AS BUCÓLICAS são dez poemas em hexámetros que levam à cena sobretudo pastores. É a obra-mor de Vergílio, onde canta os amores pastoris e celebra os campos. Outro nome para a obra é ÉCLOGAS, que significa 'extratos'. De maneira discreta, entremeia o poeta agradecimentos a seus protetores, sobretudo ao Imperador Augusto.
A I Écloga é um diálogo constituído de 83 versos entre Melibeu e Títiro.
Melibeu é um escravo que perdeu suas terras em benefício de alguns soldados veteranos do Imperador Augusto, após a vitória da guerra de Filipos sobre os republicanos. Sai de suas terras levando suas cabras e no caminho encontra-se com Títiro descansando. Trava com este um diálogo, onde lastima as discórdias civis de então, os camponeses expropriados de suas terras em prol dos soldados do Imperador, a paisagem que não mais voltará a contemplar. Cai a tarde, e Títiro o convida a passar a noite com ele.
Títiro, por outro lado, é um escravo recém-liberto, que conservou seus campos, suas propriedades, e que, deitado debaixo de uma grande faia, atribui sua boa sorte a um deus, um jovem que tinha conhecido recentemente numa viagem que fizera à Roma e que para o qual sempre terá um cordeiro para sacrificar. Este deus benfeitor é o imperador Otávio, autor de sua tranquilidade e da paz em geral, a Pax Romana.
Vejamos as duas primeiras estrofes da I Bucólica:
MELIBOEVS
Tityre, tu patulae recumbans sub tegmine fagi
siluestrem tenui musam meditaris auena;
nos patriae fines et dulcia linquimus arua;
nos patriam fugimus; tu, Tityre, lentus in umbra,
formosam resonare doces Amaryllida siluas.
MELIBEU
Títiro, tu reclinado à sombra de uma vasta faia,
aplicas-te à musa silvestre com uma leve flauta;
nós deixamos os solos da pátria e os doces campos;
nós fugimos da pátria; tu, Títiro, vagaroso na sombra,
ensinas as selvas ecoar o nome da bela Amarílis.
TITYRUS
O Meliboee, deus nobis haec otia fecit:
namque erit ille mihi semper deus; illius aram
saepe tener nostris ab ouilibus imbuet agnus.
Ille meas errare boues, ut cernis, et ipsum
ludere quae uellem calamo permisit agresti.
TÍTIRO
Ó Melibeu, um deus proporcionou-nos este lazer:
pois, para mim ele sempre será um deus; em seu altar
frequentemente um tenro cordeiro de nosso aprisco sangrará.
Ele permitiu, como vês, que as minhas vacas errem e aquilo
que eu bem queira toque em meu agreste cálamo.
Paulo Barbosa
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