A FIGURA DE PENSAMENTO pode ser definida como sendo o aspecto que a linguagem assume para fim expressivo afastando-se do valor linguístico normalmente aceito. Ou: é a alteração da forma, mas que não influencia no sentido. Tal alteração, também chamada metaplasmo, aumenta, diminui, e transpõe as palavras.
FINALIDADE DA FIGURA DE PENSAMENTO
Muito satisfaz ao espírito humano o uso das figuras ou variedades na expressão. Nelas encontra-se o meio de romper a monotonia que tanto flagela e atormenta à inteligência. O papel principal, então, das figuras de pensamento é surpreender o espírito, é despertá-lo, é provocar sua atenção e tornar as ideias mais nítidas e eficientes.
Os críticos dos séculos XVII e XVIII e os rétores em geral, entretanto, atribuíam diversa finalidade às figuras, exagerando o prazer que o espírito delas colhia, assim como considerando menos a primitiva e inata razão de ser das mesmas. Eram consideradas, por isso, mais como adorno do discurso, que, óbvio, támbém é fruto do esforço acurado. Daí o estudo minucioso e a catalogação escrupulosa por eles confeccionados.
CLASSIFICAÇÃO DAS FIGURAS DE PENSAMENTO
O velho Quintiliano (35 - 95 d.C.), professor de Retórica na Roma Antiga, estabeleceu duas classes:
1.ª Figuras de palavras, que consistem unicamente no som material ou na disposição local dos vocábulos.
2.ª Figuras de pensamento, que são dependentes do racional da expressão. Esta classe é subdividida em três partes:
a) Figuras para provar, que são oito: interrogação; resposta; preterição; prolepse; perplexidade; comunicação; suspensão e permissão.
b) Figuras para mover, são sete: exclamação; parrhesia; prosopopeia; apóstrofe; hipotipose; aposiopese; etopeia.
Na parrhesia, também chamada licença, o autor finge repreender, mas é para elogiar.
A prosopopeia é a denominada personificação.
Hipotipose é também chamada Enargueia ou Representação ocular, como Cícero lhe denomina. É uma pintura muito vivaz.
Aposiopese é a Reticência, a Interrupção.
Etopeia é a Mímesis, a pintura de costumes.
c) Figuras para recrear, duas: correção e anamnese.
A anamnese finge lembrar-se de uma coisa que se ia esquecendo.
Estas figuras podem ser agrupadas em três categorias segundo o fim particular que se propõem: 1.ª Figuras que se propõem a realçar uma ideia; 2.ª Figuras que se propõem a suavizar uma ideia; 3.ª Figuras que se propõem a concretizar sentimentos fortes, como convicção, excitação, comoção, perturbação, etc.
Na realidade, somente às duas primeiras categorias caberia o nome de figuras, pois a terceira apresenta a verdade pura, tal como é, com feição própria, enquanto as outras duas a apresenta revestida de roupagens adequadas, desviada de sua significação normal. Os autores que estudam a terceira categoria lhe enumeram: a comunicação, a interrogação, a apóstrofe, o anacoluto, a mudança repentina dos tempos, o desleixo proposital, como fazendo parte dela.
A SUAVIZAÇÃO DA IDEIA
A suavização de uma ideia é feita mediante a perífrase abastrata, a alusão e a litotes, que são eufemismos.
A perífrase abstrata consiste na substituição da palavra por circunlóquios, como quando Bossuet, para dizer 'luxúria', disse: "essas paixões que vitimaram o rei Salomão e tantos outros infelizes".
A alusão faz a apreciação de uma pessoa ou do ato dela referindo-se a outra pessoa bem conhecida e a respeito da qual existe um bem firmado julgamento geral. Assim, 'estar sob a espada de Dâmocles', para se referir a um perigo iminente; 'achar-se num leito de Procusto', referindo-se à medida única, à tortura para que se obtenha conformidade a um único modelo de pensamento, são alusões a pessoas conhecidas na história que apreciam outras pessoas ou atividades.
A litotes é a afirmação do positivo por meio do negativo, como quando dizemos: 'Flora não está no seu juízo perfeito', para dizer que 'Flora está louca'.
A BASE DAS FIGURAS
A COMPARAÇÃO é a base de todas as verdadeiras figuras de pensamento, consistindo em dois termos, onde o segundo tem por finalidade esclarecer o primeiro. O segundo sempre vem expresso, enquanto o primeiro, muitas vezes, está oculto, ainda que presente ao espírito.
Paulo Barbosa
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