Durante toda a Idade Média (séculos V a XV) fora o latim a língua sábia usada por todos os eruditos. Meillet em sua obra magistral, Les Langues dans l'Europe Nouvelle, diz que quando da fundação das Universidades europeias o latim era em toda parte sua única língua. Todos os sábios, da Espanha à Polônia, da Escócia e Suécia à Sicília, possuíam essa única língua. Professores e alunos mudavam de uma Universidade à outra sem que experimentassem qualquer barreira linguística, pois havia a unidade de código e em toda parte liam-se e estudavam-se os mesmos escritos, discutiam-se o mesmo conjunto de teses fundamentais e orgânicas. E esse sistema durou até à época moderna.
Dante, o grande político e poeta italiano do século XIV, quando escrevia para o povão, para o grande público, usava a língua italiana, mas quando se dirigia ao corpus de letrados compunha em latim. A poesia e a épica, tanto a cortesã quanto a popular, eram vazadas também em língua vulgar, em italiano, e os primeiros textos em prosa a abstrair do latim foram narrativas de guerreiros, homens rudes e prosaicos, daquilo que fizeram e viram durante as peripécias bélicas, tais como os de Joinville e Villehardouin. Os eruditos, porém, continuavam a exarar e a ler na língua romana.
No século XVI todo o ensino universitário era transmitido através do latim, a língua dos cultos, dos clerici (clérigos) e dos litterati (letrados). Apesar disso, alguns homens à frente de seu tempo começaram a advogar a necessidade de se colocar na ordem do dia o vernáculo, a língua de cada nação ou povo.
No século XVII continua o latim a língua da ciência e da filosofia, o modo de expressão normal das ideias e conceitos. Descartes, entretanto, de maneira acessória, sim, produziu algumas de suas obras em francês.
Foi no século XVIII, todavia, que o latim deixou de ser a língua sapiencial, usada pelos sábios e filósofos, e isto se deve sobretudo à decadência das Universidades que se deu nesta época, onde o latim era a língua habitual na ministração das lições.
A vitalidade desse latim pós medieval foi constatada também por Ernst Robert Curtius em sua obra de fôlego Literatura Europeia e Idade Média Latina, onde diz que durante muitos séculos permaneceu o latim como língua viva do ensino, da ciência, da administração, da justiça e da diplomacia. Acrescenta ainda o autor que só no século XVI, mais precisamente em 1539, foi o latim abolido na França como a língua dos tribunais por ordem de Francisco I. Entretanto, como língua literária, sobreviveu muito tempo ainda após o desaparecimento da Idade Média, tais como na pena de Dante, de Petrarca e Bocácio. Em seguida, o movimento chamado Humanismo, dentro do Renascimento, dá novo e poderoso impulso ao gosto pelo latim.
Enfim, essa duplicidade linguística, o latim e a língua vernácula, se deu devido, como já vimos acima, o povo não compreender mais a língua romana. Curtius diz que o homem comum sabia da existência das duas línguas, a vernácula popular e a dos letrados (clerici e litterati). Essa falta de entendimento do latim por parte do povo começou no século VIII, quando ainda se compreendia o que o padre rezava na missa.
Paulo Barbosa
O latim da era moderna, escrito de 1300 a 1900, também conhecido como neolatim, novolatim, latim humanista, latim renascentista, ou língua latina nova, compreende as obras redigidas em latim medieval, mas obedecendo-se novamente a ortografia e a gramatica do latim clássico, substituindo-se o vocabulário coloquial bárbaro por vocábulos cultos retirados dos antigos autores ou por cunhagem de neologismos. Desde Dante, Petrarca, Boccaccio, Poggio Bracciollini, Aeneas Sylvius, Erasmus, Osorius, Damianus a Goes e centenas de outros, do inicio da era moderna ate os finais do seculo 19, este latim vivo e revivescido foi utilizado por necessidade como língua internacional e eclesiástica. No século 20, milhares de obras em latim da era moderna principiaram a aparecer na internet. Pelo mundo todo existem hoje grupos de neolatinistas que almejam ver restabelecido o uso internacional deste latim vivo entre adultos e universitários. Dada a inexistência de professores, a aprendizagem do idioma deve ser feita autodidaticamente, utilizando-se obras didáticas disponíveis, legadas pelos séculos passados, redigidas para ensinar latim clássicos ao público infantil e adolescente das escolas de todo o mundo. O latim moderno pode ser escrito facilmente com estrita morfologia clássica e sintaxe românica, ou seja, analiticamente. Seria muito mais aceitável e útil do que o Latino sine flexione de Peano, por respeitar o fundo lexical do latim clássico. Sendo um idioma para uso contemporâneo, o novolatim pode forjar um imenso vocabulário adicional literário e técnico a partir do fundo pan-latino das línguas românicas, do inglês e de outras línguas vernáculas modernas. Depois de aprender as cinco declinações e a conjugação dos verbos o neolatinista pode começar a escrever latim, traduzindo de uma língua vernácula, textos da sua área de interesse. Grande parte do vocabulário latino será sugerido pelo próprio texto, a consulta a dicionários hoje pode ser feita facilmente on-line. Outro exercício essencial é ler textos latinos clássicos em ordem analítica. O latim moderno é latim clássico escrito ou falado em ordem analítica, conservando as desinências dos casos. DARCY CARVALHO. Veja darcy carvalho latim e darcy carvalho creator para downloads do material necessário.
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