quarta-feira, 11 de novembro de 2015

A ALFABETIZAÇÃO NA ROMA ANTIGA


Quintiliano
O método de alfabetização nas escolas Romanas era dos mais primitivos, chegando mesmo a ser condenado por Marco Fábio Quintiliano (35-96 d.C.), advogado, rétor e filólogo conceituado espanhol, no seu tratado de pedagogia Institutiones Oratoriae, com as seguintes advertências:
"Pelo menos a mim não agrada o que vejo praticar,isto é, ensinar o nome e a ordem das letras antes de saberem os alunos diferenciar bem as respectivas figuras.
Tal processo dificulta o conhecimento das letras, porquanto prestando os alunos atenção ao som de cada letra, deixam de atender à sua configuração.
 Daí resulta que os mestres, quando julgam já terem os alunos fixados na memória o alfabeto recitado na ordem natural, são obrigados a volver atrás, para exercitá-los a conhecer a forma das letras dispondo-as em ordem diferente.
A melhor maneira consiste em ensinar as letras simultaneamente quanto à forma e quanto a seu nome, como se aprende a conhecer as pessoas.
O sistema de se estudar as letras, que se condena, é, entretanto, aconselhável quando se trata de estudar as sílabas.
Para se estimular a criança a aprender a ler, julgo ser aconselhável o método conhecido de se formar um jogo com as figuras das letras feitas em marfim ou por outro qualquer processo que proporcione à criança um certo prazer em manejar as letras, indicando-as por seu próprio nome".
Óbvio que tais admoestações do grande filólogo espanhol - pois nasceu Quintilano em Calahorra - revelam uma admirável intuição sobre o valor da motivação e da importância do fator psicológico do ensino. 

Jérôme Carcopino
Jérôme Carcopino (1881-1970), historiador renomado francês, professor da Sorbonne, diretor da Escola Francesa de Roma, membro da cadeira número 3 da Academia Francesa, em sua excelente obra La Vie quotidienne à Rome, assevera o seguinte acerca do péssimo método de aprendizagem de leitura entre os Romanos:
"A ambição do mestre se limitava a ensinar mecanicamente seus alunos a ler, escrever e contar.
Dispondo de vários anos para o desempenho de sua missão, não se preocupava o professor com o aperfeiçoamento de seus métodos rotineiros".

Institutiones Oratoriae
Voltando a Quintiliano, vejamos, enfim, uma série de considerações sobre o ensino da leitura que foram dirigidas aos professores alfabetizadores romanos no primeiro século da era cristã:
"Deve-se ensinar a pronúncia de todas as sílabas, não se deixando para mais tarde a aprendizagem das mais difíceis, como se costuma fazer.
É conveniente repetir-se frequentemente o exercício sobre a pronúncia silábica, não forçando logo a leitura corrente, a não ser que já saibam os alunos unir as letras sem tropeçar, sem se deter ou sem pensar muito.
Então já poderão unir as sílabas, irão formando palavras e, em seguida, já lhes será possível formar a oração.
A pressa em fazer o aluno ler correntemente ocasiona muitas imperfeições na aprendizagem da leitura.
Tal açodamento pode ser para o aluno motivo de titubeação, de paradas e repetições dos vocábulos, levando-o até a desconfiar daquilo que já sabe, se, forçado além de suas possibilidades, vier ele a cometer algum erro na leitura.
Antes do mais, que aprendam a ler correntemente e sem interrupção, porém, durante muito tempo o façam com vagar, até que por meio de exercício consigam ler com destreza e desembaraço.
O olhar para diante e fixar a vista na palavra que vem depois - regra que dão todos os mestres - somente o ensinam o método e a prática, porque, ao mesmo tempo que se olha a palavra que segue, há de pronunciar-se a que lhe antecede e há de dividir-se a atenção do espírito, coisa aliás bem difícil, pois uma coisa farão os olhos e outra a voz.
Não será inútil, para que logrem uma pronúncia clara e desembaraçada, fazer com que os alunos repitam palavras difíceis e versos compostos de palavras ásperas, corrigindo-se assim, desde logo, vícios que mais tarde seriam dificilmente extirpados" (Institutiones Oratoriae, 1, 1, 5).   
Paulo Barbosa

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