segunda-feira, 21 de maio de 2012

ALITERAÇÃO, UM FENÔMENO ESTILÍSTICO

ALITERAÇÃO é a repetição do mesmo fonema no início de vários vocábulos contíguos ou bastante próximos, como, por exemplo: O rato que rói a roupa do rei de Roma deve morrer.

Em latim, encontramos vários casos desta repetição estilística:


"Iamque nocens ferrum, ferroque nocentius aurum prodierat" (Ovídio, Met., I,141-142)

"E já surgira o nocivo ferro e o ouro mais nocivo do que o ferro".


A aliteração pode ser involuntária, ou seja, não buscada pelo autor. Cícero, por exemplo, que combateu este choque de fonemas, não conseguiu em alguns casos evitá-lo. Assim, dando conselhos a seu filho Marcos, escreveu:

"Quae quattuor quanquam inter se colligata atque implicata sunt" (De Officiis, I,5)

"Embora estas quatro (fontes) se achem unidas e interdependentes".


No epílogo das Tusculanas, empregou novamente Cícero a aliteração:

"... tum incideret in mortis malum sempiternum: portum, potius paratum nobis et perfugium putemus, quo utinam velis passis pervehi liceat!" (I,49)

"... então caísse no castigo eterno da morte; é melhor pensarmos que está preparado para nós um porto e um refúgio, para onde oxalá nos seja permitido entrar com as velas abertas".

A aliteração em latim, conforme nos diz Vendryes em seu Essai sur l'histoire et les effets de l'intensité initiale, é de suma importância, por ser uma língua que, mais que qualquer outra, atribuía saliente importância à sílaba inicial.

Nos versos saturninos é muito encontrada, sobretudo quando servem para expressar sentimentos solenes de religiosidade. Entretanto, a influência do helenismo em Roma a partir de Ênio (século III a.C.), impediu que se tornasse dominante na poesia latina, mas, com certeza, pode-se afirmar que, contrariamente ao que se verifica com o grego, que pouca importância deu a este fenômeno estilístico, entre os poetas latinos, desempenhou papel essencial até a época de Augusto. A poesia alemã da Idade Média, escrita em alto alemão, é riquíssima em versos aliterantes.

É, enfim, a aliteração, artifício mais poético que prosaico, que, além de ser usada pelos retóricos, aparece, de preferência, nos provérbios, invocações e respostas dos oráculos.

Vejamos mais alguns exemplos:

"Manus manum lavat" (Provérbio) = "Uma mão lava a outra".

"Fortes fortuna adiuvat" (Provérbio) = "A sorte auxilia os fortes".

"Immortales mortales si foret fas flere" (Epitáfio de Névio) = "Se fosse lícito que os imortais chorassem os mortais".

"Veni, vidi, vici" (Resposta de Júlio César ao Senado Romano) = "Cheguei, vi, venci".


"Et, modo qua graciles gramen carpsere capellae" (Ovídio, Met., I,299) = "E, por onde há pouco as cabrinhas pastavam".

"Apellare virum virgo" (Ovídio, Met., IV,681) = "(E Andrômaca) virgem, (não ousa) dirigir a palavra a um homem".


"At tuba terribilem sonitum procul aero increpuit..." (Vergílio, Eneida, IX,503-504) = "Mas a trombeta com seu canoro bronze emitiu ao longo um formidável som".


"Ceterum censeo Carthaginem esse delendam" (Frase de Catão) = "De resto, julgo que Cartago deve ser destruída".


"Pallida mors aequo pulsat pede pauperum tabernas..." (Horácio, Odes, I,4,13) = "A pálida morte bate com pé igual as choupanas dos pobres".

"Vi victa vis" (Cícero, Pro Milone, XI,30) = "A força foi vencida pela força".


Paulo Barbosa.

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