O QUE É:
O SUPINO é um substantivo verbal ativo defectivo que semelhantemente ao gerúndio tem por objetivo completar a declinação do infinitivo. Pode-se dizer que é um infinitivo de finalidade.
É defectivo por possuir apenas três casos:
1. Acusativo em -UM (que se traduz com 'a / para' mais infinitivo)
2. Dativo em -U (que se traduz com 'de' mais infinitivo)
3. Ablativo também em -U (que se traduz com 'de' mais infinitivo)
No latim arcaico - forma do latim usada desde suas origens no século VIII a.C. até mais ou menos o ano 75 a.C. -, entretanto, ainda que raramente, aparecia um supino dativo em -UI, rivalizando, destarte, com a forma em -U. Esta forma em -UI foi usada no período clássico pelos escritores arcaizantes, como Salústio, aparecendo ainda na época imperial em Plínio o Velho e Tito Lívio.
COMO SE USA:
A sintaxe do supino, ou seja, seu emprego na oração, se ajusta às seguintes normas:
a) O SUPINO ACUSATIVO em -UM é regido por verbos de movimento (aqueles que indicam destino, retorno, envio, mudança de lugar: ire, venire, redire, mittere, proficisci, dimittere, etc) assim como pelos verbos dare, collocare, etc, significando finalidade, escopo, meta.
Miserunt Joannem Fluminem Januarium CONSULTUM quidnam facerent
Enviaram João ao Rio de Janeiro PARA PERGUNTAR o que faziam
Ire DORMITUM
Ir PARA DORMIR
Mittunt legatos ROGATUM auxilium
Mandam embaixadores PARA PEDIR ajuda
Misi amicum PETITUM argentum
Enviei meu amigo PARA PEDIR dinheiro
Dare NUPTUM ou Collocare NUPTUM
Dar PARA CASAR (dar em matrimônio)
Dare VENUM
Dar PARA VENDER (colocar à venda)
Venio LAUDATUM
Venho PARA LOUVAR
Note que o supino acusativo, embora uma forma nominal, mas devido a seu caráter verbal - lembre-se de que é um substantivo verbal - conserva a regência do verbo a cuja conjugação pertence, podendo, pois, vir acompanhado de complemento direto também em acusativo, como em:
Mittunt legatos ROGATUM AUXILIUM
Misi amicum PETITUM ARGENTUM
onde AUXILIUM e ARGENTUM são complementos diretos dos supinos.
b) O SUPINO em -U (em que houve fusão dos empregos do dativo e do ablativo) acompanha determinados verbos e adjetivos - ou adjetivos verbais - que têm o sentido de possibilidade, de agrado, sendo os mais encontrados no período clássico os seguintes: auditu, intellectu, cognitu, dictu, factu, memoratu, visu. Conforme já visto, este supino se traduz com o auxílio da preposição 'de' mais infinitivo, ficando, portanto, os supracitados, assim: de ouvir, de entender, de conhecer, de dizer, de fazer, de lembrar, de ver.
O rem crudelem AUDITU
Ó coisa cruel DE SE OUVIR
Facile est INTELLECTU
É fácil DE ENTENDER
Res digna MEMORATU
Coisa digna DE SE LEMBRAR
Pode também este supino ser usado com os substantivos indeclináveis fas, nefas e com opus, indicando assim uma ação com referência à qual a qualidade expressa pelo adjetivo é afirmada:
Si hoc fas est DICTU
Se é permitido DIZER-SE isso
Opus est SCITU
É preciso SABER
IMPORTÂNCIA
A importância do supino latino na sintaxe se mede pela própria etimologia do vocábulo 'supinus' adjetivo que significa 'deitado de costas, preguiçoso, indiferente'. Ou seja, o supino é uma forma verbo-nominal quase inútil já que todas as orações por ele construídas podem também ser de várias outras maneiras. Por exemplo, a seguinte oração
Amicus meus venit huc NATATUM - Meu amigo veio aqui PARA NADAR
pode ser construída em latim das seguintes maneiras abstraindo-se do supino natatum:
1. com causa ou gratia mais gerúndio ou gerundivo:
Amicus meus venit huc NATANDI CAUSA
ou
Amicus meus venit huc NATANDI GRATIA
2. com ad mais acusativo do gerúndio ou do gerundivo:
Amicus meus venit huc AD NATANDUM
3. com o dativo do gerúndio ou do gerundivo, porém somente depois de certos substantivos:
Amicus meus duumvir creatus est SACRIFICANDO
Meu amigo foi nomeado duúmviro PARA OFERECER UM SACRIFÍCIO
em vez de: Amicus meus duumvir creatus est SACRIFICATUM.
Outro exemplo: a oração
Discedo LECTUM - Vou embora PARA LER
pode ser construída das seguintes formas:
Discedo LECTURUS
Discedo AD LEGENDUM
Discedo UT LEGAM
Portanto, a importância do supino é quase nula por, de diversas maneiras, uma oração de supino poder ser construída em latim.
Para finalizar, o supino acusativo em -Um é denominado em algumas gramáticas de Supino I (supino primeiro) e o supino em -U, denominado Supino II (supino segundo).
Esta forma verbo-nominal não passou para as línguas neolatinas, expressando essas a finalidade mediante construções analíticas, como vimos nas traduções acima.
Paulo Barbosa
Goestei da clareza e riqueza de informação. Gostaria de saber qual o papel do supino na formação de termos portugueses, se é que é relevante. Cumprimentos. Manuel Alte da Veiga.
ResponderExcluirmuito obrigada pelo conteúdo!!!!
ResponderExcluirExcelente e clara explicação.
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