sexta-feira, 7 de outubro de 2011

"VERBUM IMPROMISCUM"

Para conhecermos bem o que seja VERBUM IMPROMISCUM, leiamos com bastante vagar e senso as orações abaixo:

"Hanc sibi rem praesidio sperant futurum" = "esperam que este fato lhes servirá de segurança" (Cícero, Verrinas).

"Credo ego inimicos meos hoc dicturum" = "eu creio que meus inimigos haverão de dizer isso" (Caio Graco, Sobre Públio Popílio).

"Dum i conciderentur, hostium copias ibi occupatas futurum" = "enquanto estes fossem cortados, as tropas dos inimigos haveriam de estar ali ocupadas" (Quadrigário, Anais).

"Si pro tua bonitate et nostra uoluntate tibi ualitudo subpetit, est quod speremus deos bonis bene facturum" = "se por tua bondade e pela nossa vontade a saúde se apresenta a ti, é nisso que esperaríamos virem os deuses a favorecer os bons" (Quadrigário, Anais).

"Si eae res divinae factae recteque perlitatae essent, haruspices dixerunt omnia ex setentia processurum esse" = "os harúspices disseram que se aquelas coisas divinas tivessem sido feitas e sacrificadas segundo as regras, tudo teria se processado segundo a sentença". (Valério Ântias, Anais).

"Etiamne habet Casina gladium? -

Habet, sed duos. - Quid duos? - Altero te

occisurum ait, altero uilicum" =

"Acaso tem Cásina espada? -

Tem, mas duas. - Por que duas? - Com uma ela diz

haver de matar a ti, com outra ao caseiro" (Plauto, Cásina).


"Non putaui hoc eam facturum" = "não pensei que ela irá fazer isto" (Labério, Gêmeos).


Todas as formas em -urum nestas orações, à primeira vista, parecem estar erradas:

"Futurum" de Cícero deveria, então, ser "futuram", concordando com 'rem';

"Dicturum" de Graco deveria ser "dicturos", por estar relacionado com inimicos: 'Inimicos dicturos' = 'os inimicos haverão de dizer';

"Futurum" do analista romano Quadrigário deveria concertar-se com 'occupatas", e portanto ser 'futuras";

"Facturum" do mesmo analista, deveria ser 'facturos', concordando com 'deos';

"Processurum" de Ântias deveria ser 'processura', forma neutra plural concordando com 'omnia';

"Occisurum" de Plauto deveria ser 'occisuram' para concordar com a jovem que vai matar;

"Facturum" de Labério, da mesma maneira, deveria ser 'facturam', concordando com 'eam', no feminino.

Entretanto, estas formas em -urum, segundo gramáticos e estudiosos antigos, não são empregadas como particípios futuros, que são declináveis, mas como formas verbais indefinidas, quer dizer, sem especificar número singular ou plural, nem pessoas, nem tempos e nem gêneros. É uma forma verbal libertada de todos os acidentes que sobrevêm ao verbo, portanto.

Esta forma verbal é denominada VERBUM IMPROMISCUM, que pode ser definida como sendo a forma verbal não promíscua, não misturada ou sem relação alguma com qualquer outra palavra da oração ou do texto.

É por ser não promíscua que permanece sempre a mesma forma, sem concerto ou concordância com qualquer palavra.

Paulo Barbosa

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