O ABLATIVO é um caso sincrético, ou seja, é o resultado da fusão de três casos que existiam separadamente no indo-europeu [língua pré-histórica hipotética falada pelos árias em quase toda Europa e em grande parte da Ásia ]. Os três casos eram, respectivamente, o ablativo propriamente dito, o instrumental e o locativo. O caso instrumental foi totalmente absorvido pelo ablativo, não restando dele nenhum vestígio em latim; já o locativo, mesmo no período áureo do latim, conservou alguns vestígios de seu antigo estado indo-europeu, em nomes da primeira e segunda declinações, com desinências próprias.
Mesmo, porém, estes três casos apresentando sensíveis diferenças significativas, pois o ablativo propriamente dito indica o ponto de partida, o instrumental indica a pessoa ou coisa com quem ou com a qual se faz a ação que o verbo indica, e o locativo indica o lugar e, extensivamente, o tempo em que algo se dá ou ocorre, ainda assim não deixam de apresentar ou possuir certas afinidades de sentido, afinidades estas capaz de estabelecer pontos de contato. É devida a tais afinidades que nas duas frases seguintes, por exemplo, pode-se admitir mais de uma interpretação:
Equo vehor
1. "Sou transportado num cavalo", onde 'equo', 'no cavalo', é entendido como locativo, ou seja, como indicativo de relação de lugar onde alguém está ou ocupa.
2. "Sou transportado por um cavalo", onde 'equo', 'por um cavalo', é interpretado como instrumental, a saber, como instrumento ou meio de conseguir um fim.
Lacte vivunt
1. "Vivem de leite", onde 'lacte', 'de leite' é tido como ablativo propriamente dito, ou seja, vivem a partir de leite, tendo o leite como ponto de partida.
2. "Vivem com leite", onde 'lacte', 'com leite', é interpretado como instrumental, como meio pelo qual vivem.
Paulo Barbosa
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