terça-feira, 22 de maio de 2012

BUCÓLICAS OU ÉCLOGAS DE VERGÍLIO: A I ÉCLOGA

AS BUCÓLICAS são dez poemas em hexámetros que levam à cena sobretudo pastores. É a obra-mor de Vergílio, onde canta os amores pastoris e celebra os campos. Outro nome para a obra é ÉCLOGAS, que significa 'extratos'. De maneira discreta, entremeia o poeta agradecimentos a seus protetores, sobretudo ao Imperador Augusto.

A I Écloga é um diálogo constituído de 83 versos entre Melibeu e Títiro.

Melibeu é um escravo que perdeu suas terras em benefício de alguns soldados veteranos do Imperador Augusto, após a vitória da guerra de Filipos sobre os republicanos. Sai de suas terras levando suas cabras e no caminho encontra-se com Títiro descansando. Trava com este um diálogo, onde lastima as discórdias civis de então, os camponeses expropriados de suas terras em prol dos soldados do Imperador, a paisagem que não mais voltará a contemplar. Cai a tarde, e Títiro o convida a passar a noite com ele.

Títiro, por outro lado, é um escravo recém-liberto, que conservou seus campos, suas propriedades, e que, deitado debaixo de uma grande faia, atribui sua boa sorte a um deus, um jovem que tinha conhecido recentemente numa viagem que fizera à Roma e que para o qual sempre terá um cordeiro para sacrificar. Este deus benfeitor é o imperador Otávio, autor de sua tranquilidade e da paz em geral, a Pax Romana.

Vejamos as duas primeiras estrofes da I Bucólica:


MELIBOEVS

Tityre, tu patulae recumbans sub tegmine fagi

siluestrem tenui musam meditaris auena;

nos patriae fines et dulcia linquimus arua;

nos patriam fugimus; tu, Tityre, lentus in umbra,

formosam resonare doces Amaryllida siluas.


MELIBEU

Títiro, tu reclinado à sombra de uma vasta faia,

aplicas-te à musa silvestre com uma leve flauta;

nós deixamos os solos da pátria e os doces campos;

nós fugimos da pátria; tu, Títiro, vagaroso na sombra,

ensinas as selvas ecoar o nome da bela Amarílis.



TITYRUS

O Meliboee, deus nobis haec otia fecit:

namque erit ille mihi semper deus; illius aram

saepe tener nostris ab ouilibus imbuet agnus.

Ille meas errare boues, ut cernis, et ipsum

ludere quae uellem calamo permisit agresti.


TÍTIRO

Ó Melibeu, um deus proporcionou-nos este lazer:

pois, para mim ele sempre será um deus; em seu altar

frequentemente um tenro cordeiro de nosso aprisco sangrará.

Ele permitiu, como vês, que as minhas vacas errem e aquilo

que eu bem queira toque em meu agreste cálamo.


Paulo Barbosa

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