quarta-feira, 30 de novembro de 2011

'CEDO / CETTE', IMPERATIVOS LATINOS ANTIGOS

CEDO é um antigo imperativo de segunda pessoa de um verbo defectivo que significa: ', diga, traga, mostra, deixa ver'. No plural é CETTE. Se constrói, também, comumente com as partículas -dum e -sis, CEDODUM e CEDOSIS

O gramático Diomedes diz: "CEDO non habet nisi secundam personam praesentis temporis, et est imperativus modus".

Quanto à etimologia, Ernout-Meillet diz ser 'do', um antigo imperativo do verbo 'dare', precedido da partícula -ce.

Paulo Barbosa

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

ABLATIVO, O CASO SINCRÉTICO

O ABLATIVO é um caso sincrético, ou seja, é o resultado da fusão de três casos que existiam separadamente no indo-europeu  [língua pré-histórica hipotética falada pelos árias em quase toda Europa e em grande parte da Ásia ]. Os três casos eram, respectivamente, o ablativo propriamente dito, o instrumental e o locativo. O caso instrumental foi totalmente absorvido pelo ablativo, não restando dele nenhum vestígio em latim; já o locativo, mesmo no período áureo do latim, conservou alguns vestígios de seu antigo estado indo-europeu, em nomes da primeira e segunda declinações, com desinências próprias.

Mesmo, porém, estes três casos apresentando sensíveis diferenças significativas, pois o ablativo propriamente dito indica o ponto de partida, o instrumental indica a pessoa ou coisa com quem ou com a qual se faz a ação que o verbo indica, e o locativo indica o lugar e, extensivamente, o tempo em que algo se dá ou ocorre, ainda assim não deixam de apresentar ou possuir certas afinidades de sentido, afinidades estas capaz de estabelecer pontos de contato. É devida a tais afinidades que nas duas frases seguintes, por exemplo, pode-se admitir mais de uma interpretação:

Equo vehor

1. "Sou transportado num cavalo", onde 'equo', 'no cavalo', é entendido como locativo, ou seja, como indicativo de relação de lugar onde alguém está ou ocupa.

2. "Sou transportado por um cavalo", onde 'equo', 'por um cavalo', é interpretado como instrumental, a saber, como instrumento ou meio de conseguir um fim.


Lacte vivunt

1. "Vivem de leite", onde 'lacte', 'de leite' é tido como ablativo propriamente dito, ou seja, vivem a partir de leite, tendo o leite como ponto de partida.

2. "Vivem com leite", onde 'lacte', 'com leite', é interpretado como instrumental, como meio pelo qual vivem.

Paulo Barbosa

terça-feira, 22 de novembro de 2011

ERNESTO FARIA: EXÍMIO HUMANISTA E LATINISTA BRASILEIRO

ERNESTO FARIA JÚNIOR, exímio humanista e latinista brasileiro, nasceu em 23 de maio de 1906, filho de Ernesto de Faria e Aurora Barbosa de Faria. Cursou o antigo primário em uma escola pública no Rio de Janeiro, que então era o Distrito Federal. Mudando para Nova Friburgo, lá estudou no famoso Colégio Anchieta, instituição de ensino particular da Companhia de Jesus. Prestou vestibular para Direito, abandonando mais tarde este curso para se dedicar ao magistério. Casou-se com Ruth Junqueira de Faria, também latinista, Professora Titular de Língua e Literatura Latinas na UFRJ, com quem teve a filha Maria Dulce Faria, bibliotecária e historiadora. Ruth faleceu em 1993.

Foi autor de produção acadêmica variada, sendo ele o pioneiro na renovação dos estudos de língua latina no Brasil. Defensor fervoroso da "Pronúncia Restaurada" do latim, publica em 1933, aos vinte e sete anos, sua primeira obra de fôlego, a tese de concurso para a Cadeira de Latim do Colégio Pedro II, com o título: A Pronúncia do Latim. Novas Diretrizes do Ensino do Latim. Muitas outras obras seguiram a esta primeira, dentre as quais destacam-se: Síntese de Gramática Latina (1940); O Latim e a Cultura Contemporânea (1941); o Latim Pelos Textos (1942); Gramática Elementar da Língua Latina (1943); o Vocabulário Latino-Português (1943); a Fonética Histórica do Latim (1955); o Dicionário Escolar Latino-Português (1955), que saiu pelo MEC; e a Gramática Superior da Língua Latina (1958). 

A sua Gramática Superior da Língua Latina é uma obra clássica, reconhecida tanto nas universidades brasileiras quanto europeias, recebendo mesmo elogios do ínclito Prof. Marouzeau na Revue des Etudes Latines (tomo XXXVII, 1959). A Gramática descreve diacronicamente os aspectos fonéticos, morfológicos e sintáticos da língua latina. 

Prof. Ernesto Faria atingiu o auge de sua carreira acadêmica em 1946, ao passar no concurso que prestou para a Faculdade Nacional de Filosofia, com a tese: Pérsio, estudo literário e lexicográfico. Nesta entidade ocupou a Cátedra de Língua e Literatura Latinas.

Em 1955, foi nomeado Professor Catedrático da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da UDF, hoje UERJ, onde lecionou até 1959.

Participou de muitos congressos nacionais e internacionais, dentre os quais se destacam as conferências proferidas na Universidade de Coimbra e Sorbonne, em 1951, e a participação no congresso realizado em Lausanne, Suíça, em 1959, organizado pelo Groupe Romand de la Société des Etudes Latines, onde falou sobre os Estudos Clássicos no Brasil.

Diversos cargos de administração foram também exercidos por ele, podendo-se destacar o de Vice-Diretor da Faculdade Nacional de Filosofia da UB, atual UFRJ, empossado em abril de 1946, tendo sido reeleito várias vezes e nele permanecendo até sua morte, em 14 de março de 1962.

Paulo Barbosa

sábado, 19 de novembro de 2011

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

UERJ EM FOCO IV: MÁRCIA REGINA


Esta é MÁRCIA REGINA DE FARIA DA SILVA, professora de Literatura e Fonética Latinas na UERJ. Graduada em Letras Português-Literaturas e Português-Latim, sendo a primeira pela UERJ e a segunda pela UFRJ. Foi laureada com o doutorado em 2008, pela UFRJ, defendendo a tese: "O Trágico nas Heroides de Ovídio".

Paulo Barbosa

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

ANADIPLOSE E EPANALEPSE: FIGURAS ESTILÍSITCAS

ANADIPLOSE é figura estilística que consiste na repetição de palavra ou expressão que termina um verso, no verso seguinte. Exemplo desta temos em Vergílio, Egl. 1,55:

'Certent et cygnis ululae, sit Tityrus Orpheus,

Orpheus in silvis, inter delphinas Arion'.


'Que as corujas lutem com os cisnes. Que Títiro seja Orfeu,

Orfeu esteja nas selvas, Arion entre os delfins'. 


EPANALEPSE é a figura estilístico-retórica que consiste na repetição da mesma palavra no princípio e no fim de um verso. Assim, Juvenal, 14,139:

"Crescit amor nummi quantum ipsa pecunia crescit"


"Cresce o amor pelo dinheiro o quanto a mesma riqueza cresce"

Paulo Barbosa

POESIA CENTONÁRIA

CENTÕES é o nome que se dá às composições em que se toma passagens de vários autores ou obras diversas para constituir um único texto, ou seja, até resultar uma única peça literária. O nome vem do latim, CENTO, ONIS, substantivo masculino que significa "espécie de manta ou coberta feita de diferentes retalhos costurados uns aos outros", assim como "poesia constituída por versos ou parte de versos de algum autor célebre".

Isidoro de Sevilha, nas Etimologias I, 25-26, diz que as passagens dos centões antigos eram tomadas dos poemas de Homero ou de Vergílio. 

Petrônia Proba (século IV d.C.), esposa de Clódio Celsino Adelfo, prefeito de Roma,  foi uma poetisa que compôs um centão de 694 hexâmetros, onde narrava a história do mundo e a vida de Cristo, segundo São Jerônimo. Seu centão tinha por título "DE FABRICA MUNDI", e os centões ou fragmentos foram extraídos de Vergílio e dos Evangelhos.

Outro poeta centonário na antiguidade foi Tito Pompônio Ático (IV século d.C.), latino, que tomando fragmentos de Vergílio confeccionou um centão laudatório de Cristo, de 132 hexêmetros e se chamava "TITIRO" ou "CENTO TITYRI, VERSUS AD GRATIAM DOMINI".

Paulo Barbosa

domingo, 13 de novembro de 2011

UERJ EM FOCO III: FRANCISCO FLORÊNCIO


Este é FRANCISCO DE ASSIS FLORÊNCIO, graduado em Letras, com mestrado e doutorado em Letras Clássicas. Leciona na UERJ Latim Medieval e Renascentista, assim como Técnicas de Tradução em Língua Latina. Em outros institutos leciona também Língua Portuguesa. É um verdadeiro mestre, com proficiência no que ensina e domínio no que passa. 

Direto de São Paulo,

Paulo Barbosa

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

UERJ EM FOCO II: AMÓS COELHO



Este é AMÓS COELHO DA SILVA, graduado em Letras Português e Literatura, com mestrado e doutorado em Língua Latina. Professor associado da UERJ, onde leciona latim e literatura, atuando sobretudo com os seguintes temas: Linguística, Filologia, Lirismo, Mitologia, Teatro Antigo, Sátiras. Junto com Airton, elaborou um Dicionário de Latim, esgotado já a primeira edição e, em breve, com uma nova edição, pela Vozes.

Paulo Barbosa

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

UERJ EM FOCO I: MÁRCIO MOITINHA

                                                           

Este é MÁRCIO LUIZ MOITINHA RIBEIRO, professor de Latim e Grego na UERJ, doutor especialista em Caiado. Autor de uma Gramática Latina básica, destinada a Seminários e Mosteiros. Foi professor no Seminário São José de Niterói, onde ensinou latim, grego e literatura latina. É sócio da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos (SBEC), onde já apresentou vários trabalhos, e autor de vários artigos publicados em diversos periódicos.

Paulo Barbosa

PERISSOLOGIA

PERISSOLOGIA é um vício de linguagem que consiste em repetir uma mesma ideia por meio de palavras ou  expressões diferentes, constituindo, portanto, um pleonasmo vicioso, uma redundância grosseira, como nos seguintes exemplos:

Subir para cima

Faixa etária de idade

Descer para baixo

Adiar para depois

Na Bíblia, em Deuteronômio 33, 6, encontra-se o vício perissológico seguinte:

"Vivat Ruben et non moriatur" = "Viva Rubem e não morra".

Paulo Barbosa

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A MULTIFUNCIONALIDADE DA PREPOSIÇÃO "DE"

A preposição DE é multifuncional tanto em latim quanto em português. Em latim existem três grafias para a mesma preposição, DEEX (E)AB (A), e na latinidade de todas as épocas possuíam sentido adverbial de procedência, causalidade e outras mais que veremos agora:


MOVIMENTO DE CIMA PARA BAIXO:

Caído do céu / Delapsus de caelo (Cícero)

Cair do cavalo / Cadere ex equo (Cícero)


MOVIMENTO DE BAIXO PARA CIMA:

Levantar uma pedra do chão / Saxum de terra tollere (Cícero)

Tirar água de um poço / Aquam haurire ex puteo (Cícero)


PARTIDA, REGRESSO, SEPARAÇÃO:

Regressar da província / Redire provincia (Cícero)

Chamar do exílio / Reducere de exsilio (Cícero)


OBJETO OU TEMA DE UM DISCURSO, DE UM ESCRITO, DE UM PENSAMENTO:

Falarei de Cipião / De Scipione dicam (Cícero)

Um livro que trata da agricultura / Liber de rebus rusticis (Cícero)

Para não falar de mim / Ut taceam de me (Cícero)


Em português, além destas que concordam com o latim, há ainda as seguintes funções:

CONTEÚDO: Caixa de fósforos

DEFINIÇÃO: Mulher de boa memória

DIMENSÃO: Casa de dois andares

ESTADO OU CONDIÇÃO: Estar de dieta

GÊNERO OU ESPÉCIE: O som do rádio

-  INSTRUMENTO OU MEIO: Briga de faca

MATÉRIA: Anel de ouro

MODO: Ficar de 

PONTO DE PARTIDADe agora em diante

FIM OU FINALIDADE: Carro de passeio

POSSE: Livro de Pedro

Paulo Barbosa

DE 'MAXUMUS' A 'MAXIMUS'


Varrão conta que MAXUMUS era como se escrevia, assim como OPTUMUS, PESSUMUS, e outras palavras latinas. Como, porém, César tinha o costume de pronunciar e escrevê-las com I, devido à sua autoridade, estabeleceu-se que a partir de então devia-se  grafar MAXIMUS, OPTIMUS e PESSIMUS.

Quem nos dá esta notícia é Isidoro de Sevilha:

"Varro tradit Caesarem per I eiusmodi verba enutiare solitum esse et scribere. Inde propter auctoritatem tanti viri consuetudinem factam, ut 'maximus', 'optimus', 'pessimus' scribatur".

Paulo Barbosa