domingo, 3 de junho de 2012

A POESIA LÍRICA

LIRISMO é o nome que se dá à expressão espontânea, poética e ritmada de um sentimento sincero.

Sabe-se que um sentimento, desde que seja vivo, seja qual for o seu objeto e a sua natureza, tende a exteriorizar-se por meio de um grito, de uma lágrima, de um soluço ou de qualquer outra forma análoga. Isso é uma necessidade inegável e inelutável do organismo humano, capaz até de causar distúrbios psicológicos enquanto não for satisfeito.

Pois bem, quando tal sentimento vivo vibra na alma do artista, do poeta, este externa-o naturalmente pelo canto, ou seja, pela linguagem a um tempo cheia de imagens e de ritmo forte.

O lirismo, entretanto, não consiste unicamente no sentimento pessoal. Brunetiere diz que não basta ser egoísta para ser poeta lírico, pois assim seria muito fácil e teríamos uma plêiade deste. Não se nega, também, com esta asserção, que o sentimento pessoal seja a base psicológica do lirismo, a sua substância. O poeta lírico, muitas vezes, interpretará os sentimentos alheios, e mesmo aí, deve apropriar-se das emoções que descreve e nelas tomar parte íntima.

O lirismo obedece, mais que qualquer outro tipo de manifestação da alma, à inspiração, ao gênio, ao dom inato - ingenium - que o estudo e o trabalho aperfeiçoa, mas não substitui. A inspiração é absolutamente indispensável ao lirismo.

O lirismo aproveita muito os recursos musicais, tais como a melodia, a harmonia, a cadência e o ritmo, chegando, mesmo, não raramente, a pedir o auxílio do canto e dos instrumentos de corda ou sopro. A expressão comum do lirismo é o verso.

Poemas líricos escritos em outra língua nunca são traduzidos de forma correta e boa, pois, por melhor que seja a tradução, a ela se há de aplicar sempre o dito: traduttore, traditore. Fatalmente, ao se traduzir uma poesia lírica, o ritmo será alterado.

LEIS DO LIRISMO

O lirismo possui as seguintes leis:

1. Ser sincero e espontâneo, e, por isso mesmo, é intolerável o sentimento de encomenda, pois o tom, com certeza, descerá à declamação, ou seja, ao discurso afetado, exageradamente solene e pomposo.

2. Obervar a ordem dos sentimentos. Deve esta poesia ser a expressão completa de um sentimento único, e o guia deve ser mais o coração que a inteligência, sem, claro, que a razão e o bom senso deixem de coordenar tudo.

3. Adaptar os ritmos aos sentimentos e às ideias, e é por isso mesmo que este gênero apresenta maior variedade do que os demais.

4. Apresentar vivo colorido e movimento. Sabe-se que sempre andam juntas a sensibilidade e a imaginação, e logo, haverá profusão de figuras de palavras e de pensamento nas poesias líricas.

5. Ser breve,  até mesmo como uma exigência psicomotora.

6. Condensar o pensamento e a sua expressão. O lirismo não admite muito desenvolvimento, visto que uma única palavra é o suficiente para dizer o que em outras circunstâncias pedira extensas considerações.

O NOME

Esta poesia é assim denominada porque na Grécia era acompanhada com o instrumento de cordas chamado lira. A lira é um instrumento semelhante a uma harpa, mas de dimensões menores, e foi conhecida dos fenícios, hebreus, egípcios, assírios, gregos e romanos.

POESIA LÍRICA GREGA

Esta nunca era cantada sem o respectivo acompanhamento musical, executado com instrumentos de corda tipo cítara, ou de sopro, tipo flauta. É o acompanhamento coreográfico, com dansas sempre expressivas, muitas vezes imitativas, como na pírrica, dança guerreira em que os dançarinos executavam movimentos simulando o combate.

As grandes manifestações desta poesia são: o grande lirismo, que abarca o lirismo perfeito dos epinícios de Píndaro e das seguintes odes pindárias: Olímpicas, Píticas, Nemeias, Istmicas, que são hinos celebrando os respectivos jogos; os coros das tragédias, que abarcam o lirismo trágico, como os 12 grupos nas tragédias de Ésquilo; os 15 nas de Sófocles e Eurípides; e enfim, as elegias e canções, com Alceu, Safo e Anacreonte.

POESIA LÍRICA LATINA

O maior lírico latino, o lírico clássico por excelência, é Horácio (65-8 a.C.), sendo ele o modelo primeiro para quem quiser iniciar-se nos segredos da poesia lírica. Imitou diretamente o lirismo grego, sobretudo o lirismo lésbio. Entretanto, entre o lirismo grego e o lirismo latino há a seguinte diferença radical: a poesia lírica grega era para ser cantada, enquanto as odes de Horácio destinavam-se a serem declamadas, ou seja, recitadas em alta voz, com gestos e entoação próprios, ou lidas privadamente. Outro lirico foi também Vergílio (70-19 a.C.), autor das Bucólicas, em dez éclogas.

Paulo Barbosa

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