TRIMÁLQUIO (ou Trimalquião) era um novo-rico romano, muito sorridente, simples, bonachão e vulgar, que decide oferecer um banquete convidando vários aventureiros. O festim foi de uma ostentação opulenta, de mostras de riqueza imensa, com a decoração da casa indicando o poderio financeiro do anfitrião assim como a profusão de iguarias mais diversas ofertadas aos convivas. Todo esse luxo, porém, contrastava com os vários incidentes burlescos ocorridos durante a festa, com a conduta nada exemplar de Trimálquio, que ia se embebedando e escandalizando, com sua noção falseada de mitologia, supondo, por exemplo, que Aníbal estivesse presente à Guerra de Tróia, que Dáidalos tivesse retido Niobe no Cavalo de Tróia e que Cassandra matou os próprios filhos. Enquanto o banquete seguia, duas estórias foram narradas, uma de um lobisomem e outra sobre umas feiticeiras que transformaram um menino em um boneco de palha. E tudo isso contado pelo dono do banquete com muita vivacidade e graça contagiante.
Pois bem, essa historieta encantadora é narrada por Petrônio, que fora cônsul e governador da Bitínia, morto em 65 d.C., na sua obra 'Satiricon', escrita em prosa intercalada com versos onde descreve várias aventuras indecorosas, tais como a de dois trapaceiros - Encôlpio e Ascilto -, assim como estórias da famosa Matrona de Éfeso. O episódio mais destacado, entretanto, é o Banquete de Trimálquio - Cena Trimalchionis.
O interesse do estudioso da cultura e língua latinas nesta obra, mormente no festim, é que aí são oferecidos uma verdadeira descrição da vida italiana na época de Nero, que reinou até 68 d.C., como também reprodução das conversas e das gírias comuns de alguns dos convidados com suas maneiras reais de falar das classes mais baixas, fornecendo, assim, bom material para o estudo do latim vulgar. Por exemplo, para se dizer 'há séculos', usavam 'olim oliorum', numa verdadeira transgressão dos cânones gramaticais.
Paulo Barbosa
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