O HIATO é uma pequena pausa na pronúncia entre duas vogais sucessivas resultando num desagradável efeito acústico. Ou melhor, o hiato - que Cícero denomina hiulcae voces, palavras abertas, fendidas -, se verifica quando existindo duas vogais vizinhas a passagem da voz da primeira para a segunda é interrompida por um movimento brusco. Este fenômeno é bem frequente em latim, até mesmo mais que em grego, e é tido como um vício que atenta contra a harmonia do estilo. Porém, mesmo assim classificado, nem sempre foi condenado pelos gramáticos, escritores e retóricos de Roma. O recurso usado para evitar o hiato era a elisão, ou seja, a supressão ou queda de uma das vogais, geralmente a átona final.
Cícero e Quintiliano chegaram mesmo, em alguns casos, a alinhavar argumentos bastante plausíveis a favor do encontro de vogais sem elisão, ou seja, a favor do hiato, como por exemplo: quando se tiver a intenção de frisar o que se segue, ou o tempo em que um ator concede a outro ou a si mesmo no desenrolar de um drama, ou a hesitação de quem fala, ou mesmo o aproveitamento integral do som vocálico nas onomatopéias, etc.
Vejamos alguns exemplos de hiatos nos autores latinos:
"Ter sunt conati imponere Pelio Ossam" (Vergílio, Georg., I,281)
"Tres vezes (os gigantes) tentaram colocar o (monte) Ossa sobre o Pélio".
"Et vera incessu patuit Dea. Ille ubi matrem agnovit" (Vergílio, Eneida, I,405)
"E revelou-se deusa verdadeira pelo andar. Ele (Enéias) assim que reconheceu a mãe".
"Lamentis gemitumque et femineo ululatu tecta fremunt" (Vergílio, Eneida, 667-668)
"Tremem os tetos com os lamentos, com os gemidos e com o ulular das mulheres".
"Si me amas, inquit, paulum hic ades" (Horácio, Sátiras, I,38)
"Se me amas, disse, permanece aqui um pouco".
Vejamos mais exemplos:
PLAUTO:
"Me oportet" (Cativos, 955);
"Vi extrudam" (Soldado Fanfarrão);
"Te honeste" (Trinumo);
"Pondo amoris" (Truculento).
HORÁCIO:
"Esquilinae alites" (Epodo, V,100);
"Threici o Aquilone" (Epodo, XIII,3);
VERGÍLIO:
"Neptuno Aegaeo" (Eneida, III,74);
"Pereo hominum" (Eneida, III,606);
"Pecori et" (Bucólicas, III,6);
"Lauri et" (Bucólicas, III,63);
"Rhodope aut" (Bucólicas, VIII,44);
"Qui amant" (Bucólicas, VIII,108).
Paulo Barbosa
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