LATIM ARCAICO, também denominado LATIM ANTIGO, LATIM PRIMITIVO ou PRISCA LATINITAS é a forma do latim usada no período anterior à era do latim clássico, ou seja, anterior ao ano 75 a.C. Esta forma latina possui convenções ortográficas, vocábulos, particularidades fonéticas e morfológicas que não foram usados em obras escritas em latim clássico.
John Wordsworth, classissita inglês, em 1874, definiu o latim arcaico:
"Por latim antigo eu compreendo o latim de todo o período da República, que é distinto de forma muito contundente, tanto em sua tonalidade quanto na sua forma externa, daquele do Império".
Então, considerando o surgimento do latim simultaneamente ao nascimento da cidade de Roma, no século VIII a.C., mais precisamente em 753 a.C., até o ano 75 a.C., temos o que se convencionou denominar latim antigo ou arcaico, tendo uma vida de, teoricamente, 678 anos. O ano limite do latim arcaico, 75 a.C., foi estabelecido pelos estudiosos por ser o ano em que Cícero, voltando de sua formação na Grécia, com 30 anos, começa sua carreira política como questor na Sicília ocidental. O estudioso Bennet propôs o ano 100 a.C. para o fim do latim arcaico, mas tal data não foi aceita.
O corpus ou conjunto de obras escritas nesta forma latina, cujos autores são conhecidos, começaram a surgir a partir do século III a.C. Algumas obras chegaram na íntegra até nossos dias, em forma de manuscritos que foram copiados de outros manuscritos, enquanto outras só chegaram até nós em fragmentos e citações de segunda mão por outros autores. Estes, os fragmentos e incrições sobreviventes, parecem que são datados, os mais antigos, do século VI a.C.
AUTORES E OBRAS
Alguns dos autores mais importantes com suas obras que escreveram em latim arcaico são:
1. Lívio Andrônico (280 - 200 a.C.), grego de Tarento que foi levado para Roma em 272 a.C. e vendido como escravo. Tendo sido comprado por um romano de nome Lívio, foi preceptor de seus filhos e mais tarde concedeu-lhe a liberdade. Andrônico abriu uma escola onde ensinou o grego e o latim, e traduziu a Odisséia, poema épico de Homero escrito em grego, para o latim.
2. Cneu Névio (264 - 201 a.C.), nascido na Campânia, de raça latina, foi soldado antes de se tornar poeta, e participou da primeira guerra púnica.Compôs contra os Metelos o verso saturnino: "Fato Metelli Romae fiunt consules", ao que os Metelos responderam: "Dabunt malum Metelli Naevio poetae", mandando-o para a prisão. Foi autor de tragédias, como Alimonia Romuli et Remi, A educação de Rômulo e Remo; Clastidium; assim como das comédias Colax, Dementes, etc., superior ao número de trinta, e uma epopéia, Bellum punicum, em versos saturninos, sobre as guerras púnicas.
3. Tito Mácio Plauto (254? - 184 a.C.), natural da Úmbria, Sársina, desconhecendo-se a data certa de seu nascimento. A única coisa que se sabe é que era idoso - senex - em 191 a.C. Autor de cerca de 130 peças, mas reconhecidas autênticas por Varrão apenas 21 e 19 duvidosas. Escreveu as seguintes comédias: Amphitruo; Asinaria; Aulularia; Bacchides; Captivi; Casina; Cistellaria; Curculio; Epidicus; Menaechmi; Mercator; Miles gloriosus; Mostellaria; Persa; Poenulus; Pseudolus; Rudens; Stichus; Trinummus; Truculentus e Vidularia.
4. Quinto Ênio (239 - 169 a.C.), nascido em Rúdias, Calábria, e passou alguns anos em Tarento servindo aos exércitos romanos, vindo, depois, se fixar em Roma, onde lecionou grego e angariou muitos amigos aristocratas, como Cipião, Flamínio, etc. Produziu obras para o teatro e escreveu poesias épicas. Cerca de 20 tragédias traduzidas do grego e pertencentes a assuntos troianos são de sua lavra, tais como Andrómaca em cativeiro; Hécuba. Ifigênia, etc. Outras obras também foram escritas por Ênio, tais como Hedyphagetica, sobre gastronomia; tradução da História Sagrada, de Evêmero, em prosa; Cipião, poema épico sobre Cipião Africano e Annales, Anais, em 18 livros, epopéia em hexêmetros onde se narra toda a história romana.
5. Marco Pacúvio (220 - 130 a.C.), natural de Brindes, sobrinho e discípulo de Ênio, foi levado pelo tio a Roma. Era poeta e pintor. Viveu em Roma, mas no fim da vida, foi morar em Tarento, onde morreu. Escreveu doze tragédias imitadas dos gregos, dentre as quais Armorum iudicium; Dulorestes; Hermiona; Paulus, etc.
6. Públio Terêncio Afer (195 - 159 a.C.), nascido em Cartago e levado para Roma como escravo onde teve como dono o senador Terêncio Lucano, que lhe deu educação esmerada e mais tarde lhe concedeu alforria. Foi tão amigo de Lélio e Cipião que alguns pretenderam serem estes dois os autores de suas comédias, enquanto Terêncio seria apenas um nome suposto. Mas não se tem provas fundamentadas desta asserção. Escreveu seis comédias que, em ordem cronológica, são: Andria, A Andriana; Hecyra, A sogra; Heautontimoroumenos, O que se castiga a si mesmo; Eunuchus, O eunuco; Phormio, Formião e Adelphoe, Os irmãos.
7. Lúcio Ácio (170 - 86 a.C.), nascido em Pisauro, na Úmbria, começou sua atuação quando Pacúvio se retirava para vida particular. Viveu longos anos em Roma, tendo sido estimado pelos grandes e sobretudo pelo cônsul Décimo Bruto. Viveu até o tempo de Cícero, quando foi partícipe de um collegium poetarum, ou seja, de uma assembléia de literatos. Escreveu umas quarenta tragédias imitadas aos poetas gregos, como Aquiles; Medeia; Alcestes; Filoctetes; Clitemnestra; Bacantes, etc.
8. Caio Lucílio (160 - 103 a.C.), de Suessa Aurunca, Lácio, pertencente a uma família equestre e dono de muitos bens. Teve vários amigos gregos, como o filósofo Clitômaco, que lhe dedicou um livro. Passou a maior parte de sua vida em Roma e esteve na Espanha, onde serviu sob as ordens de seu amigo Cipião. Na Espanha, assistiu a tomada de Numância, em 133 a.C. Dele nos chegaram 30 livros de sátiras dos quais apenas fragmentos existem, mas em grande número, apesar de curtos.
Entre os fragmentos em latim arcaico, os mais destacados são os seguintes:
1. Carmen Saliare, o Canto dos Sálios, sacerdotes que cantavam em procissão acompanhados de danças. Esta irmandade foi fundada por Numa Pompílio, segundo rei de Roma, por volta de 700 a.C.
2. Praeneste fibula, Fíbula prenestina, uma fivela de ouro encontrada numa tumba de Preneste com uma inscrição, datada do século VII a.C. Hoje, porém, a sua autenticidade é duvidosa.
3. Lapis Niger ou Inscrição do Forum, encontrada no forum romano, provavelmente de 550, época da Monarquia Romana.
4. Lex Duodecim Tabularum, Lei das doze Tábuas, que na realidade são fragmentos que chegaram até nós mediante citações de autores posteriores. Foram redigidas em 451 pelos decêmviros e era tal lei considerada pelos romanos como a fonte do direito público e privado.
5. Scipionum Elogia, Epitáfios dos Cipiões, inscrições tumulares, em número de cinco, encontradas nos túmulos dos Cipiões. O epitáfio de Lúcio Cornélio Cipião Barbato é de 280 a.C.
6. Senatus consultum de Bacchanalibus, Decreto do Senado sobre as Bacanais, inscrição datada de 186 a.C. As Bacanais eram festas religiosas em honra de Baco e mais tarde se tornaram orgias, onde imperava a bebedeira, a licenciosidade e a depravação. Daí a necessidade do Senado ter de baixar decreto para regulá-las.
7. Carmen fratrum Arvalium, Canto dos irmãos Arvais, sacerdotes em número de doze que faziam procissão pelos campos na época da lua cheia. Este canto está conservado numa inscrição e é muito obscuro, sendo o sentido ainda muito discutido. Somente algumas palavras, como Lases, forma antiga de Lares, são identificadas. Começa com a seguinte invocação: "Enos Lases juvate", "Ó Lares, ajudai-nos". É de 218 a.C.
Algumas diferenças entre o latim arcaico e a sua forma clássica, são as seguintes:
Na ORTOGRAFIA, encontra-se no arcaico consoantes simples em lugar das duplas (Marcelus \ Marcellus); vogais duplas em lugar de vogal única (aara \ ara); q em lugar de c (pequnia \ pecunia); xs em lugar do x (saxsum \ saxum); c em lugar de g (Caius \ Gaius).
Na FONOLOGIA, encontra-se as terminações casuais -os e -om (avos, avom), que no latim clássico passaram a us, um; dotongos como oi, ei, que no clássico passaram a u, oe, i; formas nominativas em -s que passaram a -r (honos \ honor; amos \ amor; arbos \ arbor), devido ao fenômeno do rotacismo.
Na MORFOLOGIA, no latim antigo, o genitivo plural apresenta duas terminações: -om, a mais antiga, e -osom, a do período final do latim arcaico, enquanto no clássico transformaram-se, respectivamente, em -um e -orum; o pronome pessoal ego, no dativo singular, era mi, enquanto no clássico passou a mihi; o ablativo singular era em -d (med), depois ocorrendo sua apócope (me).
Embora estas diferenças entre as duas formas do latim sejam profundas e marcantes, apreendidas prontamente pelo leitor da língua, não são consideradas tão multifomes a ponto de estabelecerem uma barreira linguística. Na época imperal, ou seja, em plena vigência do latim clássico, os falantes do latim não tinham qualquer problema na intelecção do latim arcaico, exceção feita, conforme já dissemos acima, a alguns poucos textos da época da Monarquia, sobretudo os carmina, as canções, como é o caso do Carmen Saliare, do Carmen Arvale, que não eram pelos romanos e ainda não são em nossos dias compreendidos na sua totalidade. Já a Lei das XII Tábuas, redigida no século V a.C., e que deu início à República, era facilmente compreendida.
O que, enfim, devemos saber é que não há diferenças tão significativas entre o latim arcaico e o clássico. A primeira forma, embrionária, é a que, gradualmente, evoluiu para a segunda.
Paulo Barbosa
4. Quinto Ênio (239 - 169 a.C.), nascido em Rúdias, Calábria, e passou alguns anos em Tarento servindo aos exércitos romanos, vindo, depois, se fixar em Roma, onde lecionou grego e angariou muitos amigos aristocratas, como Cipião, Flamínio, etc. Produziu obras para o teatro e escreveu poesias épicas. Cerca de 20 tragédias traduzidas do grego e pertencentes a assuntos troianos são de sua lavra, tais como Andrómaca em cativeiro; Hécuba. Ifigênia, etc. Outras obras também foram escritas por Ênio, tais como Hedyphagetica, sobre gastronomia; tradução da História Sagrada, de Evêmero, em prosa; Cipião, poema épico sobre Cipião Africano e Annales, Anais, em 18 livros, epopéia em hexêmetros onde se narra toda a história romana.
5. Marco Pacúvio (220 - 130 a.C.), natural de Brindes, sobrinho e discípulo de Ênio, foi levado pelo tio a Roma. Era poeta e pintor. Viveu em Roma, mas no fim da vida, foi morar em Tarento, onde morreu. Escreveu doze tragédias imitadas dos gregos, dentre as quais Armorum iudicium; Dulorestes; Hermiona; Paulus, etc.
6. Públio Terêncio Afer (195 - 159 a.C.), nascido em Cartago e levado para Roma como escravo onde teve como dono o senador Terêncio Lucano, que lhe deu educação esmerada e mais tarde lhe concedeu alforria. Foi tão amigo de Lélio e Cipião que alguns pretenderam serem estes dois os autores de suas comédias, enquanto Terêncio seria apenas um nome suposto. Mas não se tem provas fundamentadas desta asserção. Escreveu seis comédias que, em ordem cronológica, são: Andria, A Andriana; Hecyra, A sogra; Heautontimoroumenos, O que se castiga a si mesmo; Eunuchus, O eunuco; Phormio, Formião e Adelphoe, Os irmãos.
7. Lúcio Ácio (170 - 86 a.C.), nascido em Pisauro, na Úmbria, começou sua atuação quando Pacúvio se retirava para vida particular. Viveu longos anos em Roma, tendo sido estimado pelos grandes e sobretudo pelo cônsul Décimo Bruto. Viveu até o tempo de Cícero, quando foi partícipe de um collegium poetarum, ou seja, de uma assembléia de literatos. Escreveu umas quarenta tragédias imitadas aos poetas gregos, como Aquiles; Medeia; Alcestes; Filoctetes; Clitemnestra; Bacantes, etc.
8. Caio Lucílio (160 - 103 a.C.), de Suessa Aurunca, Lácio, pertencente a uma família equestre e dono de muitos bens. Teve vários amigos gregos, como o filósofo Clitômaco, que lhe dedicou um livro. Passou a maior parte de sua vida em Roma e esteve na Espanha, onde serviu sob as ordens de seu amigo Cipião. Na Espanha, assistiu a tomada de Numância, em 133 a.C. Dele nos chegaram 30 livros de sátiras dos quais apenas fragmentos existem, mas em grande número, apesar de curtos.
FRAGMENTOS
Entre os fragmentos em latim arcaico, os mais destacados são os seguintes:
1. Carmen Saliare, o Canto dos Sálios, sacerdotes que cantavam em procissão acompanhados de danças. Esta irmandade foi fundada por Numa Pompílio, segundo rei de Roma, por volta de 700 a.C.
2. Praeneste fibula, Fíbula prenestina, uma fivela de ouro encontrada numa tumba de Preneste com uma inscrição, datada do século VII a.C. Hoje, porém, a sua autenticidade é duvidosa.
3. Lapis Niger ou Inscrição do Forum, encontrada no forum romano, provavelmente de 550, época da Monarquia Romana.
4. Lex Duodecim Tabularum, Lei das doze Tábuas, que na realidade são fragmentos que chegaram até nós mediante citações de autores posteriores. Foram redigidas em 451 pelos decêmviros e era tal lei considerada pelos romanos como a fonte do direito público e privado.
5. Scipionum Elogia, Epitáfios dos Cipiões, inscrições tumulares, em número de cinco, encontradas nos túmulos dos Cipiões. O epitáfio de Lúcio Cornélio Cipião Barbato é de 280 a.C.
6. Senatus consultum de Bacchanalibus, Decreto do Senado sobre as Bacanais, inscrição datada de 186 a.C. As Bacanais eram festas religiosas em honra de Baco e mais tarde se tornaram orgias, onde imperava a bebedeira, a licenciosidade e a depravação. Daí a necessidade do Senado ter de baixar decreto para regulá-las.
7. Carmen fratrum Arvalium, Canto dos irmãos Arvais, sacerdotes em número de doze que faziam procissão pelos campos na época da lua cheia. Este canto está conservado numa inscrição e é muito obscuro, sendo o sentido ainda muito discutido. Somente algumas palavras, como Lases, forma antiga de Lares, são identificadas. Começa com a seguinte invocação: "Enos Lases juvate", "Ó Lares, ajudai-nos". É de 218 a.C.
ALGUMAS DIFERENÇAS DO ARCAICO PARA O CLÁSSICO
Algumas diferenças entre o latim arcaico e a sua forma clássica, são as seguintes:
Na ORTOGRAFIA, encontra-se no arcaico consoantes simples em lugar das duplas (Marcelus \ Marcellus); vogais duplas em lugar de vogal única (aara \ ara); q em lugar de c (pequnia \ pecunia); xs em lugar do x (saxsum \ saxum); c em lugar de g (Caius \ Gaius).
Na FONOLOGIA, encontra-se as terminações casuais -os e -om (avos, avom), que no latim clássico passaram a us, um; dotongos como oi, ei, que no clássico passaram a u, oe, i; formas nominativas em -s que passaram a -r (honos \ honor; amos \ amor; arbos \ arbor), devido ao fenômeno do rotacismo.
Na MORFOLOGIA, no latim antigo, o genitivo plural apresenta duas terminações: -om, a mais antiga, e -osom, a do período final do latim arcaico, enquanto no clássico transformaram-se, respectivamente, em -um e -orum; o pronome pessoal ego, no dativo singular, era mi, enquanto no clássico passou a mihi; o ablativo singular era em -d (med), depois ocorrendo sua apócope (me).
Embora estas diferenças entre as duas formas do latim sejam profundas e marcantes, apreendidas prontamente pelo leitor da língua, não são consideradas tão multifomes a ponto de estabelecerem uma barreira linguística. Na época imperal, ou seja, em plena vigência do latim clássico, os falantes do latim não tinham qualquer problema na intelecção do latim arcaico, exceção feita, conforme já dissemos acima, a alguns poucos textos da época da Monarquia, sobretudo os carmina, as canções, como é o caso do Carmen Saliare, do Carmen Arvale, que não eram pelos romanos e ainda não são em nossos dias compreendidos na sua totalidade. Já a Lei das XII Tábuas, redigida no século V a.C., e que deu início à República, era facilmente compreendida.
O que, enfim, devemos saber é que não há diferenças tão significativas entre o latim arcaico e o clássico. A primeira forma, embrionária, é a que, gradualmente, evoluiu para a segunda.
Paulo Barbosa
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