.
Hae perturbationes, aegritudinem dico et metum
Estas paixões, isto é / digo, a tristeza e o medo
4) São apostos os substantivos cidade, ilha, província, cadeia de montes, quando estão unidos a um nome próprio mediante a preposição de:
Os troianos fundaram a cidade de Roma
Urbem Romam condidere Troiani
A província da Gália
Gallia provincia
A ilha de Delos
Insula Delos
A cadeia do Jura
Mons Iura
Nota: Para não se confundir esses apostos com o adjunto restritivo - que vai no caso genitivo - deve-se analisar a possibilidade de substituir a preposição de pela circunlocução 'que se chama'. Caso seja possível, estamos diante de aposto e não de adjunto adnominal restritivo.
Os troianos fundaram a cidade de Roma =
Os troianos fundaram a cidade QUE SE CHAMA Roma.
A província da Gália =
A província QUE SE CHAMA Gália.
Já nos seguintes exemplos:
Os reis de Roma
Os homens da Gália
não é possível a substituição da preposição de pela circunlocução 'que se chama', logo, nestes casos, as palavras 'Roma' e 'Gália' não são apostos, mas adjuntos adnominais restritivos e vão para o caso genitivo.
Paulo Barbosa
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